Uma dezena de ministros “socialistas”

V. I. Lenin

6 de novembro de 1916


Primeira Edição: Sotsial-Demokrat No. 56, 6 de novembro de 1916.

Tradução: Igor José Moretto Fonseca da versão disponível em https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1916/nov/06b.htm

HTML: Fernando Araújo.

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Huysmans, o secretário do Bureau Social-Chauvinista Internacional,(1) enviou um telegrama de congratulações ao ministro sem pasta dinamarquês Stauning, o líder do Partido Pseudossocial-Democrata dinamarquês. O telegrama diz:

“Informo-me pelos jornais que o senhor foi nomeado ministro. Minhas congratulações mais sinceras. E então, nós agora temos uma dezena de ministros socialistas no mundo. As coisas avançam. Muitas felicidades.”

As coisas realmente avançam. A Segunda Internacional está avançando rapidamente aos braços das políticas nacional-liberais. Citando este telegrama, o Volksstimme de Chemnitz, órgão militante dos oportunistas e social-chauvinistas alemães, observa, um pouco venenosamente:

“O secretário do Bureau Socialista Internacional congratula, sem reservas, a aceitação de um posto ministerial por um social-democrata. E, no entanto, pouco antes da guerra, todos os congressos do partido, e congressos internacionais, expressaram forte oposição a isso! Os tempos e as opiniões mudam – neste assunto e em outros.”

Os Heilmanns, Davids e Südekums estão justificados em seus elogios condescendentes aos Huysmanes, Plekhanovs e Vanderveldes.

Recentemente, Stauning publicou uma carta escrita para Vandervelde. Ela é cheia dos comentários pungentes que um social-chauvinista pró-Alemanha escreveria sobre um social-chauvinista francês. Entre outras coisas, Stauning orgulhosamente anuncia que:

“Nós [o partido dinamarquês] nos distanciamos dura e definitivamente das atividades de divisão organizacionalmente perniciosas conduzidas como iniciativa dos partidos italiano e sueco em nome do movimento Zimmerwald”.

Isto é literalmente o que ele diz!

A formação de um estado-nação na Dinamarca remonta ao século XVI. As massas do povo dinamarquês passaram pelo movimento de libertação burguês há tempos. Mais de 96% da população é dinamarquesa. O número de dinamarqueses na Alemanha é menor que 200.000 (a população da Dinamarca é de 2.900.000). Só isso já prova a bruta fraude burguesa que é dizer que a discussão da burguesia dinamarquesa sobre um “estado-nação independente” é a tarefa do dia! Isso está sendo discutido no século XX pela burguesia e pela monarquia da Dinamarca, que possui colônias com uma população de número quase igual ao de dinamarqueses na Alemanha, e quanto as quais o governo dinamarquês está tentando barganhar.

Quem disse que nos nossos dias não há comércio de seres humanos? Há um comércio bastante rápido. A Dinamarca vende para os Estados Unidos por tantos milhões (ainda não acordados) três ilhas,(2) todas populadas, é claro.

Além disso, uma característica específica do imperialismo dinamarquês é o superlucro que obtém de sua posição monopolisticamente vantajosa no mercado de carne e laticínios: usando transporte marítimo barato, abastece o mercado de Londres, o maior mercado do mundo. Como resultado, a burguesia dinamarquesa e os camponeses ricos dinamarqueses (burgueses de estirpe mais pura, apesar das fábulas dos Narodniks) tornaram-se satélites “prósperos” da burguesia imperialista britânica, compartilhando seus particularmente fáceis e gordos lucros.

O Partido “Social-Democrata” dinamarquês cedeu completamente a esta situação internacional, e apoiou (e apoia) firmemente a direita, os oportunistas do Partido Social-Democrata da Alemanha. Os sociais-democratas dinamarqueses aprovaram crédito ao governo monarquista burguês para “preservar a neutralidade” – essa era a fórmula eufemística. No congresso de 30 de setembro de 1916, houve uma maioria de nove décimos a favor da entrada no gabinete, a favor de um acordo com o governo! O correspondente do jornal socialista de Berna informou que a oposição ao ministerialismo na Dinamarca fora representada por Gerson Trier e pelo editor J. P. Sundbo.(3) Trier defendeu posições marxistas revolucionárias em um discurso grandioso, e quando o partido decidiu entrar para o governo, demitiu-se do Comitê Central e do partido, declarando que não seria filiado a um partido burguês. Nos últimos anos, o Partido “Social-Democrata” dinamarquês em nada se diferenciou dos radicais burgueses.

Parabéns ao camarada G. Trier! “As coisas avançam”, Huysmans está certo – avançam na direção de uma divisão precisa, clara, politicamente honesta e socialisticamente necessária entre os marxistas revolucionários, os representantes das massas do proletariado revolucionário, e os aliados de Plekhanov-Potresov Huysmans e agentes da burguesia imperialista, que têm a maioria dos “líderes”, mas que representam o interesse não das massas oprimidas, mas sim dos trabalhadores privilegiados minoritários, que se desertam para o lado da burguesia.

Desejarão os trabalhadores com consciência de classe russos, que elegeram os deputados agora em exílio na Sibéria, que votaram contra a participação em comitês das indústrias da guerra de apoio à guerra imperialista, continuar na “Internacional” da dezena de ministros? Na Internacional dos Staunings? Na Internacional da qual homens como Trier estão saindo?


Notas de rodapé:

(1) Aqui Lenin se refere ao Bureau Socialista Internacional, corpo executivo permanente de informação da Segunda Internacional, fundado por decisão do Congresso Internacional de Paris de 1900 e sediado em Bruxelas. Cada afiliado nacional tinha dois membros no Bureau, que se reunia quatro vezes ao ano, com o executivo do Partido Operário Belga assumindo nos intervalos. Lenin foi eleito como representante do Partido Operário Social-Democrata Russo em 1905 e reeleito em 1912 na VI Conferência do Partido de Toda a Rússia em Praga. Maxim Maximovich Litvinov foi nomeado como representante do Partido Operário Social-Democrata Russo em junho de 1914 por sugestão de Lenin. Com o começo da Primeira Guerra Mundial, o Bureau Socialista Internacional se transformou em uma ferramenta maleável dos social-chauvinistas. A sede foi mudada para Haia, e suas atividades passaram a ser dirigidas por Huysmans. (retornar ao texto)

(2) A referência é às Ilhas Virgens de Saint Thomas, Saint John e Saint Croix. A Dinamarca colonizou as ilhas entre os séculos XVII e XVIII, onde escravizou africanos nas plantações de açúcar. Em 1917, as ilhas, já há muito não lucrativas por causa da queda nos preços do açúcar, foram vendidas aos Estados Unidos por 25 milhões de dólares. (nota da tradução) (retornar ao texto)

(3) Jens Peter Carl Petersen Sundbo (1860 - 1928). (nota da tradução) (retornar ao texto)

Inclusão: 30/08/2022