Os Resultados da Semana do Partido em Moscovo e as Nossas Tarefas

V. I. Lénine

21 de outubro de 1919

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Escrito: em 21 de Outubro de 1919

Publicado: a 22 de Outubro, no Izvéstia TsK RKP(b)

Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1977, t3, pp 198-201.

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.39, pp. 233-237.

Transcrição e HTML: Manuel Gouveia

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" — Edições Progresso Lisboa — Moscovo.


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Em Moscovo, durante a semana do partido, inscreveram-se no partido 13 600 pessoas.

É um êxito enorme, completamente inesperado. Toda a burguesia, e particularmente a pequena burguesia urbana, incluindo os especialistas, funcionários e empregados, que lamentam a perda da sua situação privilegiada, «dominante», toda essa gente fez tudo o que pôde exactamente nos últimos tempos, exactamente durante a semana do partido em Moscovo, por semear o pânico, por predizer ao Poder Soviético uma morte próxima e a Deníkine uma vitória próxima.

E com que arte magnífica sabe esta gente «intelectual» aproveitar a arma de semear o pânico! Pois isto tornou-se uma verdadeira arma na luta de classe da burguesia contra o proletariado. Em momentos como o que estamos a viver, a pequena burguesia funde-se «numa só massa reaccionária» com a burguesia e agarra-se «apaixonadamente» a essa arma.

Precisamente em Moscovo, onde o elemento comerciante era particularmente forte, onde se encontravam concentrados mais do que em qualquer outro sítio exploradores, latifundiários, capitalistas, rentiers(1*), onde o desenvolvimento capitalista tinha reunido uma massa de intelectuais burgueses, onde a administração central do Estado tinha criado uma aglomeração particularmente grande de funcionários, precisamente em Moscovo o terreno era excepcionalmente favorável para a bisbilhotice burguesa, para a má-língua burguesa, para que a burguesia semeasse o pânico. O «momento» da bem sucedida ofensiva de Deníkine e Iudénitch favoreceu extremamente os «êxitos» dessa arma burguesa.

Contudo, da massa proletária que tinha visto os «êxitos» de Deníkine e conhecia todas as dificuldades, sacrifícios e perigos ligados precisamente agora ao título e aos deveres de comunistas, ergueram-se milhares e milhares para reforçar o partido dos comunistas, para assumir a carga incrivelmente pesada da administração do Estado.

O êxito do Poder Soviético, o êxito do nosso partido, é verdadeiramente notável!

Este êxito demonstrou e mostrou de forma evidente à população da capital e, depois dela, a toda a república e a todo o mundo, que precisamente nas profundezas do proletariado, precisamente entre os verdadeiros representantes das massas trabalhadoras, está a fonte mais segura da força e da solidez do Poder Soviético. A ditadura do proletariado, neste êxito da inscrição voluntária no partido, no momento de maiores dificuldades e perigos, mostrou-se de facto sob o aspecto que os inimigos deliberadamente se recusam a ver e que em mais alto apreço têm os verdadeiros amigos da emancipação do trabalho do jugo do capital, precisamente sob o aspecto da singular influência moral (no melhor sentido da palavra) do proletariado (detentor do poder de Estado) sobre as massas, sob o aspecto das formas dessa influência.

As camadas avançadas do proletariado, que detêm o poder de Estado, mostraram com o seu exemplo à massa dos trabalhadores, e mostraram-no ao longo de dois anos inteiros (período enorme para o nosso ritmo de desenvolvimento político excepcionalmente rápido), um modelo de tal dedicação aos interesses dos trabalhadores, de tal energia na luta contra os inimigos dos trabalhadores (os exploradores em geral e os «proprietários» e especuladores em particular), de tal firmeza nos momentos difíceis, de tal abnegação em repelir os bandidos do imperialismo mundial, que, por si só, a força da simpatia dos operários e camponeses para com a sua vanguarda foi capaz de fazer milagres.

Com efeito, foi um milagre: os operários, que suportaram tormentos inauditos de fome, de frio, de ruína, de devastação, não só conservam toda a firmeza de espírito, toda a fidelidade ao Poder Soviético, toda a energia do auto-sacrifício e do heroísmo, como assumem, apesar de toda a sua falta de preparação e de experiência, o encargo de dirigir a nau do Estado! E isto num momento em que a tempestade atingiu uma extrema violência ...

A história da nossa revolução proletária está cheia de milagres como este. Tais milagres conduzirão, segura e inevitavelmente — por mais duras que sejam algumas provas — , à vitória completa da República Soviética mundial.

Devemos agora preocupar-nos com o aproveitamento correcto dos novos membros do partido. É preciso dedicar a esta tarefa uma atenção particularmente grande, porque esta tarefa não é fácil, esta tarefa é nova, e não se poderá cumpri-la com os velhos estereótipos.

O capitalismo asfixiava, esmagava e destruía uma massa de talentos entre os operários e os camponeses trabalhadores. Estes talentos sucumbiam sob o jugo da necessidade, da miséria e dos ultrajes à personalidade humana. O nosso dever actualmente é saber encontrar esses talentos e pô-los a trabalhar. Os novos membros do partido, que ingressaram durante a semana do partido, são sem dúvida na sua maioria inexperientes e inábeis na administração do Estado. Mas também é indubitável que se trata dos homens mais dedicados, sinceros e capazes das camadas sociais que o capitalismo mantinha artificialmente em baixo, das quais fazia camadas «inferiores», não lhes permitindo elevarem-se. Mas neles há mais força, frescura, espontaneidade, têmpera e sinceridade do que nos outros.

Daqui decorre que todas as organizações do partido devem reflectir particularmente sobre a utilização desses novos membros do partido. E necessário entregar-lhes mais audaciosamente o trabalho estatal mais variado, pô-los à prova o mais rapidamente possível na prática.

Não se deve naturalmente entender a audácia como sendo confiar imediatamente aos novos membros postos de responsabilidade, que exigem conhecimentos que os novos membros não dominam. A audácia é necessária no sentido da luta contra a burocracia: não foi sem razão que o programa do nosso partido colocou com toda a precisão a questão das causas de um certo renascimento da burocracia e das medidas de luta contra ela. A audácia é necessária no sentido do estabelecimento, em primeiro lugar, do controlo sobre os empregados, funcionários e especialistas por parte dos novos membros do partido, que conhecem bem a situação das massas populares, as suas necessidades e reivindicações. A audácia é necessária no sentido de oferecer imediatamente a estes novos membros a possibilidade de se desenvolverem e se revelarem num trabalho amplo. A audácia é necessária no sentido de romper com os estereótipos habituais (também entre nós se verifica — e quão frequentemente! — um excessivo receio de atentar contra os estereótipos soviéticos estabelecidos, ainda que por vezes «estabelecidos» por velhos funcionários e empregados, e não por comunistas conscientes); a audácia é necessária no sentido da prontidão para modificar com rapidez revolucionária o tipo de trabalho para os novos membros do partido a fim de os pôr à prova rapidamente e de encontrar rapidamente para eles um lugar apropriado.

Em muitos casos os novos membros do partido podem ser colocados em cargos nos quais, controlando se os velhos funcionários cumprem com consciência as suas tarefas, estes membros do partido aprendam rapidamente o trabalho e possam realizá-lo por si próprios. Noutros casos, podem ser colocados de maneira que renovem, refresquem a ligação directa entre a massa operária e camponesa, por um lado, e o aparelho de Estado, por outro. Nas nossas «direcções gerais e direcções centrais» industriais, nas nossas «explorações soviéticas» agrícolas, ficaram muitos, ainda demasiados sabotadores, latifundiários e capitalistas escondidos, que prejudicam por todos os meios o Poder Soviético. A arte dos funcionários experientes do partido, no centro e nas localidades, deve revelar-se na intensificação do emprego das novas forças frescas do partido para lutar decididamente contra este mal.

A República Soviética deve tornar-se um campo militar único com a máxima tensão de forças, com a máxima economia de forças, com a máxima redução de toda a morosidade burocrática, de todo o formalismo desnecessário, com a máxima simplificação do aparelho, com a sua máxima aproximação não só das necessidades das massas mas também da sua compreensão, da sua participação independente neste aparelho.

Decorre intensamente a mobilização de velhos membros do partido para o trabalho militar. Este trabalho de modo nenhum deve ser enfraquecido, mas antes intensificado cada vez mais. Mas, ao mesmo tempo, para conseguir o êxito na guerra é preciso melhorar, simplificar, refrescar o nosso aparelho administrativo civil.

Na guerra vence quem tem na massa do povo mais reservas, mais fontes de força, mais resistência.

Nós temos mais de tudo isso do que os brancos, mais do que o colosso de pés de barro que é o imperialismo anglo-francês, com o seu «poderio universal». Temos mais de tudo isso porque podemos extraí-lo e extraí-lo-emos ainda durante muito tempo cada vez mais profundamente de entre os operários e os camponeses trabalhadores, de entre as classes que foram oprimidas pelo capitalismo e constituem em toda a parte a esmagadora maioria da população. Podemos extraí-lo deste vastíssimo reservatório, pois ele dá-nos os chefes mais sinceros, mais temperados pelas dificuldades da vida, mais próximos dos operários e dos camponeses, na obra da construção do socialismo.

Os nossos inimigos, quer a burguesia russa quer a mundial, não têm nada que se assemelhe nem de longe a esse reservatório, cada dia lhes foge mais o terreno debaixo dos pés, cada vez os abandonam mais os seus ex-partidários operários e camponeses.

Eis porque, no fim de contas, está assegurada e é inevitável a vitória do Poder Soviético mundial.


Notas de rodapé:

(1*) Pessoas que vivem de rendimentos. (N. Ed.) (retornar ao texto)

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Inclusão: 22/12/2019