Da destruição de um Regime Secular à criação de um Novo Regime

V. I. Lénine

8 de abril de 1920

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Escrito: em 8 de Abril de 1920

Publicado: a 11 de Abril de 1920, no Kommunistítcheski Subbótnik

Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1977, t3, pp 272-273.

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.40, pp. 314-315.

Transcrição e HTML: Manuel Gouveia

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo.


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O nosso jornal(N143) é consagrado ao trabalho comunista.

Esta é uma questão importantíssima da construção do socialismo. E é preciso antes de mais nada tornar bem claro para nós que esta questão só pôde ser colocada praticamente depois da conquista do poder político pelo proletariado, só depois da expropriação dos latifundiários e dos capitalistas, só depois das vitórias decisivas que o proletariado, depois de ter conquistado o poder de Estado, alcançou sobre os exploradores, que organizaram uma resistência desesperada, insurreições contra-revolucionárias e a guerra civil.

No começo de 1918 parecia que tinha chegado este momento, e, efectivamente, chegou depois da campanha militar de Fevereiro (1918) do imperialismo alemão contra a Rússia. Mas esse momento chegou por um prazo tão curto, a nova e mais poderosa vaga de insurreições e de invasões contra-revolucionárias irrompeu tão rapidamente que o Poder Soviético não teve a possibilidade de se ocupar com a atenção e persistência devidas das questões da construção pacífica.

Passámos agora dois anos de dificuldades inverosímeis, inauditas, de fome, de privações e de calamidades, e ao mesmo tempo de vitórias sem precedentes do Exército Vermelho sobre as hordas da reacção capitalista internacional.

Temos agora sérias possibilidades de esperar obter uma paz mais estável, mais duradoira (se os capitalistas franceses não incitarem a Polónia para a guerra).

Ao fim de dois anos, contamos já com alguma experiência de construção na base do socialismo. Por isso podemos e devemos agarrar de perto a questão do trabalho comunista, aliás poderíamos dizer mais correctamente: não do trabalho comunista mas do socialista, pois se trata não do degrau superior, mas inferior, do grau inicial de desenvolvimento do novo regime social que nasceu do capitalismo.

O trabalho comunista, no sentido mais rigoroso e estrito da palavra, é um trabalho não remunerado em benefício da sociedade, um trabalho que é executado não para cumprir uma obrigação determinada, não para obter o direito a determinados produtos, não segundo normas antecipadamente estabelecidas e consignadas, mas um trabalho voluntário, fora das normas, fornecido sem ter em conta qualquer recompensa, sem condições sobre a recompensa, um trabalho por hábito de trabalhar para o bem geral e pela atitude consciente (transformada em hábito) perante a necessidade de trabalhar para o bem comum, um trabalho como exigência de um organismo são.

É claro para todos que nós, isto é, a nossa sociedade, o nosso regime social, estamos ainda longe, muito longe, da aplicação ampla, verdadeiramente maciça deste trabalho.

Mas o facto de esta questão estar colocada, de ela estar colocada tanto por todo o proletariado avançado (o partido comunista e os sindicatos) como pelo poder de Estado, é já um passo em frente nesse caminho. Para chegar ao grande, é preciso começar pelo pequeno.

E, por outro lado, depois do «grande», depois da transformação estatal que derrubou a propriedade dos capitalistas e entregou o poder ao proletariado, a construção da vida económica sobre a nova base só pode começar pelo pequeno.

Os sábados comunistas, os exércitos do trabalho, o trabalho obrigatório, eis a realização prática, sob diversas formas, do trabalho socialista e comunista.

Nestas realizações há ainda uma quantidade de defeitos. Só pessoas totalmente incapazes de pensar, sem falar já dos defensores do capitalismo, podem limitar-se ao riso (ou à raiva) a propósito deles.

Os defeitos, os erros, as falhas, são inevitáveis numa obra tão nova, tão difícil, tão grande. Quem receia as dificuldades da construção do socialismo, quem se deixa intimidar por elas, quem cai no desespero ou na confusão pusilânime, não é socialista.

Criar uma nova disciplina do trabalho, criar novas formas de relações sociais entre os homens, criar formas e processos novos de fazer participar os homens no trabalho, é um trabalho de muitos anos e decénios. Este é o trabalho mais grato e mais fecundo.

A nossa sorte está em que, tendo derrubado a burguesia e esmagado a resistência, pudemos conquistar um terreno sobre o qual esse trabalho tornou possível.

E nós lançar-nos-emos a este trabalho com toda a energia. A firmeza, a perseverança, a disposição, a decisão e a capacidade de experimentar centenas de vezes, de corrigir centenas de vezes e alcançar a todo o custo os objectivos, estas qualidades formou-as o proletariado nos 10, nos 15, nos 20 anos que precederam a Revolução de Outubro, formou-os no decurso de dois anos depois desta revolução, sofrendo privações, fome, ruína, calamidades inauditas. Estas qualidades do proletariado são a garantia de que o proletariado vencerá.

8 de Abril de 1920.


Notas de fim de tomo:

(N143) Lénine refere-se ao jornal Kommunistítcheski Subbótnik, publicado por iniciativa do Comité de Moscovo do PCR(b), em 11 de Abril de 1920. Este jornal foi preparado durante o sábado comunista de 10 de Abril de 1920 pelas redacções e colaboradores dos jornais de Moscovo Pravda, Izvéstia VTsIK, Bednotá, Ekonomítcheskaia jizn, Kommunistítcheskii Trud e da agência telegráfica Rosta. O jornal foi divulgado durante o domingo comunista de 11 de Abril. (retornar ao texto)

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Inclusão: 03/01/2020