História do Mundo
Volume I - O Mundo Antigo - A Idade Média

A. Z. Manfred


I Parte: O Mundo Antigo
Capítulo III - As Antigas Civilizações da Índia e China


A Índia
Condições Naturais
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As condições naturais da antiga Índia eram extremamente variadas devido à grande extensão do país. Por isso convém dividir o país em duas partes — a parte Norte (ou a bacia dos rios Ganges e Indo) e a parte Sul. As condições naturais do norte da Índia eram mais ou menos uniformes, e semelhantes às do Egipto e da Babilónia; a fertilidade do solo dependia em larga medida das inundações do Indo e do Ganges. O solo do Sul da Índia era menos fértil, mas esta zona tinha muitas florestas e era rica em metais preciosos (ouro, diamantes, etc). Característica da Índia era o seu isolamento geográfico: o país estava separado do mundo que o rodeava pelas altas cordilheiras do Himalaia e pelo mar. Às tribos que primeiro habitavam o país dá-se geralmente o nome de Dravídicos e o primeiro período da história indiana é geralmente conhecida pelo período Dravídico.

História da Índia Primitiva

A cultura e o nível de desenvolvimento das tribos dravídicas correspondem grosso modo aos da sociedade sumero-acádica. A população dedicava-se ao cultivo de terras irrigadas e à criação de gado. As searas mais comuns eram de trigo e cevada, e os animais domésticos eram o carneiro, o porco e o búfalo. Cedo, porém, foram domesticados camelos e elefantes.

Durante o período Dravídico já existiam importantes cidades com ruas direitas e largas e casas de dois andares, tais como Harappa e Mohenjo-Daro, descobertas em escavações. As casas eram feitas de tijolo vermelho cozido. Em Mohenjo-Daro encontraram-se restos de sistemas de fornecimento de água e de esgotos e há muitos indícios de a cidade ter sido um centro comercial e de artesanato.

As ruínas dos grandes palácios de Mohenjo-Daro e de Harappa, que eram obviamente palácios reais, dão testemunho da existência de um poder de estado na sociedade dravídica, o que não quer dizer que então a Índia fosse um reino unificado, pois estava dividida numa série de pequenos reinos e principados. A julgar pelos bairros habitados pela nobreza e pelos pobres, já havia diferenças sociais baseadas na propriedade e uma forma embrionária de sociedade de classes. A existência de escrita revela, também, um nível de desenvolvimento bastante avançado.capa

A Conquista Ariana

Durante a primeira metade do segundo milénio, tribos arianas invadiram o Norte da Índia vindas das estepes da Ásia Central.

Os arianos estavam muito menos avançados económica e culturalmente do que os Dravídicos. Eram nove as tribos arianas, de que a mais importante era a tribo Bharata. O chefe de cada tribo chamava-se rajá e um grupo de tribos era governado por um marajá.

Os arianos eram pastores nómadas. A sua principal fonte de riqueza era o gado, e utilizavam as vacas como valor de troca, visto que a moeda ainda não existia. Contudo, os arianos que invadiram a Índia assimilaram desde logo a superior cultura dravídica e começaram a dedicar-se à agricultura sedentária. Da população dravídica, uma parte foi eliminada, a outra foi reduzida à escravatura ou à servidão e era tratada com extrema crueldade e desprezo.

Durante o primeiro milénio, os arianos foram avançando até às regiões do Sul da Índia, e conquistaram as populações locais. As estranhas relações que existiam entre a população nativa e os conquistadores arianos estão na base do sistema de castas que então começou a desenvolver-se. Toda a população da Índia foi dividida em quatro castas. A casta superior era a dos sacerdotes, dos brâmanes, depois vinha a casta xatrias ou dos guerreiros, a vaisya — comunidades de camponeses da comuna, artífices e comerciantes e, por fim, os sudras — trabalhadores assalariados, camponeses e escravos. Foram estabelecidas entre as várias castas barreiras estanques: o casamento intercastas, por exemplo, era ou proibido, ou pelo menos, não legal; os filhos dos casamentos intercastas eram considerados impuros e relegados para as castas inferiores.

A casta mais privilegiada era a dos sacerdotes — brâmanes — que eram isentos de todos os impostos, do serviço militar e das penas corporais. Segundo as leis da antiga Índia, um rapaz de dez anos que pertencesse à casta dos brâmanes era considerado como pai em relação a um homem de noventa anos que pertencesse aos xatrias. Em tempo de paz, os xatrias levavam uma existência relativamente calma e recebiam ricos presentes e favores dos reis, mas em tempo de guerra era o único sector da população que tinha de lutar. Os vaisya tinham de pagar impostos para o tesouro público: os camponeses das comunas até um sexto das colheitas e os comerciantes até um quinto do seu rendimento. Estavam, no entanto, isentos do serviço militar. A casta mais desfavorecida eram os sudras, que não tinham quaisquer direitos, e sobre quem caíam todas as obrigações. Um membro das castas superiores, por exemplo, pagava pelo assassínio de um sudra, a mesma multa que pagava por matar um cão. Os sudras, entretanto, estavam divididos em vários grupos. O subgrupo mais desfavorecido de todos, eram os chamados párias, descendentes dos dravídicos, a quem os membros das outras castas nem podiam tocar.

Uma outra característica, além do sistema de castas, distinguia a antiga civilização da Índia: as comunas de aldeias nunca mudaram durante muitos séculos. Embora existissem nas comunidades terras pertencentes a várias famílias, e, portanto, propriedade privada da terra, de um modo geral eram dirigidas na base de uma economia natural. A estrutura das comunas e o seu governo obedeciam sempre ao mesmo padrão: cada comuna tinha o seu ancião, trabalhadores que se encarregavam do cultivo da terra, um ferreiro, um carpinteiro, um oleiro, um barbeiro e o indispensável sacerdote brâmane.

A escravatura, embora muito espalhada na Índia, era geralmente doméstica, patriarcal. Os arianos escravizados por dívidas só o podiam ser temporariamente e, por isso, até eram permitidos casamentos entre escravos arianos e homens ou mulheres livres, desde que, é claro, pertencessem à mesma casta.

A Índia nos Séculos VI - III a.C.

No século VI, a Índia era constituída por vários Estados, os maiores dos quais eram Magadha, situado nos troços centrais do Ganges, e Kosala, a noroeste. A luta entre estes dois Estados terminou no século V a.C., com uma vitória decisiva do rei de Magadha, que fez assim de Magadha o Estado mais poderoso da Índia.

No século IV a.C., a parte noroeste do país foi conquistada por Alexandre Magno (daremos mais pormenores desta famosa campanha num capítulo posterior) depois do que foram colocadas tropas gregas e macedónias nalgumas cidades. O contacto entre os conquistadores e a população local levou a influências mútuas entre as culturas grega e indiana.

Depois da retirada de Alexandre da Índia, surgiu um movimento de libertação sob a chefia de Chandragupta Maurya (322-297), cujas origens se perdem na lenda. Segundo uma versão, Maurya pertencia ao xatrias e, segundo outra, seria sudra. O mais provável é que tenha conseguido tomar o poder como resultado de uma revolta generalizada.

Chandragupta fundou um poderoso Estado, depois de uma campanha contra um dos comandantes militares e sucessores de Alexandre, Seleuco Nicator, que foi obrigado a entregar-lhe uma grande parte do seu território (a Aria, a Arachosia, etc.). Este, depois de conquistar o reino de Kalinga, conseguiu unir quase toda a Índia sob o seu domínio. Asoka foi ainda famoso pelos grandes projectos arquitectónicos que encomendou e pela protecção que deu ao comércio. Procurou apoiar-se, sobretudo, nos vaisyas, e opôs-se aos brâmanes, infligindo duros golpes no seu poder e autoridade, fazendo do budismo a religião oficial.

Pouco depois da morte de Asoka o Estado indiano entrou em declínio mais uma vez e, cerca de 100 a.C. os Citas ou Sacae invadiram a Índia pelo Norte e fundaram o Estado Indo-Cita.

A Antiga Religião e a Antiga Cultura da Índia

O dogma básico do bramanismo era a crença em três deuses — Brama, criador do mundo, Vishnu, o deus do Bem, e Shiva, o deus do Mal, os quais firmavam a grande tríade (trimurti). O desenvolvimento desta religião acompanhou de muito perto a consolidação do poder da casta dos sacerdotes brâmanes, os únicos que tinham o direito de interpretar livros sagrados ou Vedas. As práticas rituais desta religião eram muito complicadas e estabeleciam, inclusive, os mínimos pormenores, como por exemplo qual devia ser o corte e o comprimento do cabelo dos fiéis.

No século VI a.C. acabaria por surgir outra tendência religiosa — o budismo. O fundador desta escola foi Gautama Buda ou Shakya Muni que se opôs ao monopolismo religioso dos brâmanes e procurou abolir a desigualdade baseada nas castas, pelo menos no que respeita à vida espiritual do indivíduo. Buda pregava também a não resistência ao mal, a abstinência e a renúncia a todos os desejos egoístas como factores essenciais para se atingir o nirvana, ou perda da individualidade pela imersão na vida universal. Como já vimos, o budismo foi declarado religião oficial durante o reinado de Asoka no século III a.C.

A antiga civilização da Índia foi muito avançada. Já no século III a.C. existiam várias escritas silábicas. Obras notáveis de poesia épica, tais como o famoso Mahabharata (descrição da luta entre os filhos de Bharata) e o Ramayana (descrição das proezas do herói lendário Rama), chegaram até nós. A antiga arquitectura indiana também é notável, por exemplo os surpreendentes templos budistas talhados nas rochas, obras que abundam em linhas curvas e padrões geométricos.

Os antigos Indianos também conheciam os princípios básicos da Matemática, da Astronomia e da Medicina. Elaboraram um calendário que dividia o ano em doze meses de trinta dias, e acrescentavam mais um mês no fim de cada cinco anos. Conservaram-se até hoje tratados de medicina que revelam conhecimentos dos princípios da anatomia e capacidade de usar várias ervas medicinais.

A Antiga China
Condições Naturais

A China difere dos países do Médio Oriente ainda mais do que a Índia no que se refere às condições naturais. A China pode dividir-se em três regiões claramente definidas:

  1. o vale do rio Amarelo ou grande planície da China;
  2. a China Central que é composta de regiões montanhosas e do vale do Yangtzé;
  3. o Sul da China, montanhoso.

As cheias anuais do rio Amarelo tornam a planície chinesa extremamente fértil. O solo da China Central e particularmente da China do Sul é muito menos fértil, mas estas regiões são ricas em recursos minerais (cobre, estanho e chumbo) e pedras de valor tais como a nefrite. A população da China Antiga era extremamente heterogénea.

A China nos Tempos Primitivos
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O primeiro período da história chinesa chama-se período Chang-Yin (1765-1122 a.C.). A unificação das tribos chinesas da bacia do rio Amarelo com o objectivo de travar uma luta comum contra os nómadas do Norte, os Hsiung Nu, e de desenvolver o sistema de irrigação que existia deu origem a uma brilhante cultura sedentária e mais tarde a todo um estado. Os principais instigadores desta unificação foram as tribos yin e que fundaram o Estado Chang, que tomou o nome da dinastia.

Escavações feitas por volta de 1930 no território do Estado Chang trouxeram à luz do dia restos de uma antiga cidade, com um palácio real, um templo, casas e oficinas. Foram desenterrados mais de trezentos túmulos, sendo quatro deles indiscutivelmente túmulos reais, que continham enorme quantidade de ouro, nefrite e ornamentos de madrepérola.

A principal actividade do Estado Chang-yin era a cultura dos cereais (cevada, trigo e milho miúdo) e mais tarde o arroz. Foi para a cultura do arroz que se desenvolveram os primitivos planos de irrigação. Os instrumentos de trabalho deste período também eram extremamente rudimentares: enxadas e arados de madeira. Contudo, nesta época primitiva, os Chineses haviam começado a cultivar a amoreira e a fabricar a seda. A técnica do fabrico da seda foi mantida rigorosamente secreta, e quem revelasse os seus segredos podia ser castigado com a morte. Daí que os Chineses conseguissem manter esta técnica, este segredo durante quase 2500 anos antes de se espalhar para o Japão e para o Irão. Outras actividades eram a criação de gado para alimentação (mas não para produzir leite, porque os Chineses não bebiam leite) e a pesca.

Desenvolviam-se, entretanto, ofícios vários: a carpintaria (arcos, setas, carros de guerra, barcos), o trabalho em pedra e a cerâmica. As escavações dão ainda testemunho de trabalhos primitivos em bronze. Nesta altura, já se praticava o comércio, que se estava a desenvolver rapidamente, mas ainda sob a forma de troca de produtos.

O poder real tinha ainda características feudais, dado que o rei era assistido por um conselho do clã ou pelos anciãos da tribo, e aliava as funções de chefe militar e de sumo-sacerdote.

Na sociedade Yin havia uma hierarquia de propriedade claramente definida e também uma nobreza hereditária, em cujas mãos estavam concentrados a terra e os escravos. A escravatura era de tipo patriarcal. A grande massa da população era composta de camponeses que viviam em comunas. Foi neste período que apareceu a linguagem escrita. Os caracteres vinham evoluindo de uma primitiva escrita figurativa e a escrita era extremamente complicada: foram identificados cerca de três mil sinais desta antiga escrita.

No século XII a.C. começaram longas e amargas hostilidades com as tribos Tchou, que acabaram por conquistar a capital Chang (1124) e fundar o seu próprio estado.

As Dinastias Chou e Ch'in
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Sob a dinastia Chou (1122 - 771 a.C.) formou-se um estado chinês centralizado. Os reis começaram a ser venerados como deuses (tinham títulos como «filho dos céus» e «representante dos céus») e foi instituído o cargo especial de grande chanceler do rei. Ao seu serviço estavam três anciãos, encarregados dos três ramos principais dos negócios de Estado: finanças, assuntos militares e administração social, ocupando-se este último, sobretudo, da organização das obras de irrigação. O número de secções administrativas foi aumentando pouco a pouco e acabou por incluir comissões para superintender na casa real e no tesouro, no tribunal e no culto dos antepassados do rei.

A população foi, entretanto, submetida a uma exploração cada vez mais dura. Os camponeses eram obrigados a pagar um décimo das suas colheitas em impostos. Este intolerável estado de coisas levou a uma revolta, que começou em 842 a.C., e à queda do rei. Pouco depois, o estado centralizado Chou foi dividido em alguns principados independentes.

No século VII a.C. surgiram na China cinco Estados que se guerreavam constantemente. Do século V ao século III a.C., a luta foi tão renhida que o período veio a ser chamado Chan Kuo, «os estados em contenda». O quarto século assistiu à ascensão do principado Ch’in. Durante mais de cem anos, os príncipes Ch’in lutariam pela supremacia na China.

O apogeu da dinastia Ch’in foi o reinado de Chih Huang-ti, «primeiro imperador da dinastia Ch’in» (246 - 210 a.C.).

Este imperador conseguiu submeter o resto dos principados chineses e também parte da Manchúria e da Mongólia. Durante o seu reinado, o país foi dividido em 36 comendadorias e organizou-se um grande aparelho administrativo. A rede de irrigação foi aumentada e foram construídas algumas estradas que ligavam localidades importantes. Chih Huang-ti reorganizou o exército de modo a tornar a cavalaria a principal força de ataque. Também foram feitas reformas económicas e culturais, incluindo um sistema uniformizado de pesos e medidas e uma escrita hieroglífica estandardizada e um pouco mais simplificada. Começou ainda a construção da Grande Muralha da China, para defender o império contra os ataques dos nómadas vizinhos.

Contudo, o carácter despótico do regime instaurado por Chih Huang-ti havia de suscitar o descontentamento entre uma grande parte da população. Este descontentamento foi apoiado pelos adeptos da escola religiosa e filosófica de Confúcio, que, baseando-se em vários livros e documentos históricos, chamou a atenção para os méritos de dinastias anteriores em contraste com a da época. A repressão contra os seguidores de Confúcio foi extremamente cruel: 460 estudiosos do confucionismo foram enterrados vivos e queimados todos os escritos históricos. No entanto, pouco depois da morte de Chih Huang-ti a dinastia Ch’in foi destronada.

A Dinastia Han

O domínio dos primeiros Hans (206 a.C. - 220 d.C.) foi um pouco menos despótico: a pena de morte era aplicada com menos frequência, os impostos foram reduzidos para a trigésima parte do rendimento de cada homem e aqueles que se tinham vendido a si próprios como escravos foram restituídos à liberdade. Os reis da dinastia Han renunciaram ao título Huang-ti e o confucionismo foi declarado religião oficial.

Durante o reinado de Wu Ti (140-87 a.C.) tiveram origem muitas grandes propriedades e os donos de terras utilizavam o trabalho de arrendatários e de escravos. Várias medidas foram tomadas para encorajar o desenvolvimento do comércio e dos ofícios, como se pode inferir do aumento da produção e da exportação da seda, da porcelana, do marfim e de artigos de chifre.

Wu Ti chefiou várias expedições militares contra o Turquestão Oriental e contra Ferghana. Construíram-se as primeiras estradas comerciais para Roma, que passavam pela Sógdia e pela Pártia. Da Ásia Central, os Chineses levaram videiras, nogueiras e várias espécies vegetais que começaram a cultivar no seu país.

Nos começos do século I d.C., a China foi flagelada pelo conflito de classes que se ia agravando.

No ano 8 d.C., o regente Wang Mang depôs o imperador, que era ainda criança, tomou as rédeas do poder e promulgou uma série de reformas interessantes. Por exemplo, declarou que toda a terra era propriedade do estado, proibiu que fosse objecto de compra e venda e estabeleceu um limite fixo para as propriedades dos ricos e da aristocracia, confiscando todo o excesso de terras. Declarou ainda os escravos propriedade do Estado. Além disto, instituiu um monopólio estadual do ferro, do sal e do vinho e tentou estabelecer preços fixos para os artigos mais necessários. Estas reformas suscitaram violenta oposição da parte dos ricos e dos aristocratas. Além do mais, estes planos eram utópicos, dado que a propriedade privada da terra já tinha fortes raízes.

No ano 18 d.C. começou no Norte da China uma revolta camponesa em larga escala, sob a chefia de Fang Chung, conhecida pela «revolta dos sobrolhos vermelhos» (característica própria dos participantes). Os camponeses venceram as tropas de Wang Mang em 25 d.C., mas pouco tempo depois o movimento adquiriu carácter diferente: as alas de camponeses foram reforçadas por destacamentos chefiados por representantes da aristocracia, que os utilizaram para restaurar a dinastia Han.

Os reis da segunda dinastia Han não se pouparam a esforços para consolidar o poder centralizado e para restaurar a economia do país, que tinha sido seriamente minada no decurso da luta contra as reformas de Wang Mang. No entanto, as contradições existentes entre os grandes proprietários e lavradores, por um lado, e os arrendatários e escravos, por outro, tornaram-se cada vez mais agudas. A velha sociedade baseada no princípio da propriedade dos escravos sofreu uma grande crise e como resultado as formas de exploração do trabalho mudaram: começaram a ceder terras aos escravos e autorização para as cultivarem, enquanto por outro lado se processava uma gradual emancipação dos arrendatários livres.

No ano 184 d.C. estalou uma revolta camponesa que assumiu enormes proporções. «A revolta dos fitas amarelas», como foi chamada, chefiada por Juang Chao e seus irmãos, tinha como palavra de ordem um apelo à igualdade universal. O exército rebelde tinha algumas centenas de milhares de homens, e travou-se uma dura luta durante vinte e cinco anos. Embora a revolta acabasse por ser esmagada, o império desintegrou-se e a China foi mais uma vez dividida em vários reinos independentes.

A Religião e a Cultura da Antiga China

A primitiva religião praticada na China estava ligada ao culto da natureza, em particular ao culto da terra e das montanhas, mas as concepções religiosas tornaram-se cada vez mais complexas. O confucionismo só apareceu durante os séculos VI e V a.C. O fundador desta religião, Confúcio, tinha sido um alto oficial na corte de um príncipe. A lealdade à tradição e aos costumes dos antigos e a desconfiança em relação a qualquer inovação eram os traços mais característicos dos seus ensinamentos religiosos e filosóficos. Confúcio idealizou a monarquia patriarcal e o código moral da família patriarcal. Atribuía uma enorme importância à educação moral e pedia moderação e aceitação do destino. Entre as máximas confucionistas mais típicas encontram-se as seguintes: «Manter-se no caminho médio é manter a virtude», «os pais sempre serão pais, os filhos sempre serão filhos e os wangs sempre serão wangs», «a insubordinação do povo é a raiz de toda a desordem».

Além do confucionismo, outro sistema religioso e filosófico se estabeleceu na China, o taoísmo, e, no século I, o budismo começou a espalhar-se, vindo da Índia.

A ciência e a filosofia desenvolveram-se muito na antiga China. Filósofo notável, foi Wang Chung (século I d.C.) que defendia vários princípios materialistas (entre outras coisas negava a imortalidade da alma). Fizeram-se importantes progressos na astronomia: elaboraram-se mapas do céu e faziam-se previsões dos eclipses e do aparecimento dos cometas. Os matemáticos chineses estabeleceram as propriedades do triângulo rectângulo. Também chegaram até nós tratados geográficos e agronómicos de interesse. Os antigos chineses inventaram ainda a pólvora, o papel, o compasso e o sismógrafo.

O mais famoso dos historiadores chineses clássicos foi Sauma Ch’ien (que escreveu por volta do ano 100 a.C.), autor dos monumentais Registos do Historiador; as obras literárias dessa época que chegaram até nós incluem: Chih Ching (Clássico das Canções) — colecção de hinos rituais e canções populares, Chu Ching (Clássico de Documentos) — discursos, instruções e exortações dos antigos imperadores e Ch’un Ch’in (Primaveras e Outonos) — obra atribuída a Confúcio, que é uma crónica do seu estado natal de Lu.

Finalmente, devem mencionar-se as notáveis realizações da antiga China na arte e nos ofícios, no artesanato da porcelana, do bronze, da madeira e do marfim.


Inclusão 12/02/2016