História do Mundo
Volume I - O Mundo Antigo - A Idade Média

A. Z. Manfred


I Parte: O Mundo Antigo
Capítulo VII - A República Romana


O Período Primitivo
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O berço do Estado romano foi a península italiana no Mediterrâneo Central, que, juntamente com a ilha adjacente da Sicília forma como que uma ponte natural entre a Europa e a África. A costa da península itálica é menos acidentada do que a da península balcânica e tem menos baías e golfos abrigados. As ilhas próximas das costas da Itália são menos numerosas e variadas do que as do mar Egeu.

Embora a península itálica seja uma terra montanhosa como a Grécia, há uma única cadeia de montanhas na parte central, que é ladeada por largos vales próprios tanto para a agricultura como para a criação de gado. O solo da Itália é muito mais próprio para a agricultura que o da Grécia e nos tempos antigos a Itália foi sempre considerada como um país tipicamente agrário. Os seus principais recursos naturais eram a madeira e os metais (sobretudo o cobre e o estanho).

Nos tempos antigos, a península itálica foi habitada por uma grande variedade de povos. Aqui referir-nos-emos só aos principais grupos de tribos. No Norte viviam várias tribos celtas (ou gaulesas). Um pouco mais para o Sul viviam os Etruscos, um povo que desempenhou um papel importante na primitiva história italiana. O centro da península foi povoado por numerosas tribos itálicas, incluindo os latinos em cujo território estava situada a cidade de Roma. Finalmente, no Sul predominavam os elementos gregos e havia um grande número de colónias gregas — muitas delas cidades ricas e prósperas — de maneira que se deu o nome de Grande Grécia ao Sul da Itália e à ilha da Sicília.

O Enigma Etrusco

O mais misterioso dos povos e tribos que habitavam a Itália eram os Etruscos. A sua origem ainda hoje é um enigma por resolver. Os Etruscos tinham sido um povo poderoso e tinham estendido a sua hegemonia a quase toda a península (séculos VII - VI a.C.). Ainda hoje podemos ver as ruínas de grandes cidades etruscas, muralhas de fortalezas, casas de nobres e túmulos esplendorosos.

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Os achados arqueológicos sugerem que os Etruscos eram um povo predominantemente agrícola. Os artífices etruscos também eram famosos pelos seus artefactos de metal, espelhos e vasos, e ornamentos de ouro e marfim. Mantinham comércio activo com os gregos, os egípcios e outros povos. Naquele tempo o comércio marítimo andava ligado à pirataria e os piratas etruscos eram temidos em todo o Mediterrâneo.

Os Etruscos do século IV a.C. eram um povo que praticava a escravatura, que tinha um rei e uma nobreza e uma grande população de escravos e de camponeses vassalos. No apogeu da hegemonia etrusca foi concluída outra aliança entre doze das suas cidades.

Roma já tinha sido fundada mas estava sob o domínio etrusco. Nos séculos VII e VI a.C., uma dinastia de reis etruscos reinava em Roma e a população da cidade incluía muitos artífices etruscos; os costumes e ritos etruscos mantiveram-se na vida social e doméstica dos romanos durante muitos anos.

No entanto, o domínio etrusco depressa começou a declinar. No fim do século VI a.C. estalaram guerras intestinas entre as cidades etruscas, e os etruscos sofreram uma série de reveses em conflitos com os Gregos no Sul da Itália. O golpe final foi-lhes infligido por uma revolta das tribos itálicas conduzidas por Roma.

Além dos utensílios e obras de arte, as escavações arqueológicas revelaram grande número de inscrições etruscas (cerca de nove mil ao todo). Contudo, as tentativas que até agora se fizeram para as decifrar tiveram pouco êxito e, assim, a língua dos Etruscos, o problema das suas origens e muitos pormenores da sua fascinante história continuam por esclarecer.

A Fundação de Roma

Como e quando foi fundada Roma, a cidade a que os antigos chamavam «eterna», e que estava destinada a desempenhar um papel tão ilustre? Não é possível dar uma resposta satisfatória a esta pergunta, e somos obrigados a voltar à famosa lenda dos antigos. A lenda conta que um dos reis da cidade de Alba Longa foi expulso do trono por um irmão, e que sua filha Rhea Sílvia foi feita vestal e obrigada a fazer voto de celibato. No entanto, Rhea Sílvia deu à luz dois rapazes gémeos, e o rei, encolerizado, mandou que os afogassem. Um dos escravos levou-os até ao rio dentro de um cesto e pô-los sobre a água. No entanto, os gémeos não se afogaram, porque foram retidos na margem ao pé de uma figueira onde uma loba os encontrou e amamentou. As crianças foram depois recolhidas por um pastor que os criou e lhes deu os nomes de Rómulo e Remo.

Quando os gémeos cresceram, alguém divulgou o segredo do seu nascimento. Em Alba Longa destronaram o usurpador, devolveram o trono ao avô e pediram autorização para fundarem uma nova cidade. Na altura da fundação desta cidade, os dois irmãos zangaram-se e Rómulo matou Remo. Esta é a lenda da fundação de Roma, a cidade que tem o nome de Rómulo, e da qual ele foi o primeiro rei. Segundo antigos historiadores romanos, a cidade foi fundada em 21 de Abril de 753 a.C. Contudo, não se pode confiar nesta data, que deve ser tomada apenas como uma vaga indicação.

O Reino de Roma

Ao período primitivo da história de Roma chama-se muitas vezes o tempo dos reis, porque, segundo a tradição romana, a cidade era então uma monarquia. Houve seis reis depois de Rómulo, sendo os três últimos descendentes da tribo etrusca dos tarquínios. Durante o seu reinado, Roma cresceu em extensão e conseguiu conquistar todo o Lácio.

O penúltimo rei de Roma, Sérvio Túlio, ficou na história como o iniciador de uma famosa reforma social, segundo a qual toda a população e território romanos foram divididos em quatro regiões ou tribos. A população foi por sua vez dividida em cinco classes, de acordo com a propriedade e o rendimento. Os cidadãos mais pobres estavam de fora destas categorias e eram chamados proletarii.

O recrutamento militar e os direitos políticos de que estas classes gozavam variavam consideravelmente. Como cada cidadão tinha de adquirir armas à sua custa, naturalmente que só os membros da classe mais elevada se podiam equipar com armamento pesado completo (espada, escudo, lança e armadura) e manter um cavalo. Esta classe fornecia a maior parte das centúrias para o exército nacional, e também gozava de todos os privilégios políticos. Na Assembleia Popular, o povo estava representado pelas centúrias, tendo cada centúria um voto. Como a maior parte das centúrias tinha origem na classe social mais elevada, esta classe podia sempre contar com a maioria dos votos da assembleia.

No fim do século VI a.C., o padrão político de Roma mudou. O último rei, conhecido por Tarquínio, o Soberbo, pela sua arrogância e tendências tirânicas, foi banido e a monarquia foi abolida. Supõe-se que este acontecimento coincidiu com a revolta vitoriosa contra o domínio etrusco. Fundou-se em Roma uma República, destinada a ter uma longa história.

A História Primitiva da República
A Estrutura Social e Política da República Romana

Durante o domínio dos reis romanos e nos primeiros tempos da República, os vestígios do sistema de clãs eram ainda bastante nítidos. O poder político estava nas mãos dos representantes da aristocracia hereditária, conhecida sob o nome de patrícios. Regra geral, as melhores terras pertenciam-lhes, o que queria dizer que os patrícios não só eram de sangue nobre como eram também os cidadãos ricos. Às massas populares chamavam plebeus — estes incluíam os camponeses médios e pobres e também os artífices ou comerciantes que viviam na cidade. O número de plebeus estava sempre a aumentar e como grupo tornara-se cada vez menos homogéneo. A maior parte dos plebeus empobrecia e caía frequentemente na escravatura por dívidas, enquanto um certo sector começava a enriquecer através do comércio ou da usura. Os plebeus ricos começaram desde logo a procurar direitos e privilégios iguais aos dos patrícios. Quanto aos escravos, neste período primitivo da história romana, eram relativamente poucos e a escravatura era de tipo patriarcal.

A estrutura estatal da República romana baseava-se nos seguintes princípios: a posição mais elevada era a de cônsul — havia dois, eleitos anualmente; comandavam o exército e eram eles que convocavam o Senado e as assembleias do povo (comitia). O Senado era o principal órgão oficial da República romana; era composto por trezentos membros e incluía os antigos cônsules e outros homens públicos de elevada posição. Deve notar-se que o posto de cônsul, e portanto o de senador também, só estava aberto aos membros da classe dos patrícios. O Senado resolvia questões da política interna e da política externa e controlava a economia e a propriedade do estado. As assembleias populares eram: a Assembleia Popular ou das Centúrias, onde quase todos os funcionários de estado eram eleitos e onde os representantes da classe patrícia tinham uma maioria permanente em Roma, e a Assembleia Tribal Plebeia, para a qual desde muito cedo foram transferidas funções legislativas.

Embora na República romana, tal como em Atenas, existisse uma Assembleia Popular e houvesse eleições para as funções oficiais (os funcionários públicos de Roma nunca eram pagos pelo seu trabalho), a grande importância que tinha o Senado nas questões de Estado dava à República romana um carácter marcadamente aristocrático.

A Luta Entre os Patrícios e Plebeus

A história interna de Roma do século V ao século III a.C. foi marcada pela luta entre os patrícios e os plebeus, pela posse da terra e por direitos políticos. As massas plebeias esforçavam-se por obterem mais terras, enquanto as camadas mais ricas procuravam a igualdade política.

Um dos primeiros e mais dramáticos episódios desta luta foi a chamada Secessão Plebeia, quando todos os plebeus armados deixaram Roma e acamparam no Monte Sagrado (Mons Sacer — 494 a.C.). A partida dos plebeus enfraqueceu drasticamente a força militar de Roma e os patrícios foram obrigados a fazer várias concessões. Foi então instituído um novo e importante posto — o tribuno da plebe, cujo papel era defender os interesses e os direitos dos plebeus. Os tribunos da plebe eram eleitos (primeiro havia dois, depois passou a haver cinco e mais tarde dez) pela Assembleia Tribal dos Plebeus e podiam protestar contra as ordens de todos os outros funcionários (direito de veto).

No decurso desta luta, os plebeus obrigaram os patrícios a consentir em novas concessões. A chamada «Lei das Doze Tábuas» foi decretada (451 - 450) e os tribunais, que estavam, como não podia deixar de ser, nas mãos dos patrícios, ficaram subordinados a estas leis. Algum tempo mais tarde (445 a.C.), legalizaram-se os casamentos entre patrícios e plebeus. No ano de 367 a.C., os plebeus foram declarados elegíveis para o posto de cônsul (Leis de Licinio e Sexto) e mais tarde para todos os outros altos postos da República. Tudo isto equivalia na prática a um nivelamento de direitos entre patrícios e os plebeus mais ricos e a uma miscigenação dos dois grupos. Surge, assim, em Roma uma nova aristocracia patrícia-plebeia que passou a ser conhecida por nobreza. Esta em breve assumiu todo o poder político e o Senado tornou-se um instrumento da sua vontade. A grande massa dos plebeus mais pobres, entretanto, nada ganhou e ficou ainda mais pobre no fim deste conflito.

Roma Conquista a Itália, Séculos V - III a.C.

Durante estes três séculos, Roma esteve quase continuamente em guerra. A política externa romana inspirada pelo Senado foi extremamente agressiva.

Durante o século V, Roma lutou contra cidades e tribos vizinhas, tais como os Volgos e os Équos. As vitórias obtidas nestas campanhas deram aos Romanos o controlo absoluto da margem esquerda de troços mais baixos do Tibre. Foram estes os primeiros sucessos militares dos Romanos. O século IV, contudo, apresentaria um quadro muito diferente. Em 390, os Gauleses (como os Romanos chamavam aos Celtas) marcharam sobre Roma pelo Norte da Itália. As tropas romanas sofreram uma derrota esmagadora numa batalha junto ao rio Allia e os Gauleses conseguiram conquistar Roma sem dificuldade — excepto a colina do Capitólio que era defendida por tropas de choque romanas. Quando tentavam um assalto nocturno ao Capitólio, os gansos sagrados, que eram guardados no templo de Juno, deram o alarme e os defensores conseguiram repelir o ataque. Daqui a famosa expressão «os gansos salvaram Roma».

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Na segunda metade do século IV, os Romanos travaram uma dura batalha pelo controlo da Itália Central. Foram obrigados a lutar contra os seus antigos aliados, os Latinos, e a travar três guerras contra a grande tribo itálica dos Samnitas. Durante a chamada Terceira Guerra Samnita, os Romanos tiveram como adversários não só os Samnitas mas também os Etruscos. A guerra contra a coligação das tribos itálicas foi travada com êxitos irregulares, mas os Romanos acabaram por sair vitoriosos e subjugaram toda a Itália Central.

No século III a.C. começou para a Itália a última fase da batalha. Agora era a vez das cidades da Grande Grécia. Algumas aderiram a uma aliança com Roma e reconheceram a sua hegemonia, mas uma das maiores cidades do Sul, Tarento, decidiu resistir à agressão romana. O povo de Tarento pediu ajuda a Pirro, rei do Epiro, no Noroeste da Grécia, que era descendente longínquo de Alexandre Magno, e sonhava com as mesmas glórias. Pirro partiu cheio de ânimo à conquista da Itália.

Pirro e as suas tropas aportaram à Itália no ano de 280 a.C. Na primeira batalha contra os Romanos obteve uma vitória estrondosa. Então marchou para Norte e pouco depois enfrentou os Romanos pela segunda vez em Ausculum, onde obteve uma segunda vitória. Entretanto, esta batalha havia sido tão feroz e as perdas de Pirro foram tão grandes, que ele teria exclamado: «Mas se obtiveras outra vitória assim estamos perdidos!» (Daqui a expressão «vitória pírrica»). Depois desta batalha, Pirro partiu com as suas tropas para a Sicília, onde passou algum tempo mas não conseguiu conquistar a ilha. Mais tarde, voltou à Itália e em 275 a.C. travou a sua última batalha contra os Romanos em Beneventum que acabou numa derrota. Pirro viu-se então obrigado a deixar a Itália. Dois anos mais tarde, Tarento rendeu-se aos Romanos que conseguiram pouco a pouco obter o controlo das outras cidades do Sul da Itália. Como resultado das guerras que travaram nos séculos V, IV e III, os Romanos conseguiram subjugar toda a Itália desde a costa sul da Gália Cisalpina, e Roma tornou-se uma das maiores potências mediterrânicas. As aspirações de Roma orientavam-se agora para lá das fronteiras da península dos Apeninos e começava a luta de Roma pelo domínio de toda a bacia do Mediterrâneo.

A Luta de Roma pelo Domínio do Mediterrâneo
Roma e Cartago

Quando os Romanos olhavam para mais longe, para além dos limites da península itálica, o seu olhar pousava primeiro na Sicília. Nas palavras de um dos historiadores antigos, esta ilha era uma presa rica e tentadora, estava mesmo à mão, apesar de estar separada da Itália.

No entanto, os Romanos encontravam-se perante um sério rival: Cartago, outro Estado poderoso que praticava a escravatura. A cidade de Cartago estava situada na costa norte da África (nas costas do golfo de Tunes) e segundo a lenda foi fundada logo no século IV a.C. Tinha-se tornado uma importante potência mediterrânica antes de Roma. O poder económico de Cartago baseava-se na actividade de centro comercial. Por causa da sua favorável situação geográfica, Cartago tinha-se tornado no centro da distribuição de matérias-primas e produtos manufacturados em todo o Mediterrâneo. A acrescentar a isto, Cartago dispunha de plantações florescentes: as terras em volta da cidade, que pertenciam aos cartagineses ricos, eram cultivadas por milhares de escravos. Nessa altura, os cartagineses eram também célebres pelos seus racionais métodos agrícolas.

O desenvolvimento do comércio e a importância cada vez maior da agricultura pusera o poder político de Cartago nas mãos dos proprietários de terras e dos comerciantes. A estrutura estatal cartaginesa era a de uma república, mas como havia muito poucos camponeses livres no país, os aspectos democráticos da constituição cartaginesa não tinham uma base firme. A Assembleia Popular estava reduzida a um papel diminuto. O poder executivo era detido por dois suffetes, cujas funções se assemelhavam às dos cônsules romanos e que comandavam o exército e a armada. Havia também um Conselho dos Trezentos semelhante ao Senado romano; de entre os seus membros elegia-se um Conselho dos Trinta que desempenhava funções internas, entre as reuniões do Conselho dos Trezentos. Os Cartagineses tinham um exército forte e uma poderosa esquadra A fraqueza do seu exército provinha do facto de ser composto sobretudo de mercenários. Contudo, o seu nível profissional era elevado e o seu equipamento técnico avançado (elefantes de guerra, armas próprias para cerco, etc.).

Os Cartagineses eram colonizadores activos. Fundaram colónias na costa norte da África, no sul da Espanha e nas ilhas Baleares. Tinham-se estabelecido também na Córsega e na Sardenha, e na época do seu primeiro confronto com Roma controlavam quase toda a Sicília, à excepção de Siracusa e Messana. Foi a sua tentativa para subjugar esta última cidade que levou ao conflito com Roma.

A Primeira e a Segunda Guerras Púnicas

A Primeira Guerra Púnica (os Romanos referiam-se aos Cartagineses como o povo púnico) durou vinte e três anos (264-241 a.C.). Os primeiros recontros deram-se na Sicília, onde os Romanos obtiveram alguns êxitos. No entanto, estes êxitos nunca foram decisivos visto que os Romanos não tinham esquadra e não podiam rivalizar com o poder marítimo cartaginês. Só depois de terem construído uma frota e ganho a sua primeira vitória marítima, os Romanos conseguiram transferir o teatro das operações para o território africano. Contudo, esta primeira expedição africana foi mal preparada e acabou num fracasso completo.

A guerra arrastou-se com as hostilidades mais uma vez centradas na Sicília. Ambos os exércitos foram obrigados a dar tudo por tudo neste conflito igual, que só acabou depois da decisiva batalha naval das ilhas Aegadia, a oeste da Sicília (241 a.C.) quando a frota cartaginesa foi definitivamente derrotada. Depois disto, os Cartagineses foram obrigados a concluir um tratado de paz pelo qual entregavam a Sicília a Roma e pagavam um pesado tributo.

Algum tempo depois, os Romanos cometeram um acto de agressão não provocado tomando a Córsega e a Sardenha. Mas os Cartagineses tiveram de resignar-se por causa duma revolta dos seus mercenários, que se tornou uma ameaça particularmente perigosa quando o povo da Líbia se juntou a eles.

Esta revolta foi esmagada pelo general cartaginês Amílcar Barca que se tinha distinguido na Primeira Guerra Púnica. Depois de reprimir a revolta, subiu a sua fama em Cartago e reconheceram-no comandante dos chefes militares que sonhavam com uma nova guerra de vingança contra Roma. Para se preparar melhor para uma nova confrontação, Amílcar partiu com o exército cartaginês para Espanha que esperava conquistar e assim criar uma testa de ponte para a iminente guerra com os Romanos.

Durante as lutas em Espanha, Amílcar morreu. O comando das tropas cartaginesas foi primeiro tomado pelo seu genro e depois pelo jovem filho Aníbal. Segundo a lenda, quando Amílcar foi conquistar a Espanha, Aníbal, que então tinha onze anos, pediu ao pai que o levasse com ele. Amílcar concordou, mas na condição de Aníbal fazer um voto de eterna inimizade com Roma. Aníbal fez este voto e foi-lhe fiel toda a sua vida.

Quando Aníbal tomou o comando do exército a questão da guerra com Roma já tinha praticamente sido decidida. A Segunda Guerra Púnica começou em 218 a.C. e durou dezassete anos. Aníbal traçou um ousado plano para travar guerra contra Roma em solo italiano. Para pôr este plano em prática tinha de empreender a tarefa extremamente difícil de atravessar os Alpes. Nas suas batalhas contra os Romanos, Aníbal revelou notável génio militar, e infligiu uma série de esmagadoras derrotas ao exército romano, a mais famosa das quais foi na batalha de Canas (216 a.C.) em que Aníbal conseguiu cercar e derrotar o inimigo.

No entanto, a campanha de Aníbal contra Roma foi praticamente o esforço de um homem contra um Estado poderoso. Cartago não deu ao seu líder o apoio necessário. E, por isso, embora não tivesse sofrido uma única derrota, Aníbal acabou por se encontrar isolado no Sul da Itália. As cidades que estavam já do seu lado foram a pouco e pouco recuperadas pelos Romanos e o jovem comandante romano Públio Cornélio Cipião alcançou algumas vitórias contra os Cartagineses em Espanha. Depois de libertar a Espanha das tropas cartaginesas, Cipião propôs uma campanha em África. Organizou uma força expedicionária e aportou perto de Cartago; então o governo cartaginês apressou-se a chamar Aníbal da Itália. No ano 202 a.C., a batalha decisiva da guerra travou-se em Zama, onde Aníbal sofreria a sua última e primeira derrota. Assim, as condições de paz impostas pelos romanos foram ainda mais exigentes do que antes. Cartago perdeu as suas colónias, entregou a sua frota e todos os elefantes aos Romanos, ficou obrigada a pagar um enorme tributo. Estas condições minaram o poder militar e político de Cartago definitivamente, de tal modo que o fim da Segunda Guerra Púnica fez de Roma a potência mais forte do Mediterrâneo.

O Domínio da Península Balcânica. A Terceira Guerra Púnica

No entanto, Roma estava ainda destinada a ter uma confrontação com Cartago uma terceira vez, cinquenta anos depois do fim da Segunda Guerra Púnica.

Durante esse intervalo de meio século, os Romanos prosseguiram tenazmente as suas tentativas de dominar o Mediterrâneo Oriental. Travaram três guerras contra o mais perigoso dos seus rivais do Oriente — a Macedónia helenística. Depois da Segunda Guerra Macedónica, os Romanos declararam-se arrogantemente libertadores da Grécia e, em 196, o comandante romano Flamínio declarou-a independente. Em termos práticos, a Grécia apenas mudara de dominador.

Depois da Segunda Guerra Macedónica, estalaram conflitos com o rei sírio Antíoco, que tentou formar uma coligação anti-romana no Oriente. A esta, seguiu-se ainda outra Guerra Macedónica quando o rei macedónio Perseu fez uma última tentativa para formar uma coligação contra Roma. Quando surgiu um movimento de libertação na Grécia, os Romanos reprimiram-no brutalmente, e para intimidar os Gregos destruíram também Corinto (146 a.C.), uma das mais antigas e mais ilustres cidades da Grécia.

No ano 149, estalou a Terceira Guerra Púnica. Desde a última guerra, Cartago, devido à sua situação geográfica extremamente favorável, conseguira restabelecer as suas capacidades económicas. Mais uma vez a cidade se tornou num importante centro do comércio mediterrânico. Os Romanos achavam este estado de coisas intolerável. Depois de acusarem os cartagineses de violarem um dos pontos do tratado de paz de 201 a.C., declaram de novo guerra ao seu velho rival, no ano 149. O cerco de Cartago durou perto de três anos. Foi, finalmente, tomada de assalto com uma manobra dirigida pelo neto adoptivo de Cipião, Cipião Emiliano. Seguindo as instruções de Roma, a cidade foi totalmente destruída: incendiaram-na e o fogo durou dezasseis dias. Depois, lavraram a terra onde as ruínas ainda fumegavam e votaram-na à execração eterna. (146).

Consequências das Guerra. A Economia Romana. Uma Sociedade com Escravos

As guerras de conquista que Roma travou na bacia do Mediterrâneo durante mais de um século transformaram uma pequena e insignificante cidade-estado numa potência mundial. Este facto teve os seus reflexos inevitáveis na estrutura da sociedade romana, e provocou importantes alterações económicas.

As conquistas romanas asseguraram à cidade um contínuo afluxo de dinheiro e artigos de valor. Depois da Primeira Guerra Púnica, o Tesouro romano recebeu três mil e duzentos talentos. A indemnização recebida depois da Segunda Guerra Púnica, totalizou dez mil talentos e Antíoco teve de pagar um tributo de quinze mil. Os comandantes traziam ricos despojos. Aquando da entrada triunfal de Emílio Paulo na cidade, depois da sua vitória sobre o rei macedónio Perseu, desfilou um cortejo de soldados que levavam nas mãos ou em carros obras de arte capturadas, valiosas armas e enormes jarros cheios de moedas de ouro e prata; foram necessários três dias para entrar na cidade. Depois da vitória sobre Antíoco, os Romanos trouxeram como despojos mil duzentos e oitenta dentes de elefante, duzentas e trinta e quatro coroas de ouro, cento e oitenta e sete mil libras de prata, duzentas e vinte e quatro mil moedas de prata gregas, cento e quarenta mil moedas de ouro macedónias e uma grande quantidade de jóias de ouro e prata. Até ao século II escasseavam em Roma moedas de prata, mas depois destas conquistas, particularmente depois da captura das minas de prata espanholas, o Estado romano passou a ter muita prata para moedas à sua disposição.

Tudo isto levou a uma rápida expansão das operações comerciais e financeiras de Roma. Surgiram grupos de intermediários que se ocupavam do cultivo da terra, das várias formas dos serviços sociais da Itália ou da recolha de impostos nas províncias romanas. Estes grupos também emprestavam dinheiro a juros.

Esta subida do comércio e do rendimento foi acompanhada de uma tremenda expansão da população escrava. Embora a guerra não fosse a única fonte de novos escravos, dela tinha vindo um enorme número de escravos para o mercado. Durante a Primeira Guerra Púnica só a captura de Agrigento trouxe aos Romanos vinte e cinco mil escravos. Vários anos mais tarde, depois de obter uma vitória sobre os Cartagineses, o cônsul romano Régulo mandou vinte mil escravos para Roma. Depois da captura de Tarento, no ano 209, trinta mil dos habitantes da cidade foram vendidos como escravos. Em 167 a.C. depois da derrota das cidades do Epiro, cento e cinquenta mil pessoas foram vendidas como escravos. Finalmente, no fim da Terceira Guerra Púnica, quando Cartago foi destruída, todos os seus habitantes foram vendidos como escravos. Estes números foram colhidos ao acaso e não constituem um quadro completo, mas servem para dar, ao menos, uma ideia da enorme massa de escravos, da ordem das centenas de milhares, que estava literalmente a chover sobre a Roma daquele tempo.

Havia mercados de escravos em quase todas as cidades principais do Estado romano, a acrescentar aos de Roma propriamente dita. Importante centro de comércio de escravos era a ilha de Delos, onde por vezes se vendiam dez mil escravos por dia. Os preços variavam de acordo com a abundância de mercadoria. Baixavam consideravelmente nas ocasiões de expedições militares bem sucedidas. A expressão «barato como um sardenho» vulgarizou-se em Roma pouco depois da conquista da Sardenha.

Contudo, os preços dos escravos instruídos ou daqueles que tinham qualificações especiais (por exemplo professores, actores, cozinheiros e dançarinos) eram sempre muito elevados e os cidadãos romanos ricos estavam preparados para pagar por eles quantias que iam até aos milhares.

Na Itália, que continuava a ser um país agrário, os escravos eram utilizados sobretudo para o cultivo da terra. Os escravos que trabalhavam nas grandes propriedades ou latifúndios e nas vivendas dos proprietários de terras viviam em condições particularmente duras. O escritor e homem de Estado romano Catão, o Antigo, na sua obra especial dedicada à agricultura, dá conselhos detalhados sobre a maneira como os escravos deviam ser explorados de modo a darem o maior rendimento ao proprietário. Recomendava que deviam ser obrigados a trabalhar tanto nos dias de chuva como nos de sol e mesmo nos feriados religiosos.

As guerras dos séculos III e II a.C., que foram, sobretudo, travadas em solo italiano, minaram a economia camponesa. As expedições militares a terras distantes do estrangeiro, que afastavam os camponeses da terra durante meses e por vezes anos seguidos, também contribuíram para o seu declínio. Os camponeses empobreceram, deixaram o campo para procurarem trabalho na cidade, ao mesmo tempo que o trabalho dos escravos passou, pouco a pouco, a constituir a principal força da agricultura romana. Além disso, os pequenos e médios camponeses eram incapazes de competir com as grandes propriedades, onde se utilizava o trabalho escravo. A pobreza dos camponeses e o seu desejo de possuir terras tornou-se logo um dos mais agudos problemas do Estado romano.

O desenvolvimento do comércio e das operações financeiras, a expansão do mercado de escravos, o empobrecimento dos camponeses — tudo demonstrava que o Estado romano se tinha tornado num estado em que praticava a escravatura, isto é, uma sociedade com duas classes diametralmente opostas: a dos escravos e a dos senhores. Isto, por sua vez, implicava que as contradições tinham de ser agudizar e haviam de dar origem a uma intensa luta de classes.

A Crise da República Romana
Revoltas de Escravos na Sicília

O primeiro exemplo claro da aguda luta de classes dentro do Estado romano foi a vaga de revoltas de escravos na Sicília.

A Sicília tinha-se tornado uma província romana governada por um comandante romano. Era uma ilha extremamente fértil, onde os grandes magnates proprietários de terras tinham numerosas propriedades em que trabalhavam milhares de escravos. A revolta começou na propriedade de um certo Damófilo, um desses magnates que tratava os seus escravos com excepcional crueldade. Damófilo foi assassinado e a sua «villa» incendiada.

Este acontecimento serviu de sinal para uma revolta em massa. O centro da revolta foi a cidade de Enna, que os escravos conseguiram tomar sob a chefia de um escravo sírio chamado Euno. Pouco depois, Agrigento também caiu nas suas mãos. Aqui os escravos revoltosos foram comandados por Cleon, antigo pastor cilício. Os donos de escravos, aterrorizados, tentavam servir-se das diferenças que caracterizavam os dois líderes e da possibilidade de ambos os grupos pegarem em armas, um contra o outro. Contudo, isto não aconteceu — pelo contrário, os dois grupos juntaram as suas forças. Nesta altura, quase toda a Sicília estava nas mãos dos escravos. Como a maioria dos revoltosos eram sírios, proclamaram a fundação de um reino neo-sírio e elegeram Euno como rei, atribuindo-lhe o nome tradicional dos reis sírios, Antíoco.

As tropas romanas que estavam na Sicília foram derrotadas em vários combates pelos escravos revoltosos. Os Romanos mandaram então um grande exército, comandado por um cônsul. Porém, a luta foi longa e dura: ao todo, a luta durou quatro anos (136—132 a.C.). A revolta foi reprimida com extrema crueldade. Depois de um intervalo de cerca de trinta anos (104—99), nova revolta de escravos estalou na Sicília e, de novo, a ilha ficou nas mãos deles por um período considerável. Mais uma vez os Romanos só conseguiram reprimir a revolta depois de enviarem numerosas forças para a ilha.

A Revolta dos Gracos

Na altura da primeira revolta de escravos da Sicília crescia em Roma um vasto movimento democrático que veio a ser chamado o Movimento dos Irmãos Gracos.

Tibério Graco provinha do sector plebeu da nobreza, e era descendente da gens Semprónio e aparentado com os Cipiões. No ano 133 foi eleito tribuno e anunciou o seu famoso plano para uma nova lei agrária, que essencialmente era uma proposta para estabelecer um limite para a extensão das propriedades, que não deveriam exceder mil «jugers» (um juger = cerca de 0,62 acres) por família. Também propunha que a terra em excesso fosse confiscada ou redistribuída pelos cidadãos mais pobres em lotes de trinta «jugers».

Propunha ainda a nomeação de uma comissão de três pessoas a quem se daria liberdade de agir.

Quando apresentou estes planos, Tibério Graco tentava alcançar dois objectivos: reconsolidar o campesinato empobrecido e proteger o poder militar romano, pois a base deste poder era o exército de camponeses. Contudo, às suas propostas opôs-se violentamente a maioria dos senadores, que eram todos importantes proprietários de terras.

Seguiu-se uma dura luta. Um dos tribunos, colega de Tibério Graco, Marco Octávio, pressionado pelos opositores à lei agrária, usou do seu direito de veto. Em resposta a esta acção, Tibério Graco proibiu a todos os funcionários de Estado que tratassem de qualquer negócio de Estado antes de a nova lei ser posta à votação.

Quando chegou o dia da votação e a Assembleia Tribal Plebeia se reuniu, Tibério Graco pôs aos presentes a questão de saber se um tribuno que agisse contra os interesses do povo devia continuar a desempenhar esse cargo. A resposta unânime foi negativa e Octávio foi demitido do seu cargo. Depois disso, a nova lei foi outorgada sem qualquer obstáculo e Tibério Graco, o seu irmão Caio e o seu sogro Ápio Cláudio foram eleitos para formar a comissão.

A comissão realizou o seu trabalho durante um ano em condições extremamente difíceis. A vaga de ódio da nobreza e dos senadores por Tibério Graco aumentou, e quando, desejoso de levar a sua reforma até ao fim, Tibério candidatou-se de novo para o seu cargo nas eleições seguintes (132 a.C.), estalou uma luta na Assembleia Popular. Tibério Graco e cerca de trezentos dos seus seguidores foram mortos e os seus corpos atirados ao Tibre.

Depois do assassínio de Tibério, os opositores da reforma triunfaram. Todavia, o seu triunfo havia de durar pouco. No ano de 123, o irmão mais novo de Tibério, Caio foi eleito tribuno. Caio, que era uma figura ainda mais resoluta e radical do que o seu irmão, opôs-se abertamente ao Senado e na sua luta contra ele procurou apoio entre os sectores mais pobres da população da cidade. Foi no interesse destes sectores, que levou avante a chamada lei dos cereais que estipulava que os cereais dos armazéns do Estado fossem vendidos a preços reduzidos. Também no interesse deste estrato social, Caio Graco introduziu uma lei para a fundação de algumas colónias. Era uma medida oportuna, pois as terras que tinham sido redistribuídas depois da instituição da reforma agrária tinham desde então sido confiscadas. Foram estabelecidas algumas colónias no Sul da Itália e fizeram-se planos para fundar outra no local de Cartago destruída.

Por ter levado avante todas estas medidas, Caio conseguiu aquilo que não conseguira seu irmão: foi eleito tribuno pela segunda vez em 122 a.C. Contudo, os inimigos políticos de Caio não estavam de braços cruzados. Aproveitaram o facto de Caio estar a fazer planos para fundar uma colónia em Cartago, sobre a qual fora pronunciado o eterno extermínio. Além disto, durante o segundo ano do seu tribunato, Caio Graco propôs que os direitos — e, portanto, os privilégios — dos cidadãos romanos fossem concedidos a todos os povos itálicos. Os inimigos de Graco, defensores do Senado, não tiveram grande dificuldade em convencer os Romanos de que a introdução desta lei não seria do seu interesse, visto que além de outras razões os itálicos poderiam então reclamar o seu direito a toda a espécie de despojos militares tal como os próprios Romanos.

Antes das eleições para o ano seguinte, 121 a.C., quase toda a população de Roma estava dividida em dois grupos hostis. Os partidários de Graco tomaram a colina do Aventino e prepararam-se para um cerco. O Senado declarou estado de guerra na cidade e mandou tropas especiais atacar o Aventino. A resistência dos homens de Graco foi em breve suprimida. Não desejando ser capturado vivo pelo inimigo, Graco ordenou a um dos seus escravos que o matasse. Os vencedores vingaram-se cruelmente e mataram três mil partidários de Graco.

O movimento chefiado pelos irmãos Graco foi suprimido, mas o seu impacto far-se-ia sentir na subsequente história de Roma. Trouxe à luz do dia as sementes de um vasto movimento revolucionário que começou em Roma e depois se espalhou por toda a Itália entre os camponeses e o proletariado da cidade. Este movimento foi a luta pela posse da terra, por direitos políticos e por um estado mais democrático.

A Sociedade Romana no fim do Século II e no começo do Século I a.C. a Guerra Social

Características da sociedade romana deste período eram as relações hostis entre as várias classes e estratos sociais. Os grupos mais hostis, como vimos, eram o dos proprietários de escravos e o dos escravos. Mas além destes dois grupos fundamentais, havia outra classe a que é mais correcto chamar a classe dos produtores livres, que incluía os camponeses médios e pobres e grande variedade de artífices.

Os Romanos não dividiam a sociedade assim, mas definiam alguns estratos sociais que, por vezes, correspondiam quase exactamente às divisões em classes acima descritas. O estrato mais elevado da sociedade romana era o da nobreza ou dos senadores, que incluíam as famílias nobres e ricas que sempre tinham desempenhado um papel importante na administração do estado. A principal fonte de riqueza destas famílias, eram as terras que possuíam. Os representantes desta classe ocupavam muitas vezes os mais altos postos e eram membros do Senado. A segunda classe, em importância, era a dos chamados equites. Este nome não implicava de modo algum que servissem na cavalaria: o termo fora herdado do passado, e nesta fase da história de Roma aplicava-se aos cidadãos ricos que não fossem de ascendência nobre, a comerciantes e a pessoas que faziam empréstimos de dinheiro. Finalmente, o resto da população era conhecido pelo nome tradicional de plebe. No campo, a plebe significava os camponeses, e nas cidades os artífices, os pequenos comerciantes, os mestres dos ofícios e os donos das lojas. Os escravos, aos olhos dos Romanos, não constituíam uma classe separada, embora na prática fossem uma classe separada e isolada, privada de todos os direitos.

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Na vida política de Roma eram os senadores que agiam sempre do modo mais reaccionário e antidemocrático. O bastião da democracia, tanto na cidade como no campo, era a plebe. Os equites ocupavam uma posição intermédia. Muitas vezes apoiavam a plebe, especialmente nas cidades, mas quando consideravam que a plebe estava a tomar posições demasiado revolucionárias, então transferiam-se para o lado da aristocracia. Os escravos ocupavam uma posição de importância quase nula na vida política romana.

Depois da revolta dos Gracos, apesar das duras medidas tomadas pela nobreza, as forças democráticas da sociedade romana começaram a afirmar-se. Foi impossível aos nobres parar por completo o movimento que tinha sido iniciado pelos irmãos Gracos. Além disso, os senadores tinham-se comprometido seriamente, durante a guerra com o rei Jugurta da Numídia. Revelou-se que esta guerra tinha sido travada sem eficiência e sem êxito porque Jugurta tinha subornado vários senadores romanos e até generais. A guerra só tomou um curso diferente depois de o comando ter sido confiado a um chefe militar que não era de ascendência nobre, mas que era extremamente talentoso e bem visto nos círculos democráticos — Caio Mário. Não só conseguiu submeter Jugurta mas também evitou um perigo muito maior que ameaçava Roma pelo Norte — a ameaça de invasão pelos cimbros e teutões (tribos de origem céltica e germânica).

Mário fez reformas militares e políticas extremamente importantes. Desde que as leis de Sérvio Túlio tinham sido aprovadas, só os membros das cinco classes que possuíam propriedades eram elegíveis para o serviço militar, sendo excluídos os proletarii. Mário eliminou estas restrições e este facto teve como resultado mudanças radicais na estrutura social do exército. Enquanto, até este momento, a maior parte do exército tinha sido formada por camponeses mais ou menos prósperos, o papel e a influência das camadas sociais mais pobres começava agora a fazer-se sentir muito mais.

No final do século II a.C. e começos do século I, o movimento democrático consolidou-se ainda mais. Alguns tribunos, seguidores dos Gracos, vieram a desempenhar um papel importante na política romana. Por exemplo, no ano 100, Saturnino fez aprovar uma lei sobre a distribuição da terra aos soldados de Mário e uma nova redução no preço do pão. Depois, em 91 a.C., Marco Lívio Druso apresentou uma proposta para fazer dos itálicos cidadãos com todos os direitos. Contudo, neste período, as forças da reacção, particularmente o Senado, ainda eram suficientemente fortes para oferecer resistência a tais reformas: Druso foi assassinado, mas o seu assassínio foi o sinal para uma revolta popular através de toda a Itália.

A guerra civil grassou por toda a Itália e durou dois anos (90 a.C. — 88 a.C.). Roma nunca se tinha encontrado em semelhante situação. E a vitória de Roma não passou de uma vitória formal — só depois de se terem prometido aos itálicos direitos iguais é que estes começaram a pôr fim às hostilidades, e tinha sido esta, afinal, a causa da guerra.

A guerra civil iria desempenhar um papel de grande importância na história posterior de Roma. Como todos os habitantes da Itália se tinham agora tornado cidadãos romanos, a cidade de Roma e o seu povo perderam a sua antiga importância e a sua posição privilegiada. De facto, o resultado desta guerra representou uma vitória para a Itália, como um todo, sobre Roma.

A Luta entre Mário e Sila

Enquanto a guerra civil ainda durava, atearam-se novas hostilidades no Oriente, onde os Romanos se encontravam numa situação extremamente perigosa. O rei do Ponto, Mitrídates VI, adiantou-se como campeão dos interesses dos povos do Oriente.

Mitrídates VI era, sem dúvida, uma figura notável. Muito alto e forte, tinha uma vasta cultura, dominando inclusivamente vinte e duas línguas. Conseguiu alargar as fronteiras do seu reino e incluir nele o reino do Bósforo, a Cólquida e a Pequena Arménia. No ano 88, invadiu as possessões romanas da Ásia Menor com um grande exército. A população local recebeu-o como libertador e quando Mitrídates deu o sinal, trinta mil romanos das cidades da Ásia Menor foram mortos num só dia. Levado por esta onda de êxitos, Mitrídates avançou para ocupar a Grécia.

O comando do exército romano enviado ao encontro de Mitrídates foi confiado a Sila, que tinha sido eleito cônsul no ano 88. Tinha conquistado a reputação de chefe militar competente no decurso de uma guerra civil recente. Porém, sabia-se que Sila era partidário do Senado, e o povo de Roma, conduzido pelo tribuno Sulpício Rufo, opôs-se a que fosse escolhido Sila. A Assembleia Popular decidiu nomear Mário em lugar de Sila para chefiar esta campanha.

Quando Sila teve conhecimento desta decisão — na altura estava no Sul da Itália com o seu exército — fez um discurso aos soldados. Depois de os convencer do seu ponto de vista, Sila marchou sobre Roma com o seu exército. A luta irrompeu pelas ruas da cidade: Sulpício Rufo foi morto e Mário fugiu. Assim, pela primeira vez na sua longa história, Roma foi tomada por soldados romanos rebeldes. Depois disto, Sila partiu com as suas tropas para a Grécia, onde passou quase três anos e onde obteve algumas vitórias sobre Mitrídates, o que lhe deu a possibilidade de expulsar as forças inimigas da Grécia. Sila não foi até à Ásia Menor, porque Mitrídates já tinha pedido a paz. E, além disso, Sila precisava de terminar as hostilidades, porque, durante a sua ausência, Mário tinha tomado o poder em Roma e as circunstâncias exigiam o seu rápido regresso.

O golpe de Estado que houve em Roma fora chefiado por Cina e Mário, que tinha sido eleito cônsul pela sétima vez. Contudo, pouco depois de assumir estas funções, Mário morreu. Apesar disso, Sila foi mais uma vez obrigado a tomar Roma pela força. Na Primavera de 83 a.C. aportou com o seu exército ao Sul de Itália, o que marcou o começo da última etapa da guerra civil. Sila conseguiu a vitória e depois de marchar sobre Roma conseguiu pela segunda vez a ditadura. Para afastar os seus opositores políticos utilizou as proscrições, listas especiais de pessoas que foram postas fora de lei e que qualquer pessoa podia matar e inclusive ser recompensada por isso.

Deste modo, mais de 100 senadores e 2500 cavaleiros foram assassinados. Sila promulgou um grande número de leis antidemocráticas, o que limitou o poder dos tribunos e proibiu os subsídios de trigo, etc. Porém, o reinado de terror de Sila, não durou muito tempo e a leis promulgadas por ele, em breve foram abolidas.

A Revolta de Espártaco

A revolta dos escravos organizada por Espártaco foi das mais dramáticas em toda a história do Império Antigo. Começou no ano 73 e prolongou-se até 71 a.C.

A primeira conspiração de cerca de duzentos escravos, reuniu-se numa das praças das escolas de gladiadores na cidade de Cápua. A conspiração foi descoberta, mas um pequeno número de cerca de oitenta escravos conseguiu escapar. Fixaram-se no monte Vesúvio e escolheram Espártaco para os dirigir. Este era um verdadeiro líder, um organizador de talento e um comandante militar. Originário da Trácia, parece ter servido nas forças auxiliares romanas antes de ter sido vendido como escravo, por desertar.

De princípio, pouca importância foi dada a esta conspiração e à fuga dos gladiadores. Contudo, as forças de Espártaco aumentaram rapidamente, e os Romanos enviaram um destacamento contra ele. Este destacamento ganhou o controlo da única descida do Vesúvio, cortando as comunicações do exército escravo. Porém, isto deu a oportunidade a Espártaco de pôr à prova os seus talentos de comandante militar.

Sob o seu comando, os escravos fizeram cordas das gavinhas das uvas e de madrugada um pequeno grupo abriu caminho até à retaguarda do campo inimigo, sendo bem sucedido em pôr em debandada as tropas romanas. Em breve, o exército de Espártaco, composto por vários milhares, devastava quase todo o Sudoeste da Itália.

Contudo, em dada altura, deu-se uma rotura no exército escravo, o que já se previa, em virtude do exército de Espártaco ser composto de escravos de várias nacionalidades — Trácios, Gregos, Gauleses e Germanos. Dois destacamentos dispersaram do principal exército, sendo em breve derrotados pelos Romanos. Entretanto, Espártaco deslocou-se para o Norte, e mais tarde, perto da cidade de Mutina obteve uma estrondosa vitória, que marcou um alto ponto do seu sucesso. Logo após este acontecimento o seu exército totalizava 120 000 homens.

Depois da batalha de Mutina, Espártaco dirigiu-se a Roma.

Verdadeiras incursões de terror surgiram na cidade, como os Romanos provavelmente nunca haviam experimentado desde o tempo de Aníbal. O Senado outorgou leis de emergência a um riquíssimo proprietário de escravos, Marco Crasso, e ordenou-lhe que dirigisse as legiões contra Espártaco.

Porém, Espártaco passou ao lado de Roma e marchou para o Sul. Era mais que provável que ele planeava navegar para a Sicília. Todavia, esta marcha provou-se ser impossível de organizar, devido à carência de navios, e as jangadas que os escravos construíram para este fim foram despedaçadas por uma tempestade. Por esta altura, Crasso e a sua armada conseguiram alcançá-los. A batalha decisiva travou-se no ano de 71 no Sul da Itália. Antes de a batalha começar, os homens de Espártaco trouxeram ao seu líder um cavalo, mas ele puxou da espada e matou-o, declarando que se estava previsto ele sair vitorioso, então seriam necessários um grande número dos mais belos cavalos postos à sua disposição, mas se fosse para perder, então não necessitaria de qualquer cavalo. Depois de uma sangrenta batalha, na qual houve perdas de ambos os lados, os escravos foram derrotados. O próprio Espártaco, depois de uma heróica luta, foi morto no campo.

A revolta escrava foi brutalmente reprimida. Como modo de vingança, e para realçar o seu triunfo, os vencedores crucificaram seis mil escravos na estrada de Cápua, na cidade onde a revolta começou, até Roma. A revolta de Espártaco foi exactamente um indicativo de como as agudas contradições entre as duas classes principais da sociedade de Roma — os escravos e os donos dos escravos — se tinham desenvolvido.

A Campanha de Pompeu no Oriente

Quase simultaneamente com a revolta de Espártaco começou uma nova guerra contra Mitrídates (74 - 64 a.C.). Durante os primeiros sete anos desta guerra, o exército romano do Oriente foi comandado pelo experiente Lúculo. Conseguiu alguns grandes êxitos mas foi incapaz de derrotar Mitrídates completamente. Além disso, a sua extrema severidade provocou uma grande insatisfação entre os soldados. Facto que levou a Assembleia Popular (contra a vontade do Senado) a dar o comando do exército do Oriente a Pompeu.

Gnaeus Pompeu tinha alcançado fama quando Sila ainda estava no poder e consolidou a sua reputação durante a guerra civil e foi mais tarde enviado para ajudar Crasso a esmagar a revolta de Espártaco. Não conseguiu juntar-se-lhe a tempo da batalha principal, mas, depois de Espártaco ter sido morto, enfrentou e derrotou um grande destacamento do exército dos escravos que tinha fugido e se dirigia para o Norte. No ano 67, obteve grande popularidade pela sua enérgica e bem sucedida campanha contra os piratas que aterrorizavam toda a costa mediterrânica. Pompeu desempenharia a sua missão seguinte — derrotar Mitrídates — com igual êxito. Não só venceu o exército do rei do Ponto mas entrou na Arménia e conseguiu fazer dela um reino vassalo, deu apoio à revolta no reino do Bósforo, depois do que Mitrídates se suicidou, e, finalmente, conquistou a Síria e a Judeia. Na Ásia Menor restabeleceu e voltou a fundar alguns dos pequenos estados súbditos de Roma. Como foi proclamado por ocasião do seu triunfo em Roma depois da campanha, Pompeu tinha derrotado 22 reis, conquistado 1538 cidades e fortalezas e subjugado cerca de 12 milhões de pessoas. A Campanha de Pompeu no Oriente completou a submissão do Oriente helenístico (à excepção do Egipto), que tinha começado depois da Segunda Guerra Púnica.

Foi na altura em que Pompeu regressou a Roma com o seu exército que a conspiração de Catilina foi denunciada e esmagada. Lúcio Sérgio Catilina, membro de uma longa linhagem de patrícios, chefiou um movimento que tinha por objectivo fazer um golpe de Estado e abolir as dívidas. Este segundo objectivo dos conspiradores atraía tanto a nova geração da aristocracia, que estava cheia de dívidas, como os sectores mais pobres da população da cidade.

O famoso orador Cícero, que tinha sido eleito cônsul em 63 a.C., opôs-se activamente a Catilina e aos seus cúmplices. Primeiro, conseguiu que Catilina fosse banido de Roma, e mais tarde conseguiu mandar prender os restantes cabecilhas da conspiração que lá tinham ficado. Numa reunião do Senado especialmente convocada, a sua sorte foi decidida e nessa mesma noite foram todos executados. Entretanto, Catilina reuniu um pequeno exército na Etrúria contra o qual o Senado enviou tropas chefiadas pelo cônsul António. Durante a renhida batalha que se seguiu, Catilina e cerca de 3000 dos seus partidários morreram corajosamente.

O Primeiro Triunvirato e a Guerra Gaulesa

Pouco depois de a conspiração de Catilina ter sido esmagada, o poder político em Roma foi tomado por três destacados chefes que formaram o primeiro triunvirato (60 a.C.) — uma coligação de três dirigentes — que logo foi, e bem, baptizada de «o monstro de três cabeças». Os seus membros eram Pompeu, Crasso e Júlio César.

Caio Júlio César (100 - 44 a.C.) ainda não era uma figura tão proeminente como Crasso e Pompeu. Era, contudo, um homem tremendamente ambicioso, enérgico e talentoso. Tornou-se desde logo o verdadeiro líder do triunvirato, particularmente depois de ter sido eleito cônsul em 59 a.C. Como cônsul, César tentou seguir a política dos tribunos democráticos. Fez aprovar uma lei agrária, que decretava que se dessem parcelas de terra aos antigos soldados de Pompeu (veteranos).

Contudo, César compreendeu que os sectores democráticos da população, isto é, a plebe, tanto nas cidades como no campo, não lhe podiam dar o apoio firme que ele precisava para levar avante a sua ambição de poder. Esta requeria tropas dedicadas e bem armadas. César foi, assim, levado a esforçar-se por obter o posto de governador da província da Gália por cinco anos. E como a Gália tinha ainda de ser conquistada, César teve autorização para convocar um exército.

A conquista da Gália levou sete anos. O primeiro inimigo que César enfrentou foi a tribo dos helvécios (que viviam no território da actual Suíça). Depois enfrentou os Suevos comandados por Ariovisto. Finalmente, depois de uma longa luta contra os Belgas, a Gália foi conquistada e declarada província romana. Em honra destas vitórias, o Senado decretou que se efectuassem ritos de acção de graças durante quinze dias.

Na Primavera do ano 56, em Luca (ao Norte da Etrúria), realizou-se uma reunião dos triúnviros e os poderes de César na Gália foram prolongados por mais cinco anos. Em 55 a. C., César fez uma expedição ao Reno para subjugar as tribos germânicas que lá estacionavam e em 54 a.C. aportou à Grã-Bretanha.

No entanto, em breve se verificou que a Gália não estava de todo submetida. No ano 54 estalou uma rebelião gaulesa em larga escala. Os iniciadores desta revolta foram as tribos dos Asvernos chefiadas por Vercingetorix. Os Romanos estavam numa posição muito difícil, porque César só tinha 60 000 homens contra os 300 000 do inimigo. Foram as hábeis manobras de César, o seu talento de organizador e de chefe militar e a sua subtil diplomacia, secundados por um conflito nas fileiras do exército revoltoso, que deram aos Romanos a possibilidade de saírem vitoriosos desta batalha. No ano de 51 a.C., foram vencidos os últimos baluartes dos rebeldes.

Os resultados da conquista da Gália foram muito grandes. César subjugou 300 tribos, tomou de ataque 800 cidades e fez um milhão de prisioneiros. Também trouxe para Roma muitos despojos: em Roma, o preço do ouro desceu muito e vendia-se à libra. Este conjunto de factores ajudou a aumentar a popularidade de César.

A Guerra Civil

No final da guerra da Gália, o primeiro triunvirato tinha praticamente deixado de existir a seguir à derrota e morte de Crasso na campanha contra os Partas. Quanto a César e Pompeu, quanto mais bem sucedido e popular o primeiro se tornava, tanto mais frias e hostis eram as relações entre si. Depois que o cargo de César na Gália chegou ao seu fim, comunicaram-lhe que tinha de licenciar as suas legiões.

Contudo, César não o fez e o Senado declarou-o inimigo da Pátria e encarregou Pompeu de reunir um exército em Itália e de ir ao seu encontro.

Mas César não perdeu tempo à espera de Pompeu. Em Janeiro de 49 a.C., atravessou com uma das suas legiões o Rubicão, que marcava a fronteira entre o território sob o comando de César e a Itália. Segundo a tradição, atravessou o Rubicão com as palavras «a sorte está lançada», porque sabia que a sua acção marcava o começo de um novo capítulo da guerra civil.

As cidades do Norte de Itália mal ofereceram resistência às tropas de César. Pompeu, que não tivera tempo de fazer os preparativos necessários para a guerra, refugiou-se nos Balcãs onde foi seguido por grande número dos senadores. César entrou em Roma sem encontrar resistência. No entanto, não fazia sentido que permanecesse lá por muito tempo, e por isso partiu com as suas tropas para Espanha, onde havia sete legiões leais a Pompeu. Depois de as derrotar e assegurar a retaguarda, César decidiu caminhar para os Balcãs.

De início, a campanha de César contra Pompeu teve bastantes insucessos. Em certa ocasião, César sofreu uma grande derrota, mas o seu opositor não tirou vantagem da sua vitória com suficiente energia, e César conseguiu conservar a maior parte do seu exército. A batalha decisiva foi travada em 48 a.C. perto da cidade de Farsália. O exército de Pompeu foi derrotado e este fugiu para o Egipto onde foi assassinado à traição.

César seguiu Pompeu até ao Egipto. Neste país interferiu em questões de Estado e intrigas locais, vindo em ajuda da rainha Cleópatra contra o seu irmão. O resultado foi o eclodir de uma revolta em Alexandria que César teve dificuldade em esmagar. Depois disso, foi obrigado a ir para leste contra Farnaces, filho de Mitrídates. César saiu vitorioso desta campanha que concluiu com uma impressionante velocidade, apenas em cinco dias, e mandou, então, ao Senado a sua famosa mensagem «Veni, vidi, vici».

As principais forças de Pompeu estavam agora em África, e com elas o inveterado inimigo de César, Catão, o Moço. No ano 46 a.C., teve lugar uma importante batalha perto de Thapso na costa oriental da província romana da África, perto da actual Tunes. O exército de Pompeu foi derrotado de uma vez para sempre e Catão suicidou-se. Pouco depois, César conseguiu submeter a Numídia e no Verão desse mesmo ano voltou a Roma onde se fizeram pródigas manifestações em honra das suas vitórias sobre a Gália, o Egipto, o Ponto e a Numídia.

Contudo, a luta contra os partidários de Pompeu não tinha ainda acabado. Os filhos de Pompeu conseguiram retomar a luta, desta vez em Espanha. No ano 45, na batalha de Munda, César infligiu o último golpe aos seus inimigos, embora só depois de uma luta que custou muitos mortos. O próprio César admitiu que nesta ocasião lutara não pela vitória, mas pela própria vida.

Assim, a guerra civil acabou e César foi feito ditador vitalício. Agora, parecia não haver limites para o seu poder. A Assembleia Popular obedecia inteiramente aos seus desejos e os cargos públicos eram distribuídos de acordo com as suas recomendações.

Pouco a pouco, começaram a manifestar-se no comportamento de César tendências monárquicas. Em várias ocasiões os seus seguidores mais íntimos tentaram persuadi-lo a aceitar a coroa. Quando César começou a preparar uma expedição contra os partas, para vingar a morte de Crasso, começou a murmurar-se que só um rei podia conquistar a Pártia.

Tudo isto levou ao descontentamento não só entre o povo mas também entre alguns senadores que consideravam César um tirano. Formou-se uma conspiração contra ele e em 15 de Março de 44 a.C. César foi assassinado no Senado, apunhalado por um grupo de conspiradores dirigidos por Bruto e Cássio. Encontraram-se 23 feridas no seu corpo.

O Segundo Triunvirato

Depois da morte de César espalhou-se a agitação. A simpatia do público em Roma estava contra os conspiradores, e Bruto e Cássio foram obrigados a fugir da cidade. O senhor virtual de Roma, depois do assassínio de César, foi Marco António, um dos seus amigos mais íntimos, que fora eleito cônsul em 44 a.C.

Pouco depois, um jovem e perigoso rival aparecia em cena. Era o filho adoptivo de César, Octávio, de 19 anos. De início, Marco António tratou-o com desprezo, mas Octávio respondeu-lhe fazendo uma aliança temporária com o Senado. Cícero pôs a sua eloquência ao serviço de Octávio e dirigiu todos os golpes da sua hábil oratória contra o novo tirano, Marco António.

Começara, então, o último capítulo da guerra civil. O Senado encarregou Octávio de pegar em armas contra Marco António, que foi derrotado. Enquanto o Senado se preparava para celebrar o sucesso, Octávio traiu-o e chegou a um acordo com Marco António e com outro conhecido partidário de César, Lépido, para formarem o segundo triunvirato. Esta aliança (ao contrário do primeiro triunvirato) foi oficialmente reconhecida pela Assembleia Popular. Os triúnviros impuseram um reinado de terror sem precedentes — muitos milhares de pessoas morreram vítimas das proscrições e um dos primeiros foi o implacável inimigo de Marco António, Cícero.

Entretanto, os primeiros líderes da conspiração contra Júlio César — Bruto e Cássio — tinham reunido um grande exército nos Balcãs. Os triúnviros partiram a persegui-los e no ano 42 os dois exércitos encontraram-se perto de Filipos, na Macedónia. Na batalha que se seguiu, Bruto e Cássio foram mortos, e foi a derrota final para os partidários da República do antigo Senado.

Como acontecera com o primeiro triunvirato, também agora surgiram sérios desentendimentos entre os triúnviros. Lépido, na verdade, nunca representou uma força a considerar, mas Marco António que partira para o Oriente fez uma aliança com Cleópatra e declarou-se não só governador romano mas novo autocrata, e ainda sucessor de Alexandre, o Grande. Dispôs dos territórios orientais de Roma, como se fossem suas possessões pessoais, dando províncias inteiras de presente aos filhos de Cleópatra.

A consequência de tudo isto foi o corte entre Octávio e António. Os romanos declararam oficialmente guerra a Cleópatra e no ano de 31 a.C. a frota egípcia foi derrotada na batalha de Actium. Pouco depois, as tropas de Octávio chegaram a Alexandria e António e depois Cleópatra suicidaram-se. Assim, o Egipto, o último dos estados helenísticos do Mediterrâneo, tornou-se parte do Estado romano. O seu último dominador com poderes ilimitados foi Octávio. A guerra civil tinha acabado.

Em 13 de Janeiro de 27 a.C., Octávio tomou uma decisão hábil, declarando hipocritamente no Senado e na Assembleia Popular que se estava a preparar para prescindir dos poderes de emergência e «restabelecer a República». Contudo, os senadores convenceram-no a manter o poder oficial e atribuíram-lhe o título honorífico de Augusto. Esse dia marcou o início do domínio de César Augusto, o primeiro imperador romano. A República tinha deixado de existir. Começara a era do império romano.


Inclusão 09/04/2016