História do Mundo
Volume I - O Mundo Antigo - A Idade Média

A. Z. Manfred


II Parte: A Idade Média
Capítulo XI - A Ásia nos Séculos XVI e XVII


A Índia
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Os principais Estados que se formaram na península indiana dos séculos XVI e XVII foram o império moslem dos Grãos Moguls, ao Norte, e o império hindu do Vujayanagar, ao Sul. Cada um destes impérios consistia em alguns principados individuais e tinha o seu centro político. Apesar da heterogénea composição étnica e religiosa destes principados, estavam ligados por um estrutura económica e social comum.

Estes dois impérios seguiram diferentes cursos de desenvolvimento económico. No Sul floresceram cidades comerciais. As comunas originais desintegraram-se, dando lugar a uma grande número de pequenas propriedades feudais cujos donos alugavam parcelas de terreno aos camponeses nas piores condições. Os bens destes pequenos proprietários de terras eram encarados como uma forma de pagamento efectuado pelo soberano, o supremo proprietário, a troco do serviço militar. Eram excepção neste sistema geral de propriedade da terra pelo Estado as grandes propriedades que pertenciam aos templos e as pequenas e médias propriedades que faziam parte dos membros da casta brâmane. A ausência de propriedade privada universal da terra e a manutenção dos privilégios dos príncipes, apesar da existência de um poder estatal forte e de um aparelho administrativo organizado iam determinar a história do império vijayanagar.

No final do século XVI, a desintegração gradual do império estava completa.

Os acontecimentos seguiram um rumo muito igual no Norte da Índia. Aqui, o perigo constante da guerra e a necessidade de manter grandes sistemas de irrigação levaram à consolidação de um governo forte central, o que também foi importante no que se refere às cidades, pois elas dependiam do comércio interno. Era no Norte que se ia formar o maior, o mais avançado e centralizado Estado da Índia medieval — o império dos Grãos Moguls. Um factor que ia desempenhar um importante papel no desenvolvimento deste império foi o estabelecimento de novas rotas comerciais por terra no século XVI, uma vez que os piratas portugueses tinham firmado o seu ascendente no mar. Igualmente importante foi a necessidade de consolidar o domínio dos governantes moslem num país onde a massa da população aderiu à fé hindu e onde os governantes hindus eram mais numerosos que os governantes moslem.

O Império Mogul

Estas condições possibilitaram ao governante e talentoso chefe militar Kabul Babur obter considerável sucesso em quebrar a resistência tanto dos príncipes Moslem como dos príncipes Hindus no Norte da Índia, e fundou um Estado que veio ser conhecido na Europa por Império Mogul (1526).

Babur não viveu o suficiente para criar um forte aparelho de estado e um sistema eficiente de exploração económica: isto foi realizado pelo enérgico governante Sher Shah (1539- 1545). Todos os que se dedicavam à agricultura dependiam directamente do Estado; cada camponês tinha de pagar ao Estado um imposto fixo. No reinado de Cher Chah foram abolidos alguns direitos alfandegários internos, o sistema monetário foi aperfeiçoado, foram construídas importantes estradas e foi estabelecida uma complexa rede de administração centralizada. Proprietários ao serviço do imperador foram submetidos a uma supervisão pelo Estado e as suas fileiras tornaram-se muito mais unidas à medida que as diferenças sociais entre os Moslems e os Hindus diminuíram.

A consolidação da classe dos proprietários de terras e o estabelecimento de um sistema administrativo claramente definido davam aos Moguls a possibilidade de começar a trabalhar para a unificação de toda a Índia. A unidade histórica e cultural necessária já existia e as diferenças de língua e de desenvolvimento económico desempenhavam agora um papel menos significativo de que anteriormente. Akbar (1656 - 1605) reinou sobre todo o norte da Índia e sobre a metade norte do Sul da Índia.

Como resultado destas conquistas surgiu uma classe híbrida de senhores feudais proveniente de representantes tanto dos povos conquistadores como dos povos conquistados, de Moslem e Hindus. A política do Estado, que tinha como objectivo consolidar o poder central, obteve um grande apoio entre os membros inferiores desta classe independentemente das suas crenças religiosas; os mais leais defensores do governo mogul entre eles eram os rajputs, que eram hindus. Os comerciantes das cidades do Norte da Índia também eram a favor da unificação.

A unificação fez avançar consideravelmente o progresso económico. A introdução de um imposto fixo levou a nítido avanço do desenvolvimento das terras dos camponeses e do artesanato urbano e das aldeias. Nas aldeias, as comunas camponesas desapareceram praticamente; surgiram por todo o país dois novos grupos para as substituir, uma minoria próspera e uma classe de camponeses sem terras que cultivavam as terras que lhes alugavam. Contudo, o desaparecimento das tradições de comunas foi um processo relativamente lento que teve lugar quando os artigos produzidos pelos artesãos das cidades entraram nas aldeias e vieram a substituir o trabalho dos artesãos da comuna.

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O desenvolvimento das grandes cidades do Norte da Índia dependia em grande medida de serem ou não centros administrativos. Os senhores feudais reunidos nos centros administrativos, que traziam consigo os seus séquitos e servos, e ainda o que é mais importante, os seus costumes, o que encorajou o desenvolvimento do comércio. Quase em toda a parte, o artesanato urbano atingiu um alto nível de aperfeiçoamento e os padrões sociais da administração urbana vieram, pouco a pouco, a assemelhar-se aos do autogoverno.

O povo das cidades vinha frequentemente protestar contra os cânones de casta da desigualdade social. O mais importante dos movimentos religiosos que defendiam uma reforma foi o movimento brakti que defendia a ideia da igualdade perante Deus e o papel decisivo do esforço pessoal na redenção da alma do homem (o que implicava uma negação do papel dos brâmanes). Os bhaktas usavam exclusivamente meios pacíficos na sua campanha.

Muito mais radicais eram os objectivos da seita hindu sikh, cujos principais adeptos eram, mais uma vez, ricos habitantes das cidades, pouco dispostos a reconciliar-se com a sua baixa posição de casta. Embora inicialmente este movimento também se limitasse a utilizar métodos não violentos e fosse tolerado pelos Moguls, os sikhs acabaram por ir mais longe nas suas exigências de igualdade social e recorreram à força. Movimentos semelhantes surgiram também entre o povo Moslem das cidades, por exemplo, o movimento mahdista.

Na primeira metade do século 16, os Mahdistas, que pregavam a vinda iminente do reino de justiça e igualdade económica, passaram ao protesto activo, contando com o apoio dos pobres urbanos. Contudo, foram logo esmagados.

Os movimentos de reformas deste período também se espalharam pelas aldeias, sendo o mais significativo o movimento rochanita entre os camponeses do Afeganistão. Ao contrário dos Sikhs ou dos Mahdistas, os Rochanitas ergueram-se contra o estrato feudal superior da sociedade do Afeganistão num esforço para manter as comunas. Este movimento foi, finalmente, extinto no século XVII.

Neste período de grande perturbação interna, o governo feudal introduziu algumas reformas que até certo ponto impediram os movimentos de oposição recorrerem à luta armada. Estas reformas asseguraram métodos mais uniformes de exploração do trabalho, a consolidação dos padrões feudais da propriedade da terra e um aparelho de estado centralizado. Foi estabelecido em todo o país um imposto individual a ser pago em dinheiro. Inicialmente isto tornou a vida mais fácil para os camponeses; porém, os enormes conjuntos de impostos que o Estado tinha recentemente criado tornaram possível introduzir impostos mais pesados e isto, aliado ao facto de que eles tinham de ser pagos em dinheiro, cedo levou a um empobrecimento em massa dos camponeses. Isto, por sua vez, acabou por minar o poderio do Império Mogul visto que o Estado, que possuía a terra, não pôde cobrar grande parte dos impostos aos camponeses agora pobres.

Na segunda metade do século XVI, os senhores feudais ao serviço do Estado foram privados de muitos dos direitos de exploração directa dos camponeses, a quem se cobravam os impostos por intermédio dos cobradores do governo central. O sistema de propriedade condicional da terra na Índia Mogul daquela época tornava praticamente impossível que tais propriedades acabassem por se tornar propriedade permanente. Este sistema levou a um amargo ressentimento entre os senhores feudais, os quais, contudo, não utilizavam a revolta aberta até que foi feita uma tentativa para substituir o rendimento que tiravam da terra por salários. Esta última medida, inadequada àquela fase do desenvolvimento económico da Índia, foi revogada, mas a propriedade condicional da terra permaneceu em força. Ao mesmo tempo foram concedidos direitos iguais aos Hindus e aos Moslems e fez-se uma tentativa efémera para introduzir uma religião universal. Todas essas medidas serviram para unir as fileiras dos senhores feudais, levando a uma consolidação da sorte dos camponeses.

Tudo isto, por sua vez, serviu para enfraquecer o poder tanto da máquina do Estado como as forças armadas. Esta fraqueza reflectiu-se claramente nas relações com as potências europeias. Comerciantes portuguesas conseguiram tomar posições fortes em algumas cidades costeiras, enquanto companhias inglesas, holandesas e francesas estabeleceram postos de comércio fortificado em várias partes do país.

A China nos Séculos XVI e XVII

A China desenvolveu-se lentamente sob a dinastia ming.

No início do século XVI, o sistema de parcelas de terra atribuídas aos camponeses, que surgiu ao mesmo tempo que a propriedade estatal da terra, começou a desintegrar-se. Novos proprietários de terras ao serviço do Estado, poderosos senhores feudais e os próprios imperadores estabeleceram novas propriedades e para aumentar a terra arável das suas possessões expulsaram os camponeses das suas terras, contratando-os mais tarde em péssimas condições. A sede de terra obrigou os camponeses a tornarem-se arrendatários, que pagavam renda aos proprietários e impostos ao Estado. Pela terra que ainda tinham fora das terras dos proprietários os camponeses também pagavam impostos. Os proprietários de poucos ou moderados meios também estavam sujeitos aos impostos. Uma grande parte destes impostos tinha de ser paga em dinheiro e a usura instalou-se na vida rural. Estes desenvolvimentos iam começar a espalhar-se em larga escala só no início do século XVI, e durante os primeiros 150 anos do período ming as questões internas do país estiveram relativamente calmas. Houve revoltas, sobretudo, entre os povos em minoria (os não-Han) que estavam sujeitos a uma opressão particularmente cruel.

O desenvolvimento de relações de dinheiro nas aldeias e o poder crescente dos usurários foi acompanhado do crescimento de indústrias caseiras camponesas, de guildas de ofícios nas cidades e nas aldeias e de indústria e manufacturas do estado. Fabricaram-se armas de fogo e apareceram os primeiros jornais durante este período. Marinheiros chineses apreenderam a viajar pelo mar alto para novas terras. No século XVI, os europeus dirigiram-se ao Império Chinês e a cultura europeia começou a afirmar-se na China.

A política externa dos governantes ming nos séculos XVI e XVII foi de carácter defensivo e em muitos aspectos fazia lembrar a dos governantes sung. Houve repetidas invasões mongóis do Norte, ataques japoneses do Leste, e no início do século XVII os manchus começaram a avançar do Nordeste para a China.

Em breve a situação tornava-se extremamente perigosa, mas o conflito entre representantes de vários grupos dentro da classe dominante impediu que se tomassem quaisquer medidas activas. Factor que também complicava a situação era a crescente resistência por parte dos camponeses à também crescente exploração.

Os funcionários administrativos das camadas mais baixas e médias do aparelho burocrático do Estado ergueram-se contra os poderosos proprietários e contra os grupos irresponsáveis de cortesãos e eunucos. Contudo, as suas tentativas de revolta (feitas pelo grupo Tung-lin e por outros) e 1567, 1620 e 1628 acabaram num fracasso. Na época, não houve revoltas populares em larga escala e consequentemente a necessidade de reformas não se fez premente.

Os próprios reformadores não procuraram o apoio das massas, preferindo pôr as suas esperanças na boa vontade do imperador. Alguns imperadores introduziram individualmente várias reformas propostas pelas camadas mais baixas e médias de classe com terras; porém, estes reforços foram em vão, embora já fossem exigidas medidas por volta de 1630, momento em que o conflito interno estava já muito espalhado e havia uma crescente agitação entre os camponeses.

A Guerra dos Camponeses na China

Em 1628, pouco depois de outro imperador reformista não ter conseguido restringir o poder dos proprietários, revoltas camponesas isoladas começaram a evoluir para uma guerra em larga escala. A união de vários grupos camponeses tornou-se mais fácil visto que um grande corpo de forças governamentais na altura, estava ocupado em repelir ataques dos Manchus na fronteira norte. Por volta de 1636, a revolta tinha adquirido tais dimensões que os proprietários do séquito do imperador foram obrigados a tratar de modos diferentes a questão dos camponeses. Por um lado, esmagaram cruelmente as revoltas, onde foi possível, por outro lado, tiveram de fazer várias concessões. Contudo, em 1639, a revolta espalhou-se com mais força do que anteriormente. Sob o comando de Li Tzu-chieng, os revoltosos derrotaram o exército imperial e tomavam a capital, proclamando Li Tzu-chieng imperador.

Ao contrário dos movimentos camponeses de períodos anteriores, a revolta de 1639 - 1644 teve como resultado o estabelecimento de um sistema de administração estatal centralizada tanto para as questões militares como para as questões civis e o governo camponês fez sérias tentativas para controlar a economia do país. Os revoltosos em breve obtiveram o controlo das partes baixa e central do vale do rio Amarelo. A população a Sul do Yangtzé pouco participou na revolta (o Sul também não era um bastião do exército imperial e do séquito dos nobres). Os nobres poderosos puseram as suas esperanças no exército de Wu Sang-hui que então estava (acampado) na fronteira norte, repelindo os ataques manchus.

Temendo confiar na sua própria força, os nobres chineses chefiados por Wu Sang-hui traíram os interesses do seu país para preservarem os seus privilégios e fizeram uma aliança com os Manchus para derrubarem o novo poder camponês. As forças unidas de Wu Sang-hui e dos Manchus conseguiram expulsar os revoltosos da capital e seus arredores. Depois de os Manchus entrarem na capital declararam o seu chefe Imperador da China. A sul do rio Yangtzé, os nobres chineses proclamaram Imperador outro membro da dinastia ming. Os revoltosos camponeses continuaram a resistir mas a sua força estava a declinar. Depois de Li Tzu-chieng e os seus homens terem sofrido algumas derrotas, o aparelho administrativo do Estado e o exército de camponeses foram destroçados e o povo das cidades e os pequenos proprietários hesitantes, abandonaram o campo dos revoltosos. Em 1645, Li Tzu-chieng foi morto. A sua morte marcou o início de uma era de reacção feudal e de um opressivo domínio dos imperadores manchus.

O Sudoeste Asiático nos Séculos XVI e XVII

No início do século XVI, os Estados da maioria dos povos mais numerosos desta região tinham ocupado mais ou menos o mesmo território que hoje. Isto no que se refere aos povos da Indonésia, do Vietname, do Burma, de Thai e do Laos. Nas Filipinas e na Malásia não tinham ainda surgido estados com centros definidos, e havia lutas constantes entre os seus pequenos príncipes.

A maioria dos estados do Sudeste Asiático eram de tipo feudal avançado. Em todos eles, a terra pertencia ao Estado, existia uma burocracia feudal e estava a formar-se uma classe de proprietários de terras. As características típicas destes Estados eram a presença constante de comunas bem estabelecidas e as práticas correspondentes, importantes sistemas de irrigação, ausência de grandes impérios centralizados e um único centro cultural, económico e militar.

Estes Estados feudais podem dividir-se em três tipos. O primeiro incluia Estados feudais avançados tais como o Vietname e a Indonésia Central onde a agricultura desenvolvida numa área limitada levou a um excesso de população rural e ao aparecimento de complicados tipos de exploração feudal. Campanhas militares chefiadas pelos monarcas destes Estados tiveram como resultado anexações, colonização parcial de novas terras e muitas vezes a assimilação dos povos conquistados.

Os Estados do segundo tipo eram igualmente Estados feudais muito ligados, tais como Camboja ou Sião, onde havia grandes extensões de terra por cultivar e onde, por isso, os camponeses servos representavam uma valiosa fonte de riqueza. As guerras nestes Estados eram em geral travadas mais por causa dos camponeses, que eram destacados às centenas de milhares, do que por causa da terra, e a propriedade da terra pelo Estado foi menos minada pela expansão das grandes propriedades.

O terceiro tipo incluía o Estado burmês de Ava, o Estado laociano de Lan Xang, os sultanatos das Filipinas e da península de Malaca e os da Malaia ocidental. Na maior parte destes estados a administração estatal ainda era dirigida por grupos de senhores feudais descendentes dos chefes tribais, os padrões feudais de agricultura ainda não estavam particularmente avançados e uma grande parte da população ainda vivia, sobretudo, de acordo com as tradições tribais.

O Estado de Daiviet

Entre estes Estados, aqueles que tinham alcançado o estádio superior de desenvolvimento económico eram o Estado vietnamita de Daiviet e o Estado indonésio de Majapahit. No século XIII, o Estado Daiviet conseguiu repelir três invasões mongólicas. As reformas introduzidas no final do século XV estabeleceram firmemente a propriedade estatal da terra e o papel dos escalões inferiores e médios da burocracia. O século foi marcado por um rápido desenvolvimento económico e cultural no Estado centralizado vietnamita e por uma considerável expansão territorial para o Sul e Ocidente. No século XVI a agricultura de comuna começou a desintegrar-se, cedendo o lugar às pequenas e médias propriedades que pertenciam aos senhores da terra. No final do século XVI e na primeira metade do século XVII, o poder central e o poder dos burocratas que recebiam remunerações pelos seus serviços enfraqueceu gradualmente. O século XVII, assistiu ao aparecimento de dois centros principais no Estado de Daiviet, um no Norte, outro no Sul. Depois de uma longa luta, o país foi dividido em dois Estados bastante centralizados que continuaram independentes sob o poder norminal da dinastia Lé.

O Império Majapahita

A história da Indonésia tomou um curso muito diferente. Este Estado cresceu com centro na ilha de Java, onde o império majapahita fora estabelecido desde o final do século XII (de 1293 até aproximadamente à segunda década do século XVI).

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A formação de um Estado unificado, que incorporava a maior parte da Indonésia e tinha como centro Java, foi facilitada pelo rápido desenvolvimento dos elos comerciais e culturais entre as várias ilhas indonésias e também pelo facto de que Java se tornou fonte de abastecimento de arroz de muitas das outras ilhas que por sua vez o produziram, sobretudo, para exportar. Java manteve um império unido, em primeiro lugar estabelecendo laços políticos e dinásticos entre as várias partes do império, e mais tarde através da submissão militar de todos os outros estados do arquipélago.

No curso destes desenvolvimentos salientou-se um homem de Estado, talentoso, Gadjah Mada, que se ia tornar o verdadeiro chefe do império majapahita de 1328 a 1364. Depois de uma série de longas guerras conseguiu pôr em prática uma política de unificação no interesse dos senhores feudais de Java. Conquistou a parte ocidental de Java, parte da costa de Sumatra, a parte sul da península de Malaca, as ilhas Bangka e Mentawai, as costas norte e sul de Kalimantan, as ilhas Banda, as Molucas e outras ilhas. Em todas estas áreas, os chefes feudais tornaram-se vassalos do império majapahita. O aparecimento de padrões feudais de agricultura levou a uma divisão precisa da terra em parcelas comunais, dos templos, concedidas ou privadas (no caso dos nobres mais poderosos). Entre a classe dos senhores feudais apareceu logo um grupo de poderosos proprietários de terras que ocupavam lugares importantes na corte e que em geral eram parentes do chefe, enquanto, por outro lado, também havia uma grande multidão de proprietários de terras, cujos direitos lhe advinham de serviços prestados ao Estado. O grande aparelho de Estado central era destinado a assegurar uma rigorosa supervisão na distribuição das terras que eram a principal fonte de rendimento do Estado. Instrumentos de coacção tais como tribunais ou serviços de polícia foram cuidadosamente organizados e equipados com bem elaborados regulamentos e um detalhado código de leis.

O século XIV foi um século de guerra e reforma, que assistiu ao florescimento final da cultura indonésia medieval. O grande poema épico Negarakartagama data deste período, que também produziu algumas outras obras-primas e templos impressionantes. Nesta altura, as influências culturais indianas começavam a declinar embora ainda se encontrassem vestígios no sistema de castas nas leis desse período.

Em meados do século XV, os principados maometanos costeiros da península de Malaca e de Sumatra tornaram-se mais independentes e acabaram por construir uma ameaça o comércio externo majapahita. No final do século XV, o império majapahita foi privado de todas as suas ilhas e da parte norte de Java. Na segunda década do século XVII, os restos do antigo império estavam nas mãos da coligação de principados comerciais do Norte de Java. Em breve eclodiram novas hostilidades quando o sultanato de Mataram tentou estabelecer um novo Estado centralizado, mas estas tentativas foram impedidas e, mais tarde, tornadas infrutíferas pela chegada dos europeus.

Conquistas Portuguesas

Em 1511, Malaca foi conquistada pelos Portugueses, que começaram a lutar pelo controlo das rotas comerciais desta região com os mercadores Árabes e Indonésios. Os Portugueses conseguiram estabelecer uma fortificação nas ilhas Molucas, principal fonte de especiarias, e noutras partes da Indonésia muito antes desta questão ser finalmente resolvida. O comando português das rotas marítimas minou o comércio local e levou a uma maior exploração dos camponeses pelos proprietários de terras locais numa tentativa para compensar as suas perdas comerciais. Este facto diminuiu o poderio dos Estados indonésios, mas a maior parte deles conseguiu ainda assim manter a sua independência.

Conquistas Territoriais Holandesas

A situação na Indonésia mudou depois da chegada dos mercadores e soldados holandeses da Companhia Holandesa das Índias Orientais, em 1603. Depois de conquistar as ilhas Molucas e de subjugar os rajás locais, a companhia construiu uma rede de fortalezas em toda a Indonésia e, pouco a pouco, obteve o controlo de mais vasto território. O êxito da companhia baseava-se no saque desenfreado dos recursos naturais das ilhas e na cruel exploração da população nativa. Os comerciantes holandeses estabeleceram as suas bases principais na costa noroeste de Java onde fundaram a cidade de Batávia. O comércio holandês prosperou na região e a companhia alargou gradualmente as suas conquistas territoriais. Contudo, em meados do século XVII, os Holandeses ainda eram os senhores incontestados mesmo de Java, onde os desafiavam os fortes sultanatos de Mataram e Bantam.

O Japão no Século XVI e no Início do Século XVII

A invasão mongólica trouxe uma série de mudanças significativas à vida do Japão. O xogunato centralizado que se apoiava nos samurais acabou. Predominavam as grandes propriedades dos principais nobres ou daimyo. Cada um destes poderosos proprietários reinava sobre alguns samurais como seus vassalos. A legalização política deste novo sistema foi introduzida depois da vitória dos príncipes do Sudoeste sobre o Xogum quando o poder passou deste para as mãos da casa de Achikaga no fim do século XIV.

Durante o reinado da dinastia Achikaga, o número de grandes propriedades diminuiu gradualmente e os samurais que eram agora dependentes dos poderosos nobres já não eram uma classe unida. A confiscação dos bens dos samurais, no século XV, foi apenas um aspecto de uma crise agrária geral, cuja principal causa foi a falta de terras, a maior exploração dos camponeses e as lutas privadas entre príncipes. Entretanto, os ofícios urbanos e o comércio estavam em expansão, o controlo dos impostos foi entregue aos principais comerciantes, que também tinham o monopólio da produção de bebidas alcoólicas. Cada vez com mais frequência os proprietários de terras encontravam-se nas mãos de usurários e comerciantes. Embora o governo anulasse frequentemente as dívidas, os nobres japoneses não recorreram a quaisquer medidas drásticas contra os usurários, comerciantes e gente das cidades. O comércio prosperou e os mercadores e artesãos em breve passaram a ter certos privilégios, sendo o Japão o único Estado do Extremo Oriente onde isto acontecia. Bons artefactos e minério de cobre estavam entre as principais exportações japonesas. Muitos portos eram independentes e tinham os seus próprios guardas. Grandes lucros obtidos com a exportação de minérios de ouro, de prata e de cobre significavam que os proprietários de terras, conscientes das limitadas perspectivas da agricultura, longe de incomodarem a gente das cidades, começaram eles próprios a organizar projectos de exploração de minas.

Entretanto, nas aldeias os lucros só eram possíveis à custa dos camponeses, que estavam sujeitos a uma drástica exploração: tinham de entregar aos seus suseranos cinquenta por cento das suas colheitas e estavam sempre à mercê de usurários. Nos séculos XV e XVI, as revoltas camponesas eram acontecimentos vulgares e as fileiras dos camponeses foram muitas vezes engrossadas por artesãos urbanos e samurais, cujos bens tinham ido confiscados. Este último facto significava que as revoltas camponesas eram bem organizadas, sendo geralmente encabeçadas por seitas religiosas distintas ou facções de entre os pobres urbanos. Ao mesmo tempo as frequentes lutas internas entre os nobres levaram a que o Japão se desintegrasse em vários principados separados em meados do século XVI. Uma das principais razões que estava na origem destas guerras mesquinhas foi a necessidade de uma redistribuição da terra, visto que o sistema existente já não correspondia ao verdadeiro nível de desenvolvimento social e económico. O século XVI foi um tempo de intermináveis guerras internas acompanhadas de tentativas de expansão territorial na Coreia. Os europeus introduziram as armas de fogo no Japão e mais tarde ensinaram aos Japoneses os segredos do seu fabrico. O resultado, foi que, em pouco tempo, o papel decisivo nos encontros militares foi desempenhado pela infantaria camponesa que desalojou os cavaleiros e se organizou gradualmente em bases profissionais.

O contacto com a Europa também teve como resultado a expansão do catolicismo que minou a unidade do povo japonês. A unidade já tinha sido bastante ténue anteriormente, e o número crescente de destacamentos camponeses armados, particularmente no Sul, apontava o facto de que os nobres e os samurais seriam incapazes de preservar o seu domínio sobre as outras classes sem um poder central forte. Assim, eles procuraram, naturalmente, centralizar o poder do Estado e consolidar a unidade japonesa.

O núcleo do novo Japão centralizado era a região central do país e as principais forças que trabalhavam para a unidade eram os escalões médio e mais baixo da classe que tinha terras, sob a chefia de Oda Nobunaga. No decurso de uma dura luta que durou de 1568 a 1582, Nobunaga conseguiu estabelecer um estado centralizado na metade Norte do pais, depois de fazer passar para o seu lado os mercadores das principais cidades e de esmagar revoltas camponesas. A tarefa de Nobunaga foi continuada por Hideyochi durante o período de 1583 a 1598. Empreendeu uma campanha para conquistar a Coreia que acabou num fracasso, mas teve muito mais êxito em esmagar perturbações dos camponeses no seu país. Hideyoshi tentou resolver o problema da terra desarmando os camponeses japoneses e tornando-os servos.

Uma maior produtividade de trabalho na agricultura camponesa tornou possível aos proprietários exigir 66% das colheitas dos seus camponeses contra os antigos 50%, enquanto o novo governo centralizado pôde desarmar os camponeses e ligá-los aos respectivos «holdings». Os camponeses pagavam impostos aos seus senhores e a cobrança destes impostos era supervisada pelos vassalos do senhor ou do shogun. A estabilização da situação interna facilitou a expansão dos mercados internos.

O Estabelecimento do Xogunato Tokugawa

O estabelecimento de um sistema feudal com camponeses ligados à terra foi realizado pelos shoguns da casa de Tokugawa, que tomou o poder em 1603. Este sistema baseava-se na centralização e na regulamentação conservadora universal. Foram os Tokugawa que finalmente puseram fim à agitação dos camponeses (a maior perturbação foi a de Shimabara em 1637), baniram o cristianismo, estabeleceram limites para as relações políticas e comerciais com países estrangeiros e restringiram os poderes independentes das cidades costeiras e dos nobres do Sul. O comércio externo tornou-se um monopólio do Estado; os direitos e obrigações de todas as camadas sociais (samurais, lavradores, artesãos e comerciantes) foram codificados em pormenor e a suprema propriedade de terra pelo Estado foi introduzida (mas raramente posta em prática, excepto no caso de confiscação de terras por meio de castigo por traição ao Estado. Os nobres proprietários de terras tinham o direito de aplicar sentenças aos seus vassalos, de manter um séquito armado e de cobrar impostos, mas continuaram sujeitos às leis do Xogum e não tinham autorização de travar guerras com os seus vizinhos. Dezassete grandes cidades foram tornadas directamente responsáveis perante o Xogum e afastadas da esfera da jurisdição dos nobres. Esta série de rigorosos regulamentos afectou os comerciantes e artesãos consideravelmente menos do que os camponeses, visto que o xogunato procurou mais em encorajar o comércio e os ofícios do que obstruir o seu progresso.

A cessação dos feudos locais e o estabelecimento de um poderoso aparelho de Estado para assegurar o controlo total dos camponeses tornaram possível aos proprietários espremer os camponeses até à última gota, em resumo, tudo o que era possível neste estádio de desenvolvimento económico. Esta exploração foi facilitada pelo isolamento do país do mundo exterior, o que significava que as cidades concentraram as suas energias no comércio interno, o que por sua vez favoreceu o progresso da produção agrícola. Foram introduzidos novos instrumentos de produção e melhorias técnicas e foram experimentadas novas sementes, incluindo algumas trazidas da Europa. Relações de mercadoria-dinheiro penetraram na vida das aldeias e a era da economia natural ficou desde então a pertencer ao passado. Surgiram manufacturas centralizadas e em vários lados. Contudo, ao todo, o desenvolvimento económico do Japão do século XVII deu-se dentro de um sistema feudal que o governo do período não se poupou a esforços para consolidar.


Inclusão 05/07/2016