Sobre a Guerra Popular na Índia
Oito Documentos Históricos

Charu Mazumdar


Segundo Documento:
Tornar a Revolução Democrática Popular vitoriosa através da luta contra o revisionsmo


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Como o pensamento revisionista se incrustou no Partido indiano por muito tempo, não podíamos construir um partido revolucionário correto. Nossa tarefa principal hoje é construir um partido revolucionário correto lutando decididamente contra o pensamento revisionista.

O primeiro entre o pensamento revisionista é considerar “Krishak Sabha” (organização dos camponeses) e os sindicatos como a única atividade do Partido. Os camaradas do Partido frequentemente confundem o trabalho da organização camponesa e dos sindicatos com o trabalho político do Partido. Eles não percebem que as tarefas políticas do Partido não podem ser realizadas através das organizações camponesas e dos sindicatos. Mas deve ser lembrado ao mesmo tempo que os sindicatos e a organização do campesinato são uma das várias armas para servir ao nosso propósito. De outro lado, considerar os sindicatos e a organização do campesinato como o único trabalho do Partido, só pode significar jogar o Partido na mira do economicismo. A revolução proletária não pode ser vitoriosa sem uma luta intransigente contra esse economicismo. Essa é a lição que o camarada Lenin nos deu.

Alguns camaradas pensavam e ainda pensam hoje que as nossas tarefas políticas com dirigir alguns poucos movimentos reivindicativos, e consideram uma vitória única através desses movimentos uma vitória política do Partido. Não apenas isso fez esses camaradas buscarem confinar a responsabilidade de levar a cabo as tarefas políticas do Partido apenas dentro dos limites desses movimentos. Mas nós, os verdadeiros marxistas sabemos que realizar a responsabilidade política do Partido significa que o objetivo final de toda propaganda, todos os movimentos e todas as organizações do Partido é estabelecer firmemente o poder político do proletariado. Deve ser lembrado sempre que se as palavras “tomada do poder político” forem deixadas de lado, o Partido não é mais um partido revolucionário. Ainda que continue sendo um partido revolucionário no nome, na realidade será reduzido a um partido reformista da burguesia.

Quando falam da tomada do poder político, alguns querem falar do Centro. Eles pensam que com a gradual expansão dos limites do movimento, nosso único objetivo será tomar o poder centralmente. Essa ideia não é apenas errada, mas essa ideia destrói o pensamento revolucionário correto dentro do Partido e o reduz a um partido reformista. No Congresso Mundial dos Sindicatos em 1953, um bem testado e bem estabelecido líder marxista da China, membro do Comitê Central do Partido Comunista da China, afirmou firmemente que nos tempos futuros a tática e estratégia da revolução inconclusa da Ásia, África e América Latina irá seguir os passos da China. Em outras palavras, a estratégia e táticas dessas lutas serão a tomada do poder político em toda a extensão do território. Não apenas esse camarada e membro do Comitê Central do Partido da China, mas o camarada Lenin também mencionou a tomada do poder em toda a extensão do território em seus escritos. Acima de tudo, a classe operária da Rússia deu uma prova concreta da conclusão de Lenin quando mantiveram a cidade de Kronstadt sob apreensão por três dias. Na era do socialismo, todos os elementos da tomada do poder em toda a extensão do território estão presentes em nossa conjuntura.

Um exemplo candente do fato de que isso é possível é a revolta de Naga. A principal condição dessa tomada do poder são as armas nas mãos das forças revolucionárias. Pensar na tomada do poder sem as armas não é nada senão um sonho em vão. Nosso Partido tem uma longa história de lutas. Demos a liderança aos movimentos operário e camponês na larga extensão do campo de Bengal do Norte. Naturalmente, devemos ter que examinar e analisar os movimentos do passado e tirar lições deles e temos que avançar novamente na atual era revolucionária.

Análise dos eventos e experiências concretas do Movimento Tebhaga em 1946 e 1457

Os camponeses que participaram nesse movimento chegavam a cerca de seis milhões. Deve ser lembrado que em todo o movimento camponês isso foi uma era de ouro. Na amplitude do movimento, na intensidade das emoções, na expressão do ódio de classe, esse movimento foi a etapa superior na luta de classes. Para ajudar a compreender essa etapa, eu cito uns exemplos desse movimento.

Um evento do dia

Eu estava na época vivendo clandestinamente pelos interesses do movimento. Eu testemunhei pessoalmente a onda do movimento revolucionário. Vimos como uma única nota fez um homem a 16 quilômetros de distância vir correndo como um louco. Do outro lado, também vimos estar do lado do marido, uma jovem muçulmana recém-casada que foi submetida a uma bárbara agressão por parte do inimigo de classe. Eu ouvi o apelo patético daquele marido desarmado: “Camarada, você não pode se vingar?” Logo em seguida, eu vi o intenso ódio do explorado contra o explorador; vi aquele terrível espetáculo de assassinar um homem vivo a sangue frio torcendo seu pescoço.

Camaradas, os incidentes acima mencionados nos demandam alguma análise.

Primeiramente, qual foi o motivo histórico que resultou essa forma massiva desse movimento nesses dias que poderia criar um ódio tão intenso contra o inimigo de classe?

Em segundo lugar, novamente quais foram as causas que fizeram desse grande movimento fracassar?

Primeiro, foi a palavra de ordem da tomada do poder político que criou a forma massiva desse movimento desses dias, e criou o ódio intenso contra o inimigo de classe. Do lado oposto, foi essa palavra de ordem que fez o inimigo de classe adotar seu papel de classe. É a expressão disso que encontramos no bárbaro estupro da jovem mulher camponesa e nos ataques violentos bestiais para esmagar o movimento. Do outro lado, os camponeses também não hesitaram em atacar o inimigo de classe. Isso levanta a pergunta: Por que o poder não conseguiu ser tomado mesmo depois disso? Não pôde por uma única razão - foi porque o povo em luta desses dias buscou armas a partir do centro; perdemos fé no caminho indicado por Lenin. Nesses dias hesitamos em aceitar a valente declaração de Lenin em realizar a revolução coletando armas localmente e tomando o poder em toda a extensão territorial.

Como consequência, os camponeses desarmados não puderam fazer frente e resistir de frente às armas. Mesmo aqueles que lutaram desafiando a morte tiveram que, enfim, se retirar. A lição que deve ser retirada dos erros desses dias é que a responsabilidade de coletar armas reside na organização local, não no centro. Então o problema de coletar armas terá que ser posto diante de cada Grupo Ativista de agora em diante. Facas, bastões, "Dao” - tudo isso são armas, e com sua ajuda nos momentos oportunos, armas de fogo terão que ser arrebatadas. Os eventos descritos acima são manifestações do pensamento revisionista em seu aspecto teórico. Agora, do ponto de vista organizacional, esses erros devem fazer compreender que houveram obstáculos no caminho de uma liderança correta dos vastos movimentos desses dias, para que eles não encontrem um berço novamente no partido revolucionário. Para esmagar todos esses erros no Partido, este hoje tem que primeiro estabelecer sua direção sobre as organizações de massas. Para isso, um balanço da história do Partido por um longo período revelaria que como resultado do pensamento revisionista de considerar os dirigentes dos sindicatos e organizações camponesas (krishak sabha) como os verdadeiros representantes do povo, o Partido foi reduzido a um partido de uns poucos indivíduos. Por conta dessa forma de pensar, as atividades políticas do Partido se tornaram inertes, e o proletariado também se tornou desprovido de uma direção revolucionária correta. Todos os movimentos se confinaram nas amarras de movimentos reivindicatórios. Como consequência, os membros do Partido se entusiasmavam com uma única vitória e se desanimavam por uma única derrota. Em segundo lugar, como resultado de superestimar a importância dessa organização, outro tipo de localismo nasceu. Camaradas pensam que o Partido irá sofrer uma séria perda se qualquer camarada for deslocado da sua região e encaram isso como uma perda à direção pessoal. Desse localismo, outro tipo de oportunismo se desenvolve. Os camaradas pensam que sua região é a mais revolucionária; naturalmente nada deveria ser feito aqui de modo que há perseguição policial. Por conta de tal ponto de vista, não analisam a situação política de todo o país. Como resultado, o dirigismo se desenvolve e o trabalho de propaganda diário e organizacional sofre com isto. Como resultado, quando há uma chamada para uma luta, afirmam que não farão nenhum trabalho pequeno e cometem o desvio do aventureirismo. Naturalmente, a questão surge - quais são os métodos que auxiliam a extirpar esses desvios? Quais são as diretrizes marxistas que se tornam tarefas essenciais para a construção do partido revolucionário?

Em primeiro lugar, todos os trabalhos de organização do futuro terão que ser feitos como complementares ao Partido. Em outras palavras, as organizações de massas terão que ser usadas como parte de servir um propósito principal do Partido. Por essa razão, naturalmente, a direção do Partido deve ser estabelecida sobre as organizações.

Em segundo lugar, imediatamente a partir de agora todo o esforço do Partido terá que ser gasto em recrutar novos e novos quadros e em formar inúmeros grupos ativistas que consistam neles. Deve ser lembrado que na era que vem chegando, as massas terão que ser educadas através da maquinaria ilegal. Então todo membro do Partido a partir de agora terá que estar habituado a fazer o trabalho ilegal. Para se acostumar ao trabalho ilegal, é uma tarefa essencial para cada grupo ativista colar cartazes ilegais. É somente através desse processo que serão capazes de agir como núcleo central nas lutas dirigentes na era das lutas. De outro modo, a revolução será reduzida a um sonho ideal pequeno-burguês.

Em terceiro lugar, é através dessas organizações ativas que o Partido será capaz de estabelecer sua direção sobre as organizações de massas. Então, de agora em diante, devemos ajudar os membros dos grupos ativistas para que eles possam criticar audazmente os líderes das organizações de massas, e seu trabalho.

Em quarto lugar, o trabalho das organizações de massas terá que ser discutido e decidido no Partido antes de ser implementado nas organizações de massas. Deve ser lembrado aqui que as políticas das organizações de massas foram praticadas erroneamente por muito tempo no Partido. Manter as discussões no Partido não se chama centralismo democrático. Essa ideia não está de acordo com o marxismo. E de toda essa ideia, a conclusão que tem que ser tirada é que o programa do Partido será adotado desde baixo. Mas se for adotada do nível mais baixo, então o caminho correto marxista não é implementado, em todas essas atividades inevitavelmente ocorrem desvios burgueses. A verdade marxista do centralismo democrático é que a orientação do Partido vinda da mais alta direção deva ser realizada. Porque a alta liderança do Partido é quem firmemente se estabeleceu enquanto marxista através de um longo período de movimentos e debates teóricos. Temos o direito de criticar as decisões do Partido; mas uma vez que uma decisão é tomada, se alguém a critica sem a implementar, ou entrava o trabalho, ou hesita em implementá-la, será culpado de séria violação da disciplina do Partido.

Como resultado dessa noção da democracia do Partido como a de um clube de debates, o caminho para espionagem dentro do Partido é aberto. Naturalmente, a direção revolucionária do Partido então se corrompe e a classe operária é desprovida de uma direção revolucionária correta. Essa forma pequeno-burguesa de pensar dentro do Partido leva o Partido à beira da destruição. E isso é manifestação da ideologia pequeno-burguesa dentro do Partido. Seu estilo de vida confortável e a atitude da crítica sem disciplina reduz o Partido a um mero clube de debates. Esse pensamento se torna um obstáculo no caminho da construção de um Partido do proletariado — forte como o aço.

Em quinto lugar, a vida indisciplinada da pequena-burguesia a leva à crítica sem disciplina; ou seja, eles não querem criticar dentro dos limites da organização. Para se livrar desse desvio, devemos permanecer conscientes do ponto de vista Marxista no que tange a crítica. As características da crítica marxista são:

  1. as críticas devem ser feitas dentro da organização partidária, ou seja, na reunião do Partido;
  2. o objetivo da crítica deve ser construtivo.

Ou seja, o objetivo da crítica é avançar o Partido do ponto de vista dos princípios e da organização, e devemos sempre estar vigilante para que não haja críticas sem princípios dentro do Partido.

Camaradas, na atual era revolucionária, vamos completar a Revolução Democrática Popular lutando de forma intransigente contra o revisionismo.

VIVA A REVOLUÇÃO!


Inclusão 20/07/2019