A delegação da Liga se encontrou com o primeiro-ministro cambojano Pol Pot, em Phnom Penh, em 29 de dezembro, pouco antes da massiva invasão vietnamita-soviética. Nós tivemos uma entrevista de três horas. A seguir, trechos de suas observações:
A agressão vietnamita contra o Kampuchea “não é um conflito de fronteira entre Vietnã e Kampuchea”, disse Pol Pot. “É parte de uma estratégia vietnamita e soviética para dominar o Sudeste Asiático, a Ásia e o resto do mundo. O Vietnã quer se tornar uma potência regional aliado com os soviéticos”.
Ele explicou como a liderança revisionista vietnamita está tentando dominar os países menores do Sudeste Asiático sob uma “Federação Indochinesa”, controlada pelos vietnamitas. O Vietnã já conseguiu ocupar o vizinho Laos com 50 mil soldados, uma força maior que o próprio exército laociano.
QUATRO TENTATIVAS DE ASSASSINATO
Pol Pot explicou como o Vietnã tentou infiltrar-se no Partido Comunista do Kampuchea, tentou também vários golpes e provocou problemas na fronteira. Ele disse-nos que quatro tentativas de assassinato foram feitas contra as vidas dos líderes do Partido desde 1975. “Mas o PCK é sólido”, disse Pol Pot, “e sempre nos recusaremos a sermos escravos do Vietnã. Temos um povo unido, e mesmo que demore 10, 20 ou 100 anos, nunca deixaremos o Vietnã engolir nosso país”.
Bloqueado em todas as suas tentativas, o Vietnã lançou sua primeira grande ofensiva em dezembro de 1977. “Eles roubaram nosso arroz, mataram moradores e arruinaram nossos prédios”, ele disse.
Depois de 17 dias de agressão, os invasores vietnamitas foram expulsos do Kampuchea em 6 de janeiro de 1978.
Ao longo de 1978, Pol Pot nos explicou que o Vietnã começou a organizar outra invasão, mas não conseguiu atacar imediatamente por conta de seus sérios problemas internos.
Ele descreveu como os vietnamitas estavam com falta de cinco milhões de toneladas de arroz para alimentar cerca de 2 milhões de vietnamitas que estavam a morrer de fome após inundações generalizadas. Pol Pot nos disse que, politicamente, os líderes vietnamitas enfrentam oposição política interna, incluindo luta armada de movimentos, como os oprimidos Khmer Krom — uma minoria cambojana que vive na região delta do rio Mekong.
Militarmente, disse ele, os vietnamitas não tinham forças para atacar. Naquela época, eles careciam particularmente de poder aéreo.
“Foi nesta situação de graves dificuldades que os líderes vietnamitas se lançaram nos braços dos soviéticos. Eles assinaram um pacto militar com eles e se juntaram à aliança econômica COMECON”, explicou Pol Pot.
O Vietnã se tornou a Cuba do Oriente. Conselheiros soviéticos e do Pacto de Varsóvia foram ao Vietnã para ajudar a operar os aviões, tanques, e artilharia pesada fornecida pelos soviéticos. Moscou gastou US$2 bilhões em “ajuda”. Em nossa viagem pelo país, vimos armas e tanques soviéticos capturados dos vietnamitas.
NÃO PODEM TOMAR O KAMPUCHEA
“Estrategicamente, eles (os vietnamitas), não podem tomar o Kampuchea”, disse Pol Pot. “Confrontados com a liderança do PCK, um povo unido e um exército fortalecido por muitos anos de luta contra os Estados Unidos, eles não podem nos vencer”.
“Taticamente”, disse ele, “devemos ser muito vigilantes. O inimigo pode penetrar, especialmente sob a cobertura de força aérea pesada, artilharia e tanques. À medida que a guerra se arrasta, o Vietnã enfrentará muitos problemas”.
“Estamos em uma guerra prolongada e confiantes na vitória. Os Estados Unidos nos atacou ferozmente; Lon Nol tinha dezenas de milhares de tropas contra nós; o exército Thieu-Ky nos invadiu, e nós vencemos”.
Pol Pot concluiu: “Nossa defesa contribui para a defesa da soberania, da paz e da estabilidade no Sudeste Asiático e no mundo inteiro ... Devemos todos fazer nosso melhor para bloquear os planos de expansão dos vietnamitas e soviéticos”.