A inspiradora de Luiz Carlos Prestes

Figueiredo Pimentel


IX. O casamento


capa

Dois meses depois a fazenda foi vendida. Taciana estava nervosa e apreensiva por deixar todas as suas recordações mais gratas, tudo aquilo que era a sua vida, que recordava sua mãe, seu pai, seu irmão. Tudo ali evocava sua existência.

Como tudo aquilo lhe despedaçava a alma!... Taciana ansiada procurava esconder seu grande tormento. Distribuiu tudo que era seu pelos empregados. Não queria levar um só objeto que despertasse a grande saudade. Tinha a impressão de que ia suicidar-se.

Nunca mais voltaria ali. Não quis despedir-se de pessoa alguma.

Na estação esperou pelo noivo e pelos avós. Estava numa excitação enorme. Queria afastar-se daqueles sítios como se estivesse perseguida por um remorso imenso

Quando tomou o trem fechou os olhos e não pode conter as lágrimas. Chorou. Chorou convulsivamente.

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Chovia. Chovia durante horas intermináveis. Nunca Taciana se tinha encontrado numa indisposição de espírito mais inquieta. Nunca sentira dentro de si mesma um descontentamento mais amargo, um mal-estar mais angustioso. Nostalgia. Sentia-se tão só como se estivesse perdida em uma ilha deserta. A sensação dessa vacuidade despertava-lhe, às vezes, uma espécie de cólera desesperadora.

Sentia que chegara o momento terrível, o momento supremo e decisivo de sua vida. Ela ia sacrificar o que lhe restava de fé e de idealismo. Mas esse sacrifício era uma necessidade da sua vida. Uma condição essencial da sua existência.

O trem corria vertiginosamente para Porto Alegre. Taciana via passar como num caleidoscópio a bela paisagem daqueles campos infinitos.

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O casamento fora realizado em Porto Alegre na maior intimidade. Apenas pessoas da família assistiram ao ato.

Os tios de Taciana, irmãos de seu pai, foram os padrinhos no religioso e os avós serviram de testemunhas no civil. Ao sair da igreja Taciana tirou o véu e o entregou a sua prima Júlia como recordação. Horas depois o coronel e a mulher, a neta e o esposo embarcavam no vapor que os conduziria ao Rio de Janeiro.

Decididamente essa mulher é uma esfinge! Conjeturava o artista ao contemplar a moça que o fitava sem o menor contentamento, ao menos fingido.

Era o primeiro ato da grande tragédia.


Inclusão: 30/03/2024