
Camaradas:
1 — Considero urgente que a Direcção do P. se pronuncie (tal como já chegou a ser informado) perante a classe operária e o povo acerca do Programa de Democratização da República, aproveitando a oportunidade do esclarecimento sobre o carácter partidário para expor a linha do nosso Partido em relação aos pontos em desacordo. Chegou a ser levantada já a ideia de que os candidatos a deputados se deveriam cingir ao Programa: embora repelida, essa ideia é um sintoma do trabalho de confusão que pode ser feito e está a ser feito pelos democratas burgueses.
Penso que a falta de uma crítica nossa está a ser mais prejudicial à unidade do que seria uma crítica, uma vez que deixa desarmados muitos dos nossos militantes e muitos trabalhadores, enfraquecendo a acção do P.
2 — Na medida em que as concepções golpistas burguesas estão a ser apresentadas como prova de revolucionarismo e em que o nosso P. está a ser atacado como “moderado“ por se opor ao golpismo e ao terrorismo, desorientando mesmo militantes responsáveis, parece-me necessário que a Direcção do P. se refira no Avante! e no Militante a esta questão, pondo o problema na sua base de classe e clarificando a “ideologia“ do golpe e dos grupos armados como aquilo que é na realidade: a ideologia burguesa que sob uma fraseologia extremista procura impedir o desencadeamento de acções das massas populares e põe em risco a conquista das liberdades democráticas.
3 – Li uma tarjeta assinada pela Direcção da Org. Regional da Beira Litoral do nosso Partido, com data de Maio, na qual se defende a libertação de Angola “para que se torne de facto um mercado para os nossos artigos“ e em que se dá aos operários esta palavra de ordem: “Mostremos aos nossos patrões que só a independência de Angola serve os seus interesses“. Proponho que esta grave manifestação oportunista seja criticada e discutida na nossa imprensa, mostrando-se o que contém de degradação da luta de massas e de continuar a atrelar o P. à burguesia.
Agosto 1961
Camp.