
Camaradas,
Durante a reunião de Agosto e através da discussão anterior que teve lugar, pudemos verificar como são profundas as divergências que nos separam quanto à linha do nosso Partido e quanto à interpretação do Marxismo-Leninismo; o decorrer da reunião de Agosto levou-me a compreender melhor a natureza dessas divergências nalguns aspectos que para mim ainda não estavam claros.
Ao tomar a decisão de romper a disciplina do Partido e passar a agir com independência junto dos militantes levando as divergências ao seu conhecimento, não fui impulsionado por qualquer desejo de dividir o Partido, como podereis pensar, mas pelo desejo de atalhar a efectiva dispersão e enfraquecimento que se estão verificando nas fileiras do Partido. Ver na minha atitude o fruto de despeitos ou ambições pessoais seria completamente errado; considerá-la apenas como um reflexo da situação existente no movimento comunista internacional seria ignorar os graves problemas que hoje defrontam o nosso Partido.
Eu penso que, apesar das profundas divergências que nos separam, continuamos a ter de comum o desejo de ser fiéis ao Marxismo-Leninismo e de conduzirmos o nosso proletariado e o nosso povo ao socialismo e ao comunismo. Por isso, será possível vencer as actuais divergências sem que daí venham consequências irreparáveis para o Partido. Para que isso se consiga proponho:
- que seja estabelecido no mais curto prazo de tempo um amplo debate nas organizações do Partido sobre a linha política do Partido, permitindo aos militantes conhecerem as opiniões divergentes que existem na sua Direcção e pronunciarem-se livremente sobre elas;
- que como conclusão deste debate, a Direcção do Partido convoque uma reunião ampliada de direcção em que se discuta largamente a linha do Partido de acordo com os elementos colhidos neste debate, fazendo-se rectificações se for caso disso;
- a discussão deveria incluir os seguintes problemas principais: papel das acções armadas na via para o levantamento nacional; a política da unidade antifascista à luz das alianças revolucionárias do proletariado com o campesinato e os povos coloniais e a linha de colaboração crítica com a burguesia antifascista, a situação do movimento comunista e a fidelidade do nosso Partido às declarações comuns de 1957 e 1960.
Desde que a Direcção admitisse a vantagem deste debate, poderia esclarecer a forma de o conduzir, de modo a que não trouxesse prejuízos à actividade partidária; se na reunião mencionada se chegasse à conclusão de que havia rectificações a fazer, poderia encontrar-se também a forma adequada de corrigir os erros, causando o mínimo de abalo nas fileiras do Partido. Creio que o debate e a reunião que proponho dariam num curto prazo um vigoroso impulso ao nosso Partido, restabelecendo a unidade ideológica na sua direcção e nas suas fileiras, e conduzindo assim o nosso movimento a novas vitórias, como todos desejamos.
Fraternais saudações comunistas
Campos