Os Indesejáveis

Francisco Martins Rodrigues

14 de Agosto de 1980


Primeira Edição: Em Marcha, 14 Agosto 1980

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Sob o título “Os candidatos do terrorismo” publica o sr. J. Almeida Ribeiro, na “Tarde” de dia II, uma nota escandalizada contra a inclusão dos presos do PRP nas listas de candidatos da UDP e do PSR à Assembleia da República. O facto, assegura, teria causado “enorme surpresa e desagrado na maioria das pessoas deste país”.

Concordo inteiramente. Como muito bem diz o sr.Almeida Ribeiro, “só pode ser candidato a deputado num país democrático quem acredita profundamente na democracia e na liberdade”. Ora, todos o sabem, não é este o caso de Isabel do Carmo, de Carlos Antunes e dos seus companheiros. Serão precisos factos? Há dez anos, quando se defendia o nosso UItramar da subversão comunista, eles atacavam o regime à bomba e a tiro, pelo que foram declarados traidores à Pátria pluricontinental e multirracial. Depois do 25 de Abril — excitaram as paixões inferiores no povo, convencendo-o de que se devia governar sozinho e livrar-se das pessoas de bem. Foram contra a tourada da maioria silenciosa em 28 de Setembro. Foram contra a arrancada lendária do general Spínola em 11 de Março. Foram contra o levantamento de Rio Maior. Foram contra a aurora regeneradora do 25 de Novembro. Presos e tratados benevolamente pelo regime, que apenas lhes deu uns “safanões a tempo”, tiveram o arrojo de vir fazer comício para o tribunal, acusar a polícia de sevícias, de mentiras e de ilegalidades.

Não, os presos do PRP não servem para cândidatos. Está-se mesmo a ver que são terroristas perigosos. Não vamos prender-nos agora a miudezas de saber se o processo está em recurso e se a sentença ainda não transitou em julgado. Riscam-se e pronto. Certamente não haverá na lei uma “lacuna” que impeça de dar um jeito, não é verdade, sr. Almeida Ribeiro?

Mas deixe-me dizer-lhe que o seu protesto, apesar de tudo, é tímido. Você deveria ter aproveitado a provocação intolerável da UDP e do PSR para ir mais longe e reclamar uma verificação rigorosa dos candidatos e dos partidos, de maneira a serem riscados sem hesitações todos os que não dessem garantias de se inserir no grande desígnio nacional em curso. Assim, sim!

Teríamos finalmente uma Assembleia operativa, moralizada, respeitável, compacta. Já não estaria o dr. Sá Carneiro sujeito a ser chamado de burlão pelo sr. Mário Tomé, major subversivo. E evitar-se-ia que um Luis Costa, electricista de Setúbal, vá incendiar os trabalhadores com apelos à desestabilizaçào social.

É certo que poderia haver quem lhe chamasse salazarista. Mas o Salazar afinal não foi um grande homem?


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2018