O Programa

Francisco Martins Rodrigues

27 de Setembro de 1980


Primeira Edição: Em Marcha, 27 de Setembro de 1980

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Chega ao auge o carnaval "republicano e socialista" da FRS. Ansiosos por se livrarem do pesadelo AD, os ingénuos e distraídos alimentam-se de esperanças: "Desta vez vai ser diferente. Soares e Eanes abriram finalmente os olhos para o perigo da direita, já não vão voltar aos erros do passado".

É aí que está o engano. Porque Soares a Eanes entraram em conflito com a pandilha de Carneiro e Freitas mas não mudaram de programa. E esse programa leva-os sempre e sempre para os braços da direita. Tão certo como dois e dois serem quatro.

Soares a Eanes insistem em que a sua política nada tem de comum com o revanchismo salazarista da AD. Falam-nos do seu respeito pela legalidade e pela democracia. Mas o que imporia é ver que forças sociais favorece a sua política. O resto são flores.

É que roubar terras à Reforma Agrária para “corrigir excessos” é empurrar para a frente a escumalha dos latifundiários e os seus lacaios da GNR. Pagar indemnizações e devolver empresas para “restabelecer a confiança dos investidores” é devolver o país aos Mellos, Espírito Santo e Champalimaud, pôr as multinacionais à vontade. “Fazer respeitar a cadeia hierárquica nas Forças Armadas” é dar o poder sem partilha aos generais nazis das guerras coloniais e da NATO. “Elevar a produtividade” é dar luz verde ao patronato para tirar a pele aos operários. “Premiar as competências” é pôr a mesa farta outra vez à vadiagem dos ricaços a ao tropel dos afilhados. “Garantir a democracia pluralista” é dar carta branca aos reaccionários para o assalto do poder. Como aconteceu entre 1976 e 1980.

É preciso repetir para quem ainda não entendeu: restaurar a “normalidade” capitalista em Portugal, depois dos rasgões profundos que o povo abriu no sistema em 1974-75, só se faz duma maneira — atacando as conquistas e liberdades de Abril, atacando tudo o que o povo criou, atacando o povo.

E atacar o povo é puxar para cima o mundo sombrio dos monopolistas e agrários, os especuladores e candongueiros, os generais, os bispos, os ex-comandos e os pides, os Carneiros e os Freitas, a fina flor salazarista ansiosa por recuperar o paraíso perdido.

Foi isso que Soares e Eanes fizeram, com todo o seu “legalismo democrático”. É isso que voltarão a fazer se os deixarem. Por isso as promessas da FRS são uma fraude.


Inclusão 06/09/2019