Terror

Francisco Martins Rodrigues

27 de Maio de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 27 de Maio de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Protesto solene do CDS contra o terrorismo na Assembleia, no dia 21. Aprovado, só com um voto contra, o da UDP.

A bancada do PCP votou a favor, de caras. “O nosso partido já é suficientemente maduro para não se deixar apanhar em armadilhas destas”, comentavam com finura, no intervalo, deputados do PCP. E, para mostrar que não receiam o tema, criticaram mesmo o governo por não descobrir os autores dos atentados das FP25.

Se não me engano, a pressa do PCP em se demarcar do terrorismo fez-lhe esquecer alguns pormenores.

Antes de votar com o CDS e PSD numa questão destas, o PCP poderia talvez perguntar-lhes porque é que ficam tão incomodados quando se fala do napalm e das cabeças cortadas nas guerras coloniais. Porque é que soltaram os bombistas e os pides. Porque é que aprovam o massacre no Salvador. Porque é que andam a fazer passar os comandos fascistas de Roma e Barcelona por pobres diabos.

Votar ao lado da AD para não ser acusado de amigo dos terroristas é ceder à chantagem e ajudá-la a vestir o manto da inocência.

Há mais. Tomando a iniciativa neste assunto, os partidos da AD querem criar um ambiente favorável a uma série de leis repressivas que têm na forja. Depois do voto anti-terrorista de quinta-feira, já aí vem um projecto de lei anti-terrorista. A seguir virá o rearmamento e a coordenação das polícias, a lei da Defesa Nacional e do estado de sítio, o Serviço de Informações... Tudo, claro, à conta da segurança dos cidadãos!

O PCP devia ter pensado, antes de alinhar com os amigos da ordem, que o governo só busca pretextos para criar novos dispositivos de repressão contra o povo. É ver como os gorilas do Almeida Bruno deram no domingo um festival de matracada, tiros e gases lacrimogéneos contra os rapazes que davam vivas ao Benfica.

Há ainda outra razão para um partido de esquerda não embarcar em condenações gerais da violência. É que a esquerda está, de facto, contra o bombismo, as tomadas de reféns e os raptos. Mas não por espírito ordeiro. Esses actos não nos servem porque atrasam a insurreição popular, a saída que buscamos deste inferno capitalista.

Mas... esperem lá! Não me digam que, afinal, o PCP não é de esquerda!


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2018