Balsemão em marcha à ré

Francisco Martins Rodrigues

17 de Março de 1982


Primeira Edição: Em Marcha, 17 de Março de 1982

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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O “Tempo” oferece-nos, em primeira página, a cores, o sorriso, meio-bacoco, meio-velhaco, de Freitas do Amaral. Comentando eufórico que o professor ilustre “saltou de novo para a primeira linha do combate político”, o jornal do CDS exalta a sua “lealdade exemplar a Balsemão”. Ao lado, como quem não quer a coisa, anuncia de boa fonte que a remodelação do Governo terá lugar antes do Verão...

Balsemão deve ter tido um calafrio. Depois das declarações de lealdade de Eurico de Melo e Cavaco e Silva, entra o Freitas na dança. O fim deve estar próximo.

Faz lembrar a velha piada: sustentam-no como a corda sustenta o enforcado. Estrangulam-no, balançam-no, sacodem-no de um lado para o outro. Até o deixarem cair como um trapo inútil.

Tudo lhe corre para o torto. Vasco Lourenço quer saber como arranjou cópia do seu depoimento à Judiciária sobre a corrupção. Processo-crime à vista. Em Chaves, o presidente da Câmara, seu correlegionário, dá-lhe com os pés. Na Assembleia, atarantado, deixa que seja o Freitas a tomar a defesa do esgaseado Angelo. Por último, de cabeça perdida, para ver se se impõe, manda publicar um livro em sua honra: a vida de Chico Balsemão desde pequenino, ilustrada com fotos e versos de Camões... Está arrumado.

Entretanto, o Freitas, com a sua velha ronha de sacristia, toma posse da AD. Expõe, manso, as condições da revisão constitucional ao PS: “Estou disposto a deixar lá ficar a palavrinha da ‘sociedade socialista’, desde que me dêem em troca as nacionalizações, para eu distribuir aos Mellos, aos Quinas, ao Champalimaud.” E vai tê-las!

Há perigo deste Governo agonizante dar lugar a outro mais compacto, mais eficiente — mais reaccionário? É claro que há.

A greve geral e as manifestações do dia 6 mostram que os operários estão fartos de fazer austeridade para sustentar os vícios da burguesia. Mas mostram também que os operários estão com as pernas cortadas. O PCP pede, suplica, grita a Eanes que demita o Governo e faça eleições. Já só falta dedicarem-lhe um poema. E Eanes vai dizendo que sim, obrigadinho, mas deixem lá aprovar a Constituição primeiro, depois se vê.

A greve geral foi só um começo. Para tirar o sorriso ao Freitas é preciso muito mais. Mas o dr. Cunhal não tem mais para dar.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2019