Trabalhadores

Francisco Martins Rodrigues

19 de Janeiro de 1983


Primeira Edição: Em Marcha, 19 de Janeiro de 1983

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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A imprensa comentou os dados recentemente divulgados pelo Ministério do Trabalho acerca dos salários médios em Março de 1981. Os números vieram desfazer algumas mentiras mantidas pelos meios oficiais acerca do nível de vida dos trabalhadores portugueses. Vejamos quais eram, em Março de 1981, os salários médios por grandes grupos de categorias:

O quadro, mesmo desactualizado, mostra aquilo que todos os operários sabem mas nunca é dito em público: há uma sucessão de pequenos degraus entre as categorias operárias e depois um enorme salto para os vencimentos dos quadros. A imagem que se procura criar de uma massa de “colaboradores” da empresa, do aprendiz ao engenheiro e ao chefe, não tem nenhum fundamento.

Os chamados “trabalhadores” da indústria compõem-se de uma enorme massa operária mal paga e uma nata de quadros e especializados, a ganhar 2, 3 e 4 vêzes mais. Há dentro das empresas uma élite encarregada de chefiar, enquadrar, controlar e espremer os operários, élite que é recompensada por este serviço com vencimentos muito “interessantes”.

Isto quer dizer que os operários defrontam dentro da empresa dois inimigos: o capitalista, o patrão, e o quadro, agente do capital. Isto quer dizer que os operários, para defenderem os seus interesses imediatos, não podem abrir as suas comissões aos quadros, nem unificar a sua luta com as reivindicações dos quadros. Isto quer dizer que a aliança ou a neutralização daqueles quadros que não querem ser sabujos do patrão tem que se fazer com rigorosa independência dos operários. Perguntem ao PCP o que pensa disto.

Desembaraçar o movimento operário da ideia venenosa de que a nitidez dos contornos das diversas classes seria “sectarismo” é um passo indispensável para qualquer avanço. Para poderem chegar um dia a conduzir a luta de todo o povo, os operários têm que começar por diferenciar-se resolutamente. Essa conversa de “trabalhadores” tem água no bico.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2018