Os Ratos no Queijo

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2000


Primeira Edição: Política Operária, nº 76, Set-Out 2000

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Dois eixos comandam a complicada intriga política dos últimos meses: a disputa dos lucros gigantescos das privatizações e das encomendas do Estado: e a disputa dos cargos de governo que dão acesso ao maná.

A ofensiva aberta do clã Soares contra Guterres. em nome da "transparência” e dos “princípios” (!), reflecte a frustração do aparelho socialista por ter sido preterido na remodelação do Governo. Mas visa também preparar a sucessão de Guterres caso rebente o escândalo da “promiscuidade” com certos grupos e empresários, entre os quais o próprio cunhado do primeiro-ministro.

O roubo desenfreado é o pano de fundo da política actual. A reforma fiscal “moralizadora” anunciada pelo Governo faz ajustamentos decorativos para deixar o essencial na mesma: prática isenção de impostos para os 500 milionários da Democracia, para dois terços das empresas e para a maioria dos profissionais liberais — uma fuga maciça ao fisco por parte da burguesia, que atinge os mil milhões de contos anuais e que não seria possível sem uma enorme rede de cumplicidades.

Certamente, esta obscenidade não foi o governo do PS que a inventou, mas vive bem com ela. E prospera.

Equilibrista consumado, Guterres abriu o governo à máfia da Católica, negoceia por baixo da mesa a aprovação do Orçamento com o PCP e faz favores ao PSD. Nas próximas semanas se saberá se consegue evitar o naufrágio.


Inclusão 26/08/2019