Álvaro Cunhal. Uma Biografia Política

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2001


Primeira Edição: Política Operária nº 81, Set-Out 2001

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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capa

Álvaro Cunhal. Uma biografia política, vol. II (1941-49), José Pacheco Pereira. Ed Temas e Debates, Lisboa, 2001,892 págs.

Já aqui o dissemos a propósito do 1º volume desta obra: mais do que uma biografia de Cunhal, Pacheco Pereira está a fazer uma recolha sistemática de elementos da história do PCP. Se Cunhal não fosse tão obtusamente conspiratório em relação a factos com mais de meio século (!), agradeceria o contributo deste autor para a elaboração da história do seu partido. O mais curioso é que, tendo começado a escrever com a ambição de derrubar o “mito de Cunhal”, Pacheco Pereira acaba por ser dominado pelo seu escrúpulo de historiador e está a prestar involuntariamente um serviço aos que pretendia desacreditar, com evidente desconforto para os notáveis do seu partido (e não só).

Os materiais reunidos neste volume, muitos deles divulgados pela primeira vez, ajudam a fazer luz sobre a actividade do PCP nos anos 40, desde a luta entre os “reorganizadores” e o “grupelho provocatório”, as grandes greves do tempo da guerra, o III e IV congressos do partido, o MUNAF e o MUD, até à prisão de Cunhal e Militão em 1949. E apesar de P.P. não resistir ao impulso de reabilitar todos os que no passado “caíram em desgraça” no PC (como J. Fogaça), assim como ao gosto pelas histórias de espionagem com agentes do Comintern e ainda de se perder em histórias marginais - o quadro é no seu conjunto verídico e cheio de interesse.

Outra coisa é a interpretação das lutas internas e o enquadramento histórico da vida do PCP na sociedade portuguesa da época. Aí vem ao de cima a tacanhez dos preconceitos reaccionários de P.P. que o impedem de perceber o movimento social que empurrou esses milhares de militantes a desafiar a ditadura quando a esmagadora maioria da sociedade ou aplaudia o regime, ou se atinha a prudentes críticas. Que o ódio de classe dos pobres tenha feito aparecer, nas condições extremas da opressão fascista, uma plêiade de militantes devotados à luta clandestina, é coisa que transcende o seu entendimento. Daí as habituais tiradas de psicologia de almanaque sobre o “ascetismo”, a “fé cega num futuro radioso”, a “obediência”, o “sacrifício”, a “autopunição”, etc.

De qualquer modo, os marxistas dispõem a partir de agora de materiais de muito valor para a história, que ainda não está feita, da resistência ao fascismo e da degeneração reformista do PCP.


Inclusão 26/07/2019