A Esquerda Portuguesa Perante a Crise

Francisco Martins Rodrigues

Novembro/Dezembro de 2001


Primeira Edição: Política Operária nº 82, Nov-Dez 2001

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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“O mundo está em estado de sítio — começou por dizer Francisco Rodrigues —; Bush tem carta branca para atacar quem quiser onde quiser; o Afeganistão é só o primeiro numa lista de 60 países que irão ser ‘limpos de terroristas’; o massacre do povo da Palestina toma proporções odiosas; nos EUA e na Europa, as polícias recebem poderes extraordinários; já se discute a ‘legitimidade’ de empregar armas atómicas e torturar prisioneiros!” “Então porquê a vacilação da nossa esquerda parlamentar perante esta escalada monstruosa? Diz-se que o horror dos atentados de 11 de Setembro dificultou a condenação do imperialismo. Nós dizemos que os atentados puseram a nu o temor da esquerda perante o imperialismo. PCP e BE correram a alinhar nas condenações, nos minutos de silêncio e nas condolências, sem ver que esse acto “emotivo” era o primeiro passo para pôr em marcha a retaliação brutal do imperialismo; e segundo, que essa “manifestação de respeito pelas vítimas” era uma falta de respeito pelos milhões de vítimas do imperialismo à espera de justiça”.

“Não satisfeitos, esses partidos erraram segunda vez ao propor, como alternativa à guerra, o “julgamento dos terroristas”, como se fosse possível um julgamento isento por parte dos salteadores, como se os governantes ocidentais não fossem, de longe, muito mais merecedores do que os bin Laden de se sentar no banco dos réus”.

“Entendamo-nos: o que está em jogo não e ser pró ou contra o terrorismo, é ser pró ou contra o imperialismo — e é forçoso reconhecer que a consciência anti-imperialista da nossa esquerda está muito por baixo”.

“Isto não significa — disse noutro passo o director da "Política Operária” — que não devamos preocupar-nos com o facto de o ataque ao poderio americano ser assumido por gente da qualidade de bin Laden. Há 50 anos quem desafiava o imperialismo eram guerrilheiros comunistas. O que mudou entretanto? Apagou-se a corrente comunista e revolucionária e é isso que permite que o ódio popular contra o imperialismo seja canalizado para forças religiosas, obscurantistas, arcaicas. Se os comunistas não encabeçam a revolta das massas, alguém aparece para as dirigir. Por isso, aqueles que, na esquerda, se horrorizam com o terrorismo, deveriam antes medir as suas próprias responsabilidades na situação a que chegámos e pensar no meio de erguermos de novo uma resistência revolucionária ao imperialismo”.

A concluir, sublinhou a premência de se dar continuidade às acções anti-imperialistas já encetadas; o êxito da manifestação de 30 de Outubro não nos desobrigou de nada, foi apenas um primeiro passo. Pela sua parte, a “Política Operária" fará o possível por despertar no nosso país a resistência à agressão imperialista e a solidariedade com os movimentos de libertação nacional, na Palestina como na Colômbia, estreitar laços com os movimentos populares nas nacionalidades ibéricas, ao mesmo tempo que apoia a resistência do movimento operário à nova ofensiva capitalista em marcha.


Inclusão 14/05/2019