A Via Argentina

Francisco Martins Rodrigues

Janeiro/Fevereiro de 2002


Primeira Edição: Política Operária nº 82, Jan.Fev 2002

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Aos que procuravam convencer-se de que a “cruzada antiterrorista” estaria encerrada com os massacres do Afeganistão e se apressaram a louvar a “contenção” da América (punir só um povo, que generosidade!), Bush veio lembrar brutalmente, no discurso sobre “o estado da União”, que a guerra “só agora começou”.

Enquanto na Palestina o seu discípulo dilecto Sharon prossegue livremente o genocídio de todo um povo, os apetites do Big Brother voltam-se já para o Iraque, Irão e Coreia do Norte, apontados explicitamente como os próximos alvos das bombas; tropas americanas desembarcam nas Filipinas; forças navais conduzem operações nas costas da Somália; as polidas coordenam novas investidas “anti-subversivas” à escala planetária; e especialistas em “luta contra-insurreccional” aconselham o governo de Espanha na repressão da ETA...

Não estamos perante actos tresloucados de um governante. É a agonia do sistema capitalista, a braços com a crise dos dois lados do Atlântico, que dita a febre guerreira e expansionista dos EUA e a aspiração europeia de os imitar. Por isso, todos os recursos do sistema - exércitos, polícias, governos, partidos, jornalistas e ideólogos - estão a ser mobilizados para convencer os povos de que a “cruzada” seria uma operação meritória em defesa da civilização e da paz mundial. E mais: que seria escusado oporem-se à decisão “inabalável” dos donos do mundo.

Para já, as jornadas populares de Buenos Aires, ao libertar a fúria dos espoliados, mostram como é afinal vulnerável o poder que se aparenta invencível Aí está a via para deter a bestialidade imperialista.

E nós, aqui em Portugal, que faremos? No Encontro Internacionalista da PO, em Dezembro, sublinhámos a urgência de ganhar as massas para a acção anti-imperialista. Não vai ser fácil passar à acção. Com uma esquerda embrutecida na inércia do rame-rame institucional, só um esforço enérgico e sustentado dos revolucionários pode despertar as massas para a luta de que depende o futuro de todos nós.


Inclusão 18/08/2019