Invasão Americana, PIB Europeu, Flexi-segurança nas Empresas

Francisco Martins Rodrigues

Janeiro/Fevereiro de 2002


Primeira Edição: Política Operária nº 83, Jan.Fev 2002

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Que tal se os nossos audazes cavaleiros humanistas que aplaudiram a invasão americana viessem agora fazer o respectivo balanço? As reportagens das agências que mostram afegãos risonhos a jogar futebol e afegãs agora felizes (por trás da burka) não merecem um comentário? O tratamento dado aos prisioneiros talibãs em Guantánamo não era um bom tema para uma crónica? E os cálculos oficiais de que terão morrido “200 a 400" civis afegãos durante as operações (que prosseguem) - não há nada a dizer contra esta infâmia? Falar do inferno dos campos de refugiados não é uma obrigação moral? E as bombas de fragmentação espalhadas pelos campos? E a tal “revolta” dos prisioneiros de Omar-i-Sharif?

Já morreram dez vezes mais afegãos do que nova-iorquinos no dia dos atentados. Do tal bin Laden, que foi o pretexto para esta sangueira, nem rasto. Agora, porem, os nossos comunicadores que se atropelavam a repudiar o crime “ominoso e nefando” de 11 de Setembro estão desinteressados do tema. Ao menos que tivessem a franqueza da megera Madeleine Albright quando, a propósito das vítimas no Iraque, disse que “o preço vale a pena”.

Afinal, o nível de vida em Portugal está mais longe da UE do que se supunha, noticia a imprensa. Negativo? Não! Positivo, comentam os técnicos, porque assim as nossas regiões deprimidas continuarão a ter direito aos fundos estruturais para além de 2006. E de facto, os habitantes dos Açores a 50% do PIB europeu, os do Alentejo, Centro e Norte a 60%, viram as verbas a que isso dá direito?

Assim percebe-se melhor porque é que os governos, sejam “socialistas” ou “social-democratas”, continuam a esforçar-se por nos manter atrasados enquanto vão falando no “pelotão da frente” e na “solidariedade social”. Só loucos iriam deixar perder este abono de família.

Eduardo Prado Coelho louva o novo regime holandês da “flexi-segurança” nas empresas. Mas adivinha já que os esquerdistas, eternos detractores de tudo o que é inovação, dirão mal. “Já estou daqui a ver - escreve no Público - os cretinos de serviço a insinuar que se trata de uma piscadela de olho à direita (a “flexi”) e uma piscadela dc olho à esquerda (a “segurança”)”. Com isso só revelam “total incapacidade de pensar e resolver os problemas com que hoje estamos confrontados”.

Caro doutor, fale de tudo menos de empresas e de trabalho, para não fazer figura de cretino.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2018