A Segunda Campanha

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2002


Primeira Edição: Política Operária, nº 86, Set-Out 2002

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Saddam tem ou não armas de destruição maciça? Vai ou não obedecer a um novo ultimato da ONU? Abre ou não os seus palácios aos inspectores? Com estes folhetins transfere-se para o Iraque a responsabilidade da guerra que o Pentágono programou de há muito. Devastar o Iraque a seguir ao Afeganistão é necessário para se poder passar ao capítulo seguinte (Síria? Irão?), e depois talvez à "solução final"da resistência palestiniana... As justificações para o ataque são o menos, inventam-se caso a caso, à medida que forem necessárias.

As proclamações de Bush sobre a guerra de cem anos contra os *Estados párias" não foram um exercício de retórica. Traduzem uma política a longo prazo visando tirar o máximo rendimento da sua superioridade estratégica com uma série de guerras “preventivas”. Para já, fazer do Próximo e Médio Oriente uma região ‘pacificada", que simultaneamente lhes assegure o controlo do petróleo e do gás, a submissão incondicional da Europa e ponha a Rússia de joelhos. Em seguida ou em paralelo, reforçar o controlo da América Latina, “extirpando os cancros" da Colômbia e de Cuba, “sanear" as Filipinas, o Iémen, a Somália... Mais tarde, quando as condições estiverem maduras, abordar outros desígnios mais ousados: China, Rússia, Europa...

Apelar aos políticos de “bom senso", contar com a desaprovação de Schroeder ou de Chirac ou da ONU, é não perceber nada da dinâmica expansionista do capitalismo. Uma potência que alcançou uma hegemonia militar esmagadora, como é o caso actual dos EUA, não modera as suas ambições. O “grande salteador" é empurrado para o sonho megalómano da conquista do planeta porque essa saída, necessária para afastar a ameaça de crise, parece agora pela primeira vez ao seu alcance.

Mas o afundamento na catástrofe não é fatal. As mega manifestações que nestes dias agitam Londres, Roma, Colónia, Washington (e a que Lisboa continua alheada) podem ser a barreira que detenha a paranóia ianque. O tempo urge. Quem tiver vocação suicida que fique em casa.


Inclusão 18/08/2019