Em nome da ética

Francisco Martins Rodrigues

Maio/Junho de 2004


Primeira Edição: Política Operária nº 95, Maio-Junho 2004

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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capa

Em nome da ética, João Varela Gomes. Ed. do autor, Abril 2004. Distr.: Livraria Ler, Rua 4 de Infantaria, 18, 1350-011 Lisboa.

Para assinalar 80 anos de vida e o 30° aniversário do 25 de Abril, Varela Gomes lançou mais uma das suas bombardas, zurzindo sem dó nem piedade “bandalhos oportunistas, renegados e trânsfugas”. Iniciado em estilo de ensaio destinado a provar que “entre ética e política existe um fosso intransponível”, o livro depressa passa ao panfleto, que é aliás o que VG melhor sabe fazer.

E assim acerta contas mais uma vez com Mário Soares, o “Grande Corruptor”, com os “socialistas (de gaveta)” retouçando as “pastagens partidárias”, com Manuel Alegre, “o galo de Barcelos na capoeira de S. Bento”. E assim desmonta “as impossíveis reformas” da Justiça, da Administração, dos impostos, etc., mostrando o vazio do paleio parlamentar, destinado a proteger, sob uma aparência crítica, os interesses da classe no poder.

No capítulo dedicado aos “novos cães de guarda” da Comunicação Social, há uma ficha curiosa recordando os heróis reaccionários do Jornal Novo de 1975-76, além de verrinadas certeiras contra o Diário de Notícias, Expresso e Público. Nem os seus demasiado cordatos amigos do PCP escapam. VG escarnece da “funesta voz da prudência” sempre a lembrar “que nada deve ser feito, ou sequer murmurado, que prejudique a unidade, venerada miragem paralítica”, e que os leva a “nunca sacudir muito violentamente a doce virgindade da senhora democracia burguesa/capitalista”.

Na parte final, há algumas notas interessantes sobre o 25 de Novembro, esse golpe contra-revolucionário que os nossos historiadores, “tão lépidos a descobrir a contra-revolução no Chile ou na Nicarágua”, teimam em não ver. “A verdade — escreve — é que a esquerda, quer a militar, quer a civil, manteve-se na defensiva durante todo o Verão Quente e até ao 25 de Novembro, não respondendo olho por olho às incessantes provocações da direita terrorista, quer militar quer civil”. “O espírito defensivo prevaleceu durante o dia 25. Houve opiniões contrárias — como a minha — que não obtiveram vencimento”. Sobre Otelo: “Símbolo do espírito defensivo, digamos mesmo, entreguista”, “homem de carácter leviano, que não tinha estatura para o papel que o destino lhe ofereceu”. E ainda este contributo, à atenção dos historiadores: “Sob a batuta do sábio e ardiloso Costa Gomes, a Jaime Neves foi-lhe concedida capacidade para recrutar e incorporar pessoal, oferecendo atractivos salários... Ao aproximar-se o 25

de Novembro, o quartel da Amadora albergava uma autêntica brigada mecanizada. Em contrapartida, as unidades ditas ou suspeitas revolucionárias eram mantidas praticamente desarmadas”.


Inclusão 21/08/2019