O Relatório Kruchov

Francisco Martins Rodrigues

Novembro/Dezembro de 2006


Primeira Edição: Política Operária nº 107, Nov-Dez 2006
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Assinalando o 7 de Novembro, aniversário da Revolução Russa, a Renovação Comunista, agora legalizada como associação política, promoveu mais um debate na Biblioteca-Museu República e Resistência, desta vez dedicado ao célebre relatório de Kruchov no 20° congresso do PCUS, em Fevereiro de 1956. Na mesa, Paulo Fidalgo, da organização, Fernando Rosas, Carlos Brito e Raimundo Narciso.

Muitos aspectos úteis foram focados nas sucessivas intervenções da mesa, mas a recapitulação obsessiva dos crimes e abusos de poder de Staline desviou o debate das duas questões que contudo seriam mais produtivas: a natureza do regime social que tornou possível e necessário o odioso fenómeno do stalinismo; e saber porquê a “correcção” encetada no 20° congresso descambou na social-democratização do movimento comunista e no desmantelamento final da URSS, abrindo as portas à actual explosão de barbárie imperialista. Esta é porém uma reflexão de que se mostram incapazes não só os actuais militantes do PCP, como os dissidentes, dispersos ou agrupados na Renovação Comunista. Sob o choque das “revelações” do 20° Congresso, parecem ter perdido o pouco discernimento marxista que ainda tivessem e passaram a exibir a sua adesão fervorosa aos valores da democracia (sem sinal de classe). Fidalgo tirou como lição das tragédias passadas a necessidade de a “nova esquerda” ir para o governo e aí “transformar as relações de produção”. Narciso fez votos pela vitória do Partido Democrata nas eleições a decorrer nos Estados Unidos e apelou a “mais e melhor democracia”. Rosas apontou o dedo ao “vanguardismo”. Brito distinguiu-se por uma apaixonada e lamentável defesa do farsante Kruchov, a quem pouco faltou para conferir uma medalha de mártir incompreendido da democracia.

Como é fácil calcular, as intervenções da assistência foram em geral divagantes e carregadas de perplexidade. Salvou-se o brio de Carmelinda Pereira ao estigmatizar a colaboração de classes dos actuais campeões do anti-stalinismo, em nome de um absurdo projecto de “humanização” do capitalismo.


Inclusão 10/06/2018