Dois Campos

Francisco Martins Rodrigues

Março/Abril de 2007


Primeira Edição: Política Operária nº 109, Mar-Abr 2007

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Como explicar que as sondagens continuem favoráveis ao governo quando cem mil se juntam numa grande manifestação nacional de protesto? A contradição tem a sua lógica.

Apoiam as reformas de Sócrates os sectores abastados da burguesia, a camada superior das classes médias, os quadros, a nata da sociedade, e a sua clientela fiel. Enfurecem-se contra Sócrates os que têm que pagar com o sacrifício das suas condições de vida a factura das reformas: a massa inferior dos assalariados, dos desempregados, dos reformados. A maioria, essa, por enquanto descontente mas indecisa, acabará por ser chamada a pronunciar-se se a luta entrar em ascenso.

Os métodos expeditos e brutais de modernização capitalista adoptados pelo governo agradam à burguesia porque rompem com os adiamentos e meias tintas que se tornaram de regra nos governos do PS. Sócrates assume sem complexos as directivas de Bruxelas. Para atrair o investimento, dá incentivos ao capital, facilita despedimentos, faz trabalhar mais os assalariados, rouba-lhes as magras regalias que ainda lhes restam do 25 Abril — os famigerados "privilégios”.

Ao extremar campos, as “reformas” de Sócrates criam condições para empurrar grandes massas exploradas para fora da tradicional estreiteza política que tem sustentado a alternância PS-PSD. A nossa tarefa é precisamente essa: mostrar que se os dois grandes partidos de governo são irmãos gémeos ao serviço da burguesia, então não há qualquer esperança de os interesses dos trabalhadores serem defendidos dentro do actual quadro político. Há que reunir forças e multiplicar lutas contra este regime.


Inclusão 18/08/2019