Cartas

Francisco Martins Rodrigues


Cartas a JCC


Carta 1
22/03/1989

Camarada:

Correu muito bem o Encontro de sábado na Casa da Imprensa, com mais de uma centena de pessoas. Foi decidido avançar com a Frente da Esquerda Revolucionária para as próximas eleições, como talvez já tenhas sabido pela imprensa ou pela rádio. Mando junto o Apelo lá aprovado, com um pedido: caso estejas de acor­do, assinares e recolheres assinaturas de apoio, para dar um impulso a esta candidatura que se vai ver cercada pela hostilidade da UDP e do PSR, além dos outros, mas que pode dar saída a umas afirmações de esquerda que estão a fazer falta. Temos uma sessão marcada para a Voz do Operário na noite de 24- de Abril, seria bom se cá estivesses a apoiar. Também, evidentemen­te, te peço apoio financeiro, o que esteja ao teu alcance. Diz-me o que pensas disto tudo.

Com um abraço e esperando ir em breve visitar-te aí

Carta 2
01/04/1989

Camarada:

Como te disse o Lgo e terás visto nos jornais, vamos para as eleições com uma fren­te da Esquerda Revolucionária, cujo objectivo é fazer um ataque forte à CEE. e ao governo, assim como à oposição paralítica. Estamos a discutir o manifesto-programa e a lista dos candidatos. Será que tu ou os teus camaradas daí propõem al­gum nome como independente para fazer parte da lista? Precisamos de saber urgentemente. Que es­pécie de colaboração estão dispostos a dar? Poderão mandar uma delegação com uma mensagem ao comício na Voz do Operário de 24 Abril? Seria muito importante.

Mando-te o texto de apoio que está a circular e será publicado nos jornais em anúncio. Podes recolher assinaturas, tanto de no­mes conhecidos como de apoiantes em geral? O li­mite para a devolução é 20 Abril. Outra coisa, mas que poderemos preparar com mais tempo, é a recolha de denúncias fortes, depoimentos, etc., para lançar no tempo de antena. Espero poder ir aí conversar convosco antes de dia 24. Um abraço

Carta 3
15/05/1989

Caro Camarada:

Espero que tenhas recebido uma encomen­da que te enviámos com manifestos da FER. Preve­mos a ida aí do camarada SG, no próxi­mo domingo dia 21, para discutir as possibilida­des de apoio vosso à campanha eleitoral da FEE, em especial a possibilidade de fazer uma sessão de propaganda ou até criar uma comissão local de apoio.

Escrevo-te também pele seguinte: marcá­mos para o dia 28 de Maio, domingo, um almoço de apoio à FER que será simultaneamente de protesto contra a recuperação do Salazar e dos faxos. Ha­verá uma intervenção do Varela Gomes e vamos pro­curar obter cobertura da TV, rádio e imprensa. Seria importante que estivesses presente com ou­tros camaradas daí, ou pelo menos enviassem uma mensagem para tornar público. Que dizes? 0 SG discutirá contigo todos os problemas. Vis­te na televisão a queima do boneco que fizemos na Praça da Figueira? Vamos enviar mais material. Um abraço

Carta 4
14/06/1989

Caro Camarada:

Deves estar surpreendido e confuso pelas notícias sobre a nossa saída da FER. Foi muito chato mas não tivemos outra alternativa porque os golpes eram constantes e não tínhamos força para obrigar os tipos da LST a respeitar os acordos que tinham assinado connosco. O nosso erro foi acreditar que haveria um mínimo de lealdade. Dentro de dias receberás a PO com informações e um artigo sobre o assunto.

De qualquer maneira, gostaria na mesma do fazer aí una reunião convosco depois disto passado. O S irá aí logo que possa.

Um abraço do camarada

Carta 5
20/12/1990

Caro Camarada:

Espero que já tenhas recebido a PO 27 e visto a "Resposta aos comunistas americanos", produto final dos debates que vínhamos fazendo há uns meses, Que achas? Fizemos uma sessão no dia 14 contra a guerra do Golfo o que não teve di­reito a notícia na imprensa mas que foi boa, com 100 pessoas presentes. Pensa-se em convocar uma manifestação, porque os riscos aumentam e as pessoas estão insensíveis. Haverá condições para uma sessão sobre o assunto aí (…)? Poderia aí ir eu com mais alguma pessoa da CCIG(1). Por favor escreve ou telefona e diz o que pensas.

Atenção: o nosso telefone agora já não é (…) . A melhor hora ê das 17 às 20 heras todos os dias úteis.

Abraços para ti e para todos os camaradas

PS - Segue encomenda com boletim "Denúncia".

Carta 6
12/06/1991

Camarada:

Envio pele carreira da Rodoviária um envelope contendo 5 ex. da PO 30, para a hipótese de poderes vender (ou oferecer) aí a pessoas conhecidas. Segue também um boletim duma comissão lançada por nossa iniciativa com a colaboração de outras pessoas, para fazer campanha contra o nacionalismo e o racismo. Tu verás o que te pare­ce. Pensamos na hipótese de recolher assinaturas para o texto ou para uma versão melhorada. Esta­rias interessado em assinar e recolher assinatu­ras? Diz alguma coisa.

Anteontem, 10 de Junho, fizemos uma exposição no Parque Eduardo VII, à entrada da Feira do Livro, desmascarando os Des­cobrimentos. Foi um êxito. Vamos continuar. Conse­gues que a exposição vá aí (…), a uma escola ou à biblioteca?

Foi pena não teres vindo ao lanche do 1º de Maio, juntaram-se uns 40, bastantes dos velhos tempos, numa de confraternização. Não deixes de dar notícias. Um abraço

Carta 7
07/11/1991

Camarada:

Li a tua mininota que deixaste na cai­xa do correio. Foi pena não nos apanhares. Estáva­mos & contar contigo para animares o debate sobre a URSS mas não apareceste.

Que tal te pareceu a última PO? Vamos fazer assim: como tu não tens pachorra para escrever, um dia que venhas a Lisboa telefonas para o (…) (eu agora paro aqui bas­tante), vens cá e ditas-me os teus palpites que eu escrevo directamente no computador. Podes falar sobre tudo o que quiseres, desde as broncas do Monterroso(2) até à crise do marxismo. E já agora fazes uma assinatura da P.O. para mostrares a tua sim­patia por esta excelente revista. Agora a sério, precisamos de assinantes.

Quando vocês acharem que vale a pena eu ir aí para um papo, digam. Leste o boletim do MAR? Poderia fazer-se aí uma pequena reunião com pessoas interessadas nas questões do racismo? Temos tido alguns contactos interessantes em Coimbra e no Porto. Um abraço. Telefona.


Notas de rodapé:

(1) Comissão Contra a Intervenção no Golfo, que mais tarde se chamaria CCG (Comissão Contra a Guerra). (Nota de AB). (retornar ao texto)

(2) O antigo presidente socialista da Câmara da Nazaré, Luís Monterroso, com vários outros autarcas, mantinha`na altura laços duvidosos e nunca devidamente esclarecidos pelas autoridades judiciárias com a Gitap/Oficina de Eventos, empresa controlada e administrada pelos irmãos José e Álvaro Geraldes Pinto - dois engenheiros e militantes socialistas originários da zona da Covilhã, de onde são também naturais os dirigentes António Guterres e Luís Patrão. O Partido Socialista recebeu importantes apoios para as eleições da parte da Gitap, que controlava o mercado de estudos e projectos das câmaras do PS. (Nota de AB). (retornar ao texto)

Inclusão 12/11/2018