Cartas

Francisco Martins Rodrigues


Cartas a JPM


Carta 1
15/04/1992

Caro amigo:

A acumulação de trabalho e também algum descuido motivaram a demora em responder à sua carta, pelo que pedimos desculpa. Supomos que terá recebido o livro “Ministros da Noite” de Ana Barradas que enviámos à cobrança. Quanto às moradas de revistas, mandamos junto as que mantêm permuta com a nossa revista.

Seria possível enviar-nos, para nossa informação, um exemplar da revista “última Geração”? Agradecendo o seu interesse, esperamos continuar a manter contacto.

Carta 2
26/10/1992

Caro amigo:

Estou a responder com enorme atraso à sua carta de Abril, pelo que espero me desculpe. A acumulação de trabalho e as férias foram a causa mas talvez ainda vamos a tempo de reparar a falta.

A sua disponibilidade para colaborar na nossa revista despertou-nos interesse. Como terá visto pela último nº da P.O. (nº 36), aumentámos o nº de páginas e estamos a alargar a diversidade das abordagens, para tornar a revista mais interessante. Aos nossos pontos de vista comunistas não repugna a abertura da revista a opiniões divergentes em vários aspectos; o que nos interessa é não fazer concessões no sentido da reforma do capitalismo, da reconciliação com a burguesia, etc., e o seu escrito não nos deixou dúvidas a esse respeito.

O seu artigo pareceu-nos muito bom, bem argumentado, bem escrito, apenas com o defeito, em minha opinião, de abordar demasiadas questões em espaço limitado. O panorama que nele desenha das novas relações internacionais pareceu-nos correcto. Faço-lhe por isso a seguinte proposta, em nome da Redacção: quer você enviar-nos um comentário sobre um tema internacional à sua escolha, para a próxima P.O.? Poderíamos introduzi-lo com uma nota ressalvando a sua independência em relação ao colectivo da revista. Como calcula, se fosse o caso de acharmos necessária qualquer alteração ou corte, não o faríamos sem o consultar previamente. Como também decerto calcula, o carácter não-comercial da nossa revista não nos permite pagar, nem mesmo simbolicamente, as colaborações mas julgamos que isso não será obstáculo para si.

Se nos déssemos bem com esta experiência, poderíamos encarar uma colaboração regular sua, por exemplo preenchendo uma crónica sobre temas internacionais, ou outra da sua preferência. Ficamos à espera da sua resposta com o maior interesse. Propomos-lhe uma dimensão máxima de 8000 caracteres (1 página) e a data limite de 15 de Novembro para a entrega, visto que a redacção fecha a 20.

No caso de estar de acordo com a colaboração mas não lhe ser possível enviar-nos um artigo em tão curto prazo, gostaríamos de saber se seria possível publicarmos no próximo nº da P.O. um extracto do artigo que nos enviou, com a indicação de ter sido extraído da revista «Última Geração». Naturalmente submeteríamos esse extracto à sua apreciação prévia.

Finalmente, gostaríamos que nos transmitisse as críticas que lhe sugira a leitura da nossa revista, inclusive para publicação. Como já deve ter reparado, não temos complexos em ser criticados e achamos que mesmo as críticas de que discordamos nos podem ser úteis.

E é tudo por agora. Aceite as nossas saudações.

Carta 3
05/11/1992

Caro amigo:

Os seus artigos chegaram. Agradeço a prontidão com que correspondeu ao pedido que lhe fiz. Pensamos incluir os dois no próximo nº da P.O. que sairá para a rua no início de Dezembro. O principal foi lido a correr por dois de nós apenas (só reunimos aos domingos) mas não temos dúvida em dizer-lhe que interessa à revista. Está recheado de ideias, decerto polémicas em diversos pontos, mas por isso mesmo estimulantes do debate. A nota sobre Savimbi, também de acordo.

Duas propostas: 1) fazer um lead e introduzir dois ou três subtítulos: 2) traduzir as duas expressões estrangeiras. Não pretendemos tornar o artigo acessível a todo o leitor, mas não convém assustar o leitor médio com a ideia de que será tema hermético.

Também um pedido, se não lhe der muito trabalho: pode enviar-nos cópias mais negras dos seus artigos (é o «quality mode» do printer), a fim de podermos aqui metê-los no scanner para serem lidos, poupando-nos o trabalho de os compor de novo? Se isso não lhe for possível e se o seu programa é compatível IBM, poderia mandar-nos a diskete numa carta para nós a lermos aqui e devolvermos em seguida. A circulação de disketes será mesmo de futuro o método mais prático para o envio dos seus artigos. A propósito: talvez por lapso, fala em enviar-nos um artigo por trimestre: o nosso pedido é de um artigo de dois em dois meses, que é o intervalo de saída da revista. De acordo?

Vamos publicar também na secção de Cartas a sua crítica às nossas tendências historicistas. Brevemente, porque o tempo é escasso, dir-lhe-ei apenas que reconheço sem reservas a minha predilecção pelos temas históricos: pode ser que reflicta até certo ponto uma tendência para ajustar contas com o meu próprio percurso e é aquilo sobre que posso mais facilmente escrever. Mas não acha que leva o seu anti-historicismo longe demais? Sobretudo na época que vivemos, depois de tantas décadas de falsificação «marxista» da história, acredita que nos possamos orientar para algum lado se não fizermos uma nova avaliação da revolução de Outubro, e das revoluções seguintes e dos efeitos que tiveram sobre o sistema capitalista mundial e sobre o movimento revolucionário? Seja como for, não tenho dúvida em apelar a todos os colaboradores para que corrijam a tendência «historicista» abordando os mais diversos temas actuais.

Por agora, é tudo. Fico à espera das suas notícias. Aceite as nossas melhores saudações.

Carta 4
16/02/1993

Camarada:

Só duas linhas para te confirmar o envio da P.O. 38 e te devolver a diskete. Que te pareceu? Esperamos críticas e sugestões. E estamos já a requisitar novo artigo… para a próxima P.O., que fecha em 15 de Março. Podemos contar? Podes dizer-nos qual será o tema, para evitarmos repetições? Tenciono telefonar-te para a semana para saber a resposta. Infelizmente, não tenho prevista nenhuma deslocação aí nas próximas semanas, gostaria de continuarmos a nossa troca de ideias. Se entretanto vieres a Lisboa, avisa-nos para nos encontrarmos. Se quiseres contactar o nosso amigo que encontraste na estação, ele é: (…).

Por agora é tudo. Um abraço.

Carta 5
22/07/1993

Caro Camarada:

Respondo à tua carta de 14. Não te escrevi mais cedo porque julgava que ainda andavas pelas Alemanhas, mas, pelos vistos, as férias foram curtas. Temos em nosso poder tudo o que mandaste: a diskete com o artigo (que ainda mal li), as revistas (que ainda não pude ler), o cheque de renovação da assinatura. A Ana agradece o livro de Goody e também o livrinho deLeonora Carrington (é para devolver?). Ela de momento não está, foi passar uns dias de férias para a Guarda, mas no princípio da próxima semana já cá está, e se for preciso escreve-te a esclarecer alguma dúvida.

Registei a renovação da assinatura, embora tu, como colaborador regular que estás a ser, teres todo o direito a receber a revista grátis. Em todo o caso, como a nossa norma é a revista ser paga pelos que a escrevem, fica a tua assinatura como forma de apoio. Certo? Se vires alguém que possa eventualmente estar interessado na revista, manda-nos o nome e morada, porque nós vamos distribuir uma circular com vista a angariar novos assinantes.

O MAR repetiu o espectáculo do leilão de escravos no teatro da Comuna, em 22 de Junho, com mais de cem pessoas presentes. Foi muito amador, mal ensaiado e sem a graça da espontaneidade que teve a primeira vez, na Casa dos Bicos. Além disso, o espectáculo incluiu uma peça sobre escravos negros no Alentejo, por um grupo teatral de Grândola. Achei muito longo e com altos e baixos. Em todo o caso, o público não desgostou e fez-se alguma receita. Suponho que terás recebido o último boletim do MAR.

No dia 10 de Julho, houve aqui um encontro na esplanada do MM, em que o Tino Flores apresentou o seu último disco “Mil Fogueiras”. Apareceram umas 30 pessoas mas, por desorganização dos organizadores, não chegou a haver sessão propriamente dita. O ZMB esteve presente. Do Porto vieram, além do Tino, o PE e o HL. Se por acaso pensares em comprar ou souberes de alguém interessado, dirige-te a nós que ficámos com uma quantidade para venda, tendo direito a uma percentagem que fica como apoio para a P.O. Os preços são: CD – 2.500$, e cassete – 1.200$.

Temos prevista uma reunião-debate sobre a revista, para tomar balanço para o novo ano, no sábado 7 de Agosto (data ainda a confirmar). Se por acaso te calhasse vir cá abaixo, teríamos muito gosto na tua participação. Com o início do novo formato, queremos fazer alguns ajustamentos; quanto a mim, precisamos de uma forma mais directa, mais ágil e agressiva de apresentar as nossas posições políticas, para furar o bloqueio do cepticismo e desmoralização gerais na gente de esquerda.

Há dias fomos à apresentação da nova revista “Manifesto”, dos jovens da ala esquerda da Plataforma de Esquerda. Começa a sair em Setembro. Estava bastante gente. Achei a alocução do Paulo Varela Gomes muito superficial e demagógica, uma espécie de marxismo de salão. Não gostei. Mas também não houve debate nenhum. Distribuíram um nº zero; quis tirar uma fotocópia para te mandar, mas o formato é tão esquisito que estraguei várias folhas e não ficou capaz. Também não perdes muito.  E da “Inquietação”, há algo de novo? A ver se consegues activá-los mais.

Creio que é tudo. Até breve, um abraço.

Carta 6
23/08/1993

Caro Camarada:

Estou a enviar-te a disquete e o livrinho da Leonora Carrington. Vamos aproveitar a tua sugestão e fazer a assinatura do «Monthly Review», da «New Left Review» e do «International Socialism». A revista da «Politis» recebemos com alguma regularidade, enviada por um amigo de Paris. Escrevi para o apartado da «Devagar» mas veio devolvido com a indicação de que já não existe. Se souberes de alguma forma de contacto com eles, por favor, informa-nos.

Por aqui está tudo em ambiente de coma estival. A Ana chegou das suas curtas férias e diz que te vai telefonar. Também vou partir para o país real por uma semana, mais ou menos, acampar aí em qualquer lado. A nossa reunião de redacção teve que ser transferida para 12 de Setembro, domingo. Se por acaso andares por Lisboa nessa data, bate-nos à porta. Vamos publicar o teu artigo, claro, e mais, se mais houver. E a «Inquietação», como vai?

Um abraço e até breve

Carta 7
18/10/1993

Caro Camarada:

A P.O. 41, em novo figurino, já seguiu e temos um pouco para respirar e pensar na que se segue. Pensamos, à primeira vista, que nos deveremos concentrar no próximo nº em temas nacionais – a crise económica, ambiente nos trabalhadores, as dificuldades do cavaquismo, efeitos previsíveis das eleições autárquicas, e por aí fora. Claro que haverá sempre espaço para outros temas. Eu, por mim, não sei ainda se vou preparar algum artigo de fundo e sobre quê, mas tenho que me resolver depressa. Planeámos fazer uma reunião-encontro de colaboradores no dia 7 de Novembro, para atiçar ideias. Se tiveres disponibilidade para vir, estás convidado. É um domingo e é a partir das 16 horas (…).

Venhas ou não, estou a contar com colaboração tua para o próximo nº (até meados de Novembro, porque temos que fechar mais cedo para pôr a revista nas bancas antes da febre do Natal). Não sei se tens alguma coisa planeada, mas se for material extenso peço que avises com alguma antecedência. Como verás por este nº 41, reduzimos muito o corpo do texto (está pequeno de mais) porque não podemos exceder de modo nenhum as 40 páginas, por causa do limite do peso. O tamanho médio dos artigos teve que diminuir e mesmo assim a revista ainda ficou muito densa. Queremos intercalar mais os artigos grandes com pequenas notas e comentários; nesta época do audiovisual, já há poucos leitores com fôlego para digerirem uma revista toda feita de artigos extensos. Vamos ver se lhes agradamos sem cair num estilo de revista de anedotas.

Quanto aos tipos da “Perspective Internationaliste”, não temos dúvida em conversar com eles se cá vierem. Tenho acompanhado a revista e acho que publica coisas com muito interesse. Só não é indicado o endereço da gráfica. Se voltares a falar com eles (ou com outros eventuais interlocutores) peço que indiques o telefone que vem publicado na revista; tem atendedor de chamadas e é a melhor forma de contacto. Da parte da “Devagar”, tentei o novo apartado que me indicaste mas continuou a não haver resposta. Ou desistiram ou não gostam da “P.O.”

Já estamos a receber o “International Socialism” mas a “New Left Review” ainda não apareceu apesar de há muito ter mandado a massa (vou escrever outra vez) e a “Monthly Review”, como não aceita vales postais internacionais, vai ter que ser por transferência bancária. Como fazes as tuas encomendas para os EUA?

Que há de novo com os “inquietos”? Achas que poderias obter de algum deles, ou por intermédio deles, uma entrevista para publicar na P.O., com opiniões interessantes para a esquerda, sobre a situação nacional, por exemplo? Por agora mais nada. Um abraço.

Carta 8
06/12/1993

Caro Camarada:

A P.O. 42 já está no forno, só espero que não saia tostada nem encruada. Vais recebê-la dentro de poucos dias e dirás de tua justiça. Publicámos o teu artigo coreano mas a tradução que fizeste do Magdoff teve que ficar guardada para o próximo número porque já estávamos com excesso de material. Vimos a tua nota que, em caso de não saírem ambos, preferias que ficasse o teu esperado, mas, com o que se anda a falar em tomo da “nova guerra da Coreia”, pareceu-nos arriscado deixar passar este número sem tocar no tema. Quanto ao Magdoff, dado o tema, pensamos que não sofre pelo atraso. Julgo que compreenderás as nossas razões.

Para o próximo, como sempre, contamos com uma colaboração tua, que agradecemos até meados de Janeiro.

Segue a tua disquete. O que não apareceu cá foi o comentário do PE, e foi pena porque nós estamos a ver se mantemos uma secção permanente de debate e notícias sobre a reconstrução da esquerda. Publicámos a nossa resposta ao MM e um comentário sobre as reuniões que têm andado a fazer elementos da revista “Manifesto”, do MDP, PSR e do Fórum Ecológico (Carlos Antunes), virados sobretudo para as eleições ao Parlamento Europeu. Fui lá assistir mas achei tudo muito conselheiral e parlamentar. Outros universos… Ainda quanto ao texto do PE, se entretanto o vires peço que lhe digas que estamos abertos a publicar. Nós somos da escola “stalinista-pluralista” e além disso tu dizes que o texto está mesmo bem feito, mais um motivo para nos interessar.

Está a passar o centenário do nascimento de Mao e fui convidado, juntamente com a Ana, o Arnaldo Matos (!), Pacheco Pereira (!!) e Pedro Baptista (da ex-OCMLP) para uma semana de colóquios no Museu da Resistência, que é uma coisa dependente da Câmara Municipal de Lisboa, ali na estrada de Benfica, e dominada pelos PS. Decidimos aceitar e ir lá largar umas bujardas em defesa do presidente Mao, embora o público seja bastante restrito. Veremos o que se apura como agitação revolucionária.

Estás a acompanhar o declínio do malogrado professor Cavaco Silva junto da opinião pública? A pequena burguesia é mesmo volúvel; sobretudo quando os seus líderes dão mostras de pânico e nervosismo, é fácil passar da adoração ao desprezo. Não sei se o ambiente aí no Norte é semelhante ao daqui, mas os estudantes viraram-se em pouco tempo e os “laranjinhas” estão em dificuldades. A remodelação do governo permitiu ao homem largar algum lastro mas foi também uma confissão de fraqueza. Esperam-se muito maus resultados para o PSD nas autárquicas, mas não quer dizer que aconteça nada de imediato. Julgo que as ameaças de dissolução do parlamento são só guerra psicológica do Soares, porque ao PS não convém ir para o governo enquanto não houver perspectivas de recuperação económica à vista. O Cavaco que se vá desembaraçando com o lixo…

Aceita um abraço e até breve

Carta 9
28/04/1993

Caro Camarada:

Fiz seguir pelo comboio uma encomenda com 10 exemplares do livro para o R. Já lhe telefonei para entrar em contacto contigo e dar-te alguns. A minha proposta é a seguinte: com estes exemplares, vocês fazerem uma prospecção entre as pessoas conhecidas e, nessa base, encomendarem os exemplares que pensam poder vender. O preço, neste sistema de venda militante, é de 1.500$, mas nas livrarias vai ser posto a 2.300$ porque a distribuidora fica com mais de metade do preço. Por favor, não entregues livros a crédito, porque as velhas tradições da esquerda nesta matéria são desastrosas. Estou a tratar com uma distribuidora mas até ao momento não tenho a certeza se ela se encarrega do Porto. Se não for o caso, podes dar-me alguma indicação de uma pequena distribuidora que trate da área do Porto? Pelo que sei, grandes empresas para o nosso caso não servem, ou põem em terceiro lugar ou nem sequer pegam no livro.

O livro não ficou mal, embora um bocado acabado à pressa. Sobre o “esquartejamento” que foi necessário fazer da tua entrevista com os rapazes, já te falei ao telefone. Julgo que, consultando o volume, verás a razão que nos levou a isso. Fomos forçados a comprimir e retalhar praticamente todos os depoimentos e mesmo assim excedemos o número de páginas inicialmente previsto.

Recebeste o convite para a apresentação pública? Claro que não espero que possas vir, foi só para dar conhecimento; mandei também para o PE, C, T, etc. Estou a fazer contactos para ver se a imprensa diz qualquer coisa, hoje deve sair uma peça no Jornal de Letras. No dia 25 já fizemos uma primeira venda de rua com a nossa banca. Venderam-se só 20, mas não foi mau. Neste sistema de venda directa, ganhamos mais e sobretudo embolsamos logo a massa, que bem falta nos faz para cobrir o rombo financeiro. Agora fica de pé a proposta de irmos aí fazer um colóquio sobre o livro. Isso depende inteiramente do que vocês aí tratem, porque a nós pelo telefone é-nos impossível dar andamento ao assunto. Peço o teu interesse para combinares a hipótese da Gesto, e de preferência no mês de Maio, antes que o assunto esqueça.

Junto segue fotocópia de um artigo teu, que foi traduzido pelos americanos do Chicago Workers Voice, um grupo que “sobejou” do Partido Maxista-Leninista EUA que recentemente se dissolveu. (…) Gostei do teu último artigo e espero que tenhas outro na forja. Um abraço

Carta 10
25/10/1994

Meu velho:

Melhorias na P.O. – Penso que estamos conscientes das insuficiências da revista, muito em relação ao que devia dizer e não é capaz e também no que se refere a apresentação, paginação, capa, etc. Não fazemos mais por incapacidade: a redução do número de participantes nas reuniões da redacção fez perder a estas muita da vivacidade que em tempos tinham e todo o trabalho se ressente disso. No último número, quase não houve secções, das muitas que tínhamos decidido preencher mais ou menos regularmente. Uma boa ajuda que nos podes dar é mandar para cá o último n.Q com anotações tuas nas margens, assinalando caso a caso o que te parece mal, do ponto de vista de redacção e de apresentação, fazendo sugestões, etc. Isso poderia suscitar uma discussão frutuosa. Eu depois mando-te outro exemplar limpo para a tua colecção. Que dizes?

No que se refere especificamente ao “Visor”, tens toda a razão. A secção é mantida “a ferros”, só porque achamos que é necessária, mas não temos ninguém minimamente abalizado para escrever sobre literatura e arte. Não é de estranhar, já que as pessoas dessa área sofreram uma evolução desastrosa nos últimos dez anos e aquilo que alguns estariam dispostos a escrever decerto não se enquadraria na perspectiva geral da revista. Temos pedido insistentemente a alguns amigos metidos no teatro para escreverem mas eles nunca se decidem, ou por preguiça, ou porque o tom geral da revista é demasiado taxativo e lhes faz medo. Limitamo-nos por isso a fazer umas observações políticas a propósito de alguns livros ou filmes. Como sair disto? Sinceramente, não sei. Quererás tu meter a foice na seara?

Outra medida que se está a impor e em que a tua participação poderia ser muito útil seria um encontro para debater a revista, os seus objectivos, o estado do projecto, crítica ao que está mal, os grandes temas ideológicos a clarificar, novas pistas. Talvez possamos pensar numa reunião para meia dúzia de pessoas mais empenhadas, lá para o fim do ano. Poderíamos contar contigo?

Polémica com o B – Ao ler a carta dele, também senti que ficou genuinamente ofendido com a resposta, talvez por se sentir apoucado pela sua condição de operário a discutir com intelectuais. Tem que haver uma maneira de lhe fazer sentir que a crítica aos seus disparates anarquistas não envolve qualquer menosprezo pelas suas preocupações. Uma carta tua pode de facto ser útil. A morada dele é (,,,).

Sim, foi um exemplar para o Chris Harman. Também ando a ler o artigo dele sobre o fundamentalismo, mas ainda não apanhei o veio central da ideia. Na Monthly Review vinha um artigo algo impressionante sobre as mulheres da Argélia, de que estou a pensar reproduzir uns extractos na próxima P.O.

Quanto ao teu artigo (ou artigos) fico à espera que cá estejam até 18-20 Novembro, por causa do fecho. Estou a pensar ir aí por volta de dia 14 e nessa altura gostava de te encontrar para bebermos um copo filosófico. Eu depois telefono-te (?) ou escrevo se ainda não tiveres telefone. Soube que houve na Gesto um colóquio sobre o México e Chiapas, relativamente concorrido, mas que tu não foste lá visto. Grave liberalismo, querido camarada! Também me disseram que já saiu mais um número da inquietante “Inquietação” mas até à data não recebi nada. Estaremos a ser saneados? Vou já escrever um violentíssimo ataque. Um abraço.

Carta 11
08/05/1996

Caro JP:

Já deves ter recebido a P.O. 49, que espero te tenha agradado. Neste momento estamos já na faina da preparação da P.O. 50. Considerámos por unanimidade que 50 números, dez anos de publicação ininterrupta, merecem rancho melhorado. Pretendemos que este seja um número especial, com mais páginas e maior variedade de temas. Da tua parte, esperamos, além dum artigo substancioso, como já é hábito, mais alguma coisa: talvez a tradução dum desses artigos do SWP (desta vez dispomos de mais páginas), talvez outras colaborações, críticas, sugestões, pequenos comentários, etc. Atenção! Tudo deverá estar na redacção até 25 do corrente, o mais tardar. Junto circular sobre o assunto. Confio que não nos deixas ficar mal.

A apresentação do livro da “História da Comuna” foi um acontecimento social de esquerda. A imprensa, rádio e televisão não quiseram saber dos nossos convites mas apareceram amigos em barda e estivemos umas horas a comer e a beber e a debater os altos problemas da revolução. É claro que a manifestação do Io de Maio ajudou. Lá fomos, com uma faixa que dizia “Com PS ou PSD quem se lixa é você” – ideia óbvia e elementar mas que surpreendeu o público ao longo da Almirante Reis, só habituado ao paleio seminarista dos pcs e que aderiu frequentemente com aplausos e acompanhando-nos no entoar do estribilho. Fiquei rouco mas valeu a pena.

Se conseguir uma aberta, irei aí ainda no curso deste mês. Confiança, camarada! Como dizia o Humberto Delgado “Eu voltarei!” Depois telefono. Junto a tua diskete. Um abraço.

Carta 12
31/03/1996

Caríssimo:

Aqui vão as tuas disketes. A P.O. está mesmo quase a sair. Desta vez, entras na berlinda: há dois artigos a contestar pontos de vista teus, sobre a Jugoslávia e o comunismo. Tu verás e darás troco, se entenderes. Creio que já te disse, estamos a pensar fazer um debate sobre problemas gerais de orientação da P.O. e já temos uma data prevista, 27 de Abril. Será uma reunião talvez para uma dúzia de pessoas, não mais. Será muito bom que participes, claro. Em breve te darei mais pormenores.

Carta 13
05/09/1996

Caríssimo:

O nosso silêncio é de facto imperdoável, sobretudo por ser tão demorado. Só temos como desculpa que a Ana adoeceu no Gerês (intoxicação alimentar, ao que parece – estas cozinhas galegas…), passámos um dia tétrico numa pensão em Ponte de Lima, com ela cheia de febre e eu em busca de socorros farmacêuticos, e regressámos em alta velocidade a caminho do Sul, amaldiçoando as gentes nortenhas. Só parámos no Porto o tempo de espera para o comboio e, mesmo assim, sem arredar pé da Campanhã, não fossem os indígenas atacar-nos… Voltaremos talvez um dia a essas belas terras de Entre-Douro-e-Minho, mas só quando se desvanecerem as penosas recordações desta malograda expedição. E também só desde que vocês nos garantam protecção.

Agora que já fiz as minhas provocações mouras, tenho que reconhecer que o Bom Jesus é espectacular e a subida do Gerês formidável; saímos pela Portela do Homem e reentrámos pelo Lima. Se não fosse a indisposição da Ana teríamos ido até Viana. Fica para a próxima.

Muito mais feliz foi a tua expedição a Paris, pelo que contas. Assim, o nosso Bitot é um ex-bordiguista. Isso ajuda a explicar o brilho das suas visões histórico-planetárias que por vezes derrapam, saem da órbita e se perdem no espaço astral. E também o ingénuo reaccionarismo de algumas opiniões quando desce à terra e toca nos problemas de política diária. É uma característica que se encontra em bastantes escritos bordiguistas, que tenho lido por aqui e por ali. De todas as maneiras, o nosso homem é um crânio, como se dizia no meu tempo. Estou a ler o Comunismo(1) (ainda!) e tão depressa faço sublinhados entusiastas como ponho pontos de interrogação indignados. Não sei se conseguirei ter algum comentário pronto para a próxima PO. As minhas absorventes tarefas práticas deixam-me pouco tempo, mas gostaria de escrever algo em defesa do Imperialismo de Lenine, tão maltratado por ti e por ele, a meias, na vossa polémica. A propósito: não queres comprar uma boa empresa de artes gráficas, a preço módico?

Secção Internet – Acabas de dar à Ana mais um argumento de peso para te achar um tipo esperto. Ela anda há tempo a mentalizar-me para a necessidade de nos ligarmos à rede mas eu digo sempre que isso são brincadeiras caras e sem grande proveito prático. Consultei a lista de “Marxistas” que recolheste e soa-me quase tudo a folclore “esquerdista”. Mas já agora, gostaria que obtivesses, se possível, alguma informação sobre dois grupos: o Workers Communist Party do Irão, com que mantivemos contacto durante vários anos e depois perdemos, e o Fronte Marxista- Leninista de Galicia, que são irmãos do outro lado da fronteira e poderia ser interessante conhecer.

O teu debate por carta com o Bitot sairá certamente no próximo número. A foto pode ter piada. Também gostaria de juntar a introdução do livro do Bitot, para os leitores que estão de fora ficarem com uma ideia mais concreta das teses dele. O único problema será o do espaço. Veremos. Registei os visores e devolvo-te as revistas, juntamente com duas disketes que cá tinha. Registei a proposta de assinatura do L e já lhe escrevi. Temos em preparação um livro do capitão Álvaro Fernandes sobre a guerra colonial (a deontologia editorial impede-me de me alargar em opiniões sobre o livro), em perspectiva a Breve História do Indivíduo do Tom Thomas (a propósito: foi mesmo mais prudente não teres ido bater-lhe à porta, podias ser recebido a tiro) e ainda um texto da primeira mulher do Guevara, “A minha vida com o Che”. Mas tudo depende das massas…

Para já é tudo. Um abraço e mais uma vez obrigado a ti e à Linda pelo acolhimento que nos deram.

Carta 14
07/10/1996

Caro JP:

Aqui vai o teu livro que tinha ficado esquecido. Vai também a foto do café de Paris. As tuas colaborações saem no próximo nQ, que receberás dentro de dias. Afinal, como já desconfiava, não fui a tempo de acabar um artigo sobre o tema Imperialismo, mas não passa do próximo. Também estou a cozinhar uma extensa carta ao Bitot, com impressões que ele me pediu sobre o livro dele. Receberás cópia, mas essa não tenciono publicá-la porque é grande e provavelmente chata. Ficará o essencial no artigo. O MR responde-te mais uma vez. Quanto a mim, essa polémica já está na hora de acabar, para não saturar os leitores, mas tu verás se ainda tens a retorquir.

F.L.I. (Frente Liberdade pela Internet) – Com que então descobriste os “Militantes pelo Socialismo” em Rio de Mouro? E não adivinhaste logo que sou eu mesmo? Estou a brincar. Por extraordinário que pareça, existe mais um militante pelo socialismo em Rio de Mouro, ou melhor, nas Mercês, que é um bairro ao lado do meu. É um rapaz que conhecemos há muitos anos e que já foi da UDP, da Pintasilgo, do SOS Racismo, da FER e também é, calculo, “militante da OCPO”. No meio disto tudo, também já atravessou uma fase mística. Mas como é um entusiasta da mudança, agora tornou-se representante dum grupo inglês, ao que suponho. No Verão do ano passado veio cá um rapaz alemão desse grupo, teve por aí umas conversas e nomeou o nosso amigo como representante. E ele distribui de longe em longe uns folhetos, aliás com pouco interesse.

Por aqui já ficas a ver que os contactos via Internet têm que levar um desconto de 98%. De qualquer modo, o teu oferecimento para meter lá uns sumários da P.O. parece-nos excelente. Pode ser que chegue um eco do outro lado do mundo. Os artigos do Irão, infelizmente, são antigos e já eram nossos conhecidos. Foi precisamente depois dessa entrevista do mestre Hekmat que deixámos de ter notícias deles. Se te aparecer mais alguma coisa dessa gente, por favor copia e envia-nos.

Do que não há dúvida é que o nosso ramo de negócio está mau. Recebi há dias um livrinho muito bem apresentado dum congresso, em Fevereiro deste ano, do Partido Marxista-Leninista da Alemanha, partido que já tem 25 anos de existência e que recebeu no seu congresso delegações e mensagens de mais uma boa dúzia de “partidos irmãos”. O nível da literatura é aterrador, só te digo: falam obsessivamente nas suas grandes descobertas, que são a “quinta fase da crise geral do capitalismo” e a “doutrina do modo de pensar”, “quinta-essência da linha ideológico-política” (sic!) e chave para chegar ao socialismo no mundo inteiro, mas nem se dão ao trabalho de explicar o significado destas fórmulas cabalísticas. De política propriamente dita, alemã ou internacional, nem uma palavra. Claro, lá pelo meio, felicitam-se por se ter livrado duma fracção oportunista pequeno-burguesa nas vésperas do congresso, o que permitiu que este corresse sobre rodas, com os relatórios e moções aprovados por unanimidade. Calculo que os “irmãos” presentes serão do mesmo nível. Anunciam ainda para este ano a realização dum grande Encontro Internacional Marxista-Leninista, que se calhar já se deu. Perdemos uma grande oportunidade de nos instruirmos. Também se referem com palavras de desprezo a dois outros Encontros Internacionais em curso de preparação, um na Bélgica e outro em Sófia. Como vês, o movimento comunista internacional cresce e fortalece-se, como diziam os albaneses. Quanto aos manos galegos, realmente não vale a pena.

Segue junto também cópia duma crítica arrasadora que nos mandou um sujeito da emigração: acha que somos os maluquinhos do anti-imperialismo. Só a ti dá alguns pontos positivos (e esta, hein?). Não te enerves. Até breve, abraços para ti e para a L.

Carta 15
14/02/1997

Caro JP:

A PO só segue para a semana, está na tipografia. Desta vez atrasámo-nos, por acu­mulação de trabalhos, mas também por problemas meus familiares que me têm cortado as pernas. Vem variada, pelo menos. A Internet marca presença em força. Sobre a nossa entrada não sei muito bem o que isso significa como trabalho novo para nós. Cheguei a uma altura em que é a primeira coisa que pergunto perante qualquer sugestão ou proposta: Quanto custa (em trabalho, tempo)? Se não custar trabalho adicional, con­cordo. Eu sou todo pelas novas tecnologias. Falaremos disso mais com calma.

Meti nesta PO um artigo, feito um bocado à pressa, é sina minha, a fazer um bocado de polémica com o Bitot, e também contigo, por causa do imperialismo e do Lenine. Tu verás. Gostaria de relançar a polémica em torno do imperialismo num comprimento de onda um pouco diferente do que tiveste com o Bitot e com o R. Talvez esteja muito “ideologizante”, como dizia o mestre Diógenes Arruda quando lia os meus artigos, mas eu não sei pensar noutro estilo. Ao ler a tua discussão com o R, os factos que tu e ele iam buscar para provar ou contestar a mão do imperialismo no assunto, ficava um bocado baralhado: é preciso provas de que a mão do imperialismo (dos vários imperialistas) está por trás das guerras étnicas, das ambições desta e daquela burguesia? Ainda é preciso apresentar provas? É como eu pedir a um operário duma empresa que se queixa de ser explorado que apresente provas. Ele é capaz de não saber como provar, mas é por isso que o caso fica duvidoso? A prova está feita desde oMarx, com os diabos, é um dado adquirido. Com o imperialismo é o mesmo.

Tu se calhar vais-me arrumar com aquela do velhinho simpático que anda a carre­gar neste mundo moderno o seu lastro das lutas passadas, coitado, não sabe pensar de outra forma, etc. Foi mais ou menos o que me disseste na outra discussão que tivemos. Mas eu só posso sentir a estranheza de assistir a uma longa discussão para provar se a guerra da Jugoslávia resulta ou não do controle imperialista. Já se sabe que não é uma luta de cliques fantoches, que há uma disputa entre burguesias nacionais, etc., mas isso não invalida que a guerra começou e tomou o rumo que tomou por causa da ingerência imperialista. O resto são pormenores. Era isto que eu queria transmitir, se soubesse. Neste artigo nem falo da Jugoslávia, nem é assunto que me interesse particularmente, mas da brincadeira do Bitot (só a posso considerar como tal) de dizer que o imperialismo foi coisa do passado, conquistas coloniais, etc. Fico sufocado, meu! Então o Lenine escreveu o “Imperialismo” e a gente faz de conta que não lemos? Tu, claro, não acompanhas o Bitot nesse ponto, demarcas-te dele, mas com tantas concessões que para mim resulta quase no mesmo. Imperia­lismo sim, mas não banalizemos…

Quero escrever ao Bitot, mas agora é que me surgiu uma dúvida: como é que tu discutiste com ele? Em português? Ele percebe? É que eu agora não tenho condições para lhe traduzir o artigo mas ao mesmo tempo não queria fazer papel de grosseiro — toma lá isto em português e vê se percebes! Vou-lhe escrever umas linhas a justificar-me e depois se verá. Bem, isto está muito à pressa mas depois falamos com calma. Tenho programado ir aí no domingo 2 de Março. Se não for tudo adiado, como é costume, espero que lá nos encontremos. Um abraço.

Carta 16
29/12/1997

Caro JP

A PO 62 seguiu já há dias, já deves ter recebido. Decidimos não meter o artigo que recolheste dos japoneses porque, além da acumulação de material, nos pareceu francamente pouco interessante, com um grande enredo de cisões e uniões e pouco sumo político. Talvez se preste a uma pequena notícia, de 1.500/2.000 caracteres, que prepararei para o próximo nº, se não quiseres tu fazê-lo. Ficamos à espera de mais colaboração tua para o próximo n-, deverá estar cá até 20 de Janeiro.

A nossa mudança de instalações está praticamente completa, mas ainda vamos ter pela frente grande trabalho de arrumação (e destruição) de papeladas. Seguem junto as tuas disketes que aqui se estavam a acumular. Espero que tenhas tomado boa nota do nosso novo telefone (…).

Um abraço

Carta 17
19/01/1998

Caro JP:

Respondo à tua última carta depois de ter trocado impressões com os outros membros da redacção. Usas nela (e já não pela primeira vez) um tom desabrido e mesmo ofensivo a que me abstenho de responder porque aquilo que menos quero é prejudicar as nossas relações. Abordo portanto só os pontos que podem interessar à continuidade da tua colaboração na revista.

Acusas-me de “virar costas ao debate”. Trata-se apenas, parece-me, de uma questão de bom senso. Quando de um lado e do outro se começam a repetir os mesmos argumentos por impossibilidade de convencer o interlocutor, há que saber pôr termo à polémica, até porque o nível tende necessariamente a baixar e somos todos prejudicados, leitores e contendores. Foi o que fiz, na certeza de que não nos faltarão ocasiões de voltar a polemizar em torno deste ou de outros temas.

Não me parece que a menção que fiz à extensão das tuas colaborações te dê razão de queixa. E da praxe, numa polémica, por uma questão de jogo limpo, que ambos os adversários disponham de igual espaço para desenvolver os seus argumentos. Tu não respeitaste este princípio, embora eu to pedisse; pelo contrário, foste sempre aumentando a dimensão das tuas respostas. Será assim tão estranho o reparo feito? Quanto ao caso do artigo japonês, não vejo como possa ser chamado ao assunto; foi simplesmente um artigo que o colectivo da redacção achou de pouco interesse e demasiado extenso. Não pretendes certamente reclamar que a redacção prescinda do seu direito de seleccionar os materiais a publicar, sobretudo num caso em que não se trata de um original de um colaborador mas de um texto traduzido.

Afirmas-te vítima de um “insulto grotesco e boçal” que te terá sido dirigido num artigo na última PO. Não podemos concordar. Ponderámos em reunião de redacção se as expressões do autor anónimo da carta do Barreiro deveriam ser censuradas e concluímos que estavam dentro dos limites admitidos noutros casos. Surpreende-nos em extremo que tu, que desde a polémica com MR, te fizeste arauto da polémica dura, “a rasgar”, etc., reveles agora tão pouco poder de encaixe perante as críticas deste colaborador. Julgámos que tivesses o distanciamento suficiente para reconhecer que muito mais do que isso dizes tu em qualquer dos teus artigos polémicos. Afinal, perdes a cabeça a ponto de nos atribuir a responsabilidade da carta (“provocações mais ou menos encomendadas”). A relação franca e leal que temos mantido até hoje não merecia da tua parte esse insulto gratuito.

Anunciando que doravante apenas encaras uma colaboração esporádica na revista e que os teus artigos tratarão de questões teóricas fundamentais e serão tendencialmente extensos e provavelmente não do meu agrado (?!), terminas perguntando se estamos interessados. Respondo, em nome do colectivo da redacção:

Estamos vivamente interessados na tua colaboração, como temos demonstrado até hoje, o que não significa, evidentemente, que o comité de redacção abdique das suas funções de garante da linha editorial da revista. Garantia antecipada de “carta branca” ninguém a tem nesta revista, eu incluído. Mas não é isso certamente que tu pretendes. E nesse caso podemos abordar, com mais serenidade e menos irritação, uma nova fase na tua colaboração na P.O.

Aceita um abraço

Carta 18
07/12/1998/2000

Caro JP:

Tu vais pensar que estás a ser alvo de uma cabala staliniano/trotskista. mas o facto é que a tua recensão que era para sair da primeira vez e que depois era para sair da segunda vez e não saiu. está desaparecida. Preciso de cópia! Aconteceu que o computador onde a tinha foi atacado por um vírus diabólico e tem estado a ser reinstalado e fiquei sem o ficheiro. Também não tenho e-mail. por isso te escrevo por esta via. Podes mandar-me uma diskete com o texto até dia 22-25? E já agora, se tiveres mais colaboração, aproveita a boleia e manda também.

Devíamos ter o nosso jornal comunista de massas para fazer umas parangonas sobre este caso do urânio, é um dos tais faits-divers que de repente, no meio da pasmaceira geral, toca num ponto nevrálgico de toda esta cangalhada e permite pôr em questão a NATO. a UE, os EUA. o imperialismo, o diabo. Está-nos a passar tudo ao lado porque tu não tomas medidas para a formação do partido. Por que esperas, afinal? Eu adiro!

Depois te escrevo mais. Um abraço.


Notas de rodapé:

(1) Claude Bitot, “O comunismo ainda não começou”. (nota de AB). (retornar ao texto)

Inclusão 12/11/2018