Cartas

Francisco Martins Rodrigues


Cartas a MB


Carta 1
16/11/1988

Caro Camarada:

Espero que estejas bem de saúde. Mando-te em carta separada alguns suplementos da PO em inglês. Brevemente enviaremos outros, entre os quais o artigo sobre Staline que te tínhamos pedido que traduzisses, portanto, se já começaste, não vale a pena continuar.

Mas não quer dizer que fiques isento da tarefa. Neste próximo número vai sair um artigo sobre o Trotsky, que espero que traduzas, sem falta,  para inglês. Estamos a fazer um sério esforço para tornar mais conhecidas as nossas posições junto de outros partidos e grupos. Indico também alguns livros que muito te agradecia obtivesses aí. Evidentemente, pagaremos a despesa que for necessária. Temos sobretudo urgência no livro do Tony Cliff. Quando é que cá voltas? Um abraço amigo

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Carta 2
9/8/1990

Caro M:

Os livros chegaram em condições e já estão a ser estudados. Um abraço pelo teu cuidado no as sunto. Recebi as tuas duos cartas. Depositámos na conta que indicaste a importância de 9.000$ que corresponde à factura do editor inglês.

Na tua carta fazes muitas interrogações sobre o rumo que vai seguir a política internacional depois da conversão final da Rússia. Ninguém pode prever o que vai suceder nas a tendência geral é decerto aquela que dizes: exacerbação das rivalidades entre os imperialistas, guerras interburguesas, como se está a ver na Golfo Pérsico, regimes fascistas a subir. Esperemos que também aconteçam coisas imprevistas do lado do movimento operário, única força que poderá meter essa canalha em respeito. Há sinais de radicalização no Brasil, Coreia do Sul. Se não for isso, ficamos nas mãos da senhora de Fátima.

Se apanhares jornais ou boletins interessantes daí, manda-mos. Um abraço, até breve

Carta 3
30/4/1991

Caro M:

Desde Agosto não voltámos a escrever-nos. Julgo que terás recebido em ordem o dinheiro dos livros. Agora queria-te pedir, se não fosse muita maçada, um outro livro, que aqui não se encontra e que me é muito necessário para um artigo que ando a preparar:

Farewell to the Working Class. André Gorz, London, Pluto Press, 1932

Agradeço desde a atenção que possas dar ao assunto. Aqui te mando junto um folheto que editámos a propósito do 25 Abril/1º Maio. Tens recebido a PO? Ontem fui à televisão, a um programa sobre o 25 de Abril, com o Rosa Coutinho, Zenha, um faxo Múrias, etc. Meti umas bocas mas fiquei frustrado porque as oportunidades de falar foram escassas e não as aproveitei a fundo. Amanha lá vamos à manifestação.

E por aí? Como vais de saúde? 0 que tens feito? Se vieres cá no Verão, espero que me procures para conversarmos um bocado. Um abraço

Carta 4
 11/6/1991

  Camarada M:

Muito     grato      pela        prontidão com que atendeste o meu pedido do livro, que Já está em meu poder, e também pela oferta que fazes. Renovei a tua assinatura por mais 6 números e meti o resto como apoio.

Fico muito satisfeito pelas boas notícias quanto à tua saúde, calculo o peso que te saiu de cima. Pela minha parte, corre tudo bem, fora o reumático que as vezes ataca mas ando a fazer fisioterapia.

Registei as tuas notas sobre a situação na Inglaterra, com vista a publicação na P.O. Só é pena que o próximo nº só sai em fins de Setembro e até lá possivelmente ficam desactualizadas. Se durante as férias quiseres escrever algumas impressões ou observações será óptimo. E se vieres a Portugal não te esqueças de me procurar, já não trabalhamos no mesmo local, mas basta ligares para minha casa (…). Um grande abraço

Carta 5
6/12/1993

 Caro M:

Registámos a renovação da tua assinatura e esperamos que estejas de saúde. Desde a última vez que nos vimos, tens vindo a Portugal, com certeza, mas como não nos procuras já julgava que ias desistir de assinante.

Nós cá vamos, não na mesma, mas pior, porque os tempos vão péssimos para a esquerda (alguma vez a esquerda teve tempos bons?). Toda a gente verifica que o capitalismo é uma selvajaria que não serve, todos estão a ver que as promessas de prosperidade geral foram uma burla, mas ninguém tem ânimo para meter mãos à obra e pôr isto abaixo. Vai ser preciso que a situação se tome tão insuportável que a revolução rebente em algum país, provavelmente não na Europa mas na Ásia ou no Médio Oriente ou em África, sabe-se lá.

Não sei se tens acompanhado a revista mas temos tido a preocupação de manter posições revolucionárias sem compromisso, combatendo ao mesmo tempo o isolamento. E assim nos vamos aguentando, embora conscientes de que muitas questões continuam por responder. Continuamos a tentar acertar no alvo.

Um abraço. Obrigado pelo teu apoio.

Carta 6
8/8/1994

 Caro M:

Recebi o que me mandaste e vou procurar publicar uma condensação do artigo de Chomsky na próxima PO.

A minha irmã, infelizmente, faleceu no fim de Julho devido a um agravamento súbito do seu estado. Foi um duro golpe, como calculas, para mim e mais ainda para a minha mãe, mas lá se vai aguentando. Eu procuro não desperdiçar o tempo de trabalho, antes que se acabe...

E tu, já decidiste como vais gozar a tua reforma? Devias vir morar para o Alentejo, que é sossegado e sempre é a nossa gente e a nossa língua. Esses castelhanos não são de fiar... Lembra-te dos Filipes!

Um abraço e fico à espera que passes por cá outra vez para bebermos um copo.

Carta 7
18/9/1995

 Caro Camarada:

Espero que tenhas tido boas férias (em Espanha?) e que estejas bem.

Venho pedir-te uma ajuda para as nossas edições Dinossauro. Como deves saber, passa este ano o centenário da morte de Engels e gostaríamos de editar uma biografia até ao fim do ano. Seria uma forma de contrariar a campanha de descrédito do marxismo que continua por aí em força. Foi-nos recomendada uma biografia que foi traduzida em inglês e editada em Londres em 1936, mas não sabemos o nome da editora:

Frederick Engels, por Gustav Mayer, Londres, 1936.

 Será possível que tu, com os teus conhecimentos em questões bibliográficas, nos descobrisses esta obra, mesmo em segunda mão? Dizem-nos que na edição alemã original era em dois grossos volumes. Se for esse o caso, teremos que desistir, porque um livro desses fica caríssimo e ninguém compra.

Temos em nosso poder duas biografias feitas pelos russos, mas não prestam, é o estilo dos grandes elogios e nenhuma objectividade. Também sabemos que há outras biografias em inglês. Não podes obter informação e dizer-nos como são? Se tu puderes consultá-las e alguma te parecer interessante, poderias mandar também. De qualquer modo, julgamos o Gustav Mayer mais adequado, desde que não seja muito grande. Ficamos à espera de notícias tuas, o mais cedo possível. Manda dizer qual a despesa que fizeres para te reembolsarmos.

Por cá tudo na mesma. As eleições, sem novidade: vai ganhar a democracia, como sempre, podemos dormir descansados. Estamos a preparar a P.O. 51, que receberás até meados de Outubro. Vamos fazer um encontro de confraternização e debate no dia 22 de Outubro, domingo, em Lisboa. Procuramos que seja uma data importante na nossa vida colectiva, que dê impulso para novas realizações. E se tu viesses até cá?

Aceita um grande abraço

Carta 8
25/10/1995

 Caro Camarada:

Mil agradecimentos pela boa vontade que puseste na busca dos livros que te pedi. Por uma primeira leitura, fica-me a impressão de que o volume da Oxford University Press serve para uma edição acessível da biografia de Engels. Vamos ponderar. Desistimos definitivamente da grande biografia de Gustav Meyer, que ficaria muito cara.

O nosso encontro-festa do 10º aniversário não correu mal, tendo em conta o ambiente político, que continua mau para a esquerda revolucionária. Apareceu o JB, que te manda um abraço.

spero que estejas a receber a revista com regularidade e que te continue a agradar. Por agora é tudo. Mais uma vez os meus agradecimentos pela ajuda que nos deste e até à próxima Primavera.


Inclusão 12/05/2019