Cartas

Francisco Martins Rodrigues


Cartas a LC


Carta 1
11/6/1991

Caro Amigo:

O nosso amigo MV, de Paris, fez-nos chegar a sua carta com apreciações sobre o boletim "Denúncia” e a nossa revista "Política Operária". Dado o interesse que manifesta, enviamos-lhe junto o último nº da "Denúncia". E apesar das suas reservas quanto à nossa revista, decidimos oferecer-lhe o nº 30, a sair dentro de dias, na esperança de que um melhor conhecimento o convença a fazer uma assinatura e/ou a angariar aí algum assinante.

Com as nossas melhores saudações

Carta 2
7/11/1991

Caro Camarada:

O nosso último encontro em Lisboa não chegou a realizar-se. Ainda telefonei duas vezes pare casa de tua irmã mas tinhas-te ausentado e já não deu. Escrevo para saber se já recebeste aí a revista que te mandei como oferta e o que achaste. Gostaria que fizesses una assinatura, claro, e que me indicasses alguém eventualmente interessado em assinar. Se tiveres materiais ou notas tuas relativas a situação dos imigrantes portugueses aí, ao racismo que por aí está a crescer, etc., seria interessante. No próximo nº vamos publicar uma carta duma rapariga alemã de Hamburgo que conta coisas sobre os skinheads.

Nós cá vamos com dificuldades mas com fôlego para continuar mais uns cinquenta anos, pelo menos. Nem sempre a escumalha há de estar na mó de cima. Um abraço

Carta 3
11/2/1992

Caro Amigo:

Grato pela tua carta e pelo apoio. Infelizmente não recebi a importância que dizes ter enviado anteriormente em carta, mas não deixo por isso de registar a tua assinatura. Também vou enviar um nº da revista ao amigo cujo nome indicas e escrever-lhe a saber se quer tornar-se assinante. Deves receber a revista dentro de dias e espero que te interessem os assuntos tratados.

Aqui começa a sentir-se o efeito do programa económico do Cavaco: agravamento dos impostos, aumento de preços, tecto salarial e muitas empresas a fechar. Os que votaram no tipo a contar com a prosperidade geral estão desiludidos. Veremos a capacidade de resposta da CGTP, há greves marcadas para amanhã e para dia 18.

Um abraço e até breve

Carta 4
23/8/1993

Caro Amigo:

Respondo com atraso à tua carta, mas espero que me desculpes. Não sabia que tinhas esse problema tão embrulhado das hérnias. Estás a passar melhor agora? Eu tenho estado bem, fora uns ataques periódicos de reumático. Só agora, no fim de Agosto, me estou a preparar para ir fazer umas pequenas férias, talvez para o Alentejo. Se a tua filha e o namorado dela passarem pela sede da revista, como dizes, correm o risco de bater com o nariz na porta. Mas nos primeiros dias de Setembro já cá estarei, para começarmos a preparar o próximo número da revista.

A nossa propaganda cá continua, mas os frutos vêem-se pouco. A burguesia arranjou uma máquina de comunicação (embrutecimento) social que esmaga tudo. Nas bancas de jornais, a nossa revista fica escondida no meio de montanhas de papel: modas, crime, pornografia, negócios - não dá hipótese. Tu sabes como é, que ai na Alemanha é bem pior. Tenho lido as notícias sobre a crise do desemprego que aí também está a chegar. Aqui fecham fábricas atrás de fábricas e a agricultura e a pesca estão de rastos. Não sei como conseguem ir arrumando os trabalhadores despedidos. Diz-se que lá para o fim do ano vai ser pior. O problema é que as pessoas não vêem nenhuma alternativa política. O PS defende o mesmo programa que o PSD quanto à Europa. Talvez, com a continuação da crise, aqueles que acreditavam que o capitalismo ia dar prosperidade para todos, comecem a abrir os olhos e a dar ouvidos à propaganda revolucionária.

Caro L, estimo as tuas melhoras e que a vida te corra bem. Um abraço

Carta 5
9/2/1994

Caro L:

As tuas notas vieram bem a propósito e foram publicadas como carta de Hamburgo. Se quiseres continuar, teremos todo o interesse em manter uma pequena secção. Seria interessante que contasses algo dos trabalhadores portugueses aí, como vivem, como se dão com a crise, que interesses políticos e culturais têm, etc. O comentário sobre os turcos (assinado com pseudónimo) teve que ser retirado por falta de espaço, pois chegaram colaborações à última hora; espero que saia no próximo número. Dentro de dias receberás a revista e depois dirás as tuas impressões. Recebemos os 50 marcos e renovámos a tua assinatura, que fica válida até ao nº 47, ou seja, por mais um ano). Agradecemos a tua mensagem de Ano Novo.

Não publicámos o conto do teu amigo brasileiro e espero que ele compreenderá que não nos dedicamos à literatura, apenas estamos a manter a secção de poesia na contracapa. Já não é a primeira colaboração literária que recusamos mas não queremos entrar por um espaço que não é o nosso.

E a tua saúde? Espero que depois de tantos contratempos, estejas a recuperar de vez. Aceita um abraço amigo

Carta 6
9/2/1994

Caro Camarada:

Espero que a tua saúde vá melhor e que a tua situação no trabalho esteja estabilizada. Tenho recebido o teu material com regularidade. A lista dos 99 é uma óptima ajuda para a propaganda do livro [O futuro era agora], vamos mandar prospectos a todos eles. Fica descansado que os endereços ficam aqui reservados, só para usar em propaganda dos nossos materiais.

O livro tem estado a sair razoavelmente, foi muito bem recebido entre as pessoas de esquerda, mas a grande imprensa não disse praticamente nada, devem achar que são assuntos escabrosos, para esquecer. Está à venda nas livrarias e na Feira do Livro, vamos a ver se rompemos o bloqueio pouco a pouco. Mandámos os dois exemplares como disseste, um para o teu endereço e outro para tua filha, espero que tenham chegado em condições. Quanto aos teus comentários e notícias para a P.O., desta vez não deu para fazer uma carta de Hamburgo, por falta de espaço. Mas espero que continues porque queremos manter a secção no próximo número (agora só voltamos a sair em Setembro, por causa do intervalo das férias).

Se vieres a Lisboa em Agosto, telefona para o (…)  para entrarmos em contacto  e trocarmos umas impressões. Um abraço.

Carta 7
31/1/1996

Caro Amigo:

Tenho recebido as tuas cartas, recortes e os 100 marcos, que foram para renovação da tua assinatura. Já tens a revista assegurada pelos próximos dois anos! Aproveitei alguns dos elementos que mandaste para a P.O. 53, que está pronta e vai amanhã para a tipografia. Depois me dirás se te agrada.

É claro, sabemos que a nossa posição abstencionista desagradou a bastantes leitores, que achavam que o voto no PS se justificava para assegurar a derrota do Cavaco. Nós, sendo anticavaquistas ferrenhos e participando em todas as campanhas para deitar o PSD abaixo, só não participamos nessa de ir pôr o voto pelo PS, em que não acreditamos nem um poucochinho. A política é toda a mesma - é a que vem de Bruxelas. Agora mesmo, nas negociações da concertação social, o novo governo fez o que faria o Cavaco: 4,5% de aumentos, a troco da flexibilização dos horários e da polivalência de funções. Uma sacanice para agrdar aos grandes capitalistas. Por cá, tudo bem. E continuo à espera dos teus recortes e informações. Um abraço

Carta 8
7/10/1996

Caríssimo:

Cá recebi as tuas cartas e o pequeno noticiário que desta vez ficou de fora porque houve uma concentração de textos grandes que obrigou a modificações de última hora. Conto todavia que continues a mandar informações, comentários e recortes. Se tiveres coisas do Chile seria bem bom. Quanto à carta do sujeito da Holanda, tudo bem, a carta é em tom desagradável mas os argumentos políticos devem ser dados a conhecer. Eu acho que o homem está tão metido no coração do imperialismo que nem consegue ver o imperialismo e acha que somos uns maluquinhos. E um ponto de vista muito errado mas pode ser instrutivo para os leitores em geral, por isso publicámos, cortando só aquelas expressões mais incorrectas que não temos obrigação nenhuma de estar a imprimir. Se quiseres manda-lhe um exemplar da revista para ele ver; não me parece bem sermos nós a fazê-lo visto a maneira como ele nos trata, pareceria estar a dar a outra face ou a pedir batatinhas. A revista seguirá pelo correio amanhã ou depois, vai um exemplar a mais, para o caso de quereres mandar para a Holanda.

Agradecemos a registámos na lista dos apoios os 10 florins. A tua assinatura está válida até ao nº 62, ainda falta muito portanto para caducar, não te preocupes. Do Clube Dinossauro, vais receber a nossa última edição, a novela “Kianda” do capitão Álvaro Fernandes sobre a guerra colonial, e ainda ficas com 2.400$ de saldo a teu favor para futuras encomendas. Por agora é tudo. Aceita um abraço

Carta 9
14/2/1997

Caro Amigo:

A tua produção tem sido intensíssima. Metemos na PO 57 as “Escravas modernas” e no 58 o “Lavrar no mar”, texto bem interessante. Mudei-lhe o título e fiz alguns encurtamentos, mas julgo que não o prejudiquei. Guardei para um próximo número os elementos sobre a penetração alemã na América Latina. O texto sobre os bosques e pescas do Chile, de índole mais ecológica, ficou de lado porque nós, obrigados a optar, temo-nos concentrado mais nos temas directamente políticos, mas de acordo com a tua sugestão, enviei cópia a um grupo do Porto que edita os “Cadernos Insurreição” e que está mais virado para a ecologia. Vamos a ver se o utilizam. O endereço deles, se lhes quiseres mandar algo, é: Cadernos Insurreição (…). São jovens libertários abertos.

Agora ficamos à espera de mais. A PO 58 está na tipografia, vai chegar-te um pouco atrasada, mas vamos já começar a trabalhar para a seguinte. Quanto à hipótese que pões de um dia a Dinossauro te editar produção literária, vem na pior altura. Depois do enorme esforço que representaram para nós os últimos lançamentos (anunciados na PO 57), fizemos contas com a distribuidora e chegámos à conclusão de que estamos falidos, pelo menos por alguns meses. As tiragens são pequenas, a tipografia leva muito dinheiro pela impressão e encadernação e a distribuidora abocanha mais de metade do preço de capa. Resultado: tirando a “Viagem pela América” de Che Guevara, todos os outros nossos títulos deram prejuízo. Mesmo “Os meus anos com o Che”, em que púnhamos esperanças de recuperar algum dinheiro, está a sair mal. Ora, nós vivemos de fazer trabalhos gráficos para clientes, como forma de sustentar a PO e não podemos meter a revista no fundo por causa dos livros. Quer dizer que, quanto a novas edições, proximamente, estamos em jejum. A propósito, não nos poderias dar algum contacto de clientes interessados em trabalhos gráficos (paginação, revisão, fotografia)?

Aceita um abraço

Carta 11
29/12/1998

Caro Amigo:

Confirmo a recepção da segunda nota de 5 contos, juntamente com bastante material, notícias, apontamentos, etc. Seleccionámos alguns numa “Carta da Alemanha” que saiu no último ns da P.O. (67), já aí deve ter chegado. Enviámos também os dois últimos livros da Dinossauro, “O Império a preto e branco” e “As Veias abertas da América Latina”, que já devem ter chegado à tua mão. Com isto, a tua dívida à Dinossauro elevou-se para 7.200$. Saldas quando puderes.

Com votos de Bom Ano Novo, envio um abraço

Carta 12
16/11/2000

Caro Camarada:

Escrevo para acusar recepção da importância de 20.501$, transferidos há dias para a nossa conta. Como o valor enviado foi superior ao que estava em dívida, registei dois anos da tua assinatura da PO (fica agora válida até ao n° 82) e 10.500$ a crédito no Clube Dinossauro, o que te deixou um saldo positivo de 1.450$. As duas assinaturas que fizeste também estão  pagas. Tudo certo, portanto. Agradeço a prontidão com que respondeste ao meu apelo. 

Para assinalar o 15º aniversário da revista, fizemos uma sessão de debate no Museu da  Resistência, com dois convidados do Brasil, que falaram sobre a luta contra a mundialização.  Estava lá bastante gente e houve debate. No próximo dia 2 Dezembro haverá outra sessão, na Faculdade de Arquitectura, em que falarão como convidados Tom Thomas (francês, com trabalhos já editados por nós) e Samir Amin. Faremos aí a apresentação dos últimos trabalhos de ambos editados pela Dinossauro: "O capital financeiro e a sua crítica", de Thomas, e "Desafios da Mundialização", de Samir Amin. Não sei se queres que te envie exemplares destes livros. Fico à espera de indicações tuas. 

É tudo por agora. Espero que as tuas actividades corram todas bem. Se tiveres elementos úteis para a PO. manda rapidamente, por favor. Um abraço 

Carta 13
13/12/2001

Caro Amigo:

Demos entrada da tua transferência de 100 marcos. Como estava a caducar a tua assinatura da PO, registei 3.000$ para renovação da assinatura (fica paga até ao n° 87) e os restantes 7.250$ para crédito na tua conta do Clube, como verás pelo extracto que  mando junto. Espero que estejas de acordo. Quanto aos 100 marcos que tinhas enviado no ano passado, foram registados a crédito no Clube Dinossauro, como também verás pelo extracto. Está tudo certo. 

Tenho-te enviado dois exemplares da PO, um da tua assinatura e o outro para  ofereceres a alguém que te pareça que vale a pena. Quanto aos livros novos que vamos editar, diz-me se tos posso enviar quando saírem ou se devo aguardar encomenda tua. Tu dirás. 

Propuseram-me um trabalho para editar que ainda só comecei a ler: uma estudante daqui fez uma série de entrevistas a mulheres chilenas cujos maridos “desapareceram” durante a ditadura fascista. O tema é interessante, vamos ver se tem qualidades para editar.(1) De qualquer modo, talvez te interesse conhecer o original, não? 

Caro Amigo, despeço-me com desejos de um Bom Ano e boas actividades. 


Notas de rodapé:

(1) O livro Mulheres de Desaparecidos acabou por ser publicado pela editora Ela por Ela. (Nota de AB) (retornar ao texto)

Inclusão 12/05/2019