Cartas na Clandestinidade

Francisco Martins Rodrigues


 Nota do blogue Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Antes de dar por encerrado este blogue - onde inseri grande parte dos estudos, documentos, artigos assinados por Francisco Martins Rodrigues -, nos próximos dias passarei a reproduzir as suas cartas manuscritas, redigidas em condições de clandestinidade, que estão contidas no espólio posto à minha guarda,

A primeira, sem data, mas possivelmente de Março de 1965, é a única de carácter familiar. Todas as restantes tratam de assuntos de militância política. As primeiras foram escritas enquanto esteve clandestino, em França e em Portugal, quando rompeu com o PCP e iniciou as actividades da FAP-CMLP.

A seguir a estas, incluo uma mensagem clandestina redigida por João Pulido Valente e endereçada ao CMLP, em que se pronuncia sobre a expulsão de FMR em consequência do seu porte sob tortura.

As últimas mensagens foram escritas quando, já preso e cumprindo pena de cadeia, pôde fazer passá-las clandestinamente para o exterior e destinam-se à sua organização. Entre elas está o rascunho que preparou para a sua defesa em tribunal.
(Nota de A.B.)

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Carta a C.
Março [de 1965]

Querida C.:(1)

Com a costumada irregularidade e atraso, venho escrever-te um pouco, porque os meses passam sem eu dar por isso e se não fosse a N.(2) chamar-me a atenção e repreender-me constantemente, desconfio que o desleixo era ainda mais escandaloso. Eu sei que não é justo mas custa-me escrever e sobretudo estas cartas nossas em que temos de passar por cima de tudo o que é a nossa vida e os nossos problemas diários.

Como estás? Como consegues desembrulhar-te dessa tua vida tão difícil, tão sobrecarregada? À medida que o tempo passa eu e a N. sentimos mais como é injusto teres ficado amarrada dessa forma, sem poderes respirar, sem poderes aproveitar a tua vida e isso em grande medida pela situação do nosso filho. A N. pensa, e eu penso como ela, que é preciso arranjarmos outra solução, que não devemos deixar-nos descansar na inércia de ir deixando tudo indefinidamente como está. Estamos a chegar a um ponto em que todos sentimos que não se deve prolongar mais esta situação; o nosso P.(3) já aproveitou durante mais de dois anos de certas condições de educação e convivência, devemos arranjar outra solução, mesmo que não lhe dê tantas largas. Espero que dentro de algum tempo poderemos discutir directamente o que há a fazer e combinarmos as coisas. Na nossa vida tudo se resolve lentamente mas espero que não passem muitos meses até podermos resolver este caso. O que pensas disto?

E que novidades há na tua vida? Gostava bastante de termos uma boa conversa, discutirmos, com o correr dos anos vamos ficando desfasados uns dos outros. Gostava sobretudo de discutir política contigo, claro, o meu vício incorrigível. Porque tenho a certeza de que há muitos assuntos em que não estamos de acordo e eu vou-me sentindo cada vez mais um “discutidor”, quando me combatem e me levantam objecções é quando me entusiasmo mais a defender os meus pontos de vista e a procurar perceber os dos outros. Estou certo de que teríamos muito para discutir e de que te daria uma coça valente, não acreditas?

Eu, talvez “fanatizado” como muitas pessoas pensam nestes casos, não posso aceitar que haja motivos para que todas as pessoas progressistas do nosso país não estejam interessadas na luta política no nosso país, agora que estamos a viver uma fase de crise revolucionária. Aflige-me e indigna-me pensar que a apatia de tantas pessoas progressistas, a falta de confiança no povo e de audácia de tantas outras, pode dar lugar a que a burguesia encontre uma saída qualquer para prolongar o seu regime, quando existem condições para irmos para uma revolução a sério. Duvidas, tu também? É porque estás contagiada pelo trabalho de sufocação destes 37 anos.

Portugal hoje é um barril de pólvora a que todos têm medo de chegar um rastilho, uns por umas razões, outros por outras; ora eu parece-me que se há pólvora acumulada, o dever dos revolucionários deve ser chegar-lhe o rastilho, atiçá-lo, não o deixar apagar, até fazer ir tudo pelos ares: o governo, mas não só o governo; o sistema de opressão, a base do poderio dos ricos, o espírito de submissão e conformismo dos pobres. Se fizermos deflagrar a primeira explosão séria, não tenhas dúvida de que elas se sucederão umas às outras em cadeia e que então toda a gente começará a acreditar que em Portugal também pode haver uma revolução, das tais a sério. E o essencial para isso é sabermos como se acende o rastilho e depois não ter receio de o acender mesmo. A paz podre que se vive hoje só ilude quem não conhece a tempestade que a guerra colonial está acumulando. A repressão constante, a desorganização que provoca, todas as nossas fraquezas, fazem com que este movimento não progrida em linha recta, que avance aos impulsos, com pausas e recuos pelo meio; mas temos visto como ele avança, às vezes quando menos se espera! Agora este período de “repouso” tem a particularidade de ser uma acumulação de forças para novas acções, mas, mais do que isso, para acções qualitativamente diferentes. As conclusões que centenas de milhares de pessoas tiraram durante as manifestações de 1961-62 não foram em vão; na primeira ocasião propícia veremos a que atitudes práticas conduzem essas conclusões que cada um tirou sobre a forma de derrubar o governo. Quer isto dizer que nos basta esperar que o fruto caia de maduro? Já se sabe que não. Num país como o nosso, onde o barril de pólvora está rodeado por um exército de “bombeiros” experientes e atentos, não é qualquer amador que acende esse rastilho; há-de ser preciso um esforço enorme para o conseguir e a colaboração de muita gente, cada um ajudando de sua forma. Claro que há também outra hipótese: o rastilho não se acende e a carga explosiva acaba por ser desmontada sem prejuízos de maior para a sociedade estabelecida e as instituições. Mas temos nós o direito de nos prepararmos antecipadamente [o texto é interrompido aqui]

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Carta a João Pulido Valente
29 de Março de 1964

Meu caro João(4):

A tua carta e as notícias que já tinha acerca da tua posição deram-me uma grande alegria. Num momento difícil como aquele que temos vindo a atravessar, é bom encontrar ao nosso lado os velhos companheiros de luta, não é assim?

Tu compreendeste já perfeitamente as razões da minha posição, para ti não é necessário desenvolver largas explicações, como me tem acontecido com outros camaradas aqui, que me perguntam se a minha posição não será o resultado de eu estar cansado da luta, se não será uma manifestação de ambição e vaidade da minha parte, se não será o desejo de descarregar despeitos pessoais à custa do Partido, etc., etc. Felizmente, conheces-me o suficiente e conheces o suficiente da situação no nosso país para compreender que todas essas hipóteses são disparatadas, e que há razões decisivas a obrigar-nos a agir. Como tu dizes, não tomei esta posição de ânimo leve; foram muitos e muitos meses de reflexão, de preocupações, de angústias, posso dizê-lo sem exagero; mas à força de reflectir e de discutir com aqueles de quem esperava um esclarecimento, acabei por concluir em Agosto(5) que esses camaradas não são capazes de ir mais longe e que, com o correr dos acontecimentos podem vir a tomar posições muito graves, qie comprometam o êxito da nossa causa e o seu passado de lutadores. Entrei neste caminho, não poe sentir afrouxar o meu espírito de luta nem por diminuírem as minhas convicções, mas porque sinto com mais força do que nunca as responsabilidades que nos impõe o nosso ideal; é o caminho mais difícil mas é o único sério e eu perderia o respeito por mim mesmo se não o tomasse, só por rotina e comodismo. Se eu quisesse uma situação tranquila, era só aproveitar as ofertas que me fizeram de me trazer a minha companheira, me arranjar um bom emprego, etc., desde que eu me calasse. Soluções dessas não me servem. É claro que esta posição vai acarretar grandes dificuldades, além das que já acarretou; como tu prevês, já se “descobriu” que eu sou um gatuno, já se insinua em circulares que o meu fim será nos grupos de café “mais ou menos apoiados pela PIDE”, já se lançam invenções de que acompanho com provocadores e elementos suspeitos; o resto virá a pouco e pouco, calculo; este género de guerra de calúnias, que atemoriza muitos militantes de acordo connosco, e que por causa disso não se atrevem a tomar uma posição, não me assusta porque tenho uma confiança inabalável nos nossos princípios, no triunfo da nossa causa; será a nossa acção e o correr dos acontecimentos que revelará quem são os revolucionários e quem são os oportunistas, quem são os lutadores honrados e quem são os que fogem aos sacrifícios. Neste momento, somos poucos e tudo são dificuldades e incertezas, mas não tenho dúvida nenhuma de que as causas justas abrem caminho de qualquer forma, atraem os bons elementos, galvanizam e transformam os elementos fracos. A única coisa que temos a fazer é lutar com a força que nos dá a certeza da nossa razão, a compreensão que temos dos erros dos outros, a nossa confiança total na capacidade revolucionária dos trabalhadores, do povo. Estou certo de que não teremos de esperar longos meses para começar a ver resultados da nossa acção. As condições são muito favoráveis e elas frutificarão desde que trabalhemos a sério e não façamos erros muito graves.

Sobre todos os problemas gerais que levantas na tua carta, vai a resposta que vemos neste momento, na carta junta, que é dirigida ao colectivo aí. E isto levanta um problema que me parece essencial: tu falas bastante no que eu penso, no que eu quero fazer, etc., mas é necessário compenetrares-te bem, camarada, de que só uma colaboração estreita de todos nós, um trabalho colectivo, uma divisão de tarefas, nos podem permitir romper rapidamente para a frente. Sobre todas as questões gerais de orientação, assim como sobre a vossa actividade aí, é preciso que dês a maior participação possível, que discutas tudo aí em colectivo com os companheiros que aí estão, que cheguem a conclusões e que actuem com iniciativa própria. Não tenho dúvida nenhuma de que, pelo menos por enquanto, tenho responsabilidades especiais e um encargo muito pesado, dada a experiência e ligações, dada a situação especial que resolvemos criar para mim. Mas isso não evita a necessidade de uma discussão muito aberta, muito intransigente entre todos nós, para reunirmos as experiências de todos e evitarmos os erros. Em relação à Declaração Política, às propostas e directivas que vos mandamos na carta junta, é importante que estabeleçam aí discussão e nos comuniquem as opiniões; não é preciso estarem à espera de poder elaborar longos relatórios que acabam por cair na burocracia; mandem, mesmo em resumo, a vossa opinião sobre as questões principais, o sumo dos problemas. E sobretudo, actuem para a frente, estamos de acordo nas linhas gerais e isso deve livrar-nos de qualquer receio de agir com iniciativa, é na acção que as dúvidas e discordâncias se esclarecem e se vê onde estão os erros. Tenho-te conhecido como um homem antiburocrático e creio que compreenderás a exigência que se nos coloca de agir. Já perdemos muitos e muitos meses preciosos, todos nós, por andarmos à procura de um caminho de saída; agora que o estamos a ver, é preciso audácia e iniciativa, fazermos com que cada núcleo de companheiros actue sem perder tempo. A disposição individual de cada um de nós é muito importante, mas a conjugação dos nossos esforços é ainda mais importante.

Tu falas na tua carta na tua disposição total que tens de servir a nossa causa onde quer que venha a ser preciso, aí ou no interior. Como deves calcular, o nosso esforço todo neste momento no exterior tem em vista criar uma base de apoio que permita passarmos para o interior num breve prazo. Continuará sempre a ser necessário dispormos de companheiros (e bons companheiros) no exterior mas não tenho dúvida nenhuma de que todos os que tenham condições e disposição para enfrentar o inimigo directamente no interior vão ter brevemente ocasião de o fazer. Nós sabemos bem que há um trabalho decisivo a fazer no sentido de lançar a acção armada popular, de desenvolver rapidamente a iniciativa das massas¸isso não se poderá fazer espontaneamente, terá que contar com a actividade impulsionadora de um grupo de companheiros dispostos a correr todos os riscos. Estamos aqui neste momento fazendo um trabalho político que nos permite ir conhecendo os quadros, com vistas a preparar um núcleo para essa tarefa. Penso que todos os aspectos práticos em que possas ganhar uma preparação (conhecimento de formas de acção, preparação de materiais, etc.) devem ser aproveitados, poderão vir a ter a maior utilidade. Deveis ver aí (com cuidado e sem falar de mais) se há outros elementos seriamente dispostos a entrar no país, não para o “desembarque triunfal” mas para a dura luta armada clandestina. É claro que as possibilidades de via técnica a que te referes são da máxima importância, deves-me comunicar qualquer coisa em perspectiva, em carta para mim, explicando segurança e garantias que dá, como funciona, quando, etc., pondo em cifra o que for mais secreto.

Já contactámos (não eu, por enquanto) a pessoa daqui para quem deste a carta de apresentação. Recebeu bem, o embora se afirme um pouco desiludido das suas experiências políticas, mostrou interesse pela Declaração e desejo de ter uma discussão comigo, o que será brevemente. Quanto à pessoa de Londres, temos que aguardar por agora.

Em relação ainda ao meu caso, quero esclarecer-te de que a situação se criou aqui por depois da reunião de Agosto foi resolvido impedir o meu regresso ao interior, considerando que eu não dava garantias de não vir a fazer um trabalho de “cisão”. Saí do interior seguindo as instruções que me deram e para participar numa discussão em que eu, ingenuamente, ainda tinha certas esperanças; não voltei ao interior porque mo impediram. Esclareço isto porque a resolução do CC que me expulsa poderia dar outras ideias e há mesmo quem procure espalhar a versão de que fugi à luta. Falas-me da minha companheira: como bem calculas, é um problema que me preocupa, mas não lhe vejo solução imediata. As minhas cartas para ela vão naturalmente ser interrompidas e sei que ela está a sofrer uma pressão muito grande e que não lhe dão outra alternativa senão cortar comigo ou ser afastada e ficar numa situação difícil. É um problema que só lá em baixo poderá ser resolvido. Agora nada posso fazer. Para ela é uma prova duríssima, mas confio em que a suportará.

Quanto ao problema financeiro: a tua resolução teve uma importância decisiva e vai permitir-nos sair da teia de dificuldades em que temos estado envolvidos nos últimos três meses. Sobre os meios de que precisamos, vai um orçamento provisório na carta junta, para a primeira fase, preparatória, por assim dizer. É claro que todos temos a ideia de que só a recolha de fundos junto dos militantes e outras pessoas, o apoio externo que nos venha a ser proporcionado, podem enfrentar as necessidades. Mas neste momento a tua contribuição será decisiva, como tu bem compreendes; digo-te que contribuas com o que puderes, sem criares no entanto qualquer situação anormal (deixar de pagar as dívidas, etc.). Precisamos de todo o dinheiro possível mas não podemos basear-nos no sacrifício dum companheiro, temos que alargar os nossos meios de recolha o mais largamente possível, isso é que nos criará uma base sólida. És tu que deves definir a contribuição que podes dar regularmente, de acordo com a organização da tua vida. Para já, pusemos em prática as medidas que encarávamos quanto a mim e parece-nos que nos dás uma base para irmos para diante sem perda de tempo. Tu, que és um velho especialista destas questões, vê que possibilidades tens de recolher contribuições de gente no interior ou no exterior, apresentando o nosso programa e explicando para que queremos o dinheiro. É evidente que um apoio externo em profundidade está muito dependente do que consigamos fazer desde já pelos nossos próprios esforços; como é de calcular, abundam os grupos  mais ou menos sérios, alguns são mesmo aventureiros e aproveitadores e as pessoas que querem ajudar retraem-se e queres ver provas de seriedade, é natural.

Em relação a todas as possibilidades de ligação de contacto para o interior que tens, parece-nos que devem ser aproveitadas ao máximo: enviar a Declaração Política para onde puder ser enviada sem perigo, escrever a falar da situação que se criou, pedir auxílio, dinheiro, ligações, etc. É claro que isto significa tornares clara a tua posição política e seres definitivamente expulso do Partido: pensamos que o deves fazer sem hesitação, assim como outros companheiros daí, para podermos trabalhar abertamente e com independência, acabar com uma situação que a direcção do Partido procura ir arrastando e que só favorece a sua actividade. O parto tem que se dar porque a “criança” já está formada; é claro que é um parto com dor, ainda não se inventou o parto sem dor para estas coisas, mas é preciso começarmos a marchar em cima dos nossos pés e o mais depressa possível. Diz o que pensas disto e da evolução da tua situação perante o Partido. Não esqueças que neste caso a força do exemplo tem uma grande importância para a massa dos vacilantes; na carta junto desenvolvemos mais este problema.

E agora, caro João, despeço-me de ti com um forte abraço de camarada. Escreve-me (sem pôr nomes nas cartas), dá-me notícias tuas. Já casaste? (Que pergunta….). Eu escreverei regularmente, se não te respondi imediatamente é porque tenho andado envolvido até aos cabelos no trabalho profissional e nas actividades imediatas que se vão acumulando. Agora as coisas tomam melhor aspecto. A minha saúde, como sempre, está óptima, apesar de as tuas deformações profissionais verem doenças por toda a parte. Até breve, camarada, trabalhemos para que nos voltemos a abraçar o mais breve possível, na nossa terra, a lutar de armas na mão ao lado do nosso povo. Esse dia chegará e somos nós que o faremos chegar.

(assinatura ilegível)

Dentro de dias serás possivelmente procurado por um indivíduo ido daqui e que se apresentará da parte de Campos. Pessoalmente não o conheço, mas pertence a um grupo de gente séria (embora com algumas ideias torcidas) que nos tem dado ajuda prática quase sem saber nada a nosso respeito. Julgo que querem obter aí alguma confirmação sobre a nossa origem e seriedade, dá-lhe as referências necessárias mas não reveles nomes ou aspectos secretos do trabalho. Vê se ele aí te pode pôr em ligação com alguém de interesse, dos meios governamentais ou outros.

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Carta ao CMLP no exterior
Lisboa, 27/1/1966

Camaradas:

Recebemos a carta 1/66 e os fundos que indicam. Estamos a tratar de levantar a encomenda na morada indicada. Aproveitamos este portador para tratar detalhadamente algumas questões urgentes.

Linha geral — Consideramos que há que continuar a intensificar a acção prática iniciada pela FAP nos últimos meses (GAPs, agitação, imprensa, etc.), mas sobrepondo-lhe  o trabalho directo para a reconstituição do Partido. Verificámos numa reunião recente do organismo dirigente que as dificuldades e exigências práticas do dia-a-dia nos podem levar a uma certa forma de oportunismo, deixando sempre para segundo plano as tarefas que não se impõem com tanta agudeza no plano táctico mas que são estrategicamente as principais, como é o caso do Partido.

Resolvemos por isso lançar uma campanha junto de todos os camaradas comunistas ligados ao Comité, para um grande esforço no decurso dos próximos 3-4 meses, culminando na reconstituição final do Partido. Todos os camaradas comunistas, no interior ou no exterior, devem ser chamados a colaborar nesta campanha e a trabalhar mais intensamente, com mais firmeza e decisão, para tornar possível a reconstituição do Partido. Esta campanha deve ser discutida, não de forma aberta mas de forma secreta, junto dos camaradas ligados ao Comité, fixando-se as tarefas teóricas e práticas de cada um, exigindo de cada um que leve à prática as tarefas de que se encarregar. Indicamos a seguir algumas tarefas principais:

Trabalho teórico — É preciso completar, elaborar rapidamente as bases programátivos do PCP(ml), apressar o trabalho que, devido às nossas dificuldades, se tem arrastado ao longo dos últimos dois anos. Esse trabalho recai sobretudo no organismo de direcção central, que se responsabilizou por elaborar a curto prazo os seguintes documentos:

Além destes, estão a ser discutidos outros temas par artigos no RP(6) como “O fascismo salazarista é um tigre de papel”, “Campanha de educação de quadros comunistas”, “Por que é preciso lutar contra o revisionismo”, etc. Está já elaborado um projecto, em discussão, de Manifesto do novo movimento dos estudantes revolucionários. De todos estes documentos, serão enviadas cópias para o Comité exterior discutir.

 Neste campo, pensamos que há graves falhas no nosso trabalho no interior (absorvemo-nos com a defesa e as tarefas práticas) e também no exterior (subestimação da teoria e um certo rotineirismo, segundo cremos). Já criticámos em cartas anteriores a quase nula participação do Com. Exterior no trabalho teórico. Vamos detalhar os pontos que nos parecem principais:

Pedimos respostas concretas, detalhadas, e não vagas a estas questões para sabermos quais são as dificuldades e com o que podemos contar. Assim, é impossível fazer uma análise ao trabalho do Comité Exterior, porque não sabemos se se trata de reais dificuldades ou só descuramento das tarefas.

Eis o que esperamos de vós, no campo teórico, nos próximos 3-4 meses:

Agitprop — A necessidade de intensificarmos o trabalho teórico com vistas à rápida reconstituição do Partido leva-nos a rever a organização do aparelho de agitprop, para uma maior eficiência e rapidez. Assim, resolvemos que o boletim “Revolução Popular”, órgão do CMLP, passará a ser editado copiografado no interior, para garantir a saída de 3-4 números nos próximos 3-4 meses, até à dissolução do Comité. A experiência dos últimos 8 meses mostrou que é utópico por agora pretender assegurar a regularidade do boletim, fazendo sair daqui os artigos e entrar o material impresso. A apresentação será sem dúvida pior mas a experiência com o suplemento ao RP5 mostrou-nos que os materiais que interessam circulam, apesar da má apresentação gráfica. Entretanto, continuamos a trabalhar para conseguir melhores condições técnicas.

Em que consiste o vosso trabalho, neste campo, a partir de agora?

Ainda neste ponto, pedimos que suspendam por agora a compra do prelo, caso ainda não a tenham feito, até decidirmos aqui o melhor caminho

Ainda sobre o RP copiografado — Uma vez que melhorem as condições financeiras, como se prevê, o vosso Comité encarregar-se-á de reproduzir aí em offset os exemplares copiografados que daqui serão enviados, fazendo uma tiragem de 300-400 (nº provisório a confirmar depois), distribuindo uma parte e guardando o resto como reserva.

— Precisamos de 100 exemplares do RP3 e 50 dos outros publicados; do nº 6, mandar só 200, por agora.

Quadros — A seguir ao trabalho teórico, é a questão onde é preciso fazer um maior esforço para tornar possível a reconstituição do Partido e assegurar o seu crescimento. Há enormes deficiências que não temos conseguido ultrapassar. Surgem boas vontades, entusiasmos, interesse, mas não quadros comunistas porque esses não se improvisam, demoram anos a educar, teórica e praticamente.

No interior, o nosso esforço neste campo vai dirigir-se para a continuação e aperfeiçoamento dos cursos elementares, que já funcionaram no ano passado, para uma maior ligação entre a teoria e a prática, para um esforço no sentido da elevação das discussões, tornando-as mais concretas, ligando-as à prática da luta, activando a luta de ideias. Há ainda muito idealismo na cabeça dos camaradas que se dizem ou julgam marxistas-leninistas.

No exterior, parece-nos haver deficiências muito graves pelo que nos apercebemos,, sobretudo a dificuldade de encontrar militantes dispostos a vir para a frente de combate, que é no interior. É caso para perguntar: para que existe uma secção exterior dum partido comunista clandestino, se não consegue formar um mínimo de quadros? Parece-nos que o problema deve ser encarado de frente por vós, a partir de cima para baixo, encarando sem receio este facto: um militante comunista portuguêsnão pode ser aquele que só está disposto a actuar na emigração, longe da ameaça da ditadura que oprime o nosso povo. Em Inglaterra ou na França, pode ser-se hoje comunista sem correr grandes riscos; mas em Portugal, para se ter direito ao nome honroso de militante comunista tem que se estar disposto a correr os riscos que comporta a actividade no país contra a ditadura; caso contrário, pode ser-se um antifascista, um simpatizante do comunismo, mas não um militante comunista.

Temos vindo a insistir nos últimos meses sobre a necessidade de serem transferidos alguns camaradas, mas as vossas respostas a este assunto são vagas e evasivas (nem sequer se referem à nossa proposta sobre o Jorge de Nantes); na carta 1/66 alegam que as notícias das prisões têm provocado “um certo retraimento” nos quadros em vistas de transferência. É preciso tornar claro que, se um camarada vem militar numa actividade clandestina como a nossa, está naturalmente sujeito à prisão e a ser assassinado. Quem julgar que vem para cá em condições de segurança total e fica espantado com as prisões, é melhor desistir, porque só poderá vir cá causar maiores dificuldades. Precisamos de camaradas dispostos a arriscar a vida e a liberdade para implantarem o Partido no interior do país; uma vez cá dentro, serão defendidos, mas se forem presos, o que é natural, têm que encarar isso de frente e não julgar que o Partido acaba com eles. Perguntamos: os camaradas Alfredo, Júlio e Jorge de Nantes estão dispostos a arriscar-se conscientemente pela tarefa da reconstrução do Partido? Se não estão, devem dizê-lo agora para não nos causarem problemas mais tarde. O que pensam os outros camaradas do Comité Exterior sobre isto? Como encara Lemos o problema actualmente? Há alguém realmente disposto e capaz de vir ajudar os camaradas que estão na clandestinidade? Temos o direito de exigir uma resposta clara e sem subterfúgios a esta questão.

Parece-nos mesmo que o trabalho no exterior não poderá tornar-se realmente revolucionário, vigoroso, enquanto não forem vencidas as reticências e hesitaçõescom que os camaradas mais responsáveis aí encaram a sua participação na luta e nos riscos. Como pode falar-se, num caso destes, em educação comunista, em formação de quadros, em estilo novo, quando por detrás de todas as discussões teóricas há o receio dos camaradas em virem lutar no país? O exemplo dos camaradas que vieram para o interior, de J. Pulido, Capilé e outros menos destacados que já foram presos, depois de darem uma contribuição preciosa à grande tarefa da reconstituição do Partido, deve inspirar todos os camaradas que queiram vir a ser militantes dos PCP(ml) a vencerem os seus receios, o seu individualismo e a darem um passo em frente. Já pensaram os camaradas do Comité Exterior que qualquer simpatizante no interior enfrenta mais riscos do que os elementos responsáveis no exterior? Já pensaram que isso enfraquece o trabalho político, a não ser que os camaradas se disponham a enfrentar os riscos quando necessário?

Este é, quanto a nós, o problema de fundo que há que encarar corajosamente e sem subterfúgios, se queremos encetar no exterior um trabalho de formação de quadros. O critério a usar na escolha dos camaradas para tarefas responsáveis deve ser o da combinação de três factores fundamentais:

  1. base teórica mínima marxista-leninista
  2. disposição de enfrentar o inimigo e garantias de firmeza
  3. capacidade de trabalho prático.

Os camaradas que tenham qualidades só num ou só em dois destes aspectos e falhem totalmente no outro não podem ter uma base equilibrada como militantes. Aqueles que tiverem um pouco de cada um são os que devem ser promovidos às principais responsabilidades.

Como medidas práticas imediatas para o exterior, decidimos

De acordo em que Hugo, Violeta, Júlio e outros possam ter tido ou tenham pontos de vista trotskistas. Isso não significa que dantes se recebia tudo o que aparecia (ideia fixa de Hugo) mas que todos podem entrar se houver firme vigilância ideológica; essa é a questão em que insistimos.

Relações internacionais — Mais uma vez insistimos na necessidade de obter comunicações directas para Pequim. Há relações políticas? Esses camaradas estão a receber as nossas publicações? Há discussões? Parece-nos que o assunto é suficientemente importante para justificar um relatório sério, com elementos precisos.

— Lembramos a necessidade de fazerem em calendário de aniversários importantes e mandarem saudações quando for caso disso; não esquecer a reorganização do PC Belga em Janeiro.

— Temos notado nas vossas referências ao PC Espanha uma certa animosidade em várias referências. A que se deve? Não estará a forçar entre os camaradas portugueses e espanhóis um mau espírito de competição? Cuidado com o espírito de seita, impróprio de comunistas. Valorizar o que há de bom nos camaradas espanhóis, em vez de acentuar os defeitos.

— Uma pessoa que cá esteve garantiu que os marxistas-leninistas franceses votaram no de Gaulle. Parece-nos impossível, mas pedimos esclarecimentos.

— Pedimos informações sérias, comentários sobre o movimento comunista, eventuais trocas de pontos de vista. Recebemos um documento sobre a guerrilha na Venezuela, com interesse, não poderia ser obtido por vós?

Questões técnicas — Parece-nos talvez o ponto que deve ser posto em segundo lugar, quanto à gravidade das deficiências no exterior, após o dos quadros. Ficamos preocupados com a falta de resposta clara aos nossos pedidos em questões urgentíssimas.

Amostras — Por que é preciso um funcionário para tratar deste assunto? Não podemos esperar mais dois meses para saber se Raul obtém ou não qualquer coisa. Precisamos de amostras urgentemente! Precisamos que se comprem livros de caixa ou que nos digam que não se pode contar com coisa nenhuma, para orientarmos o trabalho noutro sentido.

Livros de cheques — Está em estado de ser utilizado? Há pessoa que utilize? Em que data se pode contar com ele? Como explica o Comité Exterior que, ao fim de tantos meses, não haja nenhuma resolução deste assunto?

Ligações — Não devem utilizar Julião nem Ramiro. Henrique protestou contra o recebimento de coisas que mandara suspender e mal embaladas; não utilizem por agora. Margarida deve continuar a ser utilizada como até agora. Não abordamos o amigo de Sérgio por enquanto, aguardamos que o assunto esteja inteiramente claro. Também não abordaremos o arquitecto. Julgamos que compreendem as precauções de que temos que nos rodear para evitar maiores desastres.

Aguardamos o portador que vem ao sítio onde se dirigiu da outra vez o casal de Estrasburgo; comuniquem com a maior antecedência possível a data de encontro, para não haver falha. Não utilizem a morada indicada mais recentemente (o amigo de Hugo) porque está preso.

Envelopes timbrados — Digam-nos se podem fazer ou não, precisamos bastante de novos envelopes.

Prospectos — Pode comprar-se a máquina de que falaram? Imprime-se a cartolina? Respondam a esta questão.

Aperfeiçoador — O que há a este respeito? Fizeram algumas diligências?

Fundos — Esperamos com muito interesse a resolução das novas perspectivas financeiras de que falam. Pode ser decisivo para alargarmos o nosso trabalho.

— Transfiram em Fevereiro mais 1500 N.F. para Margarida.

— Para tomarmos decisões sobre o vosso sector (funcionário, etc.) precisamos que nos mandem um orçamento das vossas despesas mensais previstas, discriminando por assuntos: funcionário, despesas de imprensa, deslocações, despesas várias.

— O que significa a “transferência para Nantes” de 300 N.F. mencionados no vosso balancete?

Vários

— O que querem dizer os “assuntos comerciais ilícitos de Frederico em Estrasburgo”? Pedimos explicação

— Continuem a não confirmar nada sobre Edmundo e Sebastião

— Precisamos de informações sobre um Ferreira da Silva, ex-operário da CUF, que trabalha na Gulbenkian, considerado suspeito

— Houve prisões no partido revisionista: Rogério de Carvalho do CC; Dias de Deus, Carlos Miredores, etc. Parece haver casos de traições.

Terminamos. Pedimos que nos mandem uma carta detalhada sobre os assuntos pendentes.

Saudações

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Carta de João Pulido Valente ao CMLP
3/8/1966

Caros Amigos

Só agora tive oportunidade de contactar com vocês. Há aproximadamente um mês que fui transferido para Caxias. Durante esse tempo inteirei-me do comportamento perante a polícia de todos os camaradas presos, tendo actualmente um conhecimento profundo do comportamento dos camaradas mais responsáveis.

Ainda não chegou ao nosso conhecimento nenhum documento publicado por vocês. Consta-nos no entanto que saiu um em que eram expulsos Chico e Rui e estes eram acusados de traição. Também nos consta que X foi nomeado secretário geral.

Todo o caso dos maus portes da maioria dos camaradas presos e muito em especial o de Chico vieram abalar muito o prestígio da corrente m-l e da FAP. Devemos no entanto manter a serenidade. A ser verdade o que nos consta, considero precipitadas as expulsões públicas e profundamente errado chamarem-se-lhes traidores. A fraqueza de Chico perante a polícia (só a este me refiro por ser o caso de maiores repercussões) tem muitas atenuantes, que só no futuro poderemos avaliar cabalmente. Temos de ter sempre presente que a maioria dos presos e organizações que atacaram Chico pretendem atingir a corrente revolucionária portuguesa. Os nossos inimigos são muitos (“democratas”, revisionistas, trotskistas, PIDE) que não olham a meios para atingir os seus fins. (A maioria dos autos de Chico, assim como de outros camaradas, foram forjados). É preciso que vocês não se deixem iludir e que não façam o jogo do inimigo. Ao tomarem uma decisão devem sempre ter em conta que o que está acima de tudo são os interesses do movimento e não pequeninos ódios e questões de prestígio pessoal.

Sabemos que anteriormente à minha chegada aqui os amigos tinham pedido para vocês prepararem o nosso julgamento fazendo vir a Lisboa juristas estrangeiros, que este pedido foi não só recusado como escarnecido, tendo vocês tido se queríamos “televisão e radiodifusão”. Francamente, esta atitude deixa-me pelo menos perplexo.

Também soube que recusaram aceitar qualquer colaboração dos camaradas que fraquejaram na polícia. Esta atitude é errada, pecando pelo menos de idealismo extremo. Saberão os amigos que a revolução se não faz com santos mas sim homens de carne e osso, crivados de defeitos e fraquezas que herdamos da sociedade em que vivemos? Saberão os amigos da extrema carência de quadros que enfrenta a corrente m-l portuguesa? Pergunto mais se na avaliação do camarada Chico se serviram só de informações vagas ou concretas que lhes vieram parar às mãos, mas que apesar de partir de uma base real, foram aumentadas, falseadas e deturpadas. Ou se entraram linha de conta com todo o seu passado e presente. Chico foi o primeiro a fazer a sua total autocrítica, sem nenhuma complacência por si próprio. É ele ainda que já conseguiu combater o derrotismo dos outros amigos, organizá-los para o trabalho político e para a luta ideológica, o que levou a ser nossa (Chico não pertence) a direcção prisional de Caxias e ter atrás de nós a maioria (quase totalidade) dos membros do Partido revisionista. Não estarão os amigos a errar o alvo? Enquanto alcunham de traidores os camaradas que fraquejaram, fazendo coro com os nossos inimigos, não seria mais correcto atacar como traidores os dirigentes revisionistas que, calma, fria e conscientemente traem o proletariado e que, calma, fria e conscientemente denunciam no Avante membros da FAP na clandestinidade? Camaradas, queria terminar este assunto que já vai longo mas não está esgotado, por uma afirmação que talvez vos escandalize. Apesar dos graves prejuízos causados à nossa organização (o que não deve ser esquecido) considero o camarada Chico de longe o primeiro revolucionário português. Ao dizê-lo levo em conta todo o seu passado e o muito que o povo português já lhe deve e o muito que ainda tem a esperar dele. Julgo-me “especialmente” autorizado a fazê-lo pois que o meu comportamento na polícia permite que eu não possa ser suspeito, ao não hipervalorizar nem hipertrofiar esse facto ma avaliação de um revolucionário.  O comportamento na polícia, para toda a gente, e para um dirigente em especial, é um facto de inegável importância. Mas está longe de ser tudo. Julgo que as “críticas” feitas a Chico são ainda fruto de idealismo. Muitos dos camaradas, ao reconhecerem nele qualidades invulgares, criaram um mito, forjaram um Deus, e não resistiram a ver o seu Deus falhar.  Como o seu mito não era Deus, tinha de ser Demónio, não admitiram meio termo. Chico não era um Deus, não é um Demónio, era, foi e será um grande revolucionário, mas um homem, sujeito a falhar.

A ser verdade que o camarada X foi nomeado secretário geral, gostaríamos de saber as razões invocadas para se justificar a criação do cargo. No tempo em que não tinha havido prisões, julgámos todos nós que esse cargo se não justificava, apesar de um de nós sobressair de entre todos pelo seu passado e qualidades. Hoje que não existe ninguém nessa situação, julgo que não se justifica a criação do cargo. Julgo que na actual situação (que provavelmente é ainda pior do que a imagino) a criação do cargo de secretário geral não proporcionará o melhor meio de garantir uma direcção do movimento.

Passo a fazer algumas sugestões e pedidos:

Saudações comunistas do camarada

João Pulido Valente


Notas de rodapé:

(1) Cunhada. (Nota de AB) (retornar ao texto)

(2) Companheira. (Nota de AB) (retornar ao texto)

(3) Filho. (Nota de AB) (retornar ao texto)

(4) Carta manuscrita envia por FMR, de Paris — para onde fora destacado pelo PCP ainda enquanto militante, mas já expulso à data em que escreve — a João Pulido Valente, militante do PCP então exilado em Argel. (Nota de AB) (retornar ao texto)

(5) Na reunião com Álvaro Cunhal, Chico Miguel e outros dirigentes do CC do PCP, em Moscovo, na qual FMR expôs e discutiu os seus pontos de divergência com a linha do partido. (Nota de AB) (retornar ao texto)

(6) Revolução Popular, órgão de imprensa do CMLP. (Nota de AB) (retornar ao texto)

Inclusão 14/06/2019