A Situação Política – 1988

Francisco Martins Rodrigues


Primeira Edição: Notas de FMR para uma reunião geral da OCPO, texto inédito.

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Nestes últimos meses a conjuntura modificou-se. Para a burguesia portuguesa as perspectivas no campo externo não são boas. A miragem de um “capitalismo popular” foi tragada pela iminência de uma nova recessão da economia mundial. As teorias liberais mostraram-se incapazes de provocar um ascenso do capitalismo e é incerto o caminho que poderá tomar a actual crise internacional.

Do ponto de vista interno, com a vitória absoluta do PSD a burguesia ganhou um novo fôlego. E pretende levá-lo o mais longe possível. Quer tornar Portugal digno dos monopólios da CEE e atraente ao investimento estrangeiro. Aí estão as medidas: pacote laboral, revisão constitucional, pacificação laboral, destruição da reforma agrária, lei eleitoral e repressão policial. A palavra de ordem é recuperar o tempo perdido. A ofensiva capitalista desenvolve-se em larga escala.

1 — Cavaco parece imbatível. A produção cresce, a inflação desce, as empresas modernizam-se, o consumo sobe. Acabada a confusão, todos se preparam para os “desafios europeus”.

2 — A oposição está enrascada. Procura líderes, reanalisa políticas e tenta recuperar forças. Mas não sabe como, porque só encontra variantes menores do projecto cavaquista. Fora da sua lógica está a necessária luta contra o agravamento da exploração capitalista. O CDS empenha-se em reorganizar a ala conservadora da direita. O PS esforça-se por criar I uma alternativa para alternar no poder. O PRD debate-se com o atrofiamento do seu espaço político.

3 — O PCP também está em crise. A linha de vitória em vitória aproxima-se perigosamente da derrota final. Está inquieto com o que se passa em Portugal e também na URSS. A pressão de direita é cada vez maior: entrada no CPCS, integração na comissão da NATO, convulsões internas.

4 — O refluxo do movimento operário acentua-se. A vanguarda foi derrotada politicamente. Greves como a INDEP, CEL-CAT, PETROGAL, Portuários, etc. são insuficientes para inverter a situação. A concertação social está a tomar o lugar da luta radical. Os DS diminuem enquanto aumentam aa indemnizações, a corrida aos prémios e subidas nos escalões salariais. Com a CGTP à direita até a demagogia da UGT se mascara de radical. Arreganham os dentes mas não mordem a ofensiva do capital.

5 — As medidas anti-operárias que estão na forja abrem campo ao nosso trabalho de agitação e propaganda. Na medida das nossas forças, é preciso desenvolvê-lo junto dos sectores combativos que tocamos.


Inclusão 16/11/2018