História do Movimento Anarquista no Brasil

Edgar Rodrigues


Os Pedreiros da Anarquia


capa

Hoje meu encontro é com os carregadores das pedras que serviram para construir os alicerces, formar as bases do palácio da anarquia.(1)

No Brasil e/ou nos países europeus, asiáticos e africanos “exportadores” de mão de obra, nas últimas décadas do século XIX e em mais da metade do século XX, as escolas de alfabetização eram escassas, e para os filhos dos trabalhadores braçais, praticamente inalcançáveis!

As famílias pobres, (muito numerosas na época) aos 7 anos de idade, tinham de empregar seus filhos nas fábricas, nas oficinas, na construção civil e no comércio como ajudantes.

Salvo poucas exceções, sem receber ordenados, aprendiam ofícios à força de pescoções e outras violências físicas e psicológicas.

A alfabetização dos imigrantes e dos trabalhadores nativos, começava nos locais de trabalho, ouvindo seus companheiros, mais preparados e experientes, ler jornais sindicalistas e anarquistas, em voz alta, na hora do almoço, e fazer preleções, quando o ambiente o permitia. Depois iam assistir aos debates e palestras nas Associações de classes profissionais, e os mais aplicados participavam de cursos de alfabetização, profissionalizantes e de militância ideológica.

No Brasil as associações operárias, depois sindicatos, foram as escolas e as Universidades do proletariado!

Dir-se-ia que aprendiam simultaneamente profissões e o ler e escrever. E ainda sindicalismo, lutas de classes, anarquismo.

Seus redutos de resistência, (sindicatos) eram também escolas profissionais, de solidariedade, tornando-se ainda veículos de ajuda mútua, uma prática que servia para sustentar sedes quando um só sindicato não podia pagar o aluguel; para socorrer companheiros doentes, desempregados e presos; para custear publicações de boletins, jornais, opúsculos e até livros de ideias avançadas.

Entre as reivindicações dos assalariados estavam a redução da jornada de trabalho de 14, 12 e 10 para 8 horas diárias, seguros de acidentes no trabalho e na invalidez, das mulheres operárias poder ter seus filhos em casa e dispor de alguns dias para amamentá-los; lugar para comer nas fábricas, o fim do carrancismo patronal, espancamento de menores e até de mulheres, e melhorias salariais.(2)

Aos poucos, o proletariado compreendeu também que seus filhos iam trabalhar na idade em que deviam freqüentar as escolas (aos 7 anos de idade) entravam na adolescência, passavam a juventude e na fase adulta analfabetos como seus pais.

No Brasil a questão social era tão implacável com os assalariados quanto nos países de onde tinham vindo os imigrantes para desbravar e produzir a riqueza que faz deste país uma grande nação, (que só não é boa para todos os seus habitantes) porque existem políticos, gerados nas incubadoras das Igrejas e do Estado!

No 1° Congresso da velha A.I.T. (Associação Internacional dos Trabalhadores) realizado de 3 a 6 de Setembro de 1866, em Genebra, (Suíça), e nos subseqüentes de 1867, 1868, 1869 e 1872, os congressistas discutiram métodos racionalistas de ensino e educação que deviam ser postos em prática pelos trabalhadores para trabalhadores e outros que o desejasse.

O eco do novo ensino e da escola nova, atingiu o proletariado na Europa. Chegou ao Brasil, nas cabeças dos imigrantes. E não obstante a demora, abriu novos horizontes ao produtor de riquezas, despertando a imaginação de muitos que não queriam ter deveres sem direitos, agitou esse entendimento nas associações operárias e nos locais de trabalho.

Seguindo os exemplos de seus companheiros europeus, os trabalhadores imigrantes formaram escolas racionalistas no Rio Grande do Sul, nos subúrbios do Rio de Janeiro, em São Paulo e em outras localidades do Brasil.

Inicialmente o propósito era alfabetizar operários (pais e filhos), e logo mais proporcionar-lhes conhecimentos gerais, sociologia, sindicalismo, anti-clericalismo; capacitá-los intelectualmente, inclusive com ajuda da Arte de Talma, desenvolvida nos teatros operários.

No Rio de Janeiro em 1904, e em São Paulo, 1915, também foram implantadas Universidades Populares e ministrados cursos profissionalizantes, sociológicos, envolvendo a emancipação social e a autogestão, em tempos idos, conhecida como ajuda mutua.

Exemplificamos na seqüência com os pedreiros da anarquia, residentes em Campinas, no ano de 1908, implantando uma escola livre, apoiada no documento (raríssimo) que se reproduz:

A Liga Operária de Campinas tomou uma iniciativa bem digna de simpatia, a aquisição de um prédio para o funcionamento da escola infantil que ora está em prédio impróprio e acanhado, procurando baseá-lo o mais possível nos modernos princípios pedagógicos.

A escola não deve ser um lugar de tortura psíquica ou moral para as crianças, mas um lugar de prazer e de recreio, onde elas se sintam bem, onde o ensino lhes seja oferecido como uma diversão, procurando aproveitar a sua natureza irrequieta e alegre, falando-lhe mais as suas faculdades e sentimentos, ao olhar do que ao ouvido, dedicando-se mais a inteligência do que a memória, esforçando-se por desenvolver harmonia e integralmente os seus órgãos.

A experiência, a observação direta, a recreação instrutiva serão muito mais favorecidos pelo professor que compreende a sua missão, do que as longas e fatigantes preleções e as recitações fastidiosas e sem sentido.

O que é verificável pelo próprio aluno, o que é demonstrável, claro, lógico para a criança, o que ela por si mesma descobrir ou desenvolver - isso será preferido a todas as divagações metafísicas ou filosóficas, a todas as afirmações impostas pela autoridade do pedante, que não pode senão favorecer a preguiça intelectual.

E por isso a escola não será religiosa nem anti-religiosa, não será política, não será dogmática, mas irá buscar a lição de coisas, a natureza vivida e provocada, ao vasto campo das ciências exatas, ao raciocínio espontâneo e fácil, os motivos de agradável estudo para as inteligências que desabrocham e da larga e salutar expansão para os organismos tenros.

Tal é o plano, tal o intuito que anima e inspira os nossos atos, esforçando-nos pela realização desse melhoramento, que até o presente não foi tratado com o devido carinho, pela falta de fundos, que desaparecerão com a medida que acabamos de tomar, o lançamento de um empréstimo operário, para o qual esperamos o vosso apoio e ajuda trabalhadores.

Regulamento

Art. I - Fica criada entre os sócios da Liga Operária de Campinas e outras pessoas que queiram coadjuvar esta associação e sua escola, uma emissão de 2.000 ações, no valor de 5$000 cada uma.

Art. II - Estas ações receberão 3% anualmente de dividendos, sendo sorteadas quando houver fundos.

Art. III - Para garantia dos resgates e dividendos, a Liga, contribuirá com R $ 1:200$000 anualmente a título de aluguel do prédio, (100$000 por mês) pelo que se abriga.

Das Ações

Art. IV - As ações serão intransferíveis, podendo, porém, em caso de morte do acionista gozar todas as regalias delas:

§ 1° - A viúva do acionista, enquanto assim se conservar

§ 2° - A mãe do acionista, se for viúva, enquanto assim se conservar

§ 3° - Os filhos do acionista

§ 4° - Em qualquer dos casos dos § antecedentes, o herdeiro ou herdeiros estão sempre sujeitos ao expresso no art. IV, bem como os possuidores de ações legalmente constituídos, na falta destes.

Do Fundo de Reserva

Art. V - O fundo de Reserva constituir-se-á pela forma seguinte:

a) Pelo que se refere o artigo III

b) Pelas importâncias que os acionistas quiseram doar a escola ou a sociedade, com ofertas de ações ou dividendos destas.

c) Pelas ações e dividendos prescritos de acordo com o art. VI

Art. VI - Serão considerados prescritos os dividendos e ações que não forem reclamadas dois anos depois dos respectivos sorteios.

Direitos e Regalias dos Acionistas

Art. VII - Todos os acionistas estão em pleno gozo de seus direitos e fazem jus:

§ 1° - Os acionistas, membros da liga pelo que regem os Estatutos sociais.

§ 2° - Os acionistas externos não tem o direito de serem votados, a não ser para comissões especiais, que nada tenham a ver com a gestão da Liga.

§ 3° - Assistem-lhes os direitos de:

a) Participar das assembléias gerais, relativas ao que diga respeito a negócios das ações, podendo propor medidas, votá-las.

b) Requisitarem, por escrito, do Conselho Administrativo, permissão para examinarem os livros da escritura especial dos negócios das ações, na sede social e em presença do Tesoureiro ouvir as devidas explicações.

c) Fazerem qualquer reclamação ou representação ao Conselho Administrativo.

d) Proporem o que julgarem de vantagem nas assembléias gerais, convocando-as, porém, em número nunca inferior a 30 acionistas.

Dos Diretores

Art. VIII - Os negócios das ações serão regido pelos mesmos conselheiros eleitos da Liga Operária, com as obrigações que já lhes são impostas nos Estatutos Sociais.

Da Escrituração

Art.IX - Haverá para os casos especiais deste Regulamento:

§ 1° - Um livro especial de registro de assinaturas dos acionistas, encimado com este Regulamento, descriminando neste livro o número das ações de cada um.

§ 2° - Talões numerados e rubricados pelo Contador e Tesoureiro, com as ações impressas, devendo cada portador deixar no canhoto respectivo sua assinatura ou autorização.

§ 3° - Livros ou quaisquer outras impressos auxiliares, a ordem do Conselho. Disposições Gerais

Art. X - Todo o acionista, que assinar no canhoto do Talão das ações ou no livro especial, (art.IX § 1°), fica aceitando para todos os seus efeitos, este Regulamento.

Art. XI - A escrituração especial de quantias e quaisquer valores, fica a cargo de pessoa competente de conformidade com o art. IX e seus §, bem como o desempenho de expedientes e execuções de tudo que se refere este Regulamento ou for determinado por Assembleia Geral.

Art. XII - Seja qual for o número das ações ao portador, ou Possuidor, ou acionista tem direito a um único voto.

Art. XIII - Em Assembleia Geral é permitido o voto por procuração legal.

Art. XIV - Revogam-se as disposições em contrário.

Sala de Conselho Administrativo da Liga Operária de Campinas, em 22 de Agosto de 1908.
O Relator, José Fonseca.
O Secretário, Joaquim Ribeiro.
A Comissão: Max Stephan, José Piovesan, Carmine D. Abruzzi, Vittorio Maggalira, Ramon Duran.

Estes e outros pedreiros da anarquia projetaram, carregaram as pedras, fixaram-nas argamassadas com “anarquismo” umas sobre as outras simetricamente e, a obra ganhou forma, proliferou com maior ou menor intensidade em parte do território brasileiro, muitas vezes dificultada pelas autoridades que desejavam um trabalhador ignorante, submisso!

Foi uma penosa edificação interrompida periodicamente, pelos governantes, dispostos a impedir a emancipação social, cultural, e humana do proletariado.

Por força de uma educação libertária e de um aprendizado ideológico, o Trabalhador realizou uma gigantesca obra, obrigando os poderosos e os políticos a alterar leis primitivas, tornando suportável, a mão de obra nas fábricas, nas oficinas, e a questão social entrou nos romances.

Como pensavam grande esses trabalhadores braçais? Se tivessem sido escutados hoje não estaríamos cercados de pobreza, favelas, drogas, violência, as casas de muralhas e janelas com grades como cadeias.

Dezenas, centenas de pedreiros da anarquia nascidos na Europa, na América e no Brasil aprenderam quase tudo que sabiam nas sedes dos sindicatos, dos Centros de Cultura Social, nos grupos de Teatro Libertário e/ou estudando em Escolas Livres, lendo a imprensa operária, acrata e exercitando seus conhecimentos intelectuais, exercendo ofícios vários, falando aos que sabiam menos e/ou tinham receio de demonstrar o que haviam aprendido na escola da oficina, na Universidade da vida...

Conheci e soube de Pedro Catalo, Jaime Cubero, Manuel Joaquim de Sousa, Manuel Silva Campos, Antônio Corrêa, Artur Modesto, Carlo Aldegheri, Serafim Cardoso Lucena, (tinha escola livre e abastada biblioteca em casa) José Sarmento Marques, (responsável pelo Jornal anarquista O Despertar, Rio de Janeiro, 1898), Pedro Matera (fundador do jornal Liberdade, 1917, da Escola Livre 1° de maio, inicialmente em Vila Isabel e depois em Olaria, Rio de Janeiro, década de 20); João Peres Boucas, Antonino Dominguez, Ricardo Cipolla, Afonso Festa (expulso em 1919), Daniel Conde, (diretor de A Luta, Porto Alegre), Antonio Orellana (livreiro do anarquismo, em S. Paulo, na 1a década do século XX), todos operários sapateiros.

Muitos destes pedreiros da anarquia, falavam como Tribunos, defendiam ideias na imprensa anarquista e sindicalista. Outros escreveram poesias, opúsculos, livros (caso Pedro Catalo e Manuel Joaquim de Sousa), defenderam teses de muito valor cultural e libertárias em congressos. Foram diretores e escreviam em diários, semanários e periódicos. Redigiram peças para o teatro, foram excelentes atores amadores.

Lembro e conheci operários marceneiros e carpinteiros; J. Marques da Costa (orador dos maiores que andou por Manaus, Pará e foi expulso do Rio de Janeiro em 1925, por falar no 1° de maio, na Praça Mauá, sem ordem da Polícia Carioca). Foi diretor / fundador da revista Renovação (1922 / 23) do jornal O Trabalho, Rio de Janeiro. Aqui trabalhou como jornalista contratado nos diários A Pátria, A Vanguarda e outros); Domingos Passos (O Bakunine Brasileiro, um dos mais ativos anarquistas e das maiores vítimas das autoridades brasileiras); Manuel Perez Fernandez (diretor do porta-voz dos marceneiros cariocas).

Expulso do Brasil em 1919, Perez foi para Espanha, esteve refugiado em Lisboa, em França, voltou a Espanha e foi condenado à morte nos anos de 1937 - 1939. Salvo por adido comercial brasileiro, voltou ao Rio de Janeiro, e em 1946, com Oiticica, Roberto das Neves e outros, ajudou a fundar Ação Direta: escrevia, falava muito bem (deixou um livro de Memórias inédito com E. Rodrigues).

Victorino e Luciano Trigo, José Oliva (o faz tudo em “Nossa Chácara”/Nosso Sítio), José Martins (autor de monumental obra histórica em dois volumes: História das Riquezas do Clero Católico e Protestante); Joaquim Moreira da Silva, poeta popular, cuja obra foi transformada em tese antológica com cerca de 600 páginas.

As marcas destes pedreiros aparece na imprensa operária, na anarquista e/ou em atividades de educação racionalista e ainda incomodaram intelectuais, muitos políticos e autoridades.

E fundaram a União dos Operários em Construção Civil, primeiro num quarto, em casa de família na rua Senador Eusébio, (ano de 1917) e depois num prédio com espaço para escola e grupo de teatro social, educando e preparando anarquistas e atores. Ficava na rua Camarim 119. Ensaiaram peças como “Gaspar, o Serralheiro”, de Batista Machado, “Amanhã”, de Manuel Laranjeiras, entre outras que sacudiam as teias de aranha dos “Casacas Velhas” do jornalismo, intelectuais e irritou a burguesia e as autoridades.

Ainda na construção civil, conheci Diamantino Augusto, José Augusto de Castro, Manuel Lopes, Rodozindo Colmenero (diretor de A Voz Humana); Vanâncio Pastorini, autor de opúsculos: como Cartilha Libertária, Luis Saturino, Augusto Godinho, Armindo Sarilho, Fernando Neves, Manuel Correia, Manuel Marques Bastos, Pascual Gravina, José Salgueiro, João Perdigão Gutierrez, (fundador do jornal “Dor Humana”), Francisco Fernandes, Albino Soares; soube de Eládio Cesar Antunha, e Antonio Julião (o cérebro da greve pelas 8 horas diárias em Santos) e quantos mais que deflagraram e orientaram greves, distribuíram manifestos, poesias revolucionárias, discursavam em comícios na praça pública, escreviam (e alguns dirigiam periódicos e distribuíam-nos nos locais de trabalho, dando inigualável colaboração no teatro anarquista (Pascual Gravina, Manuel Marques Bastos, José Augusto de Castro).

Os operários gráficos também escreveram livros, foram diretores de jornais e publicaram obras, participaram de congressos anarquistas, operários e pacifistas (contra a guerra, 1917); Carlos Dias (1° diretor do diário Voz do Povo, autor da obra Contra a Perpetuidade do Erro e da Mentira e outras); Antonio Alves Pereira (diretor de A Aurora, tradutor de O Estado e seu Papel Histórico, de Kropotkine, autor do volume O Proletariado Militante); Alexandre Belo (fundador de Ação Sindical, S. Paulo, 1958); Manuel Moscoso (diretor / fundador de A Liberdade e redator do Órgão da C.O.B., A Voz do Trabalhador, Rio, 1908, com Cecílio Vilar e outros); Polidoro Santos, (entre outros, fundou e dirigiu a excelente Revista Liberal, no Sul); Rosende dos Santos (publicou a revista Renovação, no Rio, 1905); Clemente Vieira dos Santos, Antonio Teixeira de Araújo e dezenas, centenas de operários ilustres, gráficos, jornalistas e carregadores das pedras para edificar o palácio da anarquia...

Foram ao mesmo tempo escritores, jornalistas, atores, oradores, contribuintes, distribuidores de imprensa pelo correio, de mão em mão, colaram nas paredes, foram presos, espancados e alguns expulsos.

Conheci e visitei o camponês Elias Iltchenco, em Erebango, Rio Grande do Sul. Veio da Ucrânia, conheceu o anarquismo, aprendeu sem mestre, português, espanhol e esperanto; os ex-camponeses Maria Valverde, Cecílio Dias Lopes, Diego Giménez, Aldino Agostani, Gumercindo Alvarez, Emilio Tesoro e Vicente de Caria.(3)

Soube ainda de militantes pintores como Gigi Damiani (autor de peças de teatro anarquista, expulso para Itália em 1919); José Romero, (expulso para Espanha em 1919. Esteve em Lisboa e retornou clandestinamente ao Rio). Foi um dos redatores de A Terra Livre, A Lanterna, e em Lisboa, de A Batalha: escrevia e falava bem; Rodolfo

Felipe (dirigiu A Plebe muitos anos), João Navarro, um grande colecionador de obras, inclusive da Revista Blanca, que me deu de presente. Damiani, Felipe e Romero foram dos melhores jornalistas operários que o movimento anarquista já teve.

Conheci e soube de operários barbeiros, Amílcar dos Santos, Adalberto Viana (bom poeta libertário) Daniel Montalvão, Zacarias de Lima, e empregados no comércio Adelino Tavares de Pinho,(4) Antonio Duarte Candeias,(5) Atílio Pessagno, Aquilino Massena, F. G. Sousa Passos, (autor de vários opúsculos e deixou uma excelente obra inédita O Sentido Artístico do Anarquismo).

Pode juntar-se ainda outros pedreiros da anarquia, como Hilário Marques, (Caldeiro, fundador / diretor da revista A Sementeira, duas fases); Alexandre Zanella, José Rodrigues Reboredo (confeiteiro, tradutor de francês, espanhol e alemão); Júlio Gonçalves Pereira, João Castanheira, Joana Buelo (têxteis), Aníbal Dantas (correeiro), Virgílio Dall’ Oca, (taxista), Federico Kniestedt (vassoureiro, diretor de Aktión, Der Freie Arbeiter, Alarm em alemão, e em português, de O Sindicalismo e deixou textos para o volume Memórias de um Imigrante Anarquista, 157 páginas, Rio Grande do Sul.

Conheci pessoalmente Rafael Fernandez, amolador de tesouras e facas, em Porto Alegre. Nascido na Espanha veio menino para o Brasil. Nos últimos anos de vida muitos intelectuais iam na casa de Rafael, ouvi-lo falar, e só o conheciam como “El Paragüero”. Ajudou a fazer A Luta (2a fase) e vendeu jornais; também convivi com Margarida Barros, Virgínia Dantas, Elvira Boni, costureiras e soube de Teresa Nandes, Maria Rodrigues, Alfredo Vasquez, Alfaiate; Isidoro Augusto, marmorista; José Reis Segueira, corticeiro; Antonio José do Amaral, cocheiro; Balezário Pereira, carvoeiro e centenas e centenas de operárias/operários. Muitos nomes encontrei nas atas, na imprensa operária e no noticiário policial, acusados de subversão e só lutavam pela liberdade, pela Anarquia!!!

Estivadores como Manuel Campos, diretor de O Protesto, e algum tempo de A Plebe; o vidreiro Belmiro da Silva Jacintho, pescadores João Franco, e Jaime Rebelo; e o mineiro Valentim Adolfo João.

A maioria desses pedreiros da anarquia estudaram nos sindicatos e nos Centros de Cultura Social e aprenderam (sabiam) que Revolução é antes de tudo uma ideias, um sentimento, uma vontade cultural e sociológica; é trabalho e bem estar social distribuído eqüitativamente por todos, por cada um.

Que Revolução principia nos cérebros, evolui livremente fundamentada numa filosofia de vida generosa e positiva, baseada em sentimentos de solidariedade e ações que equilibram atitudes e movimentos, na harmonia que “funde” a natureza e o homem, que concebe e prepara personalidades profissional e emocionalmente para incorporar esforços e capacidades, caracteres bem formados, cidadãos tolerantes que aceitem seus companheiros como são e não como queriam que fossem à sua imagem e semelhança, capazes de produzir, participar, dar, receber.

Que Revolução consciente fomenta e desperta a grandeza de sentimentos, a solidariedade entre as pessoas, entre povos, cultiva todos os dias o Amor ao próximo, a Humanidade, com o mesmo carinho e seriedade como que cultiva a vida ao mesmo tempo em que demonstra que o anarquismo não é estático, evolui sempre até tornar o trabalho agradável para todos, cada vez mais produtivo, menos desgastante até a perfeição.

Que Revolução começa em cada cérebro humano!!!

Nos cinco volumes de Os Companheiros(6) evocamos 582 militantes (não consegui os nomes de todos os colaboradores) e destes menos de 2% eram intelectuais. Dos mais de 98% de trabalhadores braçais, de variadas profissões e ofícios, referenciados nos cinco volumes e neste texto, todos deram a sua colaboração ao anarquismo embasados nas ideias sindicalistas e libertárias.

Ainda assim estes artífices raramente são notados pelos que escrevem hoje revistas e livros, “demonstrando erudição acadêmica”...

E, no entanto, pedreiros da anarquia têm a sua História escrita com suor lágrimas, sangue e fome! Deixaram-na registrada em centenas de jornais, de manifestos, opúsculos, em atas, teses defendidas em Congressos libertários, alguns nas praças públicas e / ou nas portas das fábricas. E em certa medida acabaram com a ortodoxia política em locais de trabalho, em vigor nos anos 20/30.

Deixar apagar pelo tempo e pelo silêncio dos que escrevem hoje os construtores do palácio da anarquia é negar a igualdade do anarquismo.

★★★

A obra gigantesca dos carregadores de pedras no século XX, pretendendo edificar uma sociedade igualitária para todos, tantas vezes interrompida, e outras tantas “demolida” pelas autoridades irracionais,(7) usando leis que seus servidores (deputados e juristas) aprovavam para dificultar e punir com expulsões e prisões, sem julgamento aplicadas pelas mãos de seus policiais e soldados, “homologadas pela jurisprudência” brasileira de ilustres magistrados: coniventes e/ou silenciando, em forma de aprovação tácita.

Desde as últimas décadas do século XIX, e no começo do século XX, os governantes brasileiros anunciavam ofertas de emprego na Europa: queriam atrair mão de obra para “desmatar” e construir os 8.456.508 Km2 de terras que formavam o espaço geográfico Brasil.

Segundo Elias Iltcheco, anarquista russo, residente em Erebango, Rio Grande do Sul, que veio ainda criança com seus pais para o Brasil, as promessas de uma vida paradisíaca eram anunciadas na Europa.

A realidade era outra, no Brasil, as famílias dos imigrantes ficavam meses amontoadas em barracões, passando todo o tipo de privações.

Nesses anos distantes 38% da superfície do Brasil era coberta por matas. Os estabelecimentos industriais andavam na “casa dos 13.336; a indústria açucareira era de 217.000 e a salineira de 25.400. A produção industrial da ordem de 2.987.176 contos(8). A escala de desenvolvimento, para 13.336 estabelecimentos industriais existiam 648.153 estabelecimentos rurais.

Os trabalhadores fabris chegavam a 273.512 e os trabalhadores rurais, a cerca de 9.000.000. Entre os habitantes que viviam dos recursos da lavoura e os que viviam da indústria, as diferenças eram enormes.

A população do Brasil era da ordem de 30.635.605 habitantes(9).

A indústria ultrapassava a agricultura e precisava de operários para trabalhar nas fábricas de tecidos, e na construção civil. Salvo para cargas e descargas de navios nas docas de Santos, Rio de Janeiro e em outros portos de menor movimento de embarque e desembarque, o patronato queria mão de obra especializada para edificar moradias, estradas, carruagens, sapateiros, alfaiates, barbeiros, costureiras de roupas e sacos, gráficos, gente que soubesse fazer as quatro operações para o comércio, maquinistas, serviçais de hospitais, escolas (bem raras na época).

Atendendo a propaganda na Europa entre 1887 e 1957, chegaram ao Brasil 5.000.000 (cinco milhões) de imigrantes, sendo 32% de italianos, 30% de portugueses, 14% de espanhóis e 4% de japoneses.

Outras procedências como poloneses, franceses, japonesas, russos, ingleses e de países da América Latina, as quantidades eram menores e alguns entravam pela fronteira a pé.

Com a chegada dos egressos das fazendas às cidades em busca de trabalho agrava-se a pobreza e a questão social.

Quando a população do Brasil atingiu os 92.000.000 (noventa e dois milhões) de habitantes, 30.000.000 não tinham empregos fixos, as escolas não passavam de 12.801, sendo 34,7% públicas e 65,3% particulares; 55.430 professores, mais da metade leigos. Em 1950, existiam 1.538 jornais, 777 revistas, 499 boletins e folhetos, 68 almanaques. Segundo a Unesco, em 1965, as bibliotecas públicas eram de 5.577. Cerca de 40 milhões (1967/70) de seres humanos não tinham casas e o número de pessoas que não sabiam ler e escrever era imenso, inclusive imigrantes.

As rivalidades entre os trabalhadores no Brasil e os vindos de fora era grande: com os italianos e, maior com os portugueses (tinha dia de mata galegos), um pouco por conta da escravidão que os colonizadores lusitanos implantaram, embora essa abominável escravidão fosse igual à imposta em toda a América Latina, do Norte e África, e os imigrantes nada tinham com essa indignidade.

O patronato explorava os operários como se fossem máquinas ou produtos descartáveis, independente dos seus países de nascimentos.

★★★

Ignorando o que lhes esperava em terras brasileiras, os imigrantes ao encontrar- se com a realidade social e política, sentiam-se enganados pela propaganda dos agenciadores de mão de obra na Europa: o Eldorado que lhes haviam prometido era uma mentira capitalista. A Igreja e o Estado pelas mãos e os cérebros de seus preclaros fabricantes de leis, tinham uma imaginação fertilíssima para enganar e escravizar os trabalhadores na generalidade, penalizando mais os mineiros (vítimas da selicose), dos cafezais sujeitos à malária e os estivadores carregando nas costas sacas de 50, 100 e 150 quilos de grãos de café, laranjas, carnes congeladas e outros produtos, correndo das carroças estacionadas no cais, subindo e descendo estreitas pranchas de madeira até os porões dos vapores cargueiros ancorados nas docas de Santos. Nesta época as carroças que transportavam as mercadorias da estrada de ferro até ao cais não tinham estribos: os cocheiros corriam pelo chão segurando os arreios acompanhando o trotar dos cavalos, guiando-os.

Nestes serviços extenuantes o número de operários tuberculosos era alarmante em Santos. Diariamente procuravam o hospital da “Santa Casa” dezenas de trabalhadores votando golfadas de sangue pela boca(10) e morriam pouco depois.

Os imigrantes, principalmente, contestavam os exploradores de 16 a 10 horas, dia de trabalho, entre segunda e sábado, e aos domingos até meio dia, transformando gente de 30/40 anos de idade em velhos que logo logo descartavam.

Com o propósito de reverter esta situação, os imigrantes recorriam à ajuda mútua praticando o conhecidíssimo velho hábito de: Um por todos e todos por um!

Nesses anos distantes os operários rebelavam-se “esparsamente”...

Em Minas Gerais, os fundidores de ouro declaravam-se em “greve” no mês de julho de 1720.

Na Bahia, os alfaiates abandonavam o trabalho em 1782 e no Rio de Janeiro, no ano de 1791, os operários da “Casa das armas” deflagraram greve.

A questão social penalizava os egressos das fazendas e os imigrantes que ainda tinham contra eles a adaptação e muitos nem falavam português. A Igreja, sempre na vanguarda, como amortecedor servindo a burguesia e ao Estado, resolveu criar a casa dos vinte e quatro para associar, orientar, dominar os operários insubmissos.

Quem primeiro discordou foram os tanoeiros, cerieiros, ourives, lapidadores, cordoeiros e parte dos sapateiros não aceitando submeter-se à casa dos vinte e quatro, às ordens da Igreja(11).

Em Niterói, começa a publicar-se “O Anarquista Fluminense”, no ano de 1835; em 1845 “O socialista da Província do Rio de Janeiro”; em 1847 aparece “O Proletário” em Pernambuco; no ano seguinte (1848) “O Grito Anarquial” e no Rio de Janeiro(12) ouve-se ao longe A Voz dos Operários.

A tiragem dessa imprensa socialista, libertária e de combate era pequena e saía quando podia. Não tinha subvenções nem as doações de universidades hoje para formar doutores. A distribuição era de mão em mão entre companheiros de ofícios, enquanto a Igreja Católica, sempre poderosa, apoiada pelo governo, pressionava e ainda “convenceu” alguns operários, como barbeiros de barbear, barbeiros de guarnecer espadas, fundidores de cobre, funileiros, serralheiros, forradores, douradores, bate-folhas, espingardeiros e cuteleiros adotar São Jorge como patrono de suas associações de classes.

Nesta ordem São Miguel “protegia” sete profissões; São Crispim, quatro; Nossa Senhora da Conceição, três; Nossa Senhora das Mercês, seis; Santa Justa e Santa Rufina, três; São José, cinco; São Gonçalo, cinco; Senhora das Oliveiras, cinco; Senhora das Candeias, quatro e Senhora da Encarnação, três, carpinteiros de móveis, entalhadores e coronheiros.(13)

★★★

Os brados de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa ouvem-se ao longe. Os Congressos da Associação Internacional dos Trabalhadores (1866), o impacto da Comuna de Paris (alguns refugiados pediram exílio no Brasil), e a declaração de greve geral em Nova Yorque (1871) anunciavam os novos tempos para o proletariado. Produz eco, na Europa e na América, a greve geral de 1° de maio de 1886, resultando no enforcamento de 5 anarquistas em 1887, passando a história com o nome de Mártires de Chicago.

No Brasil, 1888 marcava a “libertação” oficial dos escravos e em 1892 publica-se, em São Paulo, o periódico anarquista Gli Shiavi Bianchi (em italiano), dirigido por Galileu Boti, e em italiano e português (1893) L'Avvenire e mais sete periódicos, divulgando anarquismo, sob orientação de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, todos operários de mãos calejadas.

No ano seguinte (1894), na rua Líbero Badaró, 110, São Paulo, o anarquista Artur Campagnoli (fundador da Comunidade Libertária de Guararema) com meia dúzia de companheiros de ideias, reuniram-se para organizar as comemorações do 1° de maio no Brasil e foram presos por “sugestão” do Cônsul italiano (delação).

Quatro anos depois os operários Antônio Costa, Joaquim Ribeiro Guimarães e Antônio José do Amaral, cocheiros de profissão, de origem portuguesa, lideraram a greve da sua classe (1898) e a polícia prendeu-os(14), por atentar contra os “direitos da burguesia”, ignorando os direitos dos trabalhadores.

Neste 1898, o Almanaque de Pernambuco publicou um Decálogo dos Anarquistas e estourou como uma bomba o livro Anarquismo de autoria do Juiz da Corte de Halle, Dr. Paul Eltzbacher(15).

Os “estilhaços” tiveram mais impacto na Europa, mas o Brasil também sentiu o “estrondo”...

Os Pedreiros da Anarquia vinham formando grupos e centros de instrução e educação libertária, “trabalhando as pedras” que ao longo do século XX suportaram perseguições, punições, leis encomendadas pela burguesia, seguidas de expulsões, deportações, prisões, torturas policiais(16). E foi assassinado, em São Paulo, o anarquista italiano Polinici Mattei, no dia 20 de setembro de 1898, durante manifestações na praça pública(17).

O crescimento da indústria em nada melhorou a vida do proletariado: agravara- se pela avareza patronal, o desemprego e a repressão policial.

As necessidades do patronato de contratar empregados que soubessem ler e escrever também não mudou o panorama do analfabetismo: milhares e milhares de trabalhadores não sabiam ler, e os que sabiam, a maioria não faziam as quatro operações e muitos só assinavam o nome.

Para enfrentar a falta de escolas alfabetizadoras das camadas mais pobres brasileiras e, dos imigrantes que também não puderam freqüentar as escolas nos seus países de origem, os operários mais lúcidos e com algumas luzes de ensino, iniciaram a implantação de escolas livres, racionalistas, seguindo o exemplo do espanhol Francisco Ferrer y Guardia, nos anos distantes de 1901.

Dentro das Associações Operárias e depois sindicatos, nos Centros de Cultura Libertária, nas sedes dos grupos de teatro amador (muito desenvolvidos pelos anarquistas e socialistas) e, até fora destes, formaram-se escolas, com salas modestas, improvisadas, para alfabetizar os operários, e seus filhos, inicialmente e, depois prepararam-nos em cursos profissionalizantes, de sociologia, de jornalismo prático e de ideias anarquistas.

O sustento dessas salutares iniciativas era por cotizações voluntárias para quem não podia, e fixadas para quem tinha melhores condições salariais.

Todo o esforço direcionado no sentido de instruir e tornar cada operário um elemento produtivo, útil ao seu meio, capaz de se autogovernar sem chefes, enquanto ia ajudando e ensinando os que sabiam menos: eram aprendizes e professores ao mesmo tempo. Aprendiam ensinando conhecimentos gerais, sociológicos, história universal, conceitos de igualdade social e solidariedade humana.

Foram muitas as escolas livres, racionalistas em todo o Brasil. Exemplificamos essa iniciativa com os “Estatutos da Sociedade Pró-Ensino Racionalista” de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (1916).

A Escola Moderna destina-se à difusão do ensino racionalista(18), isto é, procurará dar a todos um conhecimento exato da história, da ciência e da filosofia, de tal forma que, o homem, pelo livre exame, compreenda que é um valor positivo no seio da humanidade e que esta, pela perfeição moral, ética dos indivíduos, tenderá para um estado social de harmonia, justiça e liberdade, tão completo quanto mais completa e elevada for à educação de cada um.

Embasando este intróito, lê-se no texto, Artigo 1°, parágrafos: “d) criará uma biblioteca de obras escolhidas, especialmente destinadas à educação e ensino das classes populares; e) procurará desenvolver entre o povo os sentimentos de solidariedade e confraternização; g) combaterá todo o preconceito religioso, científico, filosófico, político ou social que pretenda limitar o espírito investigador do homem”.

Dentro das contradições políticas e intelectuais (hoje é pior) os pedreiros da anarquia desenvolviam sua propaganda libertária, sustentavam embates com reacionários exploradores e com a experiência que iam adquirindo argamassavam uma obra gigantesca, reduto de resistência que sobreviveu todo o século XX, as investidas do patronato, da Igreja, dos governantes, às duas ditaduras, (1930/1945 e 1964/1985) estados de sítio, campos de concentração, tribunais militares e aos comunistas que a partir de 1922, passaram atacar seus companheiros da véspera, atropelando-os financiados pela 3ª Internacional de Moscou. Entraram no século XXI, contrariando as autoridades irracionais, das direitas, das esquerdas e as críticas de alguns acadêmicos.

★★★

Em nossa breve introdução, demonstramos o ambiente político e social encontrado no Brasil pelos pedreiros da anarquia e falamos de mais alguns(19) protagonistas de um século de lutas pela emancipação social que ganhou voz, formou eco, fez-se ouvir pela burguesia, a Igreja e os governantes, sacudindo-lhes as teias de aranha que anquilosavam os cérebros dos políticos, juristas e acadêmicos embalados nos cargos vitalícios, nos cartórios, ministérios, embaixadas, no parlamento, na magistratura e outros...

E como nem antigamente e nem hoje se implantam cérebros sadios, abastecidos de lucidez suficiente para perceber que a questão social mais adiante ficaria incontrolável por força dos conflitos econômicos, classistas, empáfias culturais das camadas mais abastadas, recaindo o ônus dessa “cegueira política” sobre o povo marginalizado, mal alimentado, embotado pela fome má conselheira, analfabeto em sua maioria e/ou de poucas letras e menos raciocínio, vendo-se nesta deplorável demonstração os elementos do afogamento no alcoolismo, nas drogas entorpecentes, alucinantes, geradas na desigualdade, na discriminação, envolvendo disputas, etnias, nativismos, a violência, os atentados, as guerras intermináveis.

Para proclamar que não estavam de acordo com esse estado de coisas, os pedreiros da anarquia pleiteavam a redistribuição das riquezas naturais e das produzidas pelo trabalho produtivo de todos, em benefício de todos e de cada um.

E para demonstrar que também queriam a paz, três(20) anarquistas residentes no Brasil foram, em 1915, participar do Congresso Pró-Paz, organizado pelo Ateneu Sindicalista do Ferrol, Espanha. O alvo era a guerra de 1914-1918, mas quando entraram na Galiza, a polícia do rei Afonso XIII, a mesma que tinha prendido, maltratado e fuzilado o fundador da Escola Moderna em 1909, Francisco Ferrer, com ajuda de D. Antônio Maura e outros verdugos, prendeu os três delegados do anarquismo do Brasil e expulsou Deoclécio Fagundes (Theofilo Ferreira) e Astrojildo Pereira pela fronteira de Portugal, e assassinou João Castanheira.

A notícia do crime da polícia do rei Afonso XIII chegou rapidamente ao Rio de Janeiro e os anarquistas fizeram um estrondoso comício no Largo de São Francisco de Paula, seguido de passeata até a embaixada espanhola na então Capital da república brasileira.

Abriu a comício João Gonçalves da Silva e encerrou-o a operária têxtil, companheira de João Castanheira, Juana Bulle e o operário alfaiate de origem portuguesa, Joaquim Leal Júnior, um dos mais fluentes e vibrantes oradores do anarquismo no Rio de Janeiro.

No ano de 1920, quando o operário João Plácido de Albuquerque saiu do Pará para representar sua classe no “3° Congresso Operário Brasileiro”, realizado na rua do Acre, 19 - Rio de Janeiro, a polícia brasileira também o assassinou durante a viagem de navio.

Estas e outras baixas infringidas pelas autoridades não impediram que os pedreiros da anarquia continuassem a luta que fez história dentro da história geral em terras brasileiras. E foram tantos? Registramos hoje Alzira Werkauser (costureira), Aldino Agottani (camponês), Aurora Novoa Lozano (costureira), Alfredo Dusi (camponês), Antônio Gomes (tintureiro), Armando Bartolo (tecelão), Antônio Fernandes (canteiro), Aureliano Silva (pintor), Alexandre Zanella (metalúrgico), Antônio Silva Massarelos (estivador), Alexandre Azevedo (têxtil), João Rocco, Benedito Romano, Nicola Dalbencio, José Páparo, Justino Salgueiro, José Pazanini, Salvador Arrebola, Eduardo Peralta e Manuel Trubilhano, todos operários anarquistas.

Alguns escreviam na imprensa libertária, outros organizavam e sustentavam associações operárias, contribuíam para editar jornais, distribuíram-nos, pagavam com seus tostões a impressão, aluguéis dos centros de cultura, das sedes de grupos de teatro libertário, compravam livros ácratas, formavam bibliotecas em casa, ajudavam uns aos outros em casos de desemprego, acidentes no trabalho e quando algum companheiro era preso, deportado ou expulso do Brasil por defender e lutar por suas ideias revolucionárias.

Dir-se-á que cada um dos nomes referenciados eram ao mesmo tempo produtores e carregadores das pedras para construir o palácio da anarquia!

Nessa obra edificadora trabalharam também Anastácio Gago (pintor), Adelaide Diz, Antônio José do Amaral (cocheiro), Atílio Gallo (chapeleiro), Antônio da Costa Carvalho (gráfico), Antônio Monteiro Júnior (tipógrafo), Antônio Napilinsky (sapateiro), Antônio Lopes (tecelão), Antônio Manno (barbeiro), Amélia Garrido, Antônio Correia Barbosa (carroceiro), Alcides da Silva (taifeiro), Aida de Morais (costureira), Anunziatta Miranda (têxtil), Belizário Pereira de Souza (carroceiro), Benedito Abreu (alfaiate), Belmiro da Silva Jacintho (vidreiro), Catalice Silva Greco (costureira), Clotilde Duarte (costureira), Pedro Monreal (barbeiro), Daniel Conde (sapateiro), Davina Fraga (costureira), Delfim José de Castro (pedreiro), Elvira Boni (costureira), Francisco Rubio (barbeiro), Francisco Diz (pedreiro), Francisco de Paula (marceneiro), Francisco Mércia (chapeleiro), Ferdinando DAllô (funileiro), Francisco Peralta (pedreiro), Fritz Kock e Georg Sterbeck (tecelões), anarquistas, nascidos na Alemanha, por participarem de greve na Empresa Industrial Garcia, de Santa Catarina, foram presos, expulsos do Brasil em 13 de julho de 1920, sem “carregar as pedras” que se esperava deles...

★★★

Resumindo um século de serviços prestados pelos imigrantes, os pedreiros da anarquia, edificadores de pedaços do Brasil, produtores de alimentos, panos/roupas, calçados, construíram casas, estradas, pontes e carruagens para a burguesia, universidades para os acadêmicos, formaram associações e sindicatos para reunir seus companheiros de ofício, alfabetizar-se, e a centenas de filhos dos operários, e ainda disseminaram cultura sociológica, história social e anarquista.

No período de maior intensidade deflagrou 270 greves; realizaram 80 comemorações, 119 comícios públicos; 22 grandes passeatas de protesto e de reivindicação; 27 assembléias deliberativas de alto significado fundaram, dirigiram e sustentaram dezenas de escolas de alfabetização, artes e ofícios (além dos grupos de ensino avulso, periódico), chegaram a ter uma universidade popular (esta no sindicato dos pintores à rua da Constituição, 47, sobrado, no Rio de Janeiro, 1904, com ajuda de alguns intelectuais) e outra universidade em São Paulo no ano de 1915 (esta organizada pelo autodidata Florentino de Carvalho).

Ao todo realizaram 12 congressos estaduais para discutir e traçar os rumos do movimento operário; 7 nacionais e participaram de 5 congressos internacionais, sendo 2 no Rio de Janeiro, ano de 1915, 1 na Argentina, 1 no Uruguai, 1 no Ferrol, Espanha, 1 em França no final dos anos quarenta.

Aos anarquistas e anarco-sindicalistas coube a tarefa de formar 4 colônias experimentais, 14 comunidades de atividades diversas, 55 grêmios e centros de cultura social, 99 uniões operárias, 4 alianças, 70 cooperativas de socorros mútuos, 1 confederação com mais de 150 mil trabalhadores filiados; 26 federações; 29 grupos anarquistas por afinidade; 59 ligas trabalhistas; várias bibliotecas; cerca de 200 sindicatos; 21 grupos de teatro social, libertários e escolas dramáticas, representando cerca de uma centena de dramas, comédias e realizaram 42 cursos de muito alcance instrutivo, cultural e profissionalizantes.

O autor contou, entre jornais operários e libertários, 5 diários(21), semanários, quinzenários, mensários e periódicos, revistas, volantes e prospectos de propaganda ideológica cerca de dois milhares(22), e salvo umas dezenas de exceções, inicialmente a maioria dos trabalhadores eram analfabetos e/ou só sabiam ler e escrever. Só uns poucos tinham boa cultura geral. E ainda formaram e dirigiram cerca de 20 pequenas editoras e grupos formados para publicar opúsculos, pequenos livros e panfletos, num total de meia centena.

Em meu livro Rebeldias 2 registrei (e não foram todos) 109 colaboradores na imprensa ácrata, e só em A Voz do Trabalhador (1908-1915), órgão da Confederação Operária Brasileira 48 militantes (homens e mulheres) anarquistas escreviam em suas páginas.

Nos anos 1910 e 1920 muitos operários já tinham vencido a falta de instrução das escolas oficiais e adquirido conhecimentos culturais invejáveis nos sindicatos, nos centros de cultura e nas escolas de teatro social, eram formados na universidade da vida. Escreviam poesias revolucionárias, romances, obras de ideias avançadas, de história, dirigiam jornais como se jornalistas profissionais fossem. J. Marques da Costa, João Perdigão Gutierrez, Manoel Moscoso, Lírio de Rezende, Cecílio Vilar, Rozendo dos Santos e Joaquim Mota Assunção, entre outros.

Joaquim Mota Assunção nascido em Portugal, cocheiro de profissão e depois gráfico, em 1903, lançou o jornal O Protesto, participou da Universidade Popular, de 1904, no Rio de Janeiro, escreveu peças de teatro e obras entre as quais, Analfabetos Ilustres, tudo ainda na primeira década do século XX.

Antonino Dominguez(23), Ricardo Cipolla(24) e Pedro Catalo falavam como tribunos e não eram os únicos.

Dos anarquistas foi a tradução do hino A Internacional. Desde 1901 vivia em São Paulo Neno Vasco, formado em direito pela Universidade de Coimbra. E foi ele quem traduziu a A Internacional na primeira década do século XX.

Em 1999, o plagiador promotor de justiça e professor na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Carlos Henrique Maciel, fez uma versão e registrou-a como dele alegando mentirosamente que em “língua brasileira” A Internacional não havia ainda sido traduzida.

Somando-se a gigantesca obra dos pedreiros da anarquia, já referenciada, à obra dos lutadores, a maioria esquecidos, foram os anarquistas os responsáveis pelas 8 horas de trabalho diário, descanso aos domingos e feriados, seguro de acidentes no trabalho, recebimento dos salários em dia marcado, em dinheiro (antes muitos patrões pagavam quando queriam e em vales para comprar comida, mais cara em suas lojas), a solidariedade que hoje se banalizou, os anarquistas agilizaram-na durante as greves, para ajudar companheiros desempregados e presos, publicar imprensa ácrata, fundar e manter escolas e grupos de teatro, reunir fundos e prestar auxílio a companheiros doentes (nesses anos distantes não havia institutos), “preparar” operários na arte da linguagem, nos palcos dos sindicatos, e ainda servia como festas para dar um pouco de lazer/alegria a família trabalhadora. Contestaram na primeira década do Século XX o idioma português imposto pelos acadêmicos brasileiros (veja-se os jornais O Amigo do Povo e A Terra Livre - São Paulo, 1903-1910).

Lutaram e conseguiram abolição das agressões físicas a mulheres e aprendizes nas indústrias; a implantação de lugares para trocar de roupa e comer nas fábricas e oficinas, banheiros para os operários/operárias fazerem suas necessidades fisiológicas e lavar-se; recusaram pagar (tecelões e outros) os panos que estragassem e/ou ter de ficar com eles pagando-os.

E opuseram-se também às determinações patronais das operárias grávidas nas fábricas de tecidos ter de trabalhar até a hora do parto, ir em casa ter os filhos e voltar ao serviço com os recém nascidos dentro de uma caixa de papelão e colocá-los no chão, junto dos teares.

Foram ainda os responsáveis pela abolição do uso do chapéu, por ser anti-higiênico; dos açucareiros abertos nos botequins (antes serviam de repasto às moscas). Nessa época não existiam os frigoríficos e os anarquistas fizeram campanha para que carne e peixe só pudessem ser vendidos até as 14 horas (quem não o conseguia, depois dessa hora, vendia aos operários por menos da metade do preço fixado para que a saúde pública não jogasse as sobras fora). Os anarquistas bateram-se pela implantação do saneamento, contra o serviço militar obrigatório (em 1907 o português Joaquim Mota Assunção e o brasileiro Eloy Pontes), lançaram o jornal Não Matarás. Fizeram campanhas contra o armamento e as guerras, inclusive com postais “Guerra ou Guerra”; propagavam a procriação consciente (hoje família programada). Foram os anarquistas os primeiros a realizar bailes familiares para trabalhadores; proferiram conferências para operários; campanhas contra o alcoolismo e o tabagismo (cigarros-fumadores); combateram tenazmente a carestia da vida e conseguiram do presidente Wenceslau Brás, as feiras livres para vender diretamente os produtos sem impostos, durante a guerra de 1914-1918, e continuou... hoje depreciada.

Formaram a Editora Mundo Livre, por cotas, a nível de Brasil, em forma de cooperativa, fundada no Rio de Janeiro nos anos sessenta (publicando 5 ou 6 livros) e só acabou por força da invasão dos militares em 1969, durante a ditadura (1964-1985). E porque não falar: fundaram, e vive desde 1939 até hoje, Nossa Chácara e depois Nosso Sítio em São Paulo!

Não tenho a veleidade de pensar que registrei tudo que os anarquistas realizaram num século de atividades libertárias no Brasil. Mas posso assegurar que fizeram muito!!!

Agora que não existem mais militantes analfabetos para ensinar. Que a tecnologia é imensa se comparada com o antigamente: Internet, meios sofisticados de comunicação, e locomoção. E acadêmicos escrevendo teses de doutoramento usando a obra dos anarquistas, podem realizar simpósios, colóquios, discutir e fazer reparos, nem sempre justos, a obra dos operários de poucas letras, é oportuno lembrar que já entramos no século XXI, sem leis de expulsão, de deportação, nenhum anarquista preso ou perseguido pelas autoridades e as igrejas “toleram-nos”...

O anarquista pensa em mais de 50 milhões (só no Brasil) de desnutridos, marginalizados, sem instrução suficiente, moradias dignas, ocupações profissionais; pensa nas diversidades humanas, numa educação e profissionalização racional, capaz de ajudar cada indivíduo a fazer o que pode e sabe, afim de obter da coletividade aceitação, tudo de que precisa. Pensa também e aceita cada ser humano como é e não como se queria que fosse, a imagem e semelhança dos mais preparados.

O anarquista terá de educar e preparar cada indivíduo para que este possa conviver em harmonia com as diversidades humanas, adotando a estrofe da Internacional: “não mais deveres sem direitos; não mais direitos sem deveres”, ou então: “a cada um segundo as suas necessidades; de cada um segundo suas possibilidades”.

Não podem esquecer que teremos de consolidar as bases humanas, grupos coerentes, anarquistas! Filiá-los em federações locais, regionais, nacionais formando um movimento de “alicerces” educacional e ideologicamente sólidos de baixo para cima.

De cima para baixo é política! E desta estamos todos fartos!

É, portanto, a hora de meter as mãos a obra, e sem desculpas de que existe uma grande diversidade de pessoas, fazer mais e melhor do que os pedreiros da anarquia fizeram durante o século XX.


Notas de rodapé:

(1) Esta denominação tomei-a “emprestada” do médico e anarquista Fábio Luz. Segundo este produtivo escritor e militante, após ler Palavras de um Revoltado, de Kropotkine, tornou-se um defensor do que chamava “O palácio da Anarquia, sempre de portas abertas para entrar e sair quem quisesse”. (retornar ao texto)

(2) Os anarquistas não viam com bons olhos as greves por aumentos salariais, pois quase sempre originavam aumentos de custo de vida e eternizavam a pobreza. Os anarquistas advogavam o fim do salariado, patronato, e o trabalho em autogestão: o fim do Estado que seria também o fim do capitalismo. (retornar ao texto)

(3) Italiano, anarquista, plantava cebolas em Sorocaba; deu aos seus filhos/filhas, os nomes de Anarquia, Progresso, Liberdade, Harmonia, Aurora, Círio, Germinal e Espártaco de Caria. Conheci Anarquia de Caria, companheira de João P. Gutierrez. (retornar ao texto)

(4) Autor de vários opúsculos como Quem não trabalha não come e fundador/professor da Escola Moderna 2, São Paulo. Viveu dando aulas até ter fechada sua escola em 1919. Depois foi dar aulas de ensino livre no interior de São Paulo. (retornar ao texto)

(5) Autor com Edgar Leuenroth do livro O que é Maximalismo ou Bolchevismo, 1919. Antônio Duarte Candeias usou o pseudônimo de Hélio Negro. (retornar ao texto)

(6) O 1° e 2° volumes foram editados no Rio de Janeiro por Editores Associados, 1994, e o 3°, 4° e 5° pela Editora Insular, Santa Catarina, 1997. (retornar ao texto)

(7) Distingo aqui “autoridade irracional”, invento dos servidores do Estado, expressão da violência, da desigualdade social, das guerras; da “autoridade racional”, formada pela razão, pela inteligência, pelo saber, pelo raciocínio refletido, humanista, igual para todos. (retornar ao texto)

(8) Ver Pedro Calmon. História da Civilização Brasileira. São Paulo, Brasiliana, s.d. (retornar ao texto)

(9) Idem. (retornar ao texto)

(10) O médico Ranulpho Pratas, em seu excelente livro romanceado, Navios Iluminados, demonstra com detalhes minuciosos que no século XX, nas Docas de Santos, existia uma escravidão sangrando pulmões operários, em plena república brasileira. (retornar ao texto)

(11) Ver Edgar Rodrigues. Socialismo e Sindicalismo no Brasil - 1675-1913. Rio de Janeiro, Editora Laemmert, 1969. (retornar ao texto)

(12) Idem. (retornar ao texto)

(13) Idem. (retornar ao texto)

(14) Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 16-3-1898. (retornar ao texto)

(15) Um dos mais cultos anarquistas portugueses da Ilha da Madeira, o poliglota Adriano Botelho, confessou-me, em carta, que o primeiro livro que leu ao chegar em Lisboa, foi Anarquismo, do Dr. Paul Eltzbacher. (retornar ao texto)

(16) No início do século XXI, com novas tecnologias, a internet, etc., os anarquistas acadêmicos e outros, até 2005, não saíram das avaliações da obra do século XX.(retornar ao texto)

(17) Ver Edgar Rodrigues. Os Companheiros - 5. Santa Catarina, Editora Insular, 1998. (retornar ao texto)

(18) Não é demais, hoje, dizer-se que enquanto o ensino oficial fala à memória e o aluno decora as matérias repetindo-as como um gramofone; o ensino racionalista (dos anarquistas) fala ao cérebro, à razão, à inteligência, ao raciocínio, despertando e desenvolvendo a opinião própria do estudante, sobre o que vê, ouve, é lhe ensinado, formando uma personalidade pensante. No ensino oficial o aluno decora e repete o que ouviu; no ensino racionalista, o aluno pensa, define o que lhe ensinaram e forma sua convicção refletida, própria! (retornar ao texto)

(19) Os operários militantes, sindicalistas revolucionários e anarquistas, em todo o território brasileiro, ultrapassaram a milhares e não cabem todas as suas realizações em dois textos. Um dia, quem sabe, voltarei ao assunto. (retornar ao texto)

(20) Deoclécio Fagundes (Theofilo Ferreira), Astrojildo Pereira e João Castanheira. (retornar ao texto)

(21) Voz do Povo. Rio de Janeiro, 1920; A Plebe. São Paulo, 1919; Vanguarda Operária. São Paulo, 1921; A Lanterna. São Paulo, 1901/1904; A Hora Social. Recife, 1919. (retornar ao texto)

(22) Não tenho a pretensão de ter encontrado todos os títulos de jornais. (retornar ao texto)

(23) Antonino Dominguez nasceu na Espanha. Operário sapateiro, anarquista, foi assassinado pelos “Rapazes da Tcheka”, Pedro Bastos (Galileu Sanches) e Eusébio Manjon, orientados por Astrojildo Pereira, José Elias da Silva, João da Costa Pimenta, Octávio Brandão e o deputado pelo P.C.B. Azevedo Lima, na noite de 13 ou 14 de fevereiro de 1928, no sindicato dos gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro. Ver Edgar Rodrigues. Os Companheiros. Vol. 1. Rio de Janeiro, 1994. (retornar ao texto)

(24) Ricardo Cipolla, operário sapateiro, tornou-se um dos amigos do jornal A Plebe, e com outros, em São Paulo, formou o Centro Libertário Terra Livre, nos anos de 1921­1922, para angariar recursos para o jornal e organizou um espetáculo teatral no Salão Leal Oberdan no dia 31 de dezembro de 1922: um sujeito que andava entre os anarquistas e queria ser policial, espanhol de nascimento, Indalécio Iglesias, matou Ricardo Cipolla a tiros no palco, durante o baile que encerraria a representação teatral beneficente. Ver Edgar Rodrigues. Os Companheiros. Vol. 5. Santa Catarina, 1998. (retornar ao texto)

Inclusão 29/09/2018