“Tô no Vermelho” canta a alegria e chama pra luta

José Carlos Ruy

2 de março de 2019


Fonte: https://vermelho.org.br

HTML: Fernando Araújo.


A garoa de São Paulo não impediu a festa que foi a escolha das melhores marchinhas deste ano.

Os versos irônicos e certeiros de "É 'nóis' Queiroz!", de Edu Batata animaram a abertura do carnaval na quinta-feira (28) na praça D. José Gaspar, atrás da biblioteca Mario de Andrade, no centro de São Paulo.

Foi ali que ocorreu a edição deste ano do concurso de marchas de carnaval do bloco Tô no Vermelho – que foi vencido justamente por esta marchinha bem humorada e que acertou em dois alvos, o coração dos foliões e a conjuntura política. Como toda boa marchinha de carnaval que, historicamente, tem o traço duplo de conquistar os carnavalescos e fazer a rítica ferina do comportamento daqueles que detém o poder.

O bloco Tô no Vermelho faz parte igualmente desta tradição brasileira, de brincar com coisas sérias. Criado em 2012 por militantes do Partido Comunista do Brasil, entre eles o músico Fernando Szegeri, o cineasta Vandré Fernandes e o jornalista Fernando Borgonovi. reúne figuras importantes do samba, como Arthur Tirone (o Favela) e a cantora e jornalista Railídia Carvalho, entre outras pessoas.

O nome do bloco lembra o portal Vermelho, e permite uma leitura ambígua que reflete o espírito do carnaval – estar no vermelho tanto pode significar estar bem informado como estar sem dinheiro.

Os jurados nesta 8ª edição do concurso de marchinhas de carnaval de Tô no Vermelho tiveram trabalho. As concorrentes eram ótimas. Havia entre elas "Tô no Vermelho mas tô bem do coração", de Renê Sobral. "Nós avisamos", de Helio Guadalupe se divertiu com as patacoadas da ministra Damares Alves e de assessores do presidente Jair Bolsonaro: "Aí aí meu Deus / Eu vi Jesus trepar na goiabeira / Aquele assessor sumido vive sorridente / Também depositou pro Presidente". A homofobia e o nacionalismo de fachada foram o mote da marchinha "Tô no Vermelho", de Mestre Braz, que denunciou: "O presidente quer a ditadura / mas nosso povo / não foge à luta", concluindo no refrão: "quero mais educação / não quero armas / quem ama não faz guerra".

O próprio bloco foi tema de uma das marchinhas vencedoras, "8 carnavais com gosto de quero mais", de Jandyr, que cantou a história desde a fundação em 2012. "Este menino sapeca não vai deixar a peteca cair / há de vir crescer e todo mundo ver sua metamorfose / acontecer ao som de samba de enredo, marcha, frevo e outros mais".

Para provar que o carnaval, na alegria, é coisa séria, José Rodrigues, em "O carnaval de Lampião" denunciou a ganância do capital, que "saqueia o nosso chão. / E ouro minério bauxita./ Irresponsável, ganham muita grana / depois matam nosso povo na lama", em desastres como os de Brumadinho e Mariana. Alerta: "Seu Moro o Brasil / não é casa de mãe Joana", e chama para a luta: "Mas vem pra rua / minha gente se junte / ao bando dos cangaceiros / Que pede justiça em geral para o povo Brasileiro".

Prá não dizer que as marchinhas só falaram de política e desastres que afligem os brasileiros, o tema de Luís Henrique Argentieri Cunha em "Felicidade de Fevereiro", foi justamente a alegria e a festa, em meio mesmo a uma realidade tão adversa. "Eu esperei o ano inteiro / Em fevereiro o triste se findou / Gritando 'viva' na avenida".

Mas o tom geral de Tô no Vermelho sob a persistente garoa de São Paulo, foi mesmo dado pelo humor certeiro de "É 'nóis' Queiroz!", contra um governo de direita, antinacional e antipopular, que, na eleição de 218, conseguiu enganar a tanta gente.

"Cadê o tal Queiroz / Sumiu ninguém sabe ninguém viu". "Tô no Vermelho aqui / pra perguntar / cadê o Queiroz? E por aí vai…


Inclusão: 12/11/2021