Que Demonstram Nossa Greves Recentes?

J. V. Stálin

2 de Março de 1908


Primeira Edição: “Gudók” (“A Sirena”), n.° 21. 2 de março de 1908.
Fonte:J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 101-103, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
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As greves de janeiro-fevereiro apresentaram-se com algumas -características particulares, que introduzem em nosso movimento elementos novos. De uma dessas características — natureza defensiva das greves — já se falou no Gudók. Mas é uma característica externa. Muito mais importantes são as outras, as intrínsecas, que projetam uma luz vivida sobre o desenvolvimento de nosso movimento. Pretendemos falar da natureza das reivindicações, dos meios com que as greves são conduzidas, dos novos métodos de luta, etc.

A primeira coisa que salta aos olhos é o conteúdo das reivindicações. É característico o fato de que uma parte considerável das greves não reivindicam gratificações (Nobel, Motovilikha, Mólot, Mirzóiev, Adámov, etc.). E onde as exigem, os operários procuram pôr essas reivindicações entre as últimas, envergonhando-se de lutar só pelo “bakchich” (Pitóiev, etc.). É evidente que está sucedendo um sério rompimento com os velhos preconceitos do “bakchich”. O “bakchich” começa a perder o valor aos olhos dos operários. Das reivindicações pequeno-burguesas (gratificações), os operários passam às reivindicações proletárias: afastamento dos administradores mais insolentes (Nobel,'Mólot, Adámov); readmissão dos companheiros dispensados (Mirzóiev); extensão dos direitos da comissão de oficina e de poço (Nobel, Mirzóiev). Sob esses aspecto é particularmente interessante a greve dos mestres da Mirzóiev(1). Pedem estes que a comissão seja reconhecida e que seus companheiros dispensados sejam readmitidos, como garantia de que a firma doravante não dispensará um único operário sem o consentimento da comissão. A greve continua já há duas semanas e é dirigida com uma firmeza inusitada. É preciso ver-se esses operários, é preciso saber com que altivez dizem eles: “não lutamos por gratificações ou por uma toalha e um pedaço de sabão, mas pelos direitos e a honra da comissão operária”; é preciso conhecer tudo isto, digo, para se compreender que mudança operou-se nos cérebros dos operários.

A segunda característica das últimas greves é constituída pelo despertar e pela atividade da massa dos operários dos poços. Na realidade, até agora os operários dos poços eram constrangidos a seguir os operários das oficinas, e nem sempre os seguiam de boa vontade, e sozinhos haviam-se movido unicamente para obter gratificações. Além disso, nutriam uma certa inimizade aos operários das oficinas, alimentada pela política provocadora dos “bakchich”, seguida pelos industriais do petróleo (sociedade Bibi-Eibat o ano passado, Lápchin há pouco tempo). As últimas greves mostram que a passividade dos operários dos poços já é coisa do passado. Foram estes que deflagraram a greve da Nobel (janeiro), arrastando a reboque os operários das oficinas; os mesmos operários dos poços são a alma da greve da Mirzóiev (fevereiro). É óbvio que com o despertar de sua atividade desaparece também sua inimizade aos operários das oficinas. Os operários dos poços começam a marchar ombro a ombro com os operários das oficinas.

Ainda mais interessante é a terceira característica: a atitude amistosa dos grevistas para com o nosso sindicato e, em geral, a maneira relativamente organizada pela qual as greves são dirigidas. Antes de mais nada, é característico o fato de que não se apresente mais uma lista interminável de reivindicações que impedem levar as coisas a bom termo (lembrai-vos da sociedade do Cáspio, no ano passado); hoje apresentam-se somente algumas reivindicações que podem servir para unir as massas (No- bel, Mirzóiev, Motovilikha, Adámov). Em segundo lugar, quase nenhuma dessas greves sucede sem uma intervenção ativa dos sindicatos: os operários julgam necessário convidar os representantes do sindicato (Kokóriev, Nobel, Mólot, Mirzóiev e outras). A antiga oposição das comissões dos operários dos poços e das oficinas ao sindicato é coisa do passado. Começa-se a olhar o sindicato como a um ente próprio. As comissões dos operários dos poços e das oficinas, de concorrentes do sindicato começam a transformar-se num apoio dele. Daí a grande organização das greves nos últimos tempos.

Daí deriva também a quarta característica: o êxito relativamente bom das últimas greves, ou melhor, o fato de que as greves parciais não são derrotadas tão frequentemente e nem sempre de maneira completa. Fazemos alusão, antes de mais nada, à greve da Kokóriev. Acreditamos que essa greve assinale uma virada no desenvolvimento dos métodos da nossa luta. Essa greve e algumas outras (Pitóiev, Motovilikha) demonstraram que, quando:

  1. — as coisas são conduzidas de maneira organizada,
  2. — o sindicato intervém ativamente,
  3. — existe uma certa tenacidade, e
  4. — se escolhe o momento propício para a luta, as greves parciais não podem permanecer sem resultado.

Torna-se evidente, pelo menos, que os gritos “de princípio”: “abaixo as greves parciais”, são uma palavra de ordem arriscada, a qual não foi suficientemente justificada pelos fatos no último movimento. Pelo contrário, pensamos que, se é o sindicato quem dirige e o momento é bem escolhido, as greves parciais poderão transformar-se num importante fator de união do proletariado.

Tais são, segundo nós, as características intrínsecas mais importantes das greves recentes.

Assinado: K. Kato


Notas de fim de tomo:

(1) Da greve da firma Mirzóiev de Baku participaram 1.500 operários. A greve teve início a 14 de fevereiro de 1908 e prolongou-se por 73 dias. (retornar ao texto)

Transcrição
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Inclusão 19/10/2019