Um Desvio na Tática dos Industriais do Petróleo

J. V. Stálin

9 de Março de 1908


Primeira Edição: “Gudók” (“A Sirena”), n.° 22. 9 de março de 1908.
Fonte:J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 104-107, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
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Não passou muito tempo — alguns meses ao todo — desde quando os nossos industriais do petróleo “falavam” de relações “europeias” entre operários e patrões.

Procuravam eles então assumir uma atitude conciliatória. E é compreensível: a incansável pregação do “contemplativo” Rin sobre a origem divina do contrato coletivo, a onda cada vez mais potente das greves parciais, as intenções dos industriais do petróleo no sentido de “disciplinar a produção” mediante uma conferência “à europeia”, uma certa pressão da parte das autoridades: tudo isso induzia os industriais a tomar uma atitude conciliatória, “europeia”.

— Abaixo a anarquia das greves — exclamava Rin.

— Viva a ordem — faziam coro com éle os industriais do petróleo.

E parecia que a “ordem” tivesse sido restabelecida. O número das medidas repressivas por parte dos patrões parecia haver diminuído. O número das greves, igualmente. Os industriais do petróleo “julgavam que seria necessário pôr-se de acordo” (vide Nieftianóie Diélo, dezembro).

Mas principia a campanha. Os operários repelem com decisão a velha conferência organizada atrás dos bastidores. Sua grande maioria pronuncia-se por uma conferência com garantias. Os operários expressam desse modo sua firme vontade de utilizar plenamente a conferência, de transformá-la num instrumento de luta organizada, consciente.

Que vemos então?

Não se ouvem mais discursos sobre relações “europeias”. Nem uma palavra sobre as “intenções” de “disciplinar a produção”. A “anarquia das greves” não faz mais medo aos industriais do petróleo; pelo contrário, eles próprios impelem os operários à “anarquia”, atacando-os, tirando-lhes o que haviam conquistado, despedindo os companheiros de vanguarda, etc., etc.

É evidente que os industriais do petróleo acham que não é mais necessário pôr-se de acordo. Preferem atacar.

Desde o seu congresso, em fins de janeiro, desencadearam o ataque contra os operários. Fecharam a boca dos representantes dos sindicatos. Sepultaram o problema das vilas operárias. Decidiram “cancelar” o problema das escolas, da assistência sanitária, etc. Tiraram aos operários o direito de participar da administração das casas do povo.

Com tudo isso os industriais do petróleo deram a entender que se haviam posto em novo caminho, “não europeu”, no caminho dos ataques abertos contra os operários.

O conselho do congresso continua a “obra” do seu congresso. Este atacou os operários aplicando a “retenção de dez copeques para os hospitais”. Nem falemos, ainda, de suas disposições particulares que são a expressão daquela mesma modificação surgida na tática dos industriais do petróleo.

Depois vem o habitual “agravamento” das repressões sob a forma de abrogação dos direitos já conquistados nos poços e nas oficinas, de diminuição do pessoal, de afastamento dos operários de vanguarda, de lockouts, etc.

Reduziram a zero as comissões de oficina e de poço. Demonstram-no claramente os conflitos pela comissão na firma Rothschild (Balakhani), na companhia do Cáspio, na Chibaiev (Balakhani), “Born” (Balakhani), Biéring, Mirzóiev, na sociedade Naftalan.

Com o pretexto de “reduzir o pessoal”, os industriais “expulsam” os camaradas mais influentes, e sobretudo os delegados à conferência. Os fatos sucedidos na companhia do Cáspio, na “Born”, na Mukhtárov (Balakhani), na Chibaiev (Balakhani), na Lápchin (Bibi-Eibat), na Málnikov, não deixam nenhuma dúvida a esses respeito.

O lockout da Votan é o coroamento da “nova” tática dos industriais do petróleo.

Com tudo isso, eles impelem os operários para o caminho das explosões espontâneas, anárquicas, que os exaurem.

Mas existem formas ainda mais características de repressão aos grevistas. Aludimos à firma Mirzóiev, e precisamente ao administrador dessa firma, o senhor Markárov, o qual açula os muçulmanos, armados de carabina, contra os grevistas armênios, criando assim condições favoráveis a conflitos entre armênios e tártaros.

Tal é a modificação surgida na tática dos industriais do petróleo.

É evidente que estes não querem mais “condições europeias”.

Após haverem perdido a confiança no “sucesso” da conferência e a esperança na possibilidade de “disciplinar a produção” mediante a conferência tão somente, sem satisfazerem às exigências fundamentais dos operários, vendo como a conferência de instrumento de desorganização se transforma em instrumento de organização para uma massa de 50.000 homens, os industriais querem desfazer-se dela de qualquer maneira, adiando-a para uma data indeterminada ou, pelo menos, dessangrando-a.

Para esses fim recorrem ao sistema das repressões, provocando os operários a ações prematuras; triturando o movimento geral, que está tomando consistência, em movimentos separados, parciais; impelindo os operários a sair do amplo caminho da luta de classes para penetrarem nos becos sem saída dos conflitos de grupo.

Querem desse modo desviar a atenção dos operários da conferência com garantias; destruir aos olhos dos operários a importância do conselho dos delegados, que pode torná-los mais unidos; impedi-los de se unirem e não permitir-lhes, portanto, que se preparem para impor o reconhecimento de suas reivindicações.

Agindo dessa maneira, os industriais procuram provocar os operários, por ora ainda não organizados, a uma ação geral prematura, que possa dar-lhes a possibilidade de dobrar “definitivamente” os operários e assegurar por longo tempo a extração “ininterrupta” do petróleo.

Tal é o significado da modificação surgida na tática dos industriais do petróleo.

Qual deve ser a nossa tática, dado tudo quanto se disse?

Os industriais do petróleo, aproveitando-se da nossa desorganização, atacam-nos: nossa tarefa é portanto a de cerrar fileiras em torno de nosso sindicato, defendendo-nos dos golpes por todos os meios em nosso poder.

Querem provocar-nos a explosões espontâneas, parciais, com a intenção de despedaçar o nosso movimento geral: nosso dever é, portanto, o de não morder no anzol dos industriais, de abster-nos, na medida do possível, das greves parciais e não despedaçar o movimento geral.

Querem privar-nos do instrumento da nossa união, querem tirar-nos o conselho dos delegados, adiando a conferência para uma data indeterminada, impelindo-nos a uma ação geral imatura: nosso dever é, portanto, o de exigir a convocação imediata do conselho dos delegados, de preparar-nos para a elaboração das reivindicações operárias e de reunir as massas, no curso deste trabalho, em torno do conselho dos delegados.

Após haver reforçado o conselho dos delegados e reunido em torno dele uma massa de 50.000 homens, não nos será difícil sobrepujar, dignamente, as insídias “não europeias” dos senhores industriais do petróleo.

Artigo não assinado


Transcrição
pcr
Inclusão 19/10/2019