A Greve e o Contrato de Dezembro
(Por ocasião do quinto aniversário)

J. V. Stálin

13 de Dezembro de 1909


Primeira Edição: Publicado em manifesto.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 164-168, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Camaradas!

São passados cinco anos desde o dia em que, em dezembro de 1904, foi declarada nos distritos de Baku a greve geral econômica.

São passados cinco anos desde os dias em que os operários e os industriais do petróleo elaboraram aquele célebre contrato, a nossa “constituição da gasolina”.

Lembramo-nos com altivez daqueles dias, porque são os dias da nossa vitória, os dias da derrota dos industriais do petróleo!

Diante dos nossos olhos surge o quadro glorioso, conhecido por todos: uma massa de milhares de operários em greve, circundada a “Força Elétrica”, ditava aos seus delegados as reivindicações de dezembro, enquanto os representantes dos industriais do petróleo, refugiados na “Força Elétrica” e assediados pelos operários, “exprimiam a sua solidariedade”, firmavam o contrato, “concordavam com tudo”...

Foi uma efetiva vitória dos proletários pobres sobre os ricos capitalistas, vitória que assinalou o início de “nova ordem” na indústria do petróleo.

Antes do contrato de dezembro nós trabalhávamos em média onze horas por dia; após o contrato, foi estabelecido que se trabalharia nove horas e seria introduzida gradativamente a jornada de trabalho de oito horas para os operários dedicados à extração.

Antes do contrato de dezembro recebíamos em média 80 copeques; após o contrato, o pagamento diário foi elevado para um rublo e alguns copeques.

Antes da greve de dezembro não nos concediam a indenização de alojamento, nem nos concediam um alojamento; graças à greve, obtivemos para os operários de oficina ambas as coisas; restava-nos somente estender essas conquistas aos demais operários.

Antes da greve de dezembro nos poços e nas oficinas reinava o pleno arbítrio dos servidores do capital, que nos batiam e nos mutilavam impunemente; graças à greve estabeleceu-se uma certa ordem, uma “constituição”, por força da qual pudemos exprimir nossa vontade através de nossos delegados, contratar, unidos, com os industriais do petróleo, estabelecer, juntos, relações com estes.

De “amchari”(1) e “bestas de carga” transformamo-nos, de golpe, em homens que lutam por uma vida melhor!

Eis o que nos deram a greve e o contrato de dezembro!

Mas não é tudo. A coisa principal que a luta de dezembro nos deu é a confiança em nossas forças, a certeza da vitória, a disposição para novas batalhas, a consciência de que as cadeias da escravidão capitalista poderão despedaçar-se “somente com as nossas próprias mãos”...

Desde então caminhamos sempre para a frente: o salário se elevou, as indenizações de alojamento foram estendidas aos operários dos poços, a “constituição da gasolina” consolidou-se, as comissões de oficina e de poço foram parcialmente reconhecidas, organizamo-nos nos sindicatos, agrupamo-nos em torno da social-democracia...

Mas tudo isso não durou muito tempo. Depois do refluxo da revolução e do reforçamento da contrarrevolução, particularmente desde o início de 1908, os industriais do petróleo, pretextando farisaicamente a extração reduzida e o retraimento do mercado do petróleo, começam a arrebatar-nos nossas velhas conquistas. Abolem as gratificações e as indenizações de alojamento. Introduzem dois turnos de trabalho de doze horas, em vez dos três de oito horas. Reduzem a assistência sanitária. Já nos haviam tomado as casas do povo e agora nos tomam as escolas, destinando para esses fim quantias miseráveis, enquanto gastam anualmente com a polícia mais de 600.000 rublos. Nem falemos sequer da restauração do sistema das pancadas e das multas, da supressão das comissões, da perseguição contra os sindicatos por parte dos servidores do governo tzarista, esses lacaio do grande capital...

Nos últimos anos obrigaram-nos, assim, não só a renunciar a uma ulterior melhoria de nossas condições, mas pioraram as nossas antigas condições, tiraram-nos as antigas conquistas, expulsando-nos para os velhos tempos, os tempos que precederam dezembro.

E hoje, 13 de dezembro, dia do quinto aniversário da greve vitoriosa de dezembro, em que os industriais do petróleo tremiam diante de nós, e nós, atacando, conquistávamos novos direitos, justamente hoje surge diante de nós a séria pergunta, que agita a massa dos operários da indústria do petróleo: calaremos ainda por muito tempo? Existe um limite para a nossa paciência? Não devemos despedaçar as cadeias do silêncio e desfraldar a bandeira da greve geral econômica pelas nossas reivindicações vitais?

Julgai vós mesmos. A extração atingiu este ano a casa dos 500 milhões de puds(2), cifra que nunca fora atingida nos últimos quatro anos. Os preços do petróleo não caem, absolutamente, uma vez que o preço médio para este ano é igual ao do ano passado: 21 copeques. Jorra sempre com maior abundância o petróleo de poço, que não requer despesas. O mercado amplia-se dia a dia, abandona-se o carvão mineral para passar à gasolina. A exportação do petróleo aumenta sem interrupções. Mas os industriais do petróleo, quanto mais prosperam os seus negócios, quanto mais “lucros” espremem dos operários, tanto mais intolerantes se tornam com relação a estes últimos, tanto mais os esmagam, com tanto maior zelo dispensam os camaradas conscientes, com tanto maior encarniçamento tiram-nos as últimas migalhas!

Não é talvez claro, camaradas, que a situação na indústria petrolífera torna-se cada vez mais favorável para uma greve geral dos operários dessa indústria e que as ações provocatórias dos industriais impelem infalivelmente os operários à luta?

Pois então, companheiros, das duas uma: ou toleraremos indefinidamente e acabaremos por tornar-nos escravos emudecidos, ou nos levantaremos para uma luta geral pelas nossas reivindicações gerais.

Todo o nosso passado e o nosso presente, a nossa luta e as nossas vitórias dizem que escolheremos o segundo caminho, o caminho da greve geral pelo aumento dos salários e pela jornada de trabalho de oito horas, pelas vilas operárias e pela indenização de alojamento, pelas casas do povo e escolas, pela assistência sanitária e indenização por acidente, pelos direitos das comissões de poço e de oficina e dos sindicatos.

E conquistaremos isso que nos cabe, camaradas, não obstante as repressões inauditas, não obstante a crescente organização dos industriais do petróleo. Se intensificarmos o trabalho preparatório da greve geral, se reforçarmos nossas comissões de poço e de oficina, se ampliarmos nossos sindicatos, se nos agruparmos em torno da social-democracia, curvaremos nossos patrões como os curvamos faz cinco anos.

A social-democracia levou-nos à vitória em dezembro de 1904, ela nos levará mais uma vez a futuras vitórias através da greve geral organizada.

Assim fala a experiência da gloriosa luta de dezembro.

Que este dia, pois, dia em que teve início a greve vitoriosa em dezembro de 1904, nos estimule a um trabalho harmônico e tenaz no sentido da preparação da greve geral!

Que o entusiasmo que suscita em todos nós este dia seja para os industriais do petróleo o funesto presságio da iminente greve geral, dirigida pela social-democracia!

Viva a iminente greve geral!
Viva a social-democracia!

O Comitê de Baku do P.O.S.D.R.
13 de dezembro de 1909


Notas de fim de tomo:

(1) Literalmente, “compatrícios”: assim eram chamados os trabalhadores braçais persas que se dirigiam a Baku em procura de trabalho. (retornar ao texto)

(2) Pud, medida russa equivalente a cerca de 16 quilogramas. (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 23/10/2019