Carta de Solvitchegódsk ao Comitê Central do Partido

J. V. Stálin

31 de Dezembro de 1910


Primeira Edição: Escrita em 31 de dezembro de 1910.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 201-204, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Camarada Semión! Os companheiros entregaram-me ontem vossa carta. Primeiro que tudo, minhas calorosas saudações a Lênin e aos outros. E em seguida, passo à vossa carta e, dum modo geral, às “questões malditas”.

A meu ver a linha do bloco (Lênin-Plekánov) é a única linha justa:

  1. — ela, e somente ela, corresponde à real exigência de nosso trabalho na Rússia, à exigência de agrupar todos os elementos efetivamente de partido;
  2. — ela, e somente ela, acelera o processo de libertação dos organismos legais do jugo dos liquidacionistas, cavando um fosso entre os operários mencheviques e os liquidacionistas, desbaratando e aniquilando estes últimos.

A luta pela influência nos organismos legais é a questão do dia, a etapa necessária no caminho do renascimento do Partido, e o bloco é o único meio de depurar esses organismos da imundície liquidacionista.

No plano do bloco vê-se a mão de Lênin: ele é um homem inteligente e sabe o que é preciso fazer. Mas isso ainda não quer dizer que todo bloco seja bom. O bloco de Trotski (este último diria “síntese”) é pútrida falta de princípios, é um pastiche à Manílov(1) de princípios díspares, é a nostalgia de um homem impotente, sem princípios, por um “bom” princípio. A lógica das coisas tem, por sua natureza, princípios rigorosos e não tolera pastiches. O bloco Lênin-Plekhánov é vital precisamente porque é ditado por profunda razão de princípio e alicerçado na identidade de pontos de vista no concernente à questão dos meios que possam fazer ressurgir o Partido. Mas precisamente porque é um bloco e não uma fusão, precisamente por isso os bolcheviques têm necessidade de sua fração. É muitíssimo possível que no curso do trabalho os bolcheviques conquistem em definitivo os plekhanovistas, mas é somente possível. Em todo o caso, não devemos dormir esperando por tal êxito, ainda que muito provável. Quanto mais os bolcheviques agirem unidos, de maneira organizada, tanto maiores serão as possibilidades de conquista. Devemos, pois, malhar incansavelmente o ferro na bigorna. Não falarei dos vperiodistas(2), porque hoje interessam menos que os liquidacionistas e os plekhanovistas. Se de quando em quando se arrependerem, naturalmente será um bem, do contrário, que deus os abençoe: deixemo-los cozinhar no próprio caldo.

Isto é o que penso sobre o estrangeiro.

Mas isto não é tudo e nem sequer é o que mais importa. O que mais importa é a organização do trabalho na Rússia. A história do nosso Partido demonstra que as questões controversas não se decidem com discussões, mas sobretudo no curso do trabalho, no curso da aplicação dos princípios. A tarefa do dia é, portanto: organização do trabalho na Rússia em torno de um princípio rigorosamente determinado. Os liquidacionistas compreenderam logo do que se tratava (têm o faro muito fino) e começaram a infiltrar-se (já se infiltraram) nos organismos operários legais, e têm, ao que parece, um centro russo deles ilegal, que dirige, etc., o trabalho. E nós “estamos ainda nos preparando”, estamos ainda na fase das provas. A tarefa atual, inadiável para nós, é a meu ver a organização de um grupo central (russo) que coordene o trabalho ilegal, semilegal e legal, pelos primeiros tempos nos centros maiores (Petersburgo, Moscou, Urais, Sul). Chamai-o como quiserdes — “parte russa do C.C.” ou grupo auxiliar junto ao C.C. — para mim é indiferente. Mas esses grupo é necessário como o ar, como o pão. Hoje, nas diversas localidades, reina entre os militantes a incerteza, o isolamento, a separação, todos estão desanimados. Esse grupo poderia reavivar o trabalho, apresentar ideias claras. E isso abriria o caminho para uma utilização efetiva das possibilidades legais. Dessa maneira, a meu ver, o renascimento do espírito partidário receberia novo impulso. Não seria mau organizar primeiro uma reunião dos militantes que aceitam as decisões do pleno(3), naturalmente sob a direção do C.C. Tudo isso após a “reforma” dos organismos centrais(4) e sob a condição de que os plekhanovistas consintam-na. É muitíssimo possível que dessa reunião surjam os homens aptos para o grupo central de que se falou acima. A meu ver a utilidade dessa reunião é também clara sob muitos outros aspectos. E se deverá agir inflexível e inexoravelmente, sem temer os ataques por parte dos liquidacionistas, dos trotskistas e dos vperiodistas. Os plekhanovistas e os leninistas, se se unirem no terreno do trabalho na Rússia, poderão deixar de preocupar-se com qualquer ataque que seja.

Esta é a minha opinião sobre o trabalho a desenvolver na Rússia.

E agora vamos ao meu caso. Restam-me seis meses, ao fim dos quais estarei completamente à vossa disposição. Se realmente necessitais com urgência de militantes, posso ir-me embora imediatamente. Li o primeiro número do Misl(5). Imagino quanta clareza e vigor trará entre os operários também o fato único da atividade comum dos adversárias de ontem, e quanta discórdia e caos isso semeará nas fileiras dos liquidacionistas. E qualquer pessoa honesta dirá que não será um mal.

Aqui, na deportação, há não pouca gente e ficaria muito bem fornecer-lhe publicações periódicas ilegais. Mandai-nos o n.° 17 e seguintes do Sotzial-Demokrat e o Suplemento do Sotzial-Demokrat. Da Rabótchaia Gazieta(6) não temos nem o n.° 1 nem o n.° 2. Não temos nem sequer o Golos Sotzial-Demokrata. Receberemos provavelmente a Zviezdá(7). Endereço para o volume postal: 1.°) — Solvitchegodsk, governo de Vologda, João Isaákovitch Bogomólov; 2.°) — Solvitchegodsk, governo de Vologda, Pedro Mikhailóvitch Serafímov. Endereço para a correspondência dirigida a mim: Solvitchegodsk, governo de Vologda, casa Grigórov, Nicolau Alexándrovitch Voznessensk.

Saudações fraternais.
K. S.

Não deveis mandar registrados. Escrevei-me sobre como vão as coisas por aí, peço-vos encarecidamente.


Notas de fim de tomo:

(1) Personagem das Almas Mortas de Gógol, personificação da bonomia, da fantasmagoria vazia e do sentimentalismo. (retornar ao texto)

(2) Vperiodistas: membros do grupo Vperiód, composto de ultimatistas (vide n.° 84), de “construtores de deus” e de empiriomonistas (sequazes de Mach e de Avenarius). O grupo que tomou o nome do próprio jornal (Vperiód significa “Avante”) constituiu-se em dezembro de 1909 e em 1912 confluiu, juntamente com os mencheviques liquidacionistas, no “bloco de agosto”, organizado por Trotski com um programa antibolchevique. (retornar ao texto)

(3) A reunião plenária do C.C. do P.O.S.D.R., de que fala Stálin, é a que se realizou em Paris de 2 a 23 de janeiro (15 de janeiro a 5 de fevereiro) de 1910. A reunião aprovou uma resolução sobre a necessidade “de dissolver todas as frações mais ou menos organizadas e de transformá-las em tendências que não violassem a unidade de ação do Partido”. Por insistência de Lênin, a reunião condenou o liquidacionismo e o otzovismo (sem todavia chamá-los, na resolução, pelo seu verdadeiro nome). Uma vez que na reunião prevaleciam os elementos conciliadores, estes últimos conseguiram fazer aprovar uma série de decisões antileninistas e fazer entrar nos organismos centrais, não obstante os protestos de Lênin, alguns mencheviques liquidacionistas. Após a reunião, os liquidacionistas intensificaram sua luta contra o Partido. (retornar ao texto)

(4) Trata-se da resolução sobre a reorganização (“reforma”) das instituições centrais do P.O.S.D.R. — Comitê Central, corpo de redação do órgão central, bureau estrangeiro do C.C. e bureau russo do C.C. — aprovada no pleno do C.C. do P.O.S.D.R. de 1910 (vide O P.C. (b.) da U.R.S.S. nas resoluções e decisões dos congressos, conferências e plenos do C.C., parte I, 6.a edição, Moscou, 1940, págs. 157-158). (retornar ao texto)

(5) Misl (O Pensamento), revista mensal filosófica, social e econômica, publicada em Moscou de dezembro de 1910 a abril de 1911. Saíram cinco números. Foi fundada e, de fato, dirigida por Lênin. Além dos bolcheviques, colaboraram na revista Plekhánov e outros mencheviques partidistas. (retornar ao texto)

(6) Rabótchaia Gazieta (O Jornal Operário), jornal popular bolchevique publicado em Paris de 30 de outubro (12 de novembro) de 1910 a 30 de julho (12 de agosto) de 1912. Lênin foi o organizador e o diretor do jornal que na Conferência de Praga (janeiro de 1912) foi reconhecido como o órgão oficial do C.C. do P.O.S.D.R. (retornar ao texto)

(7) Zviezdá (A Estrela), jornal bolchevique legal que se publicou em Petersburgo de 16 de dezembro de 1910 a 22 de abril de 1912 (de início todas as semanas, e depois duas ou três vezes por semana). Lênin enviava sistematicamente do exterior artigos para o jornal, que tinha entre os seus colaboradores também Mólotov e Gorki. Na primavera de 1912, durante sua permanência em Petersburgo, Stálin dirigiu pessoalmente o jornal. Alguns números atingiram a tiragem de 50 a 60.000 exemplares. Foi a Zviezdá que preparou o terreno para a publicação do diário bolchevique Pravda. A 22 de abril de 1912 a Zviezdá foi suprimida pelo governo tzarista e substituída pela Niévskaia Zviezdá (A Estrela do Neva), que se publicou até outubro do mesmo ano. (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 23/10/2019