As Eleições em Petersburgo
(Carta de Petersburgo)

J. V. Stálin

12 (25) de Janeiro de 1913


Primeira Edição: “Sotzial-Demokrat”, n.° 30, 12 (25) de janeiro de 1913.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 260-272, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
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Diferentemente das eleições de 1907, as eleições de 1912 coincidiram com um despertar revolucionário entre os operários. Ao passo que então a onda revolucionária refluía e triunfava a contrarrevolução, em 1912 levantou-se a primeira onda de uma nova revolução. Justamente por isso, então, os operários foram votar sem entusiasmo e aqui e ali haviam até boicotado as eleições; haviam-nas boicotado, por certo, passivamente, mostrando, assim, que & boicote passivo é índice indubitável de debilidade e depressão. Justamente por isso, agora, na atmosfera da revolução ascendente, os operários foram votar com grande interesse, alijando das costas a mole indiferença política. Antes, mediante grandiosas greves contra as “interpretações”, não obstante todos os expedientes policialescos e todos os obstáculos, os operários lutaram para votar, lutaram para obter, e obtiveram, o direito de participar das eleições. Esse é um índice indubitável de que o torpor político passou, que a revolução saiu do ponto morto. É verdade que a onda da nova revolução não é ainda bastante poderosa para tornar possível que se apresente, suponhamos, o problema da greve geral política. Mas é tão forte que em alguns lugares é possível rasgar a teia de aranha das “interpretações” para tornar mais animadas as eleições, para organizar as forças do proletariado, para educar politicamente as massas.

I - A CÚRIA OPERARIA

1. A luta pelas eleições

Não será supérfluo ressaltar que a iniciativa da campanha de greves foi tomada pelo representante do Comitê Central e pelo Comitê de Petersburgo do nosso Partido. A 4 de outubro, altas horas da noite, na véspera da eleição dos eleitores diretos, fomos informados de que a comissão distrital havia “interpretado” os delegados das maiores oficinas (Putílov e outras). Uma hora depois, reúne-se a comissão executiva do Comitê de Petersburgo, juntamente com o representante do C.C.(1), e, após haver elaborado uma nova chapa de eleitores diretos, toma a decisão de declarar uma greve de protesto de vinte e quatro horas. Na mesma noite reúne-se a fração social-democrata da oficina Putílov e aprova a decisão do Comitê de Petersburgo. A 5 tem início a greve da Putílov. Toda a oficina entra em greve. A 7 (domingo) reúne-se a fração social-democrata dos estaleiros do Neva e associa-se à decisão do Comitê de Petersburgo. A 8 fazem greve todos os estaleiros. Depois deles, entram em greve outras fábricas e oficinas. Entram em greve não só os estabelecimentos “interpretados”, mas também os outros (Pal), também aqueles que, segundo as “normas eleitorais”, não têm o direito de participar das eleições na cúria operária. Entram em greve por solidariedade. Multiplicam-se as canções revolucionárias e as manifestações. .. A 8 de outubro, na calada da noite, vem-se a saber que a comissão eleitoral da governadoria anula as eleições dos eleitores diretos, anula as “interpretações” da comissão distrital, “restabelece os direitos” dos operários da Putílov, faz participar das eleições um número maior de estabelecimentos. Os operários festejam a vitoria. Os operários venceram.

É interessante a resolução aprovada pelos operários dos estaleiros navais do Neva e da oficina Putílov quando foi declarada a greve:

Protestando contra a violação dos nossos direitos eleitorais, declaramos que somente a derrubada do tzarismo e a conquista da república democrática podem garantir aos operários o direito de voto e o seu livre exercício”.

A resolução dos liquidacionistas, segundo a qual “ ... somente o sufrágio universal nas eleições para a Duma de Estado podia garantir o direito de votar”, foi rejeitada. As resoluções haviam sido discutidas antecipadamente nas frações social-democratas de oficina, e quando aconteceu, por exemplo na fração dos estaleiros navais do Neva, que a resolução dos liquidacionistas não encontrava simpatias, os seus fautores empenharam-se em não apresentá-la no comício, diante da massa sem partido, e em apoiar aquela aprovada pelo grupo. É preciso notar em sua honra que mantiveram a palavra. Com a mesma lealdade responderam em compensação os antiliquidacionistas, favorecendo a eleição para delegado de Gúdkov, que teriam podido “fazer reprovar” tendo a maioria na oficina. Não seria mau que o Lutch tivesse nem que fosse um resquício de tal senso de responsabilidade, ele que sabe escrever tão bem sobre o que não aconteceu nas oficinas, mas passa em silêncio a resolução dos estaleiros do Neva e além do mais altera a dos operários da Putílov.

Os operários, portanto, lutaram para votar e conseguiram votar. Que os social-revolucionários, os quais nos estaleiros do Neva falaram sem nenhum sucesso contra as eleições, tirem daí uma lição.

Os operários lutaram pelas eleições com a palavra de ordem da república democrática. Que os fetichistas das “reformas parciais”, os liquidacionistas do Lutch, tirem daí uma lição.

2. O mandato ao deputado

As greves contra as “interpretações” ainda não estavam liquidadas, quando se reuniu o congresso dos delegados. Ter-se-ia podido dizer de antemão que o mandato, elaborado pelo Comitê de Petersburgo e aprovado pelas grandes oficinas de Petersburgo (Putílov, estaleiros navais do Neva, Pal), seria aprovado pelos delegados. E de fato foi aprovado por esmagadora maioria, com a abstenção de um pequeno grupo de liquidacionistas. A tentativa destes últimos de impedir a votação foi acolhida com gritos de “não perturbeis!”.

No seu mandato ao deputado, os delegados falam dos “problemas de 1905”, ressaltando que esses “problemas permaneceram sem solução” e que o desenvolvimento econômico e político da Rússia “torna urgente a sua solução”. Luta dos operários e dos camponeses revolucionários pela derrubada do tzarismo, não obstante a política conciliatória da burguesia cadete, luta à frente da qual só pode estar o proletariado: eis o que, segundo o mandato, poderia resolver os problemas de 1905 (vide Mandato no Sotzial-Demokrat, n.os 28-29).

Como vedes, trata-se de algo de bem diverso da “revisão”, liberal-liquidacionista “das providências agrárias da terceira Duma” ou do “sufrágio universal nas eleições para a Duma de Estado” (vide a plataforma dos liquidacionistas)(2).

Os operários de Petersburgo permaneceram fiéis à tradição revolucionária do nosso Partido. As palavras de ordem da social-democracia revolucionária, e somente elas, foram reconhecidas pelo congresso dos delegados. No congresso eram os sem partido que decidiam a questão (dentre 82 delegados 41 eram “simplesmente social-democratas” e sem partido), e se até numa semelhante assembleia foi aprovado o mandato do Comitê de Petersburgo, isso quer dizer que as palavras de ordem deste último tem sólidas raízes no coração e no cérebro da classe operária.

Como se comportaram os liquidacionistas? Se tivessem tido fé nas suas opiniões e não houvessem tropeçado em matéria de honestidade política, teriam travado uma luta aberta contra o mandato; após haverem apresentado um seu mandato ou após haverem sofrido uma derrota, teriam retirado seus candidatos. Tinham, bem apresentada, a sua chapa de candidatos a eleitores diretos em oposição à dos antiliquidacionistas: por que não expor de modo igualmente aberto suas opiniões e apresentar seu mandato? E quando foi aprovado o mandato dos antiliquidacionistas, por que não declarar honesta e abertamente que eles, liquidacionistas, como adversários do mandato, não podiam ser eleitos na qualidade de futuros partidários do mandato; que retiravam seus candidatos, cedendo o lugar aos fautores do mandato? Essa é uma regra elementar de honestidade política. Ou, talvez, não falaram do mandato porque a questão não fora suficientemente destrinçada, enquanto no congresso teria sido' decidida pelos sem partido f Mas por que então não submeter-se à decisão dos 26 delegados social-democratas, que haviam realizado uma reunião clandestina alguns dias antes do congresso dos delegados e haviam aprovado, após discussão, a plataforma dos antiliquidacionistas (por uma maioria de 16 contra 9 e uma abstenção), uma vez que da reunião também participavam os líderes dos liquidacionistas e seus delegados? Em que considerações sublimes inspiraram-se os liquidacionistas para pisar concomitantemente seja o mandato de todo o congresso, seja a vontade dos 26 delegados social-democratas? Evidentemente uma só consideração podia inspirá-los: pregar uma peça aos antiliquidacionistas e fazer eleger “de qualquer maneira” os seus homens. Mas o fato é que se os liquidacionistas se houvessem posto no caminho da luta aberta, nem sequer um dos seus fautores teria tido êxito, uma vez que era claro para todos que a liquidacionista “revisão das providências agrárias da terceira Duma” não encontrava simpatia por parte dos delegados. Uma única coisa restava-lhes fazer: esconder sua bandeira, fingir-se fautores do mandato, declarando que “no fundo somos também por um mandato quase igual”, e fazer eleger “de qualquer maneira” os seus homens. De fato assim agiram, e agindo dessa maneira reconheceram a sua derrota, classificando-se entre os bancarroteiros políticos.

Mas constranger o adversário a arriar a própria bandeira, isto é, constrangê-lo a reconhecer a inutilidade da própria bandeira, isto é, constrangê-lo a reconhecer a superioridade das ideias do próprio inimigo: exatamente isso significa alcançar uma vitória moral.

E eis a “estranheza”: os liquidacionistas têm um “amplo partido operário”, os antiliquidacionistas somente um “círculo fossilizado”, e contudo o “círculo restrito” venceu o “amplo partido”!

Quantos milagres acontecem no mundo!...

3. A unidade como máscara, e as eleições do deputado

Os diplomatas burgueses quando preparam uma guerra começam a lançar altos gritos de “paz” e de “relações amistosas”. Se algum ministro do exterior começa a desdobrar-se para convocar uma “conferência de paz”, sabei que o “seu governo” já ordenou a construção de novos encouraçados e novos aeroplanos. Para os diplomatas as palavras devem contrastar com os atos: senão, que diplomatas são? Uma coisa são as palavras e coisa bem diferentes os fatos. As boas palavras são uma máscara para ocultar os negócios escusos. Um diplomata sincero é raro como a água enxuta e o ferro de madeira.

O mesmo se deve dizer dos liquidacionistas, com seus gritos hipócritas sobre a unidade. Plekhánov, fautor da unidade no partido, escrevia que a resolução da conferência dos liquidacionistas(3) “exala um fedor de diplomacia que se sente a uma milha de distância”. E além disso o mesmo camarada Plekhánov chama a conferência deles de “conferência divisionista”. Para dizê-lo sem rodeios, os liquidacionistas enganam os operários quando por diplomacia clamam pela unidade, uma vez que falando em unidade criam a cisão. E de fato os liquidacionistas são os diplomatas da social-democracia, são aqueles que, após haverem maquinado o escuso negócio da cisão, ocultam-no com belas palavras. Quando um liquidacionista desdobra-se em favor da unidade, sabei que ele já calcou aos pés a unidade em nome da cisão.

As eleições em Petersburgo são uma prova direta disso.

A unidade é antes de mais nada unidade de ação dos operários social-democratas organizados, no seio da classe operária ainda desorganizada, ainda não iluminada pela luz do socialismo. Em suas reuniões, os operários social-democratas organizados propõem questões, discutem-nas, tomam decisões, e depois, como um todo único, expõem essas decisões — absolutamente obrigatórias para a minoria — aos sem partido. Sem isso não há e não pode haver unidade na social-democracia! Houvera uma decisão nesse sentido em Petersburgo! Sim, houvera. Era a decisão dos 26 delegados social-democratas (das duas tendências) que haviam aprovado a plataforma dos anti-liquidacionistas. Por que os liquidacionistas não se submeteram a essa decisão? Por que não respeitaram a vontade da maioria dos delegados social-democratas? Por que calcaram aos pés a unidade da social-democracia em Petersburgo? Porque os liquidacionistas são os diplomatas da social-democracia, que criam a cisão por trás da máscara da unidade.

Há mais. A unidade é unidade de ação do proletariado diante de todo o mundo burguês. Os representantes do proletariado tomam decisões e as aplicam, agindo como um todo único, com a condição de que a minoria se submeta à maioria. Sem isso não há e nem pode haver unidade do proletariado! Tinha tomado uma decisão nesse sentido o proletariado de Petersburgo? Sim, tomara-a. Era o mandato antiliquidacionista, aprovado pela maioria do congresso dos delegados. Por que os liquidacionistas não se submeteram ao mandato dos delegados? Por que não respeitaram a vontade da maioria dos delegados? Por que calcaram aos pés a unidade da classe operária em Petersburgo? Porque a unidade dos liquidacionistas é uma frase diplomática, que serve para ocultar a política de sabotagem da unidade...

Quando os liquidacionistas, não respeitando a vontade da maioria, empurrando para a frente os hesitantes (Sudákov), prodigalizando as mais diplomáticas promessas, tiveram enfim três eleitores diretos, surgiu a questão: que fazer?

O único caminho de saída honesta era tirar à sorte. E os antiliquidacionistas propuseram-no aos liquidacionistas; mas estes repeliram a proposta!

O liquidacionista X, que havia efetuado as negociações com o bolchevique Y (podemos dizer os nomes dos encarregados das duas partes se for necessário e sob a condição de que se mantenha a devida reserva)(4), após haver interpelado os seus companheiros, respondeu que “a proposta de tirar à sorte não era aceitável porque os nossos eleitores diretos estão amarrados à decisão do nosso colégio dirigente”.

Experimentem só desmentir esta nossa declaração, os senhores liquidacionistas!

Não respeitar a vontade dos delegados social-democratas, não respeitar a vontade da maioria do congresso dos delegados, recusar-se a tirar à sorte, recusar a candidatura única à Duma: tudo isso no interesse da unidade. Muito original a vossa “unidade”, senhores liquidacionistas !

De resto a política divisionista dos liquidacionistas não é nova. Desde 1908 promovem eles uma agitação contra o partido ilegal. Os abusos cometidos pelos liquidacionistas nas eleições de Petersburgo são a continuação de sua velha política divisionista.

Diz-se que Trotski, com a sua campanha de “unificação”, tenha trazido uma “nova corrente” para os velhos “assuntos” dos liquidacionistas. Mas não é verdade. Não obstante os seus “heroicos” esforços e as suas “terríveis ameaças”, Trotski revelou-se afinal de contas um simples atleta vanglorioso, de músculos postiços, não tendo conseguido em cinco anos de “trabalho” unir ninguém, exceto os liquidacionistas. Barulho novo, assuntos velhos.

Mas voltemos às eleições. Recusando-se a tirar à sorte, os liquidacionistas podiam contar com uma só coisa: que a burguesia (os cadetes e os outubristas) preferisse um liquidacionista! Para deixar sem efeito esses cálculo vil, o Comitê de Petersburgo não podia fazer outra coisa senão dar a todos os eleitores diretos a incumbência de entrar num segundo escrutínio, uma vez que entre os liquidacionistas havia também um “hesitante” (Sudákov) e, em geral, estes não constituíam um grupo coeso. Todos os eleitores diretos antiliquidacionistas, obedecendo à diretiva do Comitê de Petersburgo, entraram no segundo escrutínio. E o cálculo vil dos liquidacionistas não triunfou! A desmoralização reinava não já entre os antiliquidacionistas, mas entre os eleitores diretos liquidacionistas, os quais, contra a decisão do seu “colégio”, porfiaram por entrar no segundo escrutínio. Isso deveria maravilhar-nos não tanto porque Gúdkov consentiu na candidatura de Badáiev (Gúdkov estava obrigado pelo mandato dos antiliquidacionistas aprovado na sua oficina!), quanto porque o liquidacionista Petróv, e depois dele Gúdkov, entraram no segundo escrutínio após a eleição de Badáiev.

De tudo quanto foi dito pode tirar-se uma só conclusão: a unidade, para os liquidacionistas, é uma máscara para cobrir sua política divisionista, é um cavalicoque do qual desejariam servir-se para entrar na Duma, a despeito da vontade da social-democracia e do proletariado de Petersburgo.

II - A cúria citadina

Os acontecimentos do Lena e, de um modo geral, o despertar dos operários, não passaram sem repercussão sobre os eleitores da segunda cúria. As camadas democráticas da população citadina andaram sensivelmente para a esquerda. Se há cinco anos, após a derrota da revolução, elas “tinham enterrado” os ideais de 1905, hoje, após as greves de massa, os velhos ideais começam a reviver. Criou-se um estado de ânimo de descontentamento contra a política ambígua dos cadetes, e estes não podiam deixar de percebê-lo.

Por outro lado, os outubristas “não tinham justificado” as esperanças dos grandes comerciantes e fabricantes. Criaram-se postos vagos, e os cadetes mais uma vez não podiam deixar de percebê-lo.

E desde maio deste ano tomaram a decisão de jogar em duas frentes. Não de lutar, mas de jogar.

Assim se explica aquela ambígua campanha eleitoral promovida pelos cadetes em duas diferentes cúrias, campanha que não podia deixar de impressionar os eleitores:

Os social-democratas colocaram no centro de sua campanha a luta contra os cadetes por sua própria influência sobre as camadas democráticas. Hegemonia da burguesia contrarrevolucionária ou hegemonia do proletariado revolucionário: era o mesmo “esquema” dos bolcheviques, contra o qual há muitos anos lutam desesperadamente os liquidacionistas e ao qual deviam agora submeter-se, como a uma necessidade evidente, vital e imprescindível.

A vitória na segunda cúria dependia da conduta das camadas democráticas, democráticas por sua posição mas ainda não conscientes dos seus interesses. A quem teriam seguido essas camadas: os social-democratas ou os cadetes? Existia ainda um terceiro campo, o dos de direita e dos outubristas, mas não se podia falar seriamente de um “perigo das centúrias negras”, porque era claro que os de direita podiam reunir somente um número pouco expressivo de votos. Os discursos sobre a necessidade de “não amedrontar a burguesia”, se bem que não pronunciados (vide o artigo de P. D. no Niévski Golos(5)), provocavam somente um sorriso, uma vez que era claro que a social-democracia devia não só “amedrontar”, como expulsar das suas posições justamente aquela burguesia, na pessoa dos seus advogados, os cadetes.

Hegemonia da social-democracia ou hegemonia dos cadetes: assim a própria vida apresentava a questão.

Era claro, portanto, que se tornava necessária uma extrema solidez da social-democracia em todo o curso da campanha.

Exatamente por isso, a comissão eleitoral junto ao Comitê de Petersburgo consentiu na conclusão de um acordo com a outra comissão, composta de mencheviques e de liquidacionistas isolados, acordo sobre as pessoas, com completa liberdade de agitação eleitoral, sob a condição necessária de que na lista dos candidatos à Duma “não fossem incluídas pessoas que tivessem ligado seu nome ou sua atividade à luta contra o espírito do partido” (extraído da “ata” das negociações). A conhecida lista da social-democracia para a segunda cúria ficou estabelecida somente depois que os antiliquidacionistas se opuseram à candidatura de Ab... e L...(6), conhecidos liquidacionistas de Petersburgo, “que haviam ligado seu nome e sua atividade”, etc. Não é supérfluo ressaltar que, para qualificar os “fautores da unidade”, que estes, após a eleição de Tchkheidze em Tiflís, recusaram-se terminantemente a substituir a candidatura deste último pela de Pokrovski, ex-membro da terceira Duma, ameaçando apresentar uma lista paralela e arruinar a campanha.

Mas a cláusula sobre a “liberdade de agitação eleitoral” resultou, talvez, supérflua, porque no curso da campanha tornou-se evidente que não era possível, na luta contra os cadetes, nenhuma outra ação que não fosse a da social-democracia revolucionária, isto é, bolchevique. Quem não se recorda dos discursos dos oradores de Petersburgo e dos candidatos social-democratas sobre a “hegemonia do proletariado” e os “velhos métodos de luta”, em contraposição aos “métodos novos, parlamentares”; sobre o “segundo movimento” e sobre “o absurdo da palavra de ordem do ministério cadete responsável”? Que fora feito das lamúrias dos liquidacionistas sobre a “necessidade de não cindir a oposição”, sobre o “deslocamento da burguesia cadete para a esquerda”, sobre a “pressão” em cima dessa burguesia? E a campanha anti- cadete dos liquidacionistas do Lutch, que “acicatavam” e “amedrontavam” os cadetes talvez até de modo exagerado, não prova talvez que a própria vida põe a verdade até “em boca das crianças de peito”?

Que fora feito então dos inabaláveis princípios de Dan, Mártov e outros adversários da “ cadetofobia”?

O “amplo partido operário” dos liquidacionistas sofreu mais uma vez derrota na luta contra o “círculo clandestino”. Meditai um pouco: o “amplo partido operário” (?) prisioneiro do pequeno, mas absolutamente pequeno, “círculo”! Milagre...

III - Conclusões

De tudo quanto foi dito resulta claramente, antes de mais nada, que os discursos sobre os dois campos adversos, o campo dos fautores do regime de 3 de junho e o dos seus adversários, não têm fundamento algum. Na realidade intervieram nas eleições três campos, e não dois: o campo da revolução (os social-democratas), o campo da contrarrevolução (os de direita) e o campo dos conciliadores, que minam a revolução e levam água ao moinho da contrarrevolução (os cadetes). De uma “oposição unida” contra a reação, não se falou.

Há mais. As eleições mostram que a delimitação entre os dois campos extremos tornar-se-á mais nítida, que, por conseguinte, o campo intermediário irá desaparecendo, perdendo os .elementos democratas que se orientarão no sentido da social-democracia e deslocando-se gradativamente para o lado da contrarrevolução.

Os discursos sobre as “reformas” de cima, sobre a impossibilidade de “explosões” e sobre o “desenvolvimento orgânico” da Rússia sob a égide da “constituição”, perdem portanto qualquer fundamento. O curso dos acontecimentos levará inevitavelmente a uma nova revolução e deveremos viver um “novo 1905”, não obstante as asseverações dos Lárin e de outros semelhantes liquidacionistas.

Enfim as eleições mostram que o proletariado, e somente ele, é chamado para pôr-se à testa da revolução que se aproxima, reunindo pouco a pouco em torno de si tudo quanto existe na Rússia de honesto e democrático, tudo quanto anela libertar a pátria da escravidão. Para convencer-se disso, basta conhecer o andamento das eleições na cúria operária; basta saber para quem se dirigem as simpatias dos operários de Petersburgo, claramente expressas no mandato dos delegados; basta conhecer sua luta revolucionária pelas eleições.

Tudo isso dá ensejo para afirmar que as eleições em Petersburgo confirmaram plenamente as palavras de ordem da democracia revolucionária.

A vitalidade e a potência da social-democracia revolucionária: eis a primeira conclusão.

A bancarrota política dos liquidacionistas: eis a segunda conclusão.

Assinado: K. Stálin.


Notas de fim de tomo:

(1) Durante a campanha eleitoral em Petersburgo, o representante do C. C. era Stálin. (retornar ao texto)

(2) Os liquidacionistas haviam suprimido do seu programa eleitoral, publicado em setembro de 1912, as principais palavras de ordem políticas do programa mínimo do P.O.S.D.R. (retornar ao texto)

(3) Trata-se da chamada conferência “de agosto” dos liquidacionistas, que se realizou em Viena, em agosto de 1912. A conferência fora convocada em contraposição à dos bolcheviques, reunida em Praga. (retornar ao texto)

(4) O liquidacionista X era provavelmente E. Maievski (V. A. Gutovski) e o bolchevique Y., N. G. Poletáiev. (retornar ao texto)

(5) Nievski Golos (A Voz do Neva), semanário legal dos mencheviques liquidacionistas que se publicou em Petersburgo, de maio a agosto de 1912. (retornar ao texto)

(6) Os liquidacionistas de Petersburgo “Ab... e L...” eram V. M. Abrosímov e V. Levitski (V. O. Zederbaum). (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 25/10/2019