As Negociações de Paz com a Ucrânia
(Entrevista com um correspondente do "Izvéstia")

J. V. Stálin

9 de Maio de 1918


Primeira Edição: "Izvéstia" ("As Notícias"), n.° 90, 9 de maio de 1918.

Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.

Tradução: Editorial Vitória

Transcrição: Partido Comunista Revolucionário

HTML: Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.

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Em entrevista com um nosso correspondente, o presidente da delegação soviética para as negociações de paz, camarada Stálin, chegado a Moscou de Kursk, a convite do Conselho dos Comissários do Povo, para apresentar seu informe, fez as seguintes declarações:

Conclusão do armistício

Em primeiro lugar, a delegação soviética às negociações de paz tinha a tarefa de concluir um armistício e fazer cessar as hostilidades nas fronteiras com a Ucrânia. Foi justamente sobre esse assunto que a nossa delegação começou as negociações com o comando teuto-ucraniano. Conseguimos obter a cessação das hostilidades nas frentes de Kursk, Briansk e Vorónej. Apresenta-se agora o problema de pôr fim às hostilidades também na frente meridional. Assim, a nosso ver, a primeira fase do tratado de paz se limita a concluir o armistício e a fixar a linha de demarcação.

Negociações ulteriores

A outra nossa tarefa, a abertura das próprias negociações de paz, complicou-se com o fato de que se teve de esperar demoradamente a delegação da Rada Central. Depois da chegada da delegação a Vorozba, soube-se que se verificara na Ucrânia um golpe de Estado e que a pequena e a grande Rada haviam sido suprimidas, o que naturalmente tornou mais difícil a conclusão do armistício e os acordos preliminares para a fixação da data e do local onde deveriam ter início as conversações.

Com esse objetivo enviamos um parlamentar especial a Konotop, localidade fixada pelo comando teuto-ucraniano, onde está sediado o Estado-Maior central desse comando. Ao nosso delegado foram concedidas faculdades as mais amplas a fim de se entender sobre a localidade para a abertura das negociações.

As conseqüências do golpe de Estado na Ucrânia

É difícil dizer alguma coisa de preciso sobre as conseqüências que o golpe de Estado verificado na Ucrânia teve em relação à sorte das negociações de paz, visto como não se conhece o ponto de vista do novo governo ucraniano sobre tais negociações. No apelo do hétmã Skoropadski nada se disse a esse respeito. Antes do golpe de Estado encontrávamo-nos diante de um programa de paz determinado, o da Rada Ucraniana. O programa territorial do novo governo ucraniano nos é desconhecido.

Em resumo, o golpe de Estado na Ucrânia até agora não teve uma repercussão negativa nas negociações de paz. Ao contrário, pode-se pensar que não exclua a possibilidade de concluir a paz entre o Poder Soviético e o governo ucraniano. É preciso salientar que depois do golpe os ucranianos abandonaram a atitude hesitante e contemporizadora quanto às negociações de paz.

As causas do golpe de Estado

Ao terminar a entrevista, o camarada aludiu às causas determinantes do golpe de Estado na Ucrânia.

Segundo minha opinião, esse golpe de Estado era inevitável. O motivo fundamental que o determinou encontra-se na posição contraditória da Rada Central, que por um lado representava a comédia do socialismo e por outro pedia tropas estrangeiras para lutar contra os operários e camponeses da Ucrânia. A Rada Central tornara-se financeira e militarmente dependente da Alemanha e ao mesmo tempo fazia numerosas promessas aos operários e camponeses, contra os quais iniciaria logo depois uma guerra encarniçada. Com o seu último passo a Rada Ucraniana criara condições tais que no momento crítico, em que os círculos da burguesia e dos latifundiários a atacaram, ela não teve em quem se apoiar.

Fundamentalmente a Rada Central, por força da lei da luta de classes, não podia manter-se longamente no Poder, porque no processo do movimento revolucionário só se podem fixar firmemente no Poder os elementos sustentados por esta ou aquela classe. Por isso na Ucrânia só se podia admitir duas soluções: ou a ditadura dos operários e camponeses, o que não podia ser favorecido pela Rada Central devido à sua natureza pequeno-burguesa, ou a ditadura dos círculos da burguesia e dos latifundiários, mas nem sequer com essa solução a Rada podia estar de acordo. Preferiu uma posição ambígua e assim firmou sua condenação à morte.


pcr
Inclusão 11/01/2008