Nossas Tarefas no Oriente
(O 24 e o 25 de outubro de 1917 em Petrogrado)

J. V. Stálin

02 de Março de 1919


Primeira Edição: "Pravda" ("A Verdade"), n.º 48, 2 de março de 1919.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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O Exército Vermelho avança no Oriente e o caminho para o Turquestão está aberto; novas tarefas se nos apresentam, portanto.

A população do Oriente da Rússia não possui nem a uniformidade das províncias centrais, que tornou mais fácil a construção socialista, nem a maturidade cultural das regiões ocidentais e meridionais, que deu a possibilidade de elaborar rapidamente e sem dificuldade as formas nacionais adequadas do Poder Soviético. Em contraste com estas regiões e com o centro da Rússia, as regiões orientais, povoadas por tártaros e bachkírios, quirguizes e uzbeks, turcomanos e tadjiks e, enfim, por muitas outras formações étnicas (cerca de 30 milhões de pessoas), apresentam uma riquíssima variedade de povos atrasados do ponto de vista cultural, os quais ainda não saíram da idade média, ou só há pouco entraram no âmbito do desenvolvimento capitalista.

Essa circunstância indubitavelmente complica e torna um pouco mais difíceis as tarefas do Poder Soviético no Oriente.

As complicações de caráter puramente interno, derivadas do modo de vida, se juntam complicações de caráter "histórico", importadas, por assim dizer, do exterior. Pretendemos falar da política imperialista do governo tzarista, que visava sufocar os povos do Oriente, da cobiça e insaciabilidade do mercador russo, que se sentia dono das regiões orientais, e enfim da política jesuítica do pope russo, que tentava, sem recuar diante de nenhum meio, arrastar para o seio da igreja ortodoxa as nacionalidades muçulmanas, circunstâncias que em conjunto criaram nas nacionalidades do Oriente um sentimento de desconfiança e de irritação contra tudo que é russo.

É preciso dizer que a vitória da revolução proletária na Rússia e a política libertadora do Poder Soviético com relação aos povos oprimidos indubitavelmente purificaram a atmosfera, eliminando os fatores de hostilidade nacional, granjeando para o proletariado russo a confiança e a estima dos povos do Oriente. Há mais. Existem todas as razões para afirmar que esses povos e os seus representantes conscientes começam a ver na Rússia o baluarte e o símbolo de sua libertação das cadeias do imperialismo. Mas o caráter limitado da cultura e o atraso no modo de vida, que não podem ser liquidados de um só golpe, se fazem (e se farão ainda) sentir na construção do Poder Soviético no Oriente.

É justamente a essas dificuldades que se refere a Comissão para o Projeto de Programa do P.C. da Rússia[N65], na passagem onde declara que quanto à questão da liberdade nacional "o P.C. da Rússia se atem ao ponto de vista histórico e de classe, e leva em conta o grau de desenvolvimento histórico atingido por uma determinada nação: se se encontra no caminho da idade média para a democracia burguesa ou no da democracia burguesa para a democracia soviética"; que "o proletariado das nações anteriormente dominantes deve mostrar-se particularmente cauteloso e particularmente respeitoso com os restos de sentimentos nacionais das massas trabalhadoras das nações oprimidas e que não gozam de plenos direitos".

Nossa tarefa consiste nisto:

1.°) — Elevar com todas as nossas forças o nível cultural dos povos atrasados, organizar uma densa rede de escolas e de estabelecimentos de ensino, desenvolver a agitação soviética, oral e impressa, numa linguagem compreensível e familiar para o povo trabalhador de cada localidade.

2.°) — Fazer participarem as massas trabalhadoras do Oriente na edificação do Estado Soviético, ajudando-as por todos os modos a constituírem os seus soviets de deputados de circunscrição, provinciais, etc., com homens que se tenham colocado do lado do Poder Soviético e sejam estimados pela população local.

3.°) — Abolir todas e quaisquer limitações, formais e efetivas, herdadas do antigo regime ou adquiridas na atmosfera da guerra civil, que impeçam o máximo desenvolvimento do espírito de iniciativa dos povos do Oriente, os quais avançam no caminho da libertação das sobrevivências medievais e do jugo já despedaçado da nação dominante.

Só dessa maneira o Poder Soviético poderá tornar-se caro e familiar aos povos oprimidos do vasto Oriente.

Só dessa maneira será possível lançar uma ponte entre a revolução proletária do Ocidente e o movimento antiimperialista do Oriente, formando assim um círculo que se fecha em torno do imperialismo moribundo.

Construir uma cidadela do Poder Soviético no Oriente, elevar em Kazan, em Ufá, em Samarkand e em Tachkent um farol socialista que ilumine a estrada que leva à libertação dos povos martirizados do Oriente: eis a tarefa.

Não duvidamos de que os nossos militantes partidários e soviéticos que, cheios de abnegação, arcaram com todo o peso da revolução proletária e da guerra contra o imperialismo, saberão cumprir com honra também essa tarefa que a História lhes designa.


Notas de fim de tomo:

[N65] A comissão para a redação do projeto de programa do P.C.(b) da Rússia foi eleita para o VII Congresso do Partido a 8 de março de 1918. Da comissão faziam parte, entre os demais, Lênin Stálin. O projeto elaborado pela comissão serviu de base à redação programa depois aprovado no VIII Congresso do Partido. A passagem citada no presente artigo foi ali incluida sem modificações (vide parte I, 6.ª ed. 1940, pág. 287). (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 29/02/2008