O Fuzilamento dos Vinte e Seis Camaradas de Baku, Obra dos Agentes do Imperialismo Inglês

J. V. Stálin

23 de Abril de 1919


Primeira Edição: "Izvéstia" ("As Notícias"), n.° 23 de abril de 1919.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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Chamamos a atenção dos leitores para dois documentos[N74] que lançam luz sobre a feroz represália exercida no outono do ano passado pelos imperialistas ingleses contra dirigentes do Poder Soviético de Baku, que ocupavam cargos de grande responsabilidade. As fontes desses documentos são o jornal social-revolucionário Známia Trudá[N75] e a Edínaia Rossíia[N76], ambos de Baku, isto é, os mesmos círculos que até ontem, traindo os bolcheviques, pediram o auxílio dos ingleses e hoje são obrigados pelo curso dos acontecimentos a desmascarar seus aliados de ontem.

O primeiro documento dá notícia do bárbaro fuzilamento de vinte e seis dirigentes soviéticos da cidade de Baku (Chaumián, Djaparidze, Fiolétov, Malyguin e outros) efetuado pelo capitão inglês Teague-Jones, sem processo e sem instrução, na noite de 20 de setembro de 1918, na estrada de Krasnovodsk a Askhabad, cidade para a qual deviam ser conduzidos por Teague-Jones na qualidade de prisioneiros de guerra. Teague-Jones e os seus companheiros social-revolucionários e mencheviques esperavam provavelmente abafar o assunto, propondo-se fazer circular falsos testemunhos sobre a morte "natural" dos bolcheviques de Baku na prisão ou no hospital; mas esse plano evidentemente foi por água abaixo porque, segundo parece, ficaram testemunhas que não querem calar e estão prontas a desmascarar até ao fim os bárbaros ingleses. Esse documento é assinado pelo social-revolucionário Tcháikin.

O segundo documento cita uma conversação do general inglês Thomson com o autor do primeiro documento, Tcháikin, havida em fins de março de 1919. O general Thomson pede a Tcháikin que nomeie as testemunhas da feroz execução dos vinte e seis bolcheviques de Baku efetuada pelo capitão inglês Teague-Jones. Tcháikin declara-se pronto a apresentar os documentos e a nomear as testemunhas, sob a condição de que seja constituída uma comissão de inquérito composta de representantes do comando inglês, da população de Baku e dos bolcheviques do Turquestão; pede ele, além disso, garantias de que as testemunhas turquestanas não sejam mortas por agentes dos ingleses. Uma vez que Thomson não aceita a proposta da comissão de inquérito e não dá garantias acerca da incolumidade pessoal das testemunhas, a conversação é interrompida e Tcháikin se afasta. O documento é interessante deste ponto de vista: confirmando indiretamente a barbárie dos imperialistas ingleses, ele não só revela, mas expõe de maneira gritante a ferocidade selvagem dos agentes ingleses, que, protegidos pela impunidade, se comportam com os "nativos" de Baku e das regiões transcáspias como se estes fossem negros da África Central.

Eis a história dos vinte e seis bolcheviques de Baku. Em agosto de 1918, quando as tropas turcas estavam às portas de Baku e os membros social-revolucionários e mencheviques do Soviet de Baku, não obstante os bolcheviques, arrastaram a reboque a maioria do Soviet e pediram auxílio aos imperialistas ingleses, os bolcheviques de Baku, com Chaumián e Djaparidze à testa, em minoria, renunciaram ao seu poder, deixaram livre o campo aos seus adversários políticos e decidiram, com o consentimento do poder ingiês-social-revolucionário-menchevique que estava então constituído em Baku, refugiar-se em Petrovsk, que era o lugar mais próximo onde existia o Poder Soviético. Mas, quando se dirigia para Petrovsk, o vapor que levava os bolcheviques de Baku e suas famílias foi bombardeado pelos navios ingleses que os seguiam, e conduzido a Krasnovodsk. Isso aconteceu em agosto.

Depois disso, o governo soviético da Rússia dirigiu-se repetidamente ao comando inglês, oferecendo prisioneiros ingleses em troca dos camaradas de Baku e de suas famílias; mas o comando inglês nunca se dignou responder. Desde o mês de outubro começaram a chegar notícias provenientes de particulares e de organizações sobre o fuzilamento dos camaradas de Baku. A 5 de março de 1919, Astracã interceptou uma notícia difundida pelo rádio de Tiflís, a qual dizia que "Djaparidze e Chaumián não estavam nas mãos do comando inglês, e que, segundo notícias colhidas no local, foram mortos em setembro por um grupo de operários nas vizinhanças de Kizyl-Arvat". Evidentemente, essa era a primeira tentativa oficial dos assassinos ingleses de fazer recair a culpa de sua ferocidade sobre os operários que nutriam um grande afeto tanto por Chaumián como por Djaparidze. Agora, após a publicação dos documentos supracitados, deve-se julgar como provado que os nossos camaradas de Baku, os quais se haviam retirado voluntariamente da arena política e dirigiam-se a Petrovsk como fugitivos, foram efetivamente fuzilados sem processo e sem instrução pelos canibais da "civilizada" e "humana" Inglaterra.

Nos países "civilizados" costuma-se falar dos atos terroristas e dos horrores cometidos pelos bolcheviques. Os imperialistas anglo-franceses são, ao invés, pintados habitualmente como inimigos do terrorismo e dos fuzilamentos. Mas acaso não é claro que nunca o Poder Soviético se vingou dos seus adversários de maneira tão baixa e vil como fizeram os "civilizados" e "humanos" ingleses, e que só os canibais imperialistas, putrefatos até à medula e faltos de todo senso de moral, podem ter necessidade de assassinatos perpetrados sob a proteção da noite e de ataques bandidescos contra inimigos políticos inermes? Se ainda existem homens que duvidam disso, que leiam os documentos acima referidos e chamem as coisas pelo seu nome.

Chamando os ingleses a Baku e traindo os bolcheviques, os mencheviques e os social-revolucionários daquela cidade pensavam "servir-se" dos "hóspedes" ingleses como de uma força, mas pensavam também que permaneceriam eles próprios como donos do país, ao passo que os "hóspedes" iriam embora para casa. Na realidade, aconteceu o contrário: os "hóspedes" tornaram-se donos de poder ilimitado, os social-revolucionários e os mencheviques transformaram-se em cúmplices necessários do criminoso e vil assassinato dos vinte e seis comissários bolcheviques; além disso, os social-revolucionários foram obrigados a passar para a oposição, desmascarando cautelosamente os novos donos, e os mencheviques no seu jornal de Baku, a Iskra[N77], foram obrigados a pregar a aliança com os bolcheviques contra os "hóspedes agradáveis" de ontem.

Não é acaso claro que a aliança dos social-revolucionários e dos mencheviques com os agentes do imperialismo é uma "aliança" de escravos e de lacaios com os seus amos? Se ainda existem homens que duvidam disso, que leiam o "colóquio" do general Thomson com o senhor Tcháikin acima referido e digam em sã consciência se o senhor Tcháikin se assemelha a um dono e o general Thomson a um "hóspede agradável".


Notas de fim de tomo:

[N74] Os dois documentos (A execução dos 26 comissários e O encontro do general Thomson com o senhor Tcháikin em 23 de março de 1919) foram publicados com o presente artigo no Izvéstia de 23 de abril de 1919. (retornar ao texto)

[N75] Známia Trudá (A Bandeira do Trabalho), órgão do comitê dos social-revolucionários de Baku. Saiu de janeiro de 1918 a novembro de 1919. (retornar ao texto)

[N76] Edínaia Rossíia (A Rússia Unida), jornal de tendência cadete, publicado pelo chamado "Comitê Nacional Russo de Baku", de dezembro de 1918 a julho de 1919. (retornar ao texto)

[N77] (77) Iskra (A Centelha), órgão do comitê menchevique de Baku. Saiu de novembro de 1918 a abril de 1920. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 11/03/2008
Última alteração 14/12/2010