Sobre a Preparação e o Fortalecimento dos Quadros Marxistas nas Regiões e Repúblicas Nacionais(1)

J. V. Stálin

10 de Junho de 1923


Primeira Edição: Do informe sobre o segundo ponto da ordem do dia da Conferência “Medidas práticas para concretizar as resoluções sobre o problema nacional, adotadas pelo XII Congresso do Partido”, pronunciado em 10 de junho de 1923. A IV Conferência do C. C. do P. C. (b) da Rússia, com os militantes responsáveis das Repúblicas e regiões nacionais, reunida em Moscou. de 9 a 12 de junho de 1923. Notas taquigráficas, Moscou, 1923.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1946. Tradução de Brasil Gerson. Pág: 235-240.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Passo agora ao problema relativo à formação e ao fortalecimento de quadros marxistas constituídos de elementos locais, quadros capazes de constituir o baluarte mais firme e, em última instância, o baluarte decisivo do Poder Soviético nas regiões da periferia e nas Repúblicas nacionais. Se tomamos o desenvolvimento do nosso Partido (tomo a sua parte russa como a fundamental) e seguimos as etapas fundamentais do seu desenvolvimento, e logo, por analogia, construímos o panorama imediato do desenvolvimento das nossas organizações comunistas das regiões e Repúblicas, creio que encontraremos a chave para compreender as particularidades existentes nesses países do ponto de vista do desenvolvimento do nosso Partido na periferia. A tarefa fundamental no primeiro período do desenvolvimento do nosso Partido, de sua parte russa, foi a formação de quadros, a formação de quadros marxistas. Esses quadros marxistas se constituíam, se forjavam na luta contra o menchevismo. A missão desses quadros, naquele período — tomo o período que medeia entre a fundação do Partido bolchevique e o momento em que foram expulsos do Partido os liquidacionistas, como expressão mais acabada do menchevismo —, a tarefa fundamental consistia em conquistar para o bolchevismo os elementos mais ativos, mais honestos e mais destacados da classe operária, em criar quadros e forjar uma vanguarda. Nesse período, a luta estava empenhada, em primeiro lugar, contra as tendências de caráter burguês, principalmente contra o menchevismo, que impediam a fusão dos quadros como um todo único, como o núcleo principal do Partido. Nessa época, ainda não se colocava diante do Partido, como necessidade imediata e de palpitante atualidade, a tarefa de estender amplos vínculos que o unissem às massas de milhões de operários e camponeses trabalhadores, a tarefa de conquistar essas massas, a tarefa de conquistar a maioria do país. O Partido ainda não havia chegado a esse ponto.

Somente no grau seguinte do desenvolvimento do nosso Partido, unicamente em sua segunda etapa, quando esses quadros cresceram, quando se converteram no núcleo principal do nosso Partido, quando já haviam sido conquistadas ou quase conquistadas as simpatias dos melhores elementos da classe operária, somente depois disso é que se colocou diante do Partido, como necessidade imediata e inadiável, a tarefa de conquistar as massas de milhões de trabalhadores, a tarefa de transformar os quadros do Partido em um verdadeiro partido operário de massas. Nesse período, o núcleo do nosso Partido teve de lutar não tanto contra os mencheviques como contidos elementos de “esquerda” do nosso Partido, contra os “otsovistas”(2) de toda espécie, que, com uma fraseologia revolucionária, tentavam falsificar o estudo aprofundado das peculiaridades da nova situação criada depois de 1905; que, com a sua tática “revolucionário”-simplista, prejudicavam a transformação dos quadros do nosso Partido em um verdadeiro partido de massas; que, com a sua atividade, criavam a ameaça de isolar o Partido das grandes massas operárias. Cumpre acentuar que, sem uma luta decidida contra esse perigo de “esquerda”, sem a sua superação, o Partido não teria podido conquistar as massas de milhões de trabalhadores.

Tal é o panorama aproximado da luta nas duas frentes, contra as direitas e contra as “esquerdas”, panorama do desenvolvimento do nosso Partido em sua parte fundamental, em sua parte russa.

O camarada Lênin descreveu de maneira bem convincente esse quadro necessário e inevitável do desenvolvimento dos Partidos Comunistas no seu livro A doença infantil do “esquerdismo” no comunismo. Nele demonstra o camarada Lênin que os Partidos Comunistas do Ocidente deverão passar, ou já estão passando, aproximadamente, pelas mesmas etapas de desenvolvimento. A isso acrescentaremos, de nossa parte, que a mesma coisa cabe dizer do desenvolvimento das nossas organizações comunistas e dos Partidos Comunistas da periferia.

Entretanto, convém assinalar que, apesar da analogia existente entre a experiência vivida pelo Partido no passado e a que estão vivendo atualmente as nossas organizações do Partido na periferia, nas regiões e nas Repúblicas nacionais, existem, apesar de tudo, certas particularidades substanciais do desenvolvimento do nosso Partido, que temos de tomar em consideração de modo escrupuloso, uma vez que, sem isso, corremos o risco de cometer uma série de erros bem grosseiros, na determinação das tarefas referentes ao preparo, na periferia, de quadros marxistas constituídos de naturais do país.

Passemos à análise dessas particularidades.

A luta contra os elementos de direita e de “esquerda” em nossas organizações da periferia é inevitável, pois, caso contrário, não conseguiremos preparar quadros marxistas estreitamente ligados às massas. Isso está claro. Mas a particularidade de situação na periferia e a diferença em relação ao passado no desenvolvimento do nosso Partido consistem em que a formação de quadros e a sua transformação em um partido de massas verifica-se, na periferia, não sob o regime burguês, como aconteceu na história do nosso Partido, mas sob o regime soviético, sob a ditadura do proletariado. Naquela época, sob o regime burguês, podia-se e devia-se, dadas as condições do momento, combater em primeiro lugar os mencheviques (visando à preparação de quadros marxistas), e em seguida os otsovistas (visando à transformação desses quadros em um partido de massas), enchendo a luta contra esses desvios dois períodos inteiros da história do nosso Partido. Atualmente, nas condições do momento, não podemos repeti-la de modo algum, uma vez que agora o Partido se encontra no poder; e encontrando-se no poder, o Partido precisa ter na periferia quadros seguros do ponto de vista marxista, quadros constituídos de naturais do país e que, ao mesmo tempo, estejam ligados às grandes massas da população. Agora não podemos acabar primeiro com as direitas com auxílio das “esquerdas”, como aconteceu na história do nosso Partido, e acabar depois com as “esquerdas” com auxílio das direitas. Agora temos de lutar nas duas frentes simultaneamente, procurando desfazer ambos os perigos, para obter na periferia, como resultado, quadros constituídos de naturais do país, ligados às massas e preparados no sentido marxista. Naquela época, podíamos falar de quadros que ainda não estivessem ligados a amplas massas e que a elas se deveriam ligar na etapa seguinte do desenvolvimento. Atualmente é até ridículo falar a esse respeito, uma vez que, sob o Poder Soviético, os quadros marxistas não ligados às grandes massas significariam a queda do Poder Soviético. Seriam quadros que não teriam nada de comum nem com o marxismo nem com um partido de massas. Tudo isso complica consideravelmente a questão e impõe às nossas organizações do Partido na periferia a necessidade de lutar simultaneamente, tanto contra as direitas como contra as “esquerdas”. Daí procede a posição do nosso Partido na luta nas duas frentes, contra ambos os desvios, simultaneamente.

Convém ainda assinalar a circunstancia de que o desenvolvimento das nossas organizações comunistas na periferia se verifica, não isoladamente, como na história da parte russa do nosso Partido, mas sob a influência direta do núcleo fundamental do nosso Partido, que não só foi provado na formação de quadros marxistas, mas também no trabalho de ligar tais quadros a amplas camadas da população e na arte de manobrar revolucionariamente na luta pelo Poder Soviético. Nesse sentido, a particularidade da situação na periferia consiste em que as nossas organizações do Partido nesses países, pelas condições do desenvolvimento neles do Poder Soviético, podem e devem manobrar com as suas fôrças, no interesse do fortalecimento dos vínculos com as grandes massas da população, aproveitando para isso a rica experiência adquirida pelo nosso Partido durante o período anterior. Até os últimos tempos, o Comitê Central do Partido Comunista da Rússia atuava na periferia em geral de um modo direto, por cima das organizações comunistas da periferia, chegando às vezes a deixar de lado essas organizações e atraindo para o trabalho geral da construção soviética todos e os elementos nacionais mais ou menos leais. Atualmente esse trabalho deve ser realizado pelas próprias organizações da periferia. Podem e devem fazê-lo, tendo presente que esse caminho constitui o melhor meio de transformar os quadros marxistas, integrados por naturais do país, em um verdadeiro partido de massas, capaz de arrastar a maioria da população do país.

Essas são as duas particularidades que devem ser tomadas devidamente em consideração na determinação da linha do nosso Partido na periferia, no que diz respeito à preparação de quadros marxistas e à conquista, por esses quadros, das grandes massas da população.


Notas de rodapé:

(1) A IV Conferência do C. C. com os militantes responsáveis das Repúblicas e regiões nacionais foi convocada em Moscou, por iniciativa de Stálin, e reuniu-se de 9 a 12 de junho de 1923. O ponto principal da ordem do dia da Conferência foi o informe de Stálin sobre as medidas práticas para a concretização das resoluções do XII Congresso sobre o problema nacional. Os representantes de vinte organizações do Partido das Repúblicas e regiões nacionais intervieram com informes sobre a situação nas mesmas. A Conferência estudou igualmente o caso de Sultan-Galíev, militante tártaro, membro do Comitê do Comissariado do Povo para as Nacionalidades, que aproveitou o seu posto responsável para criar uma organização ilegal com o objetivo de contrariar as medidas do Partido no tocante ao problema nacional e para estabelecer contacto com fôrças evidentemente contrarrevolucionárias, particularmente com o movimento dos basmakos de Bucara e do Turquestão. Além dos membros e suplentes do C. C., participaram da Conferência 58 representantes das Repúblicas e regiões nacionais.(retornar ao texto)

(2) “Otsovistas”: do russo otsovat (retirar, revogar). Partidários de uma corrente oportunista pequeno-burguesa, surgida nas fileiras do Partido Bolchevique durante os anos da reação (1908-1912). Exigiam que o Partido retirasse os deputados social-democratas da Duma e renunciasse, em geral a qualquer atuação dentro dos sindicatos e organizações operárias legais. — N. do E. (retornar ao texto)

Inclusão 24/05/2013