Sobre as Contradições no Komsomol(1)

J. V. Stálin

3 de Abril de 1924


Primeira Edição: no livro: J. Stálin, «Sobre a União da Juventude Comunista». Moscou, 1926.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 6º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, Fevereiro 2008.
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Devo dizer, em primeiro lugar, algumas palavras sobre a posição assumida pelo C.C. da União da Juventude na discussão que se desenvolve no Partido. Foi um erro que o C.C. da União da Juventude Comunista da Rússia mantivesse obstinado silêncio depois que as organizações locais já se haviam pronunciado. Mas seria errôneo interpretar o silêncio do C.C. da Juventude como uma posição de neutralidade. Foi apenas de uma prudência excessiva.

Agora, algumas palavras sobre os debates. Creio que não há entre vós divergências de princípio. Estudei as vossas teses e artigos e no entanto não encontrei divergências de princípio. Pelo contrário, encontrei neles confusão e um montão de artificiais contradições "inconciliáveis".

A primeira contradição consiste em contrapor a União como "reserva", à União, como "instrumento" do Partido. Que é a União, uma reserva ou um instrumento? Uma coisa e outra. Isto é claro e já foi dito pelos próprios camaradas nos seus discursos. A União da Juventude Comunista é uma reserva, reserva composta de camponeses e de operários, da qual o Partido retira novos contingentes. Mas, ao mesmo tempo, é um instrumento, um instrumento nas mãos do Partido, que influencia as massas da juventude. Poder-se-ia dizer, mais concretamente, que a União é um instrumento do Partido, uma arma auxiliar do Partido, no sentido de que os militantes ativos da União são um instrumento do Partido para influenciar os jovens que estão fora da União. Estes conceitos não são contraditórios e não podem ser contrapostos um ao outro.

A segunda pretensa contradição "inconciliável", na opinião de alguns camaradas, seria de que "a política de classe da União é determinada não pela sua composição social, mas pelo grau de firmeza das pessoas que a dirigem". Aqui se contrapõe a firmeza à composição social. Também esta contradição é artificial, pois a política de classe da União é determinada por ambos os fatores: pela sua composição social e pelo grau de firmeza do seu grupo dirigente. Se pessoas firmes sofrem a influência de uma composição social estranha ao espírito da União — cujos membros gozam de direitos iguais — a existência de tal composição não pode deixar de imprimir seu selo no trabalho e na política da União. Por que razão o Partido regula a sua composição social? Porque sabe que a composição social influi no seu trabalho.

Finalmente, outra contradição, também artificial, que diz respeito ao papel da União e ao seu trabalho entre os camponeses. Alguns colocam a questão nestes termos: a tarefa da União consistiria em "consolidar" a influência entre os camponeses e em ampliá-la; outros desejariam “ampliar a influência", mas não estariam de acordo em consolidá-la. E disso se quer fazer a plataforma da discussão. É evidente que a contraposição dessas duas tarefas é artificial, porque todos compreenderam muito bem que a União deve ao mesmo tempo consolidar e ampliar a sua influência no campo. É verdade que num ponto das teses do C.C. da União há uma frase infeliz sobre o trabalho entre os camponeses. Mas nem Tarkhânov nem os outros representantes da maioria do C.C. da União insistem naquela formulação infeliz e concordam em modificá-la. Depois disso, valeria a pena discutir por coisa de somenos importância?

Há, porém, na vida e na atividade da União da Juventude Comunista uma contradição, uma contradição real, não fictícia, sobre a qual desejaria dizer algumas palavras. Refiro-me à existência de duas tendências na União: a operária e a camponesa. Refiro-me à contradição entre estas tendências, que se faz sentir e que não se pode desprezar.

A parte relativa a esse problema foi o ponto mais fraco nos discursos dos camaradas. Todos dizem que é necessário aumentar os efetivos da União recrutando novos operários, mas todos tropeçam quando passam aos camponeses, ao problema do recrutamento dos camponeses. Até mesmo os oradores que falaram sem argúcias nem subterfúgios tropeçaram nesta questão.

É evidente que diante da União surgem dois problemas: o operário e o camponês. É evidente que, pelo fato de ser a uma organização operária e camponesa, essas duas tendências, essas contradições continuarão a existir também no futuro. Alguns, negligenciando os camponeses, dirão que é necessário recrutar os operários, enquanto outros dirão que é preciso recrutar os camponeses, subestimando a importância do elemento proletário na União como elemento dirigente. Esta contradição interna, inerte à natureza mesma da União, fez com que tropeçassem os oradores que falaram aqui. Nos discursos, fez-se um paralelo entre o Partido e a União. Mas o fato é que, na realidade, esse paralelismo não existe, pois o nosso Partido é operário, e não operário e camponês, enquanto a União é uma organização operária e camponesa. Por isso, a União não pode ser uma organização exclusivamente operária, mas deve ser ao mesmo tempo operária e camponesa. Uma coisa é clara: em virtude da estrutura atual da União, as contradições internas e a luta das tendências serão inevitáveis também no futuro.

Têm razão os que dizem que é preciso recrutar para o Partido os jovens camponeses médios, mas nesta questão é necessário ter muita prudência e não deslizar para a posição de um partido operário-camponês, coisa que ocorre às vezes até a alguns dirigentes. Muitos clamam: "Recrutais para o Partido operários, por que não poderemos recrutar, em igual medida, os camponeses? Demos ingresso a cem mil ou duzentos mil camponeses". O C.C. é contra esta tendência, porque o nosso Partido deve ser um Partido operário. Uns 70 a 80 por cento de operários e uns 20 a 25 por cento de não operários, tal deve ser, mais ou menos, a correlação no Partido. Na União, a questão é um pouco diference. A União da Juventude Comunista é a organização voluntária, livre, dos elementos revolucionários da juventude operária e camponesa. Sem camponeses, sem a massa da juventude camponesa, deixaria de ser uma união operária e camponesa. Mas é preciso agir de modo que o papel dirigente permaneça com o elemento proletário.


Notas:

(1) Discurso pronunciado na Conferência convocada pelo C.C.. do P.C.. (b) da Rússia para discutir os problemas do trabalho entre a juventude[N20] (retornar ao texto)

[N20] A 3 de abril de 1924, no C.C. do P.C. (b) da Rússia, realizou-se uma reunião consagrada ao trabalho entre a juventude, de que participaram membros do C.C. do Partido e os membros e os suplentes do C.C. da U.J.C.R. e representantes das dez organizações provinciais mais importantes da U.J.C.R. A reunião fez o balanço da discussão sobre as tarefas imediatas do Komsomol, desenvolvida em começos de 1924. Depois de estudar os resultados da reunião, o C.C. do P.C. (b) da Rússia determinou às organizações locais do Partido e da União da Juventude que intensificassem os esforços por alcançar unidade e acordo no trabalho e chamou a atenção dos dirigentes da União da Juventude sobre a necessidade de melhor organizar o trabalho para cumprir as tarefas determinadas pelo Partido. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 13/06/2008