O Partido Comunista Polonês

Discurso pronunciado na reunião da Comissão Polonesa da Internacional Comunista[N116]

J. V. Stálin

3 de Julho de 1924


Primeira edição: Jornal «Bolchevik» («Bolchevique»), nº. 11, 20 de setembro de 1924.

Fonte: J.V. Stálin «Obras» 6º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.

Tradução: Editorial Vitória.

Transcrição: Partido Comunista Revolucionário

HTML: Fernando A. S. Araújo, Fevereiro 2008.

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Capa

Camaradas:

Não disponho de dados suficientes para falar com a mesma precisão com que intervieram alguns oradores. Não obstante, baseando-me em dados que, apesar de tudo, consegui reunir, bem como nos debates que se desenrolaram aqui, formei uma opinião concreta, que desejaria levar ao vosso conhecimento.

É indubitável que o Partido Comunista Polonês atravessa uma fase anormal. No seio do Partido Comunista Polonês há uma crise: isto é um fato. Reconheceu-o Waleski, e vós todos o reconhecestes; tudo se manifestou com evidência, posto que se constatou que no seio do C.C. do Partido Polonês existe um desacordo entre os membros do C.C. que desenvolvem trabalho prático e os dirigentes. E mais: o próprio C.C. do Partido Polonês nos seus Plenos de dezembro do ano passado e de março deste ano reconheceu nas suas resoluções que toda uma série dos seus atos tinha caráter oportunista e os condenou sem rodeios. Parece que a coisa já está bem clara. Tudo isso evidencia, repito, uma crise indubitável no Partido Comunista Polonês.

Qual é a causa da crise?

A causa reside em alguns pecados oportunistas no trabalho prático dos líderes oficiais do Partido Comunista Polonês.

Permiti-me que mencione alguns exemplos que confirmam esta asserção.

A questão "russa". Alguns camaradas poloneses dizem que esta questão, por ser uma questão de política exterior não tem grande importância para o Partido Polonês. É errado. A questão "russa" tem uma importância decisiva para todo o movimento revolucionário, quer do Ocidente quer do Oriente. Por quê? Porque o Poder Soviético na Rússia é a base, o baluarte do movimento revolucionário do mundo inteiro que nele encontrará sempre amparo. E se nesta base, isto é, na Rússia, o Partido e o Poder começam a vacilar, quer dizer que o movimento revolucionário em todo o mundo sofrerá grave dano.

No nosso Partido, no P.C. (b) da Rússia, durante a discussão começaram a surgir algumas vacilações. A oposição, oportunista por sua essência, com a sua luta contra o Partido, levava à desunião, ao enfraquecimento do Partido e, por conseguinte, ao enfraquecimento do próprio Poder Soviético, pois o nosso Partido é um Partido de governo e constitui a força dirigente fundamental do Poder do Estado. É natural, que as vacilações no seio do P.C. (b) da Rússia poderiam dar como resultado vacilações e o enfraquecimento do próprio Poder Soviético. As vacilações do Poder Soviético significam um dano para o movimento revolucionário do mundo inteiro. Justamente por isso, as dissensões no seio do P.C. (b) da Rússia e, em geral, a sorte do P.C. (b) da Rússia não podem deixar de se relacionar diretamente com os destinos do movimento revolucionário dos outros países. Eis porque a questão "russa", muito embora seja na Polônia uma questão externa, é uma questão de importância primordial para todos os Partidos Comunistas, inclusive o Partido Polonês.

Entretanto, que atitude assumiram os chefes do Partido Polonês na questão "russa"? A quem apoiaram, à oposição oportunista ou à maioria revolucionária do P.C. (b) da Rússia? Parece-me claro que os chefes do Partido Polonês, no primeiro período da luta no seio do P.C. (b) da Rússia, da luta contra a oposição oportunista, apoiaram de modo inequívoco esta oposição. Não vou pesquisar na alma de Warski ou de Waleski; não me interessa o que pensava Warski quando escreveu a conhecida resolução do Partido Comunista Polonês em favor da oposição no P.C. (b) da Rússia. O mais importante, para mim, não são as intenções de algumas pessoas, mas os resultados objetivos desta resolução. E os resultados objetivos desta resolução se reduzem a levar água ao moinho da oposição. A resolução de que falamos foi um apoio à ala oportunista do P.C. (b) da Rússia. Toda a questão consiste nisso. O C.C. do Partido Polonês, no período em que adotou essa resolução e a enviou ao C.C. do P.C. (b) da Rússia, representava a sucursal polonesa da oposição oportunista no P.C. (b) da Rússia. Se considerássemos a oposição no P.C. (b) da Rússia como uma espécie de empresa com sucursais em vários países, o Partido Comunista Polonês seria então a sucursal polonesa da mesma. É este, em essência, o pecado do oportunismo dos chefes do Partido Polonês na questão "russa". É triste, mas, lamentavelmente, é um fato.

A questão alemã: É a mais importante depois da questão "russa", primeiro porque a Alemanha é o país mais prenhe de revolução entre todos os outros países europeus; em segundo lugar, porque a vitória da revolução na Alemanha significa a vitória em toda a Europa. Se o abalo revolucionário da Europa deve começar em algum lugar, este lugar é justamente a Alemanha. Neste sentido, somente a Alemanha pode tomar a iniciativa, e a vitória da revolução na Alemanha significa que está garantida a vitória da revolução internacional.

Sabeis que, no ano passado, aflorou no Partido Comunista Alemão a luta entre a sua maioria revolucionária e a minoria oportunista. Sabeis o quanto é grande a importância da vitória da ala esquerda ou da ala direita do Partido Comunista alemão para todo o desenvolvimento da revolução mundial. Pois bem, a quem apoiaram os chefes do C.C. do Partido Comunista Polonês nesta luta? Apoiaram o grupo Brandler[N117] contra a maioria revolucionária do Partido Comunista Alemão. Isto é agora reconhecido por todos, amigos e inimigos. Verificou-se o que já havia acontecido em relação à questão "russa". Se considerássemos como uma empresa a oposição oportunista do Partido Comunista Alemão, os chefes poloneses se teriam revelado a sucursal polonesa da mesma. Também isso é triste, mas contra os fatos nada se pode fazer: devem ser reconhecidos.

O método de luta contra a oposição oportunista. Kostrzeva disse que eles, isto é, os líderes do C.C. polonês, são, no fundo, pelo C.C. russo e, talvez também, pelo C.C. alemão na sua composição atual; que divergem, porém, desses organismos na questão dos métodos de luta contra a oposição. Eles, note-se bem, exigem métodos de luta suaves contra aoposição. São partidários da guerra contra a oposição, mas de uma guerra que não cause vítimas. Waleski chegou mesmo a exclamar: por caridade, nós somos pela "troika"![N118]. Devo dizer que ninguém exige de Waleski que aquiesça com tudo o que diz o C.C. russo. Ademais, não sei o que significa esta "troika" de que fala Waleski com tanto entusiasmo. Esqueceu-se de que ninguém está obrigado a concordar com tudo o que diz o C.C. russo.

— Waleski: Não estou obrigado, mas posso fazê-lo

Podeis fazê-lo, naturalmente, mas é necessário compreender que semelhante conduta cria situação embaraçosa para Waleski e o C.C. russo. Não se trata de dizer sempre sim, mas de saber que na Rússia, nas condições da N.E.P., surgiu uma nova burguesia, a qual, não tendo a possibilidade de intervir abertamente na arena política, tenta romper por dentro a frente do comunismo, procurando os seus paladinos entre os dirigentes do P.C. (b) da Rússia. Tal circunstância faz com que surja um espírito de oposição no seio do P.C. (b) da Rússia, criando terreno favorável ao desvio oportunista. Trata-se, por conseguinte, para os nossos partidos irmãos, de definir a sua atitude diante desta circunstância e de assumir uma posição bem clara. Trata-se, repito, disto, e não de dizer sempre sim ao C.C. russo.

Quanto ao método suave de Kostrzeva, devo dizer que não reside à menor crítica. Kostrzeva é favorável à luta contra a oposição oportunista, mas a uma luta que não leve ao descrédito os líderes da oposição. Mas, primeiro, a História não conhece luta que não faça algumas vítimas. Em segundo lugar, não se pode vencer a oposição sem levar em conta que a vitória minará necessariamente a autoridade dos líderes da oposição; de outro modo, seria melhor desistir de toda luta contra a oposição. Em terceiro lugar, a vitória completa sobre a oposição é a única garantia contra a cisão. A prática do Partido não conhece garantias de outra espécie. Demonstra-o toda a história do P.C. (b) da Rússia.

A social-democracia alemã, antes da guerra, quando ainda era ortodoxa, conduzia a luta contra o oportunismo com o mesmo método suave de que fala aqui Kostrzeva. Mas, com isso, obteve apenas a vitória do oportunismo e tornou inevitável a cisão.

O P.C. (b) da Rússia lutou contra o oportunismo empregando o método provado de isolar resolutamente os chefes oportunistas. E obteve com isso a vitória do marxismo revolucionário; conseguiu que o Partido adquirisse coesão excepcional.

Creio que os ensinamentos do P.C. (b) da Rússia devem servir-nos de ensinamento. O método de luta recomendado por Kostrzeva é uma sobrevivência do oportunismo social-democrata, que faz pairar sobre o Partido o perigo de cisão.

Finamente, a questão do trabalho da direção do Partido. Em que consiste o traço característico do desenvolvimento dos Partidos Comunistas do Ocidente no momento atual? Consiste no fato de que os partidos devem enfrentar em cheio o problema da reorganização do trabalho prático do Partido em novo plano, num plano revolucionário. Não se trata de aceitar um programa comunista e de proclamar palavras de ordem revolucionárias. Trata-se de reorganizar o trabalho cotidiano do Partido, a sua prática, numa direção tal que cada passo do Partido e cada um dos seus atos conduza naturalmente à educação revolucionaria das massas, à preparação da revolução. Trata-se disso, e não de expedir diretivas revolucionárias.

Prukhniak leu, aqui, ontem, uma série de resoluções revolucionárias aprovadas pelos chefes do C.C. da Polônia.

Leu com ares de triunfo, supondo que a direção de um Partido esgota as suas tarefas elaborando resoluções. Não lhe passa de modo algum pela cabeça que a elaboração de resoluções não representa senão o primeiro passo, o início do trabalho de direção de um partido. Não compreende que no trabalho de direção o essencial não e elaborar resoluções, mas executá-las, pô-las em prática. Por isso no seu longo discurso, Prukhniak se esqueceu de dizer-nos qual foi o destino dessas resoluções não achou necessário explicar se as mesmas foram cumpridas, e em que medida, precisamente, pelo Partido Comunista da Polônia. Contudo, a essência do trabalho de direção do Partido consiste, precisamente, no cumprimento das resoluções e diretivas. Observando Prukhniak, relembrava eu um funcionário soviético chamado a "responder" perante uma comissão de revisão. "Foi aplicada a diretiva tal?" — pergunta-lhe a comissão. "Foram tomadas providências" — responde o funcionário. "Quais, precisamente?" — pergunta a comissão. "Foi expedida uma ordem" — responde o funcionário. A comissão exige um documento. O funcionário apresenta com ar triunfante uma cópia da ordem. A comissão: "Qual foi o destino da ordem; foi posta em prática ou não e quando, precisamente?" O funcionário faz cara de espanto, declarando que "não há dados a respeito". A comissão, naturalmente, denuncia semelhante funcionário. É justamente este funcionário soviético que Prukhniak me fez lembrar ao ler aqui, com ar triunfante, as resoluções revolucionárias, de cujo cumprimento ele "não tem dados". Isto não é dirigir um partido, mas fugir ao trabalho de direção.

Quais são, por conseguinte, as conclusões? As conclusões são as seguintes:

Primeira. Sou decididamente contrário a que, na discussão que se vai desenrolar no seio do Partido da Polônia, se trace uma linha divisória entre o ex-Partido Socialista Polonês e o ex-Partido Social-Democrata Polonês. Seria perigoso para o Partido. Os dois partidos já se fundiram há tempos num partido único, conduzem uma luta comum contra os latifundiários e a burguesia da Polônia e seria um erro gravíssimo separá-los, agora, retrospectivamente. A luta deve desenvolver-se não segundo a velha linha, a luta entre o PSP e o PSDP, mas segundo uma nova linha, a do isolamento da ala oportunista do Partido Comunista Polonês. Vitória completa sobre a ala oportunista: eis a garantia contra a cisão e o penhor da unidade do Partido.

Segunda. Sou decididamente contrário à chamada amputação, isto é, ao afastamento do C.C. de alguns dos seus membros. Sou em geral contrário à reestruturação do C.C. de cima. É preciso, em geral, levar em conta que uma intervenção cirúrgica, realizada sem necessidade premente, deixa no Partido certo mal-estar. Deixemos que o próprio Partido Comunista Polonês reestruture o seu C.C. no próximo Congresso ou Conferência, é inconcebível que um partido em desenvolvimento não produza novos dirigentes.

Terceira. Creio que as propostas práticas apresentadas por Unszlicht são inteiramente justas. Seria muito conveniente criar, ao invés dos atuais birôs de Organização e Político, que se divorciaram um do outro, um centro político e prático único, constituído por membros do atual C.C. polonês.

Aqui se manifestaram dúvidas a respeito dos conhecimentos teóricos e da experiência de trabalho de Partido dos novos líderes que, na Polônia, surgiram da luta revolucionária. Creio que esta circunstância não pode ter importância decisiva. Na vida do P.C. (b) da Rússia houve casos em que à frente de importantíssimas organizações regionais foram colocados operários com insuficiente bagagem teórica e política. Contudo, esses operários se revelaram líderes melhores do que muitos intelectuais que não possuíam instinto revolucionário. É muito provável que nos primeiros tempos as coisas não andem tão bem com os novos dirigentes, mas isso não é grave: eles se embaraçarão uma, duas vezes e depois aprenderão a dirigir o movimento revolucionário. Os chefes jamais caem prontos do céu. Só se formam no processo da luta.


Notas:

[N116] A Comissão Polonesa, presidida por Stálin, foi constituída no V Congresso da I.E. que se realizou em Moscou, de 17 de junho a 18 de julho de 1924. A resolução sobre a questão, polonesa foi redigida pela comissão e aprovada por unanimidade na primeira reunião do Pleno ampliado do Comitê Executivo da I.E. a 12 de julho de 1924. (retornar ao texto)

[N117] Grupo de oportunistas de direita no Partido Comunista Alemão, chefiado por Brandler. Agindo em combinação com os círculos dirigentes da social-democracia alemã, as partidários de Brandler contribuíram para a derrota da classs operária no curso dos levantes revolucionários de 1923. O V Congresso da I.E. (1924) condenou a política capitulacionista de Brandler e dos seus sequazes, e o V Pleno ampliado do Comitê Executivo da I.E. (4 de abril de 1925) vetou a participação do grupo Brandler na atividade do Partido Comunista Alemão e nos trabalhos da I.E. Em 1929, Brandler foi expulso do Partido em conseqüência da sua atividade desagregadora. (retornar ao texto)

[N118] Troika: direção de três pessoas. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 05/07/2008