Os S.U.V. em Luta
(manifestos, entrevistas, comunicados)


O que são os S.U.V.
PRIMEIRA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DOS SUV


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No domingo, dia 7 de Setembro, à noite, no Porto, um oficial e dois soldados — embuçados por razões de segurança — dão a primeira conferência de imprensa dos S.U.V.

Nesta conferência anunciam a constituição de um movimento para lutar pelas reivindicações dos soldados, contra a disciplina militarista e os saneamentos à esquerda de oficiais e soldados progressistas e revolucionários. Reclamaram-se, também autores de dois panfletos publicados com a sigla S.U.V.

Os SUV propuseram-se como primeiro objectivo a organização da primeira manifestação de soldados depois do 25 de Abril: a grandiosa e combativa manifestação de 10 de Setembro de 1975, no Porto.

Foram estas a declarações proferidas pelos três militares dos S.U.V.:

Enquanto os oficiais milicianos do quadro permanente podem fazer, livremente, conferências de imprensa, entrevistas, expondo com total liberdade os seus pontos de vista sobre a situação política actual; enquanto podem, ao mesmo tempo, recolher assinaturas para um documento; enquanto podem desobedecer ao seu comandante como aconteceu aqui há alguns dias, com os comandantes de algumas unidades da Região militar do Norte ao recusarem submeter-se às ordens do Corvacho; enquanto os oficiais podem colocar de prevenção regimentos, sem ordens do seu comandante, nós, soldados, pelo contrário, somos reprimidos à menor falta, por um regulamento de disciplina militar já em vigor no tempo do fascismo... Sabemos, por

isso, que quando defendemos os nossos interesses de classe, o que temos o direito de o fazer, sujeitamo-nos a castigos da parte destes oficiais que, utilizam para tal o R.D.M., totalmente fascista. Eis as razões porque nos apresentamos embuçados.

O SUV é uma organização, uma frente recentemente constituída, independente, unitária e de luta de classes que agrupa os soldados de diferentes quartéis, não apenas no Porto mas em toda a região militar e que luta pela defesa dos interesses dos trabalhadores fardados, bem como por uma ligação estreita e cada vez mais profunda entre os trabalhadores civis e os trabalhadores fardados.

Há cerca de um mês e meio que começou a ser cada vez mais clara a forma como a reacção levantava a cabeça no interior dos quartéis. Um conjunto do factos, como saneamentos à esquerda que foram feitos em quartéis como o C.I.C.A., o C.I.O.E., em Lamego, no R.I.P., em Viana e ainda noutros, atacando fundamentalmente aqueles camaradas que lutavam intransigentemente pelos interesses dos soldados: manobras para bloquear os embriões de poder popular no interior dos quartéis, que são as A.D.U. (assembleias de delegados de unidade), bloqueamento que passava, como no caso do R.I.P., pela expulsão dos elementos mais activos (no caso do R.I.P. foram expulsos sete praças) ou que passava por fazer dessas mesmas A.D.U. puras e simples organizações e assembleias de poder disciplinar e de tribunais para aplicar penas aos camaradas soldados e não aquilo que elas deveriam ser, efectivamente, assembleias de discussão e de luta pela defesa daquilo que são os interesses dos trabalhadores fardados. Isto é, o aumento do pré, transportes gratuitos, saneamento de elementos reaccionários no interior dos quartéis, ligação com as organizações de base e unitárias civis ou seja, moradores, trabalhadores, etc.

A reacção também se expressou através daquilo que nós temos conhecimento do que foram as diversas reuniões secretas que tiveram lugar em toda a Região Militar, por parte dos oficiais reaccionários do quadro permanente e por certos comandantes de quartéis desta Região Militar que construiram, inclusivamente, um comando clandestino e insurrecto, realizando reuniões no Quartel-General onde afirmaram estarem solidários com quaisquer elemento reaccionário e insurrecto que pudesse ser alvo de sanções.

FAZER VOLTAR SPÍNOLA OU UM APRENDIZ DE FEITICEIRO!

Temos conhecimento de juramentos-de-sangue que foram feitos entre a maioria de oficiais do quadro permanente desta Região Militar e das manobras que foram feitas para a expulsão do brigadeiro Corvacho, pura e simplesmente por que o brigadeiro Corvacho disse alto e bom som da varanda do Quartel-General que a luta era de morte contra o capitalismo. Essas manobras tiveram, por exemplo, tarefas de insubordinação tão clara como as dos comandantes do R.I.P., do R.I.B., de Viana, do C.I.C.A., de Lamego, fazendo prevenções, sem que para tal tivessem autorização do comando, Pura e simplesmente para exercerem pressões sobre Lisboa para que o brigadeiro Corvacho não pudesse voltar para o Porto. Esses oficiais insubordinados, insurrectos e provocadores afirmaram falar em nome da Região Militar sem que tivessem pedido alguma vez a opinião daqueles que constituem pelo menos noventa e cinco por cento do pessoal da Região Militar: os soldados. Este conjunto de manobras integrava-se dentro de uma grande escalada da reacção que pretendia pura e simplesmente fazer, através da divisão e da luta fratricida entre quartéis, fazer correr o sangue dos trabalhadores fardados, para que pudessem aplicar as leis do velho tempo fascista e para que pudessem fazer voltar Spínola ou qualquer aprendiz de Pinochet.

Perante uma situação como esta, desenvolvimento e aumento da escalada da reacção, os soldados desta Região Militar acharam-se na obrigação de classe de se unirem, de se organizarem.

Somos obrigados a unirmo-nos e a organizarmo-nos clandestinamente. Unirmo-nos e organizarmo-nos para podermos pôr desde já um verdadeiro obstáculo a esta escalada. Nós acreditamos que é possível pôr efectivamente esse obstáculo, na medida em que sabemos qual é a opinião daqueles que têm espírito de classe, da classe de que provém, da classe que são, da classe que serão sempre — das classes trabalhadoras.

Nós saberemos sempre qual é a nossa posição e aqueles que pretendem fazer deste Pais um novo Chile quebrarão certamente os dentes contra a nossa unidade.

«Abaixo o pré de miséria», «Transportes gratuitos já», «Reaccionários fora dos quartéis», «Portugal não será o Chile da Europa», «Trabalhadores, soldados, moradores, assembleias populares». «Operários, camponeses, soldados, marinheiros, unidos venceremos». «Soldados sempre, sempre, ao lado do Povo» — são as palavras de ordem para a manifestação de 4.ª feira, dia 10 de Setembro que deverá ter a participação de militares de todo o País.

– Essa manifestação poderá ser o ponto de cisão, o ponto de transformação. Será a capacidade dos soldados se organizarem nos seus quartéis pela defesa dos seus interesses que fará com que, por uma vez, os comandantes reaccionários e os oficiais reaccionários, não possam fazer aquilo que até agora têm podido fazer, isto é, golpe de coronéis, para afastar o brigadeiro Eurico Corvacho.

A manifestação é uma primeira resposta que permitirá que a organização no interior dos quartéis avance, progrida e para que, juntamente com os nossos camaradas das comissões de moradores e trabalhadores, possamos construir assembleias populares.

Não temos dúvidas de que esta escalada é uma escalada contra o poder popular. É por causa disso, repito, que nós consideramos ser absolutamente imperioso uma manifestação dos trabalhadores fardados desta Região Militar, que permita dizer de uma maneira clara e aberta, de uma maneira completamente diferente daquela de que nos falam os oficiais reaccionários e insurrectos que fazem reuniões secretas — nós falamos com a cara levantada na rua — quais os nossos objectivos. É por isso que nós pretendemos dizer qual é a verdadeira opinião daqueles que pretendem lutar pelos interesses dos trabalhadores e pela construção do socialismo.

«Por Isso lançamos um apelo a todas as organizações autónomas e unitárias de trabalhadores, às comissões de moradores, às comissões de trabalhadores para que nos apoiem, para que estejam connosco, para que venham para a rua, fazer também aqui uma efectiva ligação entre todos os trabalhadores. Nós apelamos para o povo trabalhador do Porto, sejam quais forem as suas opções partidárias, para vir apoiar os seus filhos fardados, nesta manifestação».

Para terminar quero dirigir-me especialmente aos recrutas do R.T.M., do R.I.P e do C.I.C.A P. para que se lembrem que neste momento se põe o dilema: ou estamos dispostos a contribuir com todo o nosso esforço para uma verdadeira revolução socialista ou por outro lado, voltaremos para trás, sofrendo uma repressão superior à que tínhamos antes do 25 de Abril. Neste momento, impõe-se travarmos o passo aos reaccionários dentro dos quartéis, tentando discutir todos os problemas que existem dentro deles, para se tentar correr com todos os reaccionários de lá para fora».

continua>>>
Inclusão 21/04/2019