Os S.U.V. em Luta
(manifestos, entrevistas, comunicados)


O que são os S.U.V.
ENTREVISTA COM UM SOLDADO DO SUV-NORTE


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O SUV apareceu pela primeira vez publicamente quando de uma conferência de imprensa no Porto, na qual se lançou um apoio para a manifestação de 10 de Setembro. Podes explicar-nos como nasceu o SUV?

SUV — O SUV surgiu na Região Militar do Norte por razões próprias desta Região. No Norte, o inimigo salientava-se claramente e o ascenso da reacção era evidente. Como réplica a isso, foi possível criar uma unidade de acção nos quartéis, que inicialmente se estabeleceu entre os militantes dos PCP, extrema-esquerda (MES, FSP, PRP-BR, LCI, LUAR) e UDP.

Os primeiros passos deste movimento remontam de facto a meados de Julho, ocasião em que a crise político-militar se manifesta fortemente. Soldados, sargentos e oficiais milicianos começaram a reunir-se, a fim de organizar a troca de informações sobre a crescente actividade contra-revolucionária dos oficiais, no interior das diferentes unidades do Norte. Estes oficiais visavam essencialmente a expulsão dos quartéis dos soldados e oficiais milicianos que se tinham evidenciado nas lutas. Estes saneamentos, para os quais os oficiais reaccionários não procuravam sequer um pretexto disciplinar, atingiam aqueles que chamavam «elementos partidários e divisionistas», quer dizer, os militantes revolucionários. Foi o que se passou designadamente no CICA (Centro de Instrução de Condução Auto), no RIP (Regimento de Infantaria do Porto) e no CIOE (Centro de Instrução de Operações Especiais), em Lamego. Esta ofensiva revelou a falta de organização dos soldados para se lhe opor.

A primeira iniciativa consistiu em estabelecer uma lista completa dos casos do repressão, a fim de ajustar as modalidades de réplica.

O brigadeiro Corvacho, comandante da Região Militar do Norte, torna-se o alvo da direita, que o acusava de ser comunista. Porque tinha, de forma mais consequente do que a maior parte dos oficiais de esquerda do MFA, tomado partido pelos órgãos de «poder popular». Por exemplo, protegeu o Conselho Municipal do Porto, de facto um órgão de controle da Comissão Administrativa. Compõe-se aquele de representantes das Comissões de Moradores (CM), Comissões de Trabalhadores (CT), delegados sindicais e delegados das ADUs (Assembleias de Delegados de Unidade). Além disso, Corvacho estabeleceu um aparelho de vigilância no exército, em ligação com as CM e CT, para lutar contra os comandos fascistas do EIP e do MDLP, bastante activos no Norte.

Através de Corvacho, a reacção visava portanto os órgãos populares autónomos e as lutas dos soldados. Tinha compreendido que a presença de Corvacho tomava mais difícil a sua tarefa.

A coordenação que estabelecemos permitiu-nos apurar as informações e adquirir a certeza que a reacção tinha montado um verdadeiro centro de comando paralelo, com reuniões secretas dos oficiais de carreira. Soubemos que no decurso de uma dessas reuniões, com a participação da quase totalidade dos oficiais da região, fora decidido por maioria de cerca de 80 por cento o afastamento de Corvacho da região militar.

Os oficiais do quadro permanente apresentaram esta decisão como emanada do conjunto de Unidades do Norte. Para demonstrar a sua oposição a Corvacho e fazer pressão sobre o Estado Maior General do Exército, decidiram pôr de prevenção sete Unidades do Norte. Justamente quando Corvacho se encontrava em Lisboa para participar no Conselho da Revolução. Ora, segundo o regulamento, tal ordem só podia ser dada pelo comandante da região militar, ou seja pelo próprio Corvacho.

Reagimos imediatamente contra esta pretensão de falar em nome da região militar, quando 95 por cento dos efectivos (soldados, oficiais milicianos, sargentos) de nenhum modo tinham sido consultados — e entende-se porquê! Estávamos mesmo conscientes que as medidas de prevenção podiam conduzir a afrontamentos, de que os soldados sofreriam as consequências.

Tudo isto nos incitou a organizamos a nível superior. Não estávamos dispostos a servir de carne-para-canhão no ajuste de contas entre clãs e oficiais, cujas dependências nos queriam esconder. Recusámo-nos a aceitar que alguns oficiais falassem em nome da região militar sem se terem explicado perante as Assembleias Gerais de Unidade, ou perante uma Assembleia Geral da região militar, única que podia exprimir a posição da região militar e tomar decisões.

O primeiro panfleto do SUV focava este tema. Nele acentuávamos que um dos objectivos da reacção consistia no estabelecimento da disciplina no exército, concentrando a sua ofensiva no Norte por a considerar uma das suas bases sólidas. Não se deve esquecer que, paralelamente aos saneamentos, se desenvolvia uma vaga reaccionária que encontrava apoio social em diversas camadas da pequena burguesia, uma das quais o pequeno campesinato. Estes ataques fascistas atingiam o PCP, as organizações revolucionárias, os sindicatos e também os órgãos de «poder popular». Por exemplo, em Braga, os fascistas atacaram o Mercado do Povo, aonde as fábricas em autogestão iam vender os seus produtos.

A reacção desenvolveu pois uma verdadeira estratégia à escala da região. Queria reintroduzir de forma absoluta uma disciplina de ferro nos quartéis, para mais facilmente poder utilizar os soldados contra os trabalhadores e as próprias organizações destes.

Como reagiram os soldados a esta vaga fascista de Verão?

SUV — Nessa altura a reacção de diversas unidades estava longe de ser positiva.

Assim, os soldados do RIB (Regimento do Infantaria de Braga), aos quais os fascistas pagavam bebidas e explicavam que os comunistas queriam confiscar as terras dos camponeses, foram atrás dos dirigentos fascistas, saquearam as sedes do PCP e agrediram mesmo os militantes, é preciso acentuar que, por um lado, o recrutamento é feito numa base regional, ou seja, que os soldados são na sua maioria filhos de camponeses da região e, por outro lado, que nessa altura o seu enquadramento, incluindo os oficiais milicianos, era muito reaccionário.

O quartel de Braga — o RIB — era comandado por um oficial que se encontrava no centro da conspiração reaccionária contra Corvacho: o coronel Soares. Além disso, os soldados provenientes do campesinato do norte não têm qualquer tradição de luta, ao contrário dos do Alentejo. Por fim, desde o 25 de Abril a situação dos camponeses e suas famílias em nada melhorou, quando não se agravou.

Contudo, muitos destes soldados participaram na manifestação do SUV, em 10 de Setembro, no Porto.

Como explicas esta mudança de atitude? Pode-se compreender que os soldados mais radicalizados e politizados tenham imediatamente combatido a reacção, mas como explicar a rápida radicalização destes soldados não politizados e fortemente influenciados, como em Braga, pela reacção?

SUV — As conquistas dos soldados, desde Abril do ano passado, desenvolveram-se de forma bastante desigual. Foram praticamente arrancadas, quartel após quartel. Assim, em certos quartéis, a origem operária dos soldados, a tradição de luta e de organização ligada ao movimento operário, permitiram ir bastante longe na transformação da vida no interior dos quartéis. Particularmente em Lisboa, os soldados impuseram mesmo a sua própria forma de organização, embora ainda de modo limitado.

No norte e no interior, são em maioria os quartéis nos quais desde Abril de 1974 nenhuma alteração substancial ocorreu e por vezes mesmo nada mudou. Braga representa um quartel desse tipo. Há portanto diferenças enormes entre os quartéis.

Inicialmente, o SUV esteve ligado à iniciativa de elementos de vanguarda, amiúde militantes de organizações revolucionárias, que de imediato não dispunham de uma influência de massa.

É a partir das necessidades expressas pelos soldados de responder à repressão própria da disciplina militarista e a um sistema hierárquico herdado do fascismo, bem como a miseráveis condições de vida material, que a radicalização se opera. É através da capacidade de exprimir em termos reivindicativos essas aspirações e de as ligar à luta contra a reacção, que o SUV se afirmou como um movimento de massa.

Até ao inicio de 1975, a iniciativa das lutas pertencia às CT e CM, etc. Num certo sentido, os soldados estavam em atraso, devido em grande parte ao prestígio enganador do MFA.

O que se exprimia, entre outros, pelo mito de que todos nós, oficiais e soldados do MFA, somos revolucionários; «é preciso respeitar a disciplina, que constitui a nossa força». Este prestígio bloqueou o movimento reivindicativo dos soldados.

Mas os soldados começaram a cansar-se desta fraseologia «revolucionária», que os impedia de possuir os seus próprios instrumentos de reivindicação e de expressão, no seio de um exército que não lhes dava a palavra a respeito das principais questões políticas que estavam na ordem do dia.

Assim, surgiram, as reivindicações centradas no aumento do pré e nos transportes gratuitos. Com efeito, para muitos, uma só viagem à sua terra bastava para consumir a quase totalidade do pré. Apareceram também as reivindicações sobre a qualidade da alimentação, as diferenças entre a dos soldados, a dos sargentos e a dos oficiais.

Na base de tais reivindicações, a luta e os métodos de combate dos trabalhadores puderam penetrar no exército, aproveitando a crise de autoridade generalizada.

Foi então que os oficiais falaram de «agitação» no exército!

Este tipo do radicalização permitiu pôr em causa o MFA — o que foi essencial.

Como e porquê se operou esta rotura com o MFA?

SUV — Nós, soldados, sempre que fazíamos reivindicações encontrávamos pela frente oficiais, alguns dos quais membros do MFA. Estes oficiais, não só aplicavam com rigor a disciplina militarista como se mostravam incapazes de satisfazer os nossas reivindicações.

Isso suscitou entre os trabalhadores fardados um afastamento face ao MFA. afastamento que os trabalhadores civis, entrados anteriormente na luta, não sentiam tão nitidamente.

Tudo isso facilitou a nossa tarefa e aumentou a nossa audiência junto de largas camadas de soldados nesta região (norte). A desconfiança aumentou também a partir do tema: Nós somos enganados, os oficiais falam em nosso nome sem nunca termos sido consultados! Isto foi importante para denunciar as tentativas de instrumentalização dos soldados. Estas explicações combinavam-se a uma propaganda da direita, contra os trabalhadores e também contra outros mostrando a necessidade de ripostar às conspirações da reacção.

Já explicaste quais foram as bases propícias à criação do SUV. Mas. como foi dado o passo que vai de uma espécie de coordenação de militantes para troca de informação, a um real movimento de massa?

SUV — constatámos rapidamente a sensibilização dos soldados aos temas por nós desenvolvidos. Mas não apresentámos qualquer garantia organizativa que lhes assegurasse que o nosso movimento poderia tomar a seu cargo as reivindicações e defendê-las contra a hierarquia. Era pois necessário definir um tipo do expressão desta combatividade latente, capaz de suscitar a confiança dos soldados na sua capacidade de auto-organização.

Pareceu-nos que o meio mais eficaz de atrair todas as forças da região militar, seria uma manifestação centralizada no Porto e em quinze dias organizámos a manifestação.

O apelo à manifestação não se limitou aos quartéis. Dirigimo-nos directamente às organizações autónomas dos trabalhadores a fim delas apoiarem o nosso movimento.

A resposta que recebemos da sua parte revelou quanto esperavam uma tal iniciativa.

Aguardavam uma réplica ao perigo reaccionário que viam aproximar-se, sem aparentemente nada se lhe opor. Um certo receio começava a espalhar-se entre os trabalhadores.

A manifestação de 10 de Setembro modificou esse clima e os soldados não voltariam a agir como em Braga!

É preciso compreender que em dois meses, depois de Junho, o clima se modificou muito rapidamente no norte. Enquanto que anteriormente os membros do PPD e sobretudo do CDS dificilmente podiam manifestar em publico a sua adesão política à reacção, em Agosto já passeavam pelas ruas do Porto exibindo ostensivamente os emblemas do seu partido. Para a afixação de cartazes, os militantes dos partidos operários tinham que organizar a defesa contra os ataques dos vadios da direita, e os stands de venda do PCP e do MDP/COE eram queimados na Praça Humberto Delgado, enquanto provocadores procuravam impedir a venda dos jornais na própria cidade.

Pelo menos de momento, a réplica dos soldados quebrou esta ofensiva reacionária.

Após a nossa conferência de 7 de Setembro, houve CM que ingenuamente se dirigiram ao Quartel General para dizer: «Ouvimos pela rádio o apelo do SUV, vimos aqui trazer o nosso apoio e saber o que se pode fazer para ajudar a preparar a manifestação». Iam dizer isso a oficiais reaccionários!

Tinham previsto uma resposta tão maciça, quer dos soldados quer dos trabalhadores?

SUV — Foi a maior manifestação no Porto depois do 1.º de Maio de 1974. A resposta ultrapassava consideravelmente as nossas esperanças. Juntaram-se cerca de 30 000 trabalhadores e muito havia quem dissesse que eram mais. Lá estavam 1500 soldados. Era a maior manifestação de soldados em todo o Portugal. De Coimbra, vieram 71 soldados. De Braga, embora não tenhamos feito propaganda por falta de organização no interior do quartel, mais de 30 soldados vieram também. Após o serviço, às 17:30 horas, percorreram 80 quilómetros para vir à manifestação, apesar de estarem obrigados a regressar ao quartel antes das 10:30 horas. Isso representava uma das maiores vitórias da manifestação. De todos os quartéis, a 80 ou 100 quilómetros do Porto, vieram delegações que por vezes tiveram de requisitar camiões militares como em Lamego (a cerca de 130 quilómetros do Porto).

Delegações mandatadas do Lisboa vieram-nos trazer o apoio dos soldados do RALIS (Regimento do Artilharia de Lisboa) da PM (Policia Militar), do BRT (Batalhão de Transmissões). Embora de impacto regional, a manifestação teve efeitos sobre a situação política nacional.

Após a manifestação, a confiança entre os soldados cresceu rapidamente.

Do todos os quartéis vinham estabelecer contacto e pôr o problema da organização do SUV no seu próprio. Passámos então a pôr de pé uma organização real de massa, apta a organizar os soldados nos quartéis, a permitir a coordenação e a difusão do material nos quartéis. Evidentemente que se trata apenas do princípio, que as nossas fraquezas são ainda grandes e que a hierarquia já nos atinge, como era de esperar.

Quais foram, nos quartéis, as consequências da manifestação?

No CICA 1 do Porto (Centro de Instrução de Condução Auto), aonde havíamos sido incapazes de ripostar às medidas de saneamento há quatro semanas, aonde os oficiais eram muito reaccionários, houve a mais bela manifestação de apoio aos trabalhadores chilenos, em 11 de Setembro.

Às 13:45 horas, três centenas de soldados e recrutas foram buscar as armas ao arsenal e reuniram-se, armados, na parada do quartel, sem autorização. Formados, guardaram um minuto de silêncio em homenagem aos trabalhadores chilenos, gritando a seguir: «Vivam os trabalhadores chilenos». O comandante acorreu então, acompanhado de seus oficiais, e um destes exclamou, dirigindo-se aos soldados: «Estais a caminho de ser manobrados».

Então, os soldados em conjunto repetiram uma das palavras de ordem da manifestação: «Reaccionários, fora dos quartéis». No Quartel General do Porto, existem 3 diferentes refeitórios: para os soldados, para os sargentos e para os oficiais. Três dias após a manifestação, alguns soldados decidiram ir tranquilamente instalar-se à mesa do refeitório dos oficiais. A partir desse dia, luta-se por suprimir e unificar os diferentes refeitórios.

Os oficiais reaccionários opõem-se com dureza a tudo isso, tal como se opõem a salas de convívio comuns. Esses reaccionários são incapazes de encontrar um argumento para defender a sua atitude, e são oficiais que se dizem de esquerda que afirmam: «Não se deve marginalizar esses oficiais. Isso é muito perigoso. É preciso ser táctico. É preciso renunciar a essas reivindicações, sem o que tais oficiais passarão definitivamente para o lado da reacção».

Que representam as estruturas montadas pelo MFA, como as ADUs (Assembleias de Delegados de Unidade), em relação às Comissões de Soldados que o SUV procura criar e estimular?

SUV — A ADU é um tipo de representação que existe obrigatoriamente em todos os quartéis. Este órgão é assim composto: 50 por cento normalmente de soldados, e a outra metade de sargentos e oficiais milicianos e ainda de oficiais e sargentos profissionais. A presença do comandante é obrigatória. Na medida em que inclui 50 por cento de soldados e em que os mais combativos têm acesso com frequência e essas funções, as ADU são como uma pedra na bota dos oficiais. Desequilibram o sistema hierárquico. Por esse motivo, nós agimos nas ADU, e nelas nos batemos por fazer compreender que não podem conduzir até ao fim a tarefa de defesa dos soldados.

Muitas correntes políticas depositavam grandes ilusões nas possibilidades das ADU. Hoje, o SUV marca uma rotura largamente compreendida com esse tipo de organismo e luta pela constituição de «comissões de soldados» autónomas, retomando a denominação utilizada pelos trabalhadores nas empresas e nos quartéis.

Em Lisboa, a ligação entre os soldados e as CT e CM faziam-se e fazem-se ainda através das ADU, o que envolve uma certa ambiguidade. Mas, dada a combatividade dos trabalhadores, e a muito profunda crise hierárquica nessa região, a ligação entre órgãos autónomos dos trabalhadores e as ADU ultrapassa-a, apesar de tudo, o projecto do MFA. Em compensação, no resto do país as ADU tomam medidas disciplinares e tornam-se conselhos disciplinares. A partir de aí, podem nesse caso tornar-se canais de integração das CT, das CM e das AP, contra a sua própria autonomia, é pois muito importante lutar pela criação de autênticos órgãos autónomos de soldados.

Mas não se arriscarão a afastar dos soldados aquela camada de oficiais que já lhes manifestou a sua solidariedade? Pensam poder atraí-los, na prática, ao vosso projecto?

SUV — A prática demonstrou já que, ao aparecer como uma alternativa clara em face das hesitações e das concessões do MFA, o SUV pode determinar que um número não desprezível de oficiais passe para o lado dos soldados e dos trabalhadores. Para atingir esse fim, procura-se realçar: a recusa pelos oficiais de quaisquer medidas de repressão contra os soldados, a afirmação que a luta contra a reacção só pode ser obra dos soldados e trabalhadores unidos. Na medida que na prática respondem a este tipo de critérios, consideramos que nos dão garantias para os integrar na nossa acção.

Dentre eles, já dezenas se juntaram a nós.

O VI Governo afirma abertamente a sua vontade de restaurar a disciplina no exército. Que medidas toma contra vós?

SUV — A partir dos primeiros manifestos do SUV, o Chefe do Estado Maior, Fabião, deu ordem para procurar e identificar os «agitadores» do SUV. Após a manifestação, mensagem idêntica foi dirigida a todos os comandantes de Unidade para identificar todos os participantes na manifestação do Porto. Nos quartéis já circulam listas para o recenseamento de possíveis «agitadores».

Perante o desenvolvimento do SUV, e nomeadamente a sua criação em Lisboa, o Conselho da Revolução colocou imediatamente na ordem do dia a questão da crise no exército e a do SUV. O CR aponta já para qual vai ser o ângulo de ataque: o SUV divide o exército e serve a reacção. Sabe-se, por exemplo, que a 2.ª divisão do Estado Maior, no Norte, acaba do colocar à cabeça das suas prioridades a procura dos membros do SUV, deixando em segundo plano a procura dos membros do ELP e suas ligações com o CDS.

Em Mafra, dois camaradas foram presos porque os oficiais encontraram nas suas gavetas manifestos do SUV. Foram por isso enviados para o forte da Trafaria, perto de Lisboa. Está já a organizar-se a réplica, com vista à sua libertação.

Esta manhã mesmo, os soldados da EPI (Escola Prática de Infantaria) de Mafra, reuniram-se na parada do quartel. Deu-se uma autêntica batalha em forma entre eles e os oficiais, incluindo o comandante, na tentativa de impedi-los de se manifestarem pela libertação dos seus dois camaradas: um sargento o um soldado. Embora o SUV seja de criação recente, o poder de replica exprime a sensibilidade dos soldados às reivindicações formuladas e a vontade de as defender. Assim, soldados do Centro (Coimbra) deslocaram-se ao Norte para obter manifestos com o fim de organizar a defesa dos nossos dois camaradas. Numa série de quartéis aonde não tinhamos contactos, foram tomadas espontaneamente idênticas iniciativas.

No Quartel General do Porto, o SUV começou já a responder à acusação de divisionismo. Reclama uma assembleia Geral, tendo como ponto essencial: Porquê a procura do SUV? O manifesto distribuído dá a resposta: «Procura-se o SUV porque é uma organização partidária». No entanto, os oficiais podem exprimir-se a todo o momento e podem se organizar, como foi provado no Norte. Se nenhuma acusação os atinge, é muito simplesmente porque são membros do partido dos galões.

Também nós reivindicamos, enquanto trabalhadores fardados, o direito de nos organizar.

Uma das palavras de ordem do apelo para a manifestação do SUV de Lisboa, em 25 de Setembro, é: «Trabalhadores, soldados, autodefesa popular». Porquê?

O governo quer restaurar por qualquer preço a disciplira no exército, porque pensa servir-se dela contra os trabalhadores, para restabelecer a ordem na sociedade e estabilizar o capitalismo.

Nós dizemos aos soldados que a nossa própria organização, a réplica que poderemos opor à política do governo para restabelecer a disciplina no exército, apenas é possível se os trabalhadores forem também capazes de resistir no plano militar.

A nossa propaganda sobre a autodefesa insiste no papel central das CT e das CM, bem como da sua junção com os soldados. Esta tarefa de autodefesa é uma questão cada vez mais premente.

Quais são as vossas perspectivas imediatas?

SUV — No imediato, trata-se de dar uma estrutura nacional ao nosso movimento.

A conferência do imprensa dada em Lisboa em 21 de Setembro e a manifestação de 25 de Setembro, devem permitir dar esse salto em frente. Tudo faz crer que a manifestação de Lisboa será ainda maior do que a do Porto.

O SUV apareceu no Norte por uma razão muito simples: a necessidade de lutar contra a reacção fez-se aqui sentir mais abertamente. O desenvolvimento do SUV no Sul, vai permitirmos elevar o nível reivindicativo, clarificar as posições políticas do conjunto ante a questão de uma confrontação com o Poder utilizar e generalizar as experiências mais avançadas de luta nos quartéis da região de Lisboa.

Porto, 23 de Setembro de 1975.

continua>>>
Inclusão 21/04/2019