Stálin e o Exército Vermelho

Kliment Voroshilov

21 de dezembro de 1929


Título Original: Сталин и Красная Армия.

Fonte Original: Jornal “Pravda” (A Verdade): Edição 301 (4.435), 21 de dezembro de 1929, Página 03, Moscou.

1ª Consulta Auxiliar: Kliment Voroshilov: “Сталин и Красная Армия” – Biblioteca Digital da Revista Politpros, Órgão Político do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), Moscou, 2025.

2ª Consulta Auxiliar: Kliment Voroshilov: “Stalin y el Ejército Rojo” – Edições de Línguas Estrangeiras, Moscou, 1939.

Tradução e Adaptação: Thales Caramante.

HTML: João Batalha.

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O período de paz e de construção em nossa história está repleto de acontecimentos da mais alta importância. Nos últimos anos, correram sob a ponte não rios, mas oceanos inteiros. Mudanças colossais ocorreram ao nosso redor, nossa perspectiva ganhou novas formas e as escalas e dimensões outrora aceitas foram completamente subvertidas. Indissoluvelmente ligada a todos esses eventos está a rica e multifacetada atividade revolucionária do camarada Stálin. Nos últimos cinco ou seis anos, o camarada Stálin esteve no epicentro da luta mais intensa e efervescente. Apenas essas circunstâncias podem explicar por que a relevância do camarada Stálin, como um dos mais notáveis organizadores das vitórias da Guerra Civil, foi de certa forma ofuscada e ainda não recebeu o devido reconhecimento.

Hoje, no 50º aniversário do nosso querido amigo, meu intuito é preencher, ao menos parcialmente, essa lacuna.

Naturalmente, num artigo de jornal, meu objetivo principal não é oferecer uma caracterização completa das proezas e capacidades militares do camarada Stálin. Minha única meta é refrescar a memória dos camaradas sobre alguns fatos do passado recente, publicar alguns documentos pouco conhecidos e destacar, por meio de simples relatos factuais, o papel verdadeiramente excepcional que o camarada Stálin desempenhou durante os momentos mais tensos da Guerra Civil.

No período de 1918 a 1920, o camarada Stálin foi, provavelmente, o único companheiro que o Comitê Central enviava continuamente de uma frente a outra, sempre para os pontos mais vulneráveis, os locais onde a ameaça à revolução se mostrava mais iminente. Onde as coisas estavam relativamente calmas e prósperas, onde estávamos colhendo êxitos, Stálin não era visto. Contudo, onde, por uma série de razões, as Brigadas do Exército Vermelho estavam em colapso, onde as forças contrarrevolucionárias, aproveitando seus sucessos, ameaçavam a própria existência do Poder Soviético, onde a confusão e o pânico podiam a qualquer momento se converter em impotência e catástrofe — lá o camarada Stálin aparecia. Ele não dormia à noite; organizava, assumia a direção com firmeza, destruía o que fosse necessário, agia com implacabilidade — e promovia a virada, melhorando a situação. O próprio camarada Stálin escreveu sobre isso em uma carta ao Comitê Central em 1919, afirmando que estava “sendo transformado em um especialista em limpar os estábulos do departamento militar”.

Tsaritsyn

O camarada Stálin iniciou seu trabalho militar na Frente de Tsaritsyn, e isso ocorreu por puro acaso. No início de junho de 1918, o camarada Stálin, com um destacamento de soldados do Exército Vermelho e dois vagões blindados, dirigiu-se a Tsaritsyn para supervisionar todo o abastecimento de alimentos no sul da Rússia.

Entretanto, ao chegar a Tsaritsyn, ele deparou-se com um caos inacreditável, não apenas nas organizações soviéticas, sindicais e partidárias, mas também uma confusão e desordem ainda maiores dentro do comando militar. A cada passo, o camarada Stálin encontrava obstáculos que o impediam de cumprir sua tarefa imediata. Eram obstáculos que decorriam, principalmente, da contrarrevolução cossaca, que crescia rapidamente e, naquela época, recebia amplo apoio dos ocupantes alemães que haviam ocupado a Ucrânia. Grupos contrarrevolucionários cossacos logo tomaram vários pontos próximos a Tsaritsyn, dessa forma, interrompendo não apenas o fornecimento planejado de grãos para a faminta Moscou e Leningrado, como também criando um perigo extremo para a própria cidade de Tsaritsyn.

A situação em outros lugares não era melhor. Uma revolta dos esquerdistas Socialistas-Revolucionários (SR) estava em pleno andamento em Moscou, Muravyov traía o governo no Leste, a contrarrevolução tchecoslovaca desenvolvia-se e ganhava força nos Urais, e, adicionalmente, no extremo sul, os britânicos aproximavam-se de Baku. Tudo estava em chamas, num círculo de fogo. A Revolução passava por suas maiores provações. Telegramas e mais telegramas voavam pelos fios até o camarada Stálin em Tsaritsyn, vindos de Lênin e vice-versa. Lênin alertava sobre os perigos, encorajava e exigia ação decisiva. Portanto, a situação em Tsaritsyn tornava-se cada vez mais importante. Afinal, se houvesse uma revolta no Don e Tsaritsyn fosse perdida, corríamos o risco de perder toda a rica região do Cáucaso do Norte.

O camarada Stálin entendia isso claramente. Como um revolucionário experiente, ele logo chegou à conclusão de que seu trabalho só teria algum significado se ele pudesse influenciar o comando militar, cujo papel nessas circunstâncias estava se tornando decisivo.

Escreveu o camarada Stálin a Lênin em uma carta datada de 7 de julho, entregue com a inscrição característica:

A linha ao sul de Tsaritsyn ainda não foi restabelecida. Descobriremos e puniremos os responsáveis. Espero que em breve a linha estará restabelecida. Pode ter certeza de que não pouparemos ninguém, nem a nós mesmos nem aos outros, e de que mandaremos o trigo a todo custo. Se os nossos “especialistas” militares (canalhas!) não dormissem e não fossem tão ineptos, a linha de frente não teria sido rompida, e se a linha for restabelecida, não o será graças a eles, mas apesar deles.

Em seguida, respondendo às preocupações de Lênin sobre a possível revolta dos esquerdistas Socialistas-Revolucionários em Tsaritsyn, ele escreve de forma breve, mas firme e clara:

Quanto aos histéricos, fiquem tranquilos, nossa mão não tremerá; por enquanto, agiremos como inimigos contra nossos inimigos.

Ao analisar mais profundamente o aparato militar presente na região, o camarada Stálin chega à conclusão de que a estrutura militar da região era completamente impotente e, em alguns setores, revelava até mesmo uma evidente falta de disposição para organizar qualquer resistência às ousadas investidas da contrarrevolução. Em 11 de julho de 1918, o camarada Stálin telegrafa a Lênin, relatando:

A situação é agravada pelo fato de o Quartel-General do Distrito do Cáucaso do Norte ter se mostrado totalmente inadimplente e inapto às condições reais de combate à contrarrevolução. Não se trata apenas de nossos “especialistas” serem psicologicamente incapazes de travar uma guerra decisiva contra a contrarrevolução, mas também de serem, na prática, meros funcionários administrativos, capazes apenas de “elaborar projetos” e redigir planos de reorganização. Eles demonstram completa indiferença às ações operacionais e, no geral, comportam-se como seres desconhecidos, como meros convidados e consultores. Os comissários militares não conseguiram preencher essa lacuna.

O camarada Stálin não se limita a essa avaliação contundente; na mesma nota, ele extrai uma conclusão decisiva para si próprio:

Não posso me permitir assistir a isso com indiferença, enquanto a Frente de Kalnin permanece isolada de seu ponto de abastecimento e do Norte de sua região produtora de grãos. Vou corrigir essas e muitas outras fraquezas diretamente no local. Estou tomando uma série de medidas, incluindo a demissão de oficiais e comandantes que estão destruindo a nossa causa, apesar dos obstáculos formais que, se necessário, superarei. Ao mesmo tempo, assumo, evidentemente, total responsabilidade perante todas as autoridades superiores.

A situação ia se tornando cada vez mais crítica. O camarada Stálin demonstrava uma energia extraordinária e, em muito pouco tempo, deixou de ser apenas o responsável pelo abastecimento para tornar-se, de fato, o dirigente central de todas as forças vermelhas na Frente de Tsaritsyn. Essa posição logo seria oficializada em Moscou, quando o camarada Stálin recebeu a incumbência de:

Restabelecer a ordem, consolidar os destacamentos em unidades regulares, instaurar um comando adequado e demitir e expulsar todos os elementos insubordinados.

Como dizia o telegrama do Comitê Militar Revolucionário (CMR) da República, acompanhado da observação: “Este telegrama está sendo enviado com o consentimento de Lênin”.

Sob a direção do camarada Stálin, é criado o Comitê Militar Revolucionário, que imediatamente inicia o processo de organizar um exército regular. A natureza ardorosa de Stálin, sua energia e sua firme determinação tornaram possível aquilo que, até ontem, parecia inatingível. Em muito pouco tempo, divisões, brigadas e regimentos passam a existir de forma estruturada. O Estado-Maior, os órgãos de abastecimento e toda a retaguarda são profundamente depurados de elementos hostis e contrarrevolucionários. Os aparelhos do Estado Soviético e do Partido Bolchevique são ampliados e fortalecidos. Ao redor do camarada Stálin, forma-se um núcleo de velhos bolcheviques e trabalhadores revolucionários e, no lugar de um Quartel-General vulnerável, ergue-se no Sul — às portas da contrarrevolucionária região do Don — uma autêntica fortaleza vermelha bolchevique.

Naquele período, Tsaritsyn estava tomada por contrarrevolucionários de todos os tipos: desde Socialistas-Revolucionários direitistas e terroristas até monarquistas convictos. Todos esses senhores, antes da chegada do camarada Stálin e das tropas revolucionárias vindas da Ucrânia, circulavam quase livremente e aguardavam com expectativa o retorno de seus “dias melhores”.

Para que fosse possível reorganizar as forças vermelhas na frente, era indispensável limpar a retaguarda com uma implacável vassoura de ferro. Assim, o Conselho Militar Revolucionário, sob a direção do camarada Stálin, estabelece um aparelho especial da Tcheka(1) e a encarrega da tarefa de extirpar a contrarrevolução de Tsaritsyn.

O testemunho do inimigo, por vezes, revela-se especialmente útil e esclarecedor. É o caso do jornal branco “Donskaya Volna” (A Onda do Don), em sua edição de 3 de fevereiro de 1919, que comenta aquele período e o papel desempenhado pelo camarada Stálin, citando o coronel Nosovich — ex-chefe da administração operacional do Exército — que nos traiu e desertou para o lado de Krasnov:

A principal função de Stálin era abastecer as províncias do Norte com alimentos e, para cumprir essa tarefa, ele detinha poderes ilimitados.

A linha Gryazi–Tsaritsyn havia sido definitivamente cortada. No Norte, restava apenas uma única via para obter suprimentos e manter alguma comunicação: o rio Volga. No Sul, depois que os voluntários ocuparam Tikhoretskaya, a situação também se tornou bastante instável.

Para Stálin, que dependia exclusivamente da província de Stavropol para abastecimento, essa conjuntura representava, em teoria, o fim de sua missão no Sul. Contudo, abandonar uma tarefa que ele próprio havia assumido não fazia parte do seu caráter.

É preciso reconhecer que sua energia era suficiente para suscitar inveja em qualquer um dos antigos oficiais, e que muitos poderiam aprender com sua capacidade de adaptar-se às condições concretas e ao ritmo do trabalho.

Aos poucos, à medida que ficava sem uma atribuição direta — ou melhor, à medida que sua tarefa inicial se reduzia — Stálin começou a intervir em todos os departamentos da administração da cidade, dedicando-se sobretudo às amplas responsabilidades relacionadas à defesa de Tsaritsyn e, mais amplamente, de todo o Cáucaso, a chamada frente revolucionária como um todo.

O próprio Nosovich reconheceria, mais tarde, a justeza daquela repressão, ao escrever sobre as organizações contrarrevolucionárias de Tsaritsyn:

Naquele período, a organização contrarrevolucionária local — cuja plataforma era a convocação de uma Assembleia Constituinte — havia se fortalecido consideravelmente e, com o dinheiro recebido de Moscou, preparava uma intervenção ativa em apoio aos cossacos do Don em sua luta pela libertação de Tsaritsyn.

Infelizmente, o chefe dessa organização, o engenheiro Alexeev, que acabara de chegar de Moscou acompanhado de seus dois filhos, mal-informado sobre a situação real, apresentou um plano mal formulado, baseado na participação de um batalhão sérvio que havia servido aos bolcheviques na Tcheka.

Assim, não surpreende que a organização tenha sido descoberta. A decisão de Stálin foi rápida: “Fuzilar”. O engenheiro Alexeev, seus dois filhos e, juntamente com eles, um número considerável de oficiais — a maioria integrantes da organização e outros suspeitos de participação — foram todos detidos pela Tcheka e executados imediatamente, sem qualquer cerimônia.

Em seguida, ao tratar da derrota do Exército Branco e da depuração política da retaguarda — o Quartel-General do Distrito do Cáucaso do Norte e suas instituições — Nosovich prossegue:

Uma característica marcante dessa dispersão foi a atitude de Stálin em relação aos telegramas de orientação enviados pelo centro. Quando Leon Trotsky, preocupado com a destruição dos Comandos Distritais, cuja formação lhe custara tanto trabalho, enviou um telegrama insistindo na necessidade de manter o quartel-general e o comissariado nas condições anteriores e permitir-lhes continuar, Stálin escreveu uma anotação categórica e bastante expressiva no telegrama: “Ignorar. Não levar em consideração”.

Assim, o telegrama não foi levado em consideração, e toda a artilharia, assim como parte do comando do Quartel-General, permanece até hoje alojada na barcaça em Tsaritsyn.

A fisionomia de Tsaritsyn tornou-se completamente irreconhecível em muito pouco tempo. A cidade que, até recentemente, ecoava música nos jardins e servia de refúgio à burguesia fugitiva, que passeava abertamente ao lado dos oficiais brancos, transformou-se num acampamento militar vermelho, onde a mais rigorosa ordem e disciplina imperavam. Esse fortalecimento da retaguarda provocou um efeito imediato e profundamente benéfico no moral de nossos regimentos que combatiam na linha de frente. Os comandantes, os responsáveis políticos e toda a massa do Exército Vermelho passaram a sentir que estavam sob a direção de uma mão revolucionária firme, dedicada aos interesses dos trabalhadores e dos camponeses, e que punia, sem hesitação, todos aqueles que se colocavam contra essa luta.

A direção do camarada Stálin não se limitava ao escritório. Assim que a ordem necessária era restabelecida e a organização revolucionária reconstruída, ele partia para a linha de frente, que naquela altura já se estendia por mais de 600 quilômetros. Era preciso ser Stálin — e possuir sua extraordinária capacidade organizativa — para, mesmo sem qualquer formação militar (o camarada Stálin jamais servira no Exército!), compreender tão profundamente as questões militares específicas naquele momento de extrema dificuldade.

Lembro-me, como se fosse hoje, do início de agosto de 1918. As tropas cossacas de Krasnov(2) lançaram um ataque contra Tsaritsyn, tentando, com um golpe concêntrico, empurrar os regimentos vermelhos em direção ao Volga. Durante muitos dias, as tropas vermelhas — lideradas pela divisão comunista composta inteiramente por trabalhadores do Donbass — repeliram, com força excepcional, o ataque das tropas cossacas, que eram perfeitamente organizadas e experientes. Foram dias de enorme tensão. Era preciso ver o camarada Stálin naquela época: como sempre, calmo, concentrado, imerso em seus pensamentos, ele literalmente passava dias sem dormir, dividindo seu trabalho incansável entre as posições de combate e o quartel-general do Exército. A situação na frente tornava-se praticamente catastrófica. As tropas de Krasnov, comandadas por Fichalaurov, Mamontov e outros, pressionavam nossas forças exaustas e muito desgastadas por meio de manobras habilmente planejadas. A frente inimiga, organizada em forma de ferradura e com os flancos apoiados no Volga, nos apertava cada vez mais a cada dia. Não havia rotas de retirada. Mas Stálin não se deixava preocupar por isso. Ele estava tomado por uma única convicção, por um único pensamento: vencer, derrotar o inimigo a qualquer custo. Essa vontade inquebrantável de Stálin transmitiu-se a todos os seus colaboradores mais próximos e, mesmo diante daquela situação quase desesperadora, ninguém duvidava da vitória.

E nós vencemos. O inimigo, derrotado, foi repelido para longe, até as margens do rio Don.

Perm

No final de 1918, formou-se uma situação verdadeiramente catastrófica na Frente Oriental, especialmente na zona da 3ª Armada, que acabou sendo obrigada a entregar Perm ao inimigo. Cercada em um semicírculo pelas forças adversárias, essa armada encontrava-se completamente desmoralizada no final de novembro. Depois de seis meses de combates ininterruptos, sem reservas confiáveis, sem segurança na retaguarda, com um abastecimento de alimentos quase inexistente (a 29ª Divisão combateu durante cinco dias, literalmente, sem um pedaço de pão), enfrentando temperaturas de 35 graus abaixo de zero, estradas intransitáveis, uma frente de mais de 400 km de extensão e um Estado-Maior fraco, a 3ª Armada não conseguiu resistir ao ataque das forças inimigas numericamente superiores.

Para completar esse cenário desolador, é preciso acrescentar as deserções em massa entre os oficiais do comando, bem como a rendição de regimentos inteiros, resultado direto da má seleção de recrutas e da incapacidade do comando. Nessas circunstâncias, a 3ª Armada se desintegrou, recuando em total desordem, percorrendo 300 km em 20 dias e perdendo, durante esse período, 18 mil combatentes, dezenas de canhões, centenas de metralhadoras e muito mais. O inimigo avançava rapidamente, criando uma ameaça concreta para Vyatka e para toda a Frente Oriental.

Diante desses acontecimentos, impôs-se ao Comitê Central a necessidade de compreender as causas da catástrofe e, ao mesmo tempo, colocar imediatamente em ordem as unidades da 3ª Armada. Quem enviar para cumprir essa tarefa extremamente difícil? Lênin telegrafou então ao presidente do Comitê Militar Revolucionário (CMR):

Há uma série de comunicações partidárias vindas de Perm sobre o estado catastrófico da armada e sobre o alcoolismo. Pensei em enviar Stálin — temo que Smilga seja brando com Lashevitch, que também, segundo dizem, bebe e não é capaz de restabelecer a ordem.

O Comitê Central decide, assim:

Designar uma comissão investigativa do Partido, composta por dois membros do Comitê Central — Dzerzhinsky e Stálin — para examinar minuciosamente as causas da rendição de Perm e das derrotas recentes na Frente dos Urais, bem como apurar integralmente todas as circunstâncias envolvidas.

O Comitê Central concede à comissão plenos poderes para adotar, de imediato, todas as medidas necessárias ao restabelecimento eficiente das operações partidárias e soviéticas em toda a área de responsabilidade do 2º e 3º Exércitos. (Telegrama de Sverdlov, nº 79).

Essa resolução parece limitar as funções dos camaradas Stálin e Dzerzhinsky à “investigação das causas da rendição de Perm e das últimas derrotas na frente dos Urais”. Eis como o camarada Stálin compreendeu e executou sua tarefa de investigar as causas da catástrofe. Ele investigou, estabeleceu as causas e, ali mesmo, por sua própria ação, eliminou-as e promoveu as medidas necessárias para superá-las, fortalecer a frente e reorganizar o exército.

No primeiro telegrama enviado a Lênin, em 5 de janeiro de 1919, sobre os resultados iniciais do trabalho da comissão, Stálin não menciona uma única palavra sobre “as causas da catástrofe”; ao contrário, ele coloca imediatamente a questão central: o que é necessário fazer para salvar o exército. Eis o telegrama:

Ao Presidente do Conselho de Defesa, camarada Lênin:

Informamos que a investigação foi iniciada. Encaminharemos atualizações conforme o avanço dos trabalhos. Entretanto, julgamos necessário reportar de imediato uma necessidade crítica do 3º Exército.

Atualmente, dos mais de 30 mil combatentes originalmente alocados ao 3º Exército, restam apenas cerca de 11 mil homens, extenuados e em condição operacional severamente reduzida. Essas forças conseguem apenas, com grande dificuldade, retardar o avanço inimigo.

As unidades recentemente enviadas pelo Comandante-em-Chefe apresentam baixa confiabilidade — algumas mostram inclusive atitudes hostis ao comando soviético — o que torna indispensável sua seleção rigorosa antes de qualquer emprego militar.

Segundo todas as informações recebidas do comando da frente e do próprio 3º Exército, o risco de um avanço rápido do inimigo em direção a Vyatka é concreto e iminente. A situação apresenta paralelos claros com o cenário que antecedeu a queda de Perm.

Para garantir a sobrevivência dos remanescentes do 3º Exército e bloquear o avanço adversário, torna-se absolutamente indispensável a transferência urgente, a partir de outras regiões da República, de pelo menos três regimentos plenamente confiáveis e politicamente firmes, para reforçar o setor.

Solicitamos enfaticamente que o camarada intervenha junto às instituições militares competentes para acelerar essa mobilização.

Reiteramos: sem essa medida imediata, Vyatka corre sério risco de repetir o destino de Perm. Esta é a avaliação unânime dos camaradas envolvidos na investigação — avaliação que confirmamos integralmente com base em todos os dados disponíveis.

Josef Stálin
Félix Dzerzhinsky
Vyatka, 5 de janeiro de 1919 — 20h.

E somente em 13 de janeiro de 1919 o camarada Stálin envia, junto com o camarada Dzerzhinsky, seu breve relatório preliminar sobre as “causas da catástrofe”, que podem ser resumidas essencialmente ao seguinte:

Ao mesmo tempo, o camarada Stálin planeja — e imediatamente a coloca em prática, com a rapidez e a firmeza que lhe são características — uma série de medidas concretas destinadas a aumentar a capacidade de combate da 3ª Armada. Lemos em seu informe ao Conselho de Defesa:

Até 15 de janeiro, foram deslocados para a frente aproximadamente 1.200 homens — entre baionetas e sabres — criteriosamente selecionados. Um ou dois dias depois, seguiram para o setor dois esquadrões de cavalaria. Em 20 de janeiro, foi enviado o 62º Regimento da 3ª Brigada, composto após um processo de seleção particularmente rigoroso.

A chegada desses reforços permitiu deter o avanço inimigo, restaurar a capacidade de resistência do 3º Exército e criar as condições para a retomada de nossa ofensiva em direção a Perm — ofensiva que, até o momento, prossegue com resultados positivos.

Na zona de retaguarda do Exército, está em curso uma ampla depuração das instituições estatais soviéticas e partidárias. Foram organizados comitês revolucionários em Vyatka e nos centros distritais.

Prossegue também a formação e consolidação de organizações revolucionárias robustas nas aldeias. Todo o sistema de trabalho partidário e soviético na região está sendo reestruturado.

O controle militar passou por processo de depuração e reorganização. A Tcheka da província foi reestruturada, tendo sido depurada e reforçada com quadros seguros e politicamente confiáveis.

Realizou-se ainda a desobstrução completa do entroncamento ferroviário de Vyatka, garantindo a fluidez logística e o abastecimento da frente.

Como resultado de todas essas medidas, não apenas foi interrompido o avanço inimigo, como, já em janeiro de 1919, a Frente Oriental passou para a ofensiva e, em nossa ala direita, Uralsk foi libertada.

Foi assim que o camarada Stálin compreendeu — e executou — sua tarefa de “investigar as causas da catástrofe”. Ele investigou, identificou as causas e, imediatamente, ali mesmo, com seus próprios meios, eliminou-as e organizou a reviravolta ofensiva necessária.

Petrogrado

Na primavera de 1919, o Exército Branco do general Nikolai Yudenich, cumprindo a ordem de Alexander Kolchak para “tomar Petrogrado” e atrair para si as tropas revolucionárias da Frente Oriental, lançou um ataque súbito contra a capital da Revolução.

Contando com o apoio dos estonianos e finlandeses brancos e da frota inglesa, Nikolai Yudenich avançou rapidamente e criou uma ameaça real à cidade. A gravidade da situação aumentava ainda mais porque, naquele mesmo período, haviam sido descobertas conspirações contrarrevolucionárias em Petrogrado, organizadas por “especialistas militares” infiltrados no quartel-general da Frente Ocidental, na 7ª Armada e na Base Naval de Kronstadt.

Ao mesmo tempo, Stanisław Bułak-Bałachowicz obtinha uma série de êxitos na direção de Pskov. Começaram as traições na frente: diversos dos nossos regimentos passaram para o lado do inimigo; toda a guarnição dos fortes Krasnaya Gorka e Seraya Loshad se insurgiu abertamente contra o poder soviético. A confusão tomou conta do 7º Exército, a frente vacilava e o inimigo avançava perigosamente em direção a Petrogrado. Era necessário salvar a situação de imediato.

O Comitê Central recorre, mais uma vez, ao camarada Stálin. Em apenas três semanas, o camarada Stálin consegue reverter completamente o quadro. A desorganização e o pânico das tropas são rapidamente eliminados, os quartéis-generais são reorganizados, e trabalhadores e comunistas de Petrogrado são mobilizados sucessivamente. Inimigos e traidores, descobertos em meio ao caos, são reprimidos sem hesitação. O camarada Stálin intervém diretamente no trabalho operacional do comando militar. Eis um telegrama enviado por ele ao camarada Lênin:

Após a captura de Krasnaya Gorka, a fortificação conhecida como Seraya Loshad foi neutralizada. Todo o armamento apreendido encontra-se em excelente estado operacional. Prossegue, em ritmo acelerado, a tomada de todos os fortes e posições fortificadas remanescentes.

Especialistas da Marinha alegam que a operação anfíbia que garantiu a conquista de Krasnaya Gorka contraria os princípios estabelecidos da ciência naval. Só posso registrar meu pesar por tais princípios.

A rápida captura de Gorka deve-se à intervenção direta e decidida de minha parte — e, de modo geral, de outros civis — nos assuntos estritamente operacionais, intervenção que incluiu a anulação de ordens emitidas pelas forças navais e terrestres e a imposição de diretrizes determinadas por nós.

Declaro, como obrigação de comando, que continuarei agindo dessa forma sempre que necessário, apesar de todo o respeito formal que tenho pela chamada “ciência militar”.

Josef Stálin,
16 de junho de 1919.

Seis dias depois, o camarada Stálin informa novamente a Lênin:

Observa-se uma virada significativa no comportamento de nossas tropas. Ao longo de toda a última semana, não foi registrado um único caso de deserção — individual ou coletiva. Além disso, desertores que haviam abandonado suas unidades estão retornando em massa, aos milhares.

As deserções do inimigo para nossas linhas tornaram-se ainda mais frequentes: aproximadamente 400 homens cruzaram para o nosso lado somente nesta semana, a maioria trazendo armamento completo.

Ontem, no período da tarde, iniciamos a ofensiva. Apesar de o reforço prometido ainda não ter chegado, seria insustentável permanecer na linha anterior, excessivamente próxima de Petrogrado.

Até o momento, a operação avança de forma satisfatória. As forças brancas recuam, e hoje estabelecemos controle sobre a linha Kernovo–Voronino–Slepino–Kaskovo.

Foram capturados prisioneiros, duas ou mais peças de artilharia, metralhadoras e uma quantidade significativa de munições.

Nenhuma embarcação inimiga apareceu na área; tudo indica que evitam se aproximar devido ao controle firme que mantemos sobre Krasnaya Gorka.

Solicito o envio urgente de 2 milhões de unidades de munição, sob minha disposição direta, destinadas à 6ª Divisão.

Esses dois telegramas oferecem uma visão completa e vívida do enorme trabalho criativo e da energia revolucionária com que o camarada Stálin eliminou a situação extremamente perigosa que havia surgido nos arredores da Petrogrado vermelha.

Frente Sul

O outono de 1919 ficou marcado na memória de todos. Era o momento decisivo, o ponto de inflexão de toda a Guerra Civil. Abastecidas pelos “aliados” e apoiadas pelos seus próprios Quartéis-Generais, as hordas do Exército Branco de Anton Denikin avançavam rapidamente e já se aproximavam de Orel. Por toda a imensa Frente Sul, nossas tropas recuavam lentamente. No interior do país, a situação era igualmente grave: as dificuldades alimentares haviam atingido um nível extremo, a indústria parava por falta de combustível e, mesmo em Moscou, elementos contrarrevolucionários começavam a se agitar. O perigo aproximava-se de Tula. O perigo pairava sobre Moscou.

Era preciso salvar a situação. O Comitê Central enviou então o camarada Stálin como membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) para a Frente Sul. Hoje já não é necessário ocultar que, antes de aceitar sua designação, o camarada Stálin impôs três condições claras ao Comitê Central:

1. Trotsky não deveria interferir nos assuntos da Frente Sul nem cruzar suas linhas de responsabilidade;

2. Era preciso retirar imediatamente toda uma série de funcionários que o camarada Stálin considerava incapazes de restaurar a situação nas tropas;

3. E, finalmente, deveriam ser enviados à Frente Sul novos quadros, escolhidos por Stálin, capazes de cumprir essa tarefa.

Essas condições foram aceitas integralmente.

No entanto, para conduzir essa gigantesca máquina militar — que se estendia do Volga até a fronteira polaco-ucraniana e que reunia várias centenas de milhares de soldados — era indispensável um plano operacional preciso. A frente precisava de uma tarefa claramente definida, que pudesse ser apresentada às tropas e servir de base para o reagrupamento das melhores unidades nas direções decisivas, permitindo desferir um golpe concentrado no inimigo.

O camarada Stálin encontra, ao chegar, uma situação profundamente incerta e difícil. Na direção principal Kursk–Orel–Tula, nossas tropas estavam sendo derrotadas; a Ala Oriental permanecia imóvel, incapaz de qualquer ação. Quanto às diretrizes operacionais, o que se lhe oferece é o antigo plano (de setembro) que previa um golpe principal pelo flanco esquerdo — de Tsaritsyn a Novorossiysk — através das estepes do Don.

Depois de estudar a situação e avaliar o estado real da frente, o camarada Stálin toma imediatamente uma decisão. Ele rejeita categórica e firmemente o plano antigo, apresenta novas propostas e as envia a Lênin na nota que transcrevemos a seguir. Essa nota fala por si mesma: ela demonstra com clareza o talento estratégico do camarada Stálin e, sobretudo, o caráter resoluto com que ele formula questões decisivas. Eis o documento na íntegra:

Há dois meses, o Comandante-Chefe não se opôs, em princípio, à execução de um ataque de Oeste para Leste através da bacia de Donetsk como eixo principal. Ele apenas deixou de avançar com esse plano citando a “herança deixada pela retirada das tropas do sul no verão”, isto é, o agrupamento espontâneo das unidades na antiga Frente Sudeste, cuja reorganização exigiria tempo demais e, nesse intervalo, beneficiaria Denikin.

Hoje, porém, a situação mudou radicalmente, assim como a disposição de nossas forças: o 8º Exército, antes o principal da antiga Frente Sul, deslocou-se para a nova região de operações e está agora diretamente orientado para a bacia do Donets; o corpo de exército de Semyon Budyonny — outra força decisiva — também foi transferido para esse setor; além disso, soma-se uma nova reserva ativa, a divisão letã, que dentro de um mês, reconstituída, voltará a representar uma ameaça séria para Denikin.

Diante desses fatos, permanece inexplicável por que o Quartel-General insiste em defender o plano antigo. A única explicação plausível é a teimosia ou, se preferir, o facciosismo — o mais obtuso e perigoso tipo de facciosismo — cultivado no Comando-Chefe por seu “galinho estratégico”.

A insistência recente do Comando Supremo em ordenar a Shorin que avance sobre Novorossiysk através das estepes do Don, por uma rota que pode ser conveniente para nossos aviadores, mas que é totalmente impraticável para nossa infantaria e artilharia, ilustra bem esse descolamento da realidade. É desnecessário demonstrar que uma campanha tão “brilhante” conduzida em ambiente hostil e em completa ausência de estradas tem tudo para terminar num desastre. Na prática recente, operações desse tipo contra aldeias cossacas apenas uniram os cossacos contra nós em torno de Denikin, que passa a ser visto como protetor do Don; ajudaram a consolidar o seu prestígio; e, de fato, contribuíram para criar um Exército Cossaco a seu favor — em suma, fortaleceram Denikin.

Por essas razões, torna-se absolutamente necessário substituir sem demora o plano antigo — já invalidado pela realidade — por um plano cujo eixo principal seja o avanço através da região Kharkov–Donetsk em direção a Rostov. Primeiro, porque ali encontraremos um ambiente não hostil, mas favorável ao nosso movimento. Segundo, porque conquistaremos a importante rede ferroviária de Donetsk e, sobretudo, a principal linha logística de Denikin, a ferrovia Voronezh–Rostov. Terceiro, porque esse avanço dividirá o exército de Denikin em duas partes, deixando o Exército Voluntário vulnerável a Makhno e obrigando as unidades cossacas a enfrentar o risco de serem atacadas pela retaguarda. Quarto, porque criaremos as condições para uma cisão entre os cossacos e Denikin: caso tenhamos sucesso, Denikin tentará deslocar unidades cossacas para o oeste, movimento que grande parte dos cossacos rejeitará. Quinto, porque garantiremos o carvão, enquanto Denikin ficará privado dessa fonte vital. A aprovação desse plano não comporta atrasos.

Em síntese: o plano antigo, já desmentido pelos fatos, não pode, sob hipótese alguma, ser ressuscitado. Sua aplicação seria perigosa para a República e só serviria para aliviar a situação de Denikin. É imprescindível substituí-lo imediatamente por um novo plano. As circunstâncias não apenas amadureceram para essa mudança: elas a impõem de forma categórica. Sem essa substituição, meu trabalho na Frente Sul torna-se inútil, criminoso e improdutivo — o que me concede, ou melhor, me impõe o direito de partir para qualquer outro lugar, até mesmo para o inferno, mas não permanecer aqui.

Seu, Josef Stálin.
Serpukhov, 15 de outubro de 1919.

Comentários a este documento tornam-se desnecessários. Chama atenção a maneira como Stálin mede a rota operacional mais curta não apenas pela distância em quilômetros, mas pela composição de classe do território. Na Guerra Civil, a aritmética simples pode ser insuficiente — e muitas vezes enganosa. O caminho de Tsaritsyn a Novorossiysk pode ser muito mais longo justamente porque atravessa uma região socialmente hostil; ao contrário, o caminho de Tula a Novorossiysk pode ser muito mais curto porque avança através da operária Kharkiv e da mineira Donbass. Foi nesta capacidade de identificar as direções verdadeiramente estratégicas, não pela geometria, mas pela sociologia concreta da guerra, que se manifestaram algumas das qualidades centrais do camarada Stálin: revolucionário proletário, estrategista de primeira grandeza da Guerra Civil.

O plano do camarada Stálin foi aprovado pelo Comitê Central. O próprio Lênin, de próprio punho, redigiu uma ordem ao Quartel-General de campanha determinando a alteração imediata da diretiva ultrapassada. Assim, o golpe principal da Frente Sul passou a ser desferido na direção Kharkov–Donbass–Rostov. Os resultados são conhecidos: deu-se a grande virada da Guerra Civil. As hordas de Denikin foram derrotadas até o Mar Negro. A Ucrânia e o Cáucaso do Norte foram libertados do Exército Branco. O camarada Stálin desempenhou um papel imenso e de primeira ordem nessas tarefas.

É necessário destacar ainda um momento histórico de enorme importância, diretamente ligado à Frente Sul e ao nome do camarada Stálin: a formação do Exército de Cavalaria. Foi a primeira experiência de reunir divisões inteiras de cavalaria numa formação tão grande quanto um exército. O camarada Stálin percebeu o poder decisivo das massas de cavalaria na Guerra Civil e compreendeu, com plena clareza, sua função profunda na capacidade de manobra do exército e no golpe ofensivo. No entanto, ninguém possuía experiência semelhante no passado; nada disso existia nos manuais militares. Por isso, a proposta causou perplexidade e até resistência aberta. Mas Stálin não era assim: uma vez convencido da utilidade e justeza de um plano, ele o levava adiante com uma determinação inabalável.

Em 11 de novembro, o Comitê Militar Revolucionário da República recebe o seguinte relatório do CMR da Frente Sul:

O Comitê Militar Revolucionário da República comunica que o CMR da Frente Sul, em sessão realizada em 11 de novembro deste ano, analisando as condições da situação operacional atual, decidiu constituir um Exército Montado, integrado pelo 1º e 2º corpos de cavalaria e por uma brigada de infantaria — prevendo-se, em fase posterior, a incorporação de uma 2ª Brigada.

A composição do Comitê Militar Revolucionário da Cavalaria será a seguinte:

• Comandante: Semyon Budyonny;
• Kliment Voroshilov;
• Efim Shchadenko.

Referência: Resolução do CMR da Frente Sul, de 11 de novembro de 1919, nº 505/A. Solicitamos a aprovação da mencionada decisão.

A Cavalaria foi criada — apesar e até mesmo contra a vontade inicial do centro. A iniciativa de sua criação pertence integralmente ao camarada Stálin, que tinha uma noção absolutamente clara da necessidade dessa organização. As consequências históricas desse passo são amplamente conhecidas.

Outra característica marcante do camarada Stálin revelou-se plenamente na Frente Sul: atuar com grupos de ataque concentrados, escolher as direções fundamentais, reunir nelas as melhores unidades e derrotar o inimigo por meio de golpes precisos e devastadores. Nesse aspecto — assim como na escolha das direções estratégicas — ele alcançou grande maestria.

Após a derrota de Denikin, a autoridade de Stálin como organizador e dirigente militar de primeira ordem tornou-se incontestável. Quando, em janeiro de 1920, nas proximidades de Rostov, ocorre um perigoso atraso em nosso avanço — devido a graves erros do comando da frente — e surge novamente o risco de que o Exército Branco, reagrupado, revertessem os frutos de nossa vitória, o Comitê Central envia ao camarada Stálin o seguinte telegrama:

Considerando a necessidade de restabelecer uma verdadeira unidade de comando na Frente do Cáucaso, fortalecer a autoridade do comando da frente e do comandante do exército, e assegurar o uso pleno das forças e recursos locais, o Birô Político do Comitê Central decidiu que sua incorporação imediata ao CMR da Frente do Cáucaso é absolutamente indispensável. Solicitamos que informe tão logo esteja preparado para partir em direção a Rostov.

O camarada Stálin obedece, embora considere que, devido ao seu estado de saúde, não deveria deixar o local onde se encontrava. Posteriormente, preocupa-se muito com a possibilidade de que essas constantes transferências fossem mal compreendidas pelas organizações partidárias, que poderiam “acusar-me de saltar levianamente de uma área de direção para outra, devido à sua falta de conhecimento das decisões do Comitê Central”.

O Comitê Central concorda com suas objeções, e Lênin telegrafa-lhe em 10 de fevereiro: “Não perco a esperança de que tudo se resolva sem a sua transferência.”

Mais tarde, quando Pyotr Nikolayevich Wrangel, aproveitando a campanha dos Poloneses Brancos, sai da Crimeia e cria uma ameaça terrível ao Donbass libertado e a todo o Sul, o Comitê Central toma, em 3 de agosto de 1920, a seguinte decisão:

Diante do avanço das forças de Pyotr Nikolayevich Wrangel e da instabilidade crescente na região do Kuban, reconhece-se que a Frente de Wrangel adquiriu importância estratégica própria e deve ser destacada como uma frente autônoma. Fica incumbido o camarada Stálin de organizar o respectivo Comitê Militar Revolucionário e concentrar todas as forças disponíveis nesse setor, cabendo a nomeação de Alexander Yegorov ou Mikhail Frunze para o comando da frente, conforme acordo entre o Comandante-em-Chefe e o camarada Stálin.

No mesmo dia, Lênin escreve a Stálin:

Acabamos de deliberar sobre a divisão das frentes no Birô Político, para que se dediquem exclusivamente a Wrangel.

O camarada Stálin organiza a nova Frente — e somente a doença dispensa-o dessa tarefa.

Na campanha dos Poloneses Brancos, o camarada Stálin atua como membro do CMR da Frente Sudoeste. A derrota das forças armadas polonesas, a libertação de Kiev e de toda a margem do flanco direito da Ucrânia, a profunda penetração na Galícia e a organização da célebre incursão da 1ª Cavalaria — criação de Stálin — constituem, em larga medida, o resultado de sua direção experiente e habilidosa.

A destruição da frente polaca na Ucrânia, o aniquilamento quase total da 3ª Armada polaca perto de Kiev, os golpes decisivos em Berdichev e Zhytomyr e o avanço da 1ª Cavalaria em direção a Rivne criaram condições que permitiram à nossa Frente Ocidental passar à ofensiva geral.

As ações subsequentes da frente sudoeste levaram as tropas vermelhas até Lviv. E apenas o fracasso de nossas forças diante de Varsóvia impediu a 1ª Cavalaria — que se preparava para desalojar Lviv e estava a apenas dez quilômetros da cidade — de completar sua tarefa.

No entanto, esse período é tão rico em acontecimentos, tão repleto de decisões complexas e operações extensas, que sua exposição completa exigiria uma documentação própria e uma análise muito mais minuciosa do que cabe nos limites deste trabalho.

Esta breve descrição da atividade militar do camarada Stálin tampouco esgota a caracterização de suas qualidades fundamentais como dirigente militar e revolucionário proletário. O que mais impressiona é sua capacidade de compreender rapidamente uma situação concreta e agir de acordo com ela.

Inimigo feroz da negligência, da indisciplina e das improvisações irresponsáveis, o camarada Stálin — sempre que os interesses da revolução o exigiam — jamais hesitou em assumir a responsabilidade por medidas extremas ou mudanças radicais. Quando a necessidade revolucionária impunha, o camarada Stálin estava pronto a contrariar qualquer estatuto formal, qualquer instrução rígida de subordinação.

O camarada Stálin sempre defendeu a disciplina militar mais rigorosa e a centralização, desde que acompanhadas de uma direção realmente ponderada e equilibrada por parte dos órgãos militares superiores. No relatório já citado ao Conselho de Defesa, de 31 de janeiro de 1919, escrito junto com Dzerzhinsky, ele afirmava:

O exército não pode operar como uma unidade autônoma ou isolada; sua eficácia depende inteiramente da ação coordenada com os exércitos vizinhos e, sobretudo, da observância rigorosa das diretrizes emitidas pelo Comitê Militar Revolucionário da República. Mesmo a unidade mais disciplinada e combativa está sujeita ao colapso caso o centro formule diretrizes equivocadas ou deixe de garantir uma coordenação efetiva entre as Frentes. Por isso, é indispensável estabelecer — especialmente na Frente Oriental — um regime de centralização estrita, no qual todas as forças armadas atuem de acordo com diretrizes estratégicas nítidas, coerentes e cuidadosamente planejadas. A arbitrariedade ou a imprudência na elaboração dessas diretrizes, sem análise séria e fundamentada dos dados disponíveis, bem como as mudanças abruptas que daí resultam, somadas à incerteza geral das orientações — situação que o próprio CMR da República tem permitido — tornam impossível o comando adequado dos exércitos, dispersam recursos, desperdiçam tempo e lançam a frente na desorganização.

O camarada Stálin insistia constantemente na responsabilidade pessoal pela tarefa confiada e não tolerava, de forma alguma, a “disputa entre departamentos”.

Além disso, dedicava enorme atenção ao abastecimento das tropas. Sabia, por experiência concreta, o que significava alimentação adequada e roupas quentes para um soldado. Tanto em Tsaritsyn quanto em Perm e na Frente Sul, empregou todos os meios possíveis para garantir o abastecimento das tropas e torná-las mais fortes e resistentes.

No camarada Stálin vemos características essenciais de um organizador militar da classe proletária. Ele dava atenção especial à composição social do exército, assegurando que ali permanecessem de fato operários e camponeses “que não exploram o trabalho alheio”. Atribuía enorme importância ao trabalho político no exército e, repetidas vezes, foi o principal impulsionador da mobilização de comunistas, insistindo que uma parte significativa deles deveria servir como soldados rasos. Era extremamente exigente na seleção de comissários militares. Criticava duramente o então Birô Pan-Russo de Comissários por enviar “rapazinhos”, afirmando:

Os Comissários Político-Militares devem ser a alma da causa militar, dirigindo os especialistas.

Ele atribuía enorme importância também à situação política da retaguarda. Em seu relatório sobre a 3ª Armada, escrevia:

O ponto vulnerável de nossas forças armadas continua sendo a instabilidade da retaguarda, derivada principalmente do abandono do trabalho partidário, da incapacidade dos Sovietes locais de executar as diretrizes do centro e da situação excepcional — praticamente isolada — em que se encontram as Comissões de Emergência locais.

Stálin era extremamente rigoroso na seleção de quadros. Sem qualquer distinção pessoal, destituía com severidade especialistas, comissários, dirigentes do partido e funcionários soviéticos inadequados. Mas, ao mesmo tempo, como poucos, sabia apoiar e defender aqueles que, em sua opinião, justificavam plenamente a confiança que a revolução depositava neles. Foi assim, por exemplo, quando o grande herói proletário da Guerra Civil, o camarada Parkhomenko — mais tarde comandante da 14ª Divisão de Cavalaria — condenado à morte por um mal-entendido no início de 1920, teve sua libertação imediata e incondicional exigida por Stálin ao saber do caso. Episódios como esse são inúmeros. O camarada Stálin sabia valorizar profundamente os trabalhadores que dedicavam a vida à causa proletária, e isso era reconhecido pelos comandantes e por todos os que lutaram sob sua direção.

Assim foi o camarada Stálin durante a Guerra Civil. Assim permaneceu ele nos anos seguintes de luta pelo socialismo.

A Guerra Civil exigiu do camarada Stálin enorme força, energia, vontade e inteligência. Ele se dedicou a ela inteiramente, sem reservas. Porém, simultaneamente, retirou dela uma experiência colossal para o seu trabalho posterior.

Na Guerra Civil, enfrentando as circunstâncias mais diversas e complexas, munido de grande talento de estrategista revolucionário, o camarada Stálin identificava com precisão as direções principais do ataque, aplicava as táticas adequadas à situação e alcançava os resultados necessários. Essa qualidade de estrategista e tático proletário permaneceu com ele depois da guerra. Todo o partido a conhece. Quem poderia falar melhor disso são Trotsky e sua quadrilha — que pagaram com a própria boca por tentarem substituir a grande doutrina marxista-leninista por sua ideologia pequeno-burguesa. Também os oportunistas de direita — recentemente derrotados de maneira decisiva — sabem bem disso.

Mesmo em tempos de paz, o camarada Stálin conduziu, lado a lado com o Comitê Central leninista, uma luta implacável contra todos os inimigos voluntários e involuntários do partido e da construção socialista em nosso país, com o mesmo êxito demonstrado durante a Guerra Civil.

Porém, ao mesmo tempo, apesar de ter deixado formalmente as funções militares, o camarada Stálin nunca deixou de preocupar-se profundamente com a defesa do Estado proletário. Assim como nos anos de combate, ele continua conhecendo o Exército Vermelho de dentro, e permanece sendo o seu amigo mais próximo e querido.