Talvez digam que nossas propostas são óbvias, que ninguém contestou a necessidade de envolver as mulheres na luta de classes. No entanto, a maioria das companheiras de todas as cidades considera que, nesse aspecto, ainda não foi feito tudo o que poderia ser feito. Dizem que não existe um direito especial de associação e coalizão para as trabalhadoras. É verdade. Mas, a meu ver, na interpretação e aplicação da lei sobre associações e coalizões, as autoridades procedem diante das mulheres com uma “sabedoria” perante a qual o próprio Salomão pareceria um menino ingênuo (risos), de um modo que — para me expressar em linguagem parlamentar — honra ao máximo o cumprimento do dever, especialmente da burocracia prussiana (risos). Em muitos casos, o fato de o sexo feminino não ter direitos políticos serviu para dificultar a vida das mulheres também na área econômica. Em muitos sindicatos onde mulheres e homens se organizam conjuntamente, afirma-se, diante de certos temas, que estes acabam por tocar questões políticas. Portanto, no estado atual do progresso, é muito necessário encontrar o limite onde uma questão deixa de ser econômica e passa a ser política. Mas é igualmente necessário continuar empenhando todos os esforços para que se reconheça às mulheres o direito de tratar de temas políticos em associações e reuniões. Sabe-se que a privação de direitos políticos do sexo feminino é apenas um pretexto para impedir a organização das trabalhadoras, para tornar impossível que elas se rebelem contra a opressão da exploração capitalista. O sexo feminino é atacado, mas o que se quer atingir é o proletariado. No que diz respeito à nossa terceira proposta, está muito longe da nossa intenção fazer agitação nas assembleias contra os privilégios dos homens. As trabalhadoras sabem muito bem que a guerra contra o sexo masculino significaria apenas uma fragmentação das forças, uma distração dos objetivos reais. A esposa do trabalhador sofre, atualmente, menos com a sujeição ao homem do que com sua dependência dos capitalistas. Se outrora era castigada pelo homem com chicotes, hoje o é pelo capitalismo com escorpiões. Desejamos demonstrar, em nossas assembleias, às mulheres proletárias que o Partido Social-Democrata é o único que, de modo efetivo e resoluto, no âmbito da vida sociopolítica, representa os interesses de toda a classe operária, incluindo, de maneira plenamente integrada, os das trabalhadoras. Talvez se alegue que não é razoável exigir dos homens que, em período de agitação eleitoral, tenham ainda de realizar assembleias para nós. Mas, em minha opinião, se os camaradas consideram valer a pena realizar 99 assembleias, então também têm tempo para realizar a centésima. O que importa não é o sacrifício, mas sim os benefícios que podemos obter com ele. Acreditamos que a social-democracia só tem a ganhar quando a mulher proletária também é esclarecida politicamente. Os bons resultados das campanhas eleitorais socialistas na França se devem, em grande medida, à participação que as trabalhadoras passaram a ter na luta política e à influência que exerceram, durante a campanha, em favor dos candidatos socialistas. O mesmo aconteceu na última campanha eleitoral na Inglaterra. Já vemos também na Alemanha que, no campo adversário, se levantam vozes que temem que a social-democracia ganhe cada vez mais influência entre as mulheres da classe trabalhadora. O jornal Kölnische Zeitung publicou um verdadeiro grito de lamentação num artigo, afirmando que muitas “mulheres imaturas” passariam a ter mais tempo livre por causa das novas disposições da reforma da legislação industrial e que era preciso se esforçar para proteger essas mulheres de influências prejudiciais. (O presidente toca a campainha, indicando que o tempo da oradora acabou.) Os homens falaram por muito tempo, então nós, mulheres, também podemos falar um pouco. (Muitas risadas.) Toda a burguesia sabe muito bem que, quando chegar a hora da decisão, os agitadores do lado preto não serão tão temíveis quanto os agitadores do Estado do futuro, os vermelhos. É injusto falar de um movimento feminista social-democrata, pois as mulheres social-democratas não formam nenhum movimento específico, não são um Estado dentro do Estado, mas simplesmente se integram ao movimento social-democrata. (Bravo!) Se me sinto obrigada a defender essas propostas, não é por ser mulher, mas porque me considero, antes de tudo, uma camarada e, tendo em conta o valor e a importância do sexo feminino para as conquistas do proletariado, sinto-me na obrigação de defender essas propostas. Não estou pedindo que vocês concordem com essas propostas por uma questão de justiça e equidade, pois sei muito bem que nenhum partido político se deixa guiar pelos belos olhos da senhora Justiça em suas ações e posturas. Quando peço que aprovem essas proposições, faço-o pelo interesse de todo o proletariado. No âmbito econômico, com o desenrolar da vida moderna, a mulher tornou-se uma concorrente desleal do homem; ela deve tornar-se sua aliada tanto no âmbito sindical quanto no político. Com a ajuda delas, eles também conquistarão a população rural e a pequena burguesia. Seríamos todos combatentes muito ruins se, nessa luta, deixássemos de lado nossa amiga mais íntima: a mulher reacionária! Aprovem nossas propostas para conquistar novos combatentes para a luta de libertação da classe trabalhadora, para que todos nós, sem distinção, de saia ou calça, nos reunamos como soldados sob a mesma bandeira, pela vitória do proletariado sobre a burguesia! (Saudações e aplausos estrondosos.)
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Resolução
1.“O congresso do partido decide:
que o Partido Social-Democrata desenvolva uma intensa campanha com o objetivo de integrar as proletárias nas organizações sindicais e, sempre que possível, nas organizações políticas dos trabalhadores, bem como de promover sua participação consciente e determinada na luta pela libertação de sua classe; o Partido Social-Democrata faça campanha para que o grupo social-democrata no Reichstag se empenhe em garantir às operárias o livre e irrestrito exercício do direito de associação e de coalizão; e que, durante os períodos de campanha eleitoral, o Partido organize reuniões com o duplo objetivo de protestar contra a exclusão política das mulheres e de levar esclarecimento sobre questões políticas às mulheres do proletariado.”