Multiplicar as Fôrças do Partido, Melhorar Nossos Métodos de Trabalho

João Amazonas

Fevereiro de 1951


Primeira Edição: Informe apresentado ao Pleno do Comitê Nacional do PCB fevereiro de 1951.
Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política nº 34 - Maio-Junho 1951.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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O Informe do camarada Arruda, apresentado ao Comitê Nacional do nosso Partido, apreciou a situação internacional e nacional, destacando seus aspectos fundamentais.

As fôrças da paz, da democracia e do socialismo, dirigidas pela grande União Soviética crescem e se, reforçam no mundo inteiro em ritmo cada vez mais impetuoso; as fôrças do imperialismo e da guerra, dirigidas pelos Estados Unidos, sofrem derrotas após derrotas e se enfraquecem.

A luta entre os dois campos, assim, aprofunda-se sempre mais. Os imperialistas norte-americanos, desesperados, prosseguem e aceleram os preparativos para a 3.ª guerra mundial. Mas os povos se erguem e lutam decididamente para defender a paz e desbaratar os planos dos provocadores de guerra.

Esta luta também se realiza em nosso país. Com a cumplicidade do governo lacaio de Vargas e das fôrças que ele representa, prossegue a penetração do imperialismo americano no Brasil e aceleram-se os preparativos de guerra. As fôrças que lutam pela paz, a libertação nacional e a democracia popular, tendo a frente o nosso Partido, cerram fileiras e já travam combates de grande importância.

Vivemos, sem dúvida, uma época de grandes choques. A crise geral do capitalismo aprofunda-se, aguça-se a luta de classes. Em tais condições, aumentam as responsabilidades e cresce mais do que nunca a importância do Partido — força dirigente do campo democrático.

O informe do camarada Arruda por isso chama nossa atenção para o problema decisivo da construção e fortalecimento do Partido, pois sem um Partido forte, política e ideologicamente, profundamente ligado às massas trabalhadoras e, em primeiro lugar, à classe operária, não seremos capazes de enfrentar com êxito, e vencer, os inimigos mortais do nosso povo.

A construção do Partido, trabalhar mais e mais pelo seu fortalecimento é nossa tarefa básica de fundamental importância.

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Vamos aqui tratar, particularmente, de problemas ligados à vida orgânica do Partido.

A situação orgânica atual do Partido não pode ser considerada inteiramente satisfatória. O seguidismo em política de nossa orientação anterior ao Manifesto de Agosto levava espontaneísmo em organização, à subestimação do papel das organizações do Partido.

Apesar da viragem que realizamos, os restos da velha orientação oportunista persistem ainda, continuam se refletindo em nossa política

Sem dúvida, o Partido luta organizadamente no âmbito nacional, esforçando-se por conseguir êxitos no seu trabalho. Apesar da repressão e do terror de tipo fascista que recaem sobre nossos militantes e organizações, o Partido resiste e luta em todo o país.

Os êxitos da campanha Pró-Apelo de Estocolmo, expressados na obtenção de 4 milhões e 200 mil assinaturas são resultado fundamentalmente do trabalho abnegado de nosso Partido.

Os êxitos, ainda que relativos, na campanha eleitoral, o protesto de cerca de 300.000 eleitores que votaram branco para Presidente da República são resultado do esforço enérgico e muitas vezes heroico de nossos militantes.

O resultado positivo da distribuição, venda de mais de 60.000 exemplares semanais da «Voz Operária» é ação combativa do nosso Partido.

Entre outros, estes são êxitos a registrar da atividade do nosso Partido, como organização, que demonstram vitalidade. Mas há, também, imensas debilidades em nosso trabalho de organização.

Não podemos nos contentar com o atual número de células que funcionam normalmente. As células existentes são, na sua maioria, de bairro. Nas empresas, onde está concentrada a classe operária, não é satisfatório o número de nossas células e, e m muitos casos, existem apenas ligações. Há ainda certos municípios industriais, onde o Partido goza de largo prestigio, mas onde não temos células de empresa estruturadas. No campo, poucos organismos de base funcionam entre os assalariados agrícolas e camponeses, mesmo tratando-se de regiões onda o prestígio do Partido é grande.

O Partido não está realizando suas tarefas fundamentalmente através dos seus organismo de base, não está atuando suficientemente nas empresas e junto às massas. O que atua em geral são as direções intermediárias — os Comitês Distritais nas grandes cidades e os Comitês Municipais no interior — apoiados em grupos de ativistas. Ou, o que é pior, quando tarefas importantes e urgentes são levantadas, como por exemplo a campanha eleitoral, o que existe de organizado é em grande parte posto praticamente de lado e o Partido atua através de grupos de ativistas. O Partido ainda vive em função de campanhas e não há atividade permanente das células. Além disto o nível político dos nossos organismos de base é baixíssimo e pouco se diferencia do nível político das massas.

Em consequência dessa pouca vida celular em nosso Partido, ocorre a não ativização de um grande número de membros do Partido, que vivem soltos, sem nada fazer, elementos que só poderão ser enquadrados no trabalho pela atividade permanente das células. Isto importa não apenas numa imensa perda de efetivos para ° nosso Partido mas também na falta de recrutamento e recuperação de militantes para as nossas fileiras, pois é através das células especialmente das de empresa, que se multiplicam as fôrças do Partido.

Nestas condições, é evidente, o Partido não pode estreitar suas ligações com as massas; não atuando organizadamente no seio das massas e muito particularmente da classe operária, o Partido não pode organizá-las eficientemente nem dirigi-las como é necessário.

Há generalizada entre nós séria subestimação dos organismos de base do Partido, da sua decisiva e fundamental importância, o que, em última análise, é subestimação da classe operária. Na verdade, as direções, hoje, são tudo e as bases são quase nada. As direções como que existem não para dirigir o conjunto das organizações do Partido mas para elaborar planos de trabalho. As direções traçam as tarefas mas não cuidam justamente dos instrumentos que devem executar essas tarefas. E daí, em muitos casos, serem as próprias direções que as realizam sozinhas. É o espontaneísmo que predomina em nosso trabalho de organização e isto a começar pela direção nacional. Já agora, à base da crítica e da autocrítica que vimos fazendo do conjunto dos nossos erros, podemos ver mais claro e compreender melhor uma série de defeitos do nosso trabalho. Há inegavelmente centralização exagerada em todos os órgãos de direção do Partido. Os Comitês reúnem, formalmente, incumbindo os secretariados de todo o trabalho de direção.

As direções, e em particular os órgãos superiores de direção, pouco ouvem as bases e, em geral, não conhecem sua opinião nem o verdadeiro sentimento das massas sobre toda uma série de problemas. Muitas vezes utilizamos métodos de imposição de tarefas, decretando de cima para baixo, estabelecemos planos subjetivos de trabalho que descem e são mais tarde substituídos por outros, sem o devido controle, sem apreciarmos devidamente a maneira de como foram executados ou as causas de sua não execução, métodos que determinam a própria! falta de iniciativa dos organismos de base.

Os quadros do Partido, em muitos casos, são rebaixados ou promovidos não como resultado de seu trabalho nos organismos partidários e em função da aplicação da linha do Partido, mas como resultado de simples intervenções políticas. E muitas vezes são tratados de maneirai injusta, sem merecerem a devida atenção por parte dos dirigentes na superação de suas debilidades e dificuldades.

Enfim, é ainda a subestimação dos organismos de base do Partido que contribui para sério defeito na distribuição dos. quadros de direção. Esse defeito consiste em que os membros dos órgãos dirigentes não, atuam, tanto quanto devem, integrados nos organismos fundamentais. Até mesmo os dirigentes de Comitês Distritais não fazem parte de células, não atuam na célula. Nas células, de um modo geral, ficam sempre os quadros mais fracos e menos experientes.

Nosso Partido, assim, pode ser comparado a um exército com Estado Maior e a oficialidade, mas com poucos soldados. Exército desse tipo pode traçar belos planos, podê realizar algumas escaramuças, mas não conseguirá travar e ganhar grandes batalhas. Se esta situação durar não conseguiremos dar passos sérios para levar as massas à luta pela derrubada do poder dos latifundiários e grandes capitalistas lacaios do imperialismo, e pela instauração do Poder democrático popular.

Tais são as debilidades no terreno orgânico que precisamos superar para avançar e fazer frutificar nossa linha política. Não há dúvida que temos condições para superá-las — o próprio reconhecimento das debilidades é já meio caminho andado — e as superaremos seguramente.

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Trataremos aqui de duas questões que nos parecem fundamentais para atacar nossas debilidades orgânicas e fazer face às tarefas que se colocam diante de nós:

  1. — fortalecer e construir o Partido nas grandes concentrações de trabalhadores, fundamentalmente nas empresas industriais;
  2. — melhorar nossos métodos de trabalho de direção de modo a levar o centro de gravidade de nosso trabalho para as células.

De fato, nosso Partido não poderá desempenhar suas tarefas, não poderá dar um passo adiante no seu trabalho de massas se não atuar ali onde estão os trabalhadores e as massas populares. Com poucas células principalmente nas empresas, funcionando, o Partido ficará nas palavras, nas proclamações, mas nunca chegará às ações revolucionárias, à realização prática de sua política.

Precisamos liquidar definitivamente com toda a subestimação que existe das células. São as células que aplicam diretamente a política do Partido entre as massas. São as células que asseguram a ligação viva das direções do Partido com as grandes massas trabalhadoras das cidades e do campo. As células não são os últimos organismo do Partido, elas são o fundamento do Partido.

Devemos empregar todos os nossos esforços para fortalecer as células do Partido já existentes e criar o maior número de células onde existe concentração de trabalhadores. Em especial, nossa preocupação para construir e fortalecer as células do Partido — tarefa imediata que se nos apresenta — deve dirigir-se para a classe operária.

Sabemos que as tarefas históricas que se colocam diante do nosso povo só poderão ser realizadas se à frente delas estiver a classe operária; que a classe operária é a força dirigente da luta pela paz, pela libertação nacional, pela conquista da democracia popular. Tantas vezes temos repetido que nenhum êxito será possível obter nos combates contra a reação e o imperialismo, contra os exploradores e opressores de nosso povo, se nesses combates não se empenharem a fundo as fôrças da classe operária.

Mas que significa isto? A classe operária espontaneamente não realiza suas tarefas históricas ou melhor, espontaneamente, teríamos que esperar séculos para que a classe operária cumprisse sua missão histórica. Ou será que quando falamos em classe operária pensamos apenas no nosso Partido? Não podemos pensar assim, porque nosso Partido não é toda a classe mas um destacamento avançado da classe operária, classe operária só desempenhará seu papel histórico se, no seu conjunto, atua politicamente, se realiza na prática a sua política de classe. E a politica da classe operária é a politica do Partido, que é a sua vanguarda consciente.

Nossa tarefa primeira, que é ao mesmo tempo a razão de ser da existência do Partido, é dirigir a classe operária, orientá-la e guiá-la em sua luta emancipadora. Mas, dirigir a classe operária não é impor a direção do Partido, ao contrário é atuar de modo a que a classe operária em seu conjunto compreenda e aceite a direção do Partido. E como se poderá ganhar e dirigir a classe operária se, antes de tudo, o Partido não estiver profundamente enraizado nas empresas, se não estiver ligado, quase que fundido, à classe operária?

A condição básica para o Partido dirigir a classe operária é ter uma política justa e contar com fortes e numerosas células nas empresas.

A reação compreende bem o que isto significa. A reação luta por isolar o Partido da classe operária, para não permitir a ação de vanguarda de nosso Partido junto ao proletariado e tudo faz para que a classe operária não atue politicamente. Daí sua preocupação constante no sentido de bloquear as empresas que, cada vez mais, se encontram sob policiamento, tanto interno como externo. E daí a perseguição furiosa e terrorista que faz aos nossos quadros de prestigio ligados ao proletariado.

As células de empresa desempenham um papel fundamental.

Criar e fortalecer células nas empresas é o único meio de liquidar com as relações de acaso entre o Partido e a classe operária, de evitar que, em face de qualquer acontecimento, o Partido fique impotente para aproveitá-lo e respondê-lo à altura. Só com fortes células de empresa o Partido pode comandar os acontecimentos, conhecer as fôrças com que conta e utilizar bem a influência que exerce sobre as amplas massas trabalhadoras.

A célula de empresa, além disto, permite a melhor ligação com massas dos trabalhadores e a defesa mais eficiente de suas reivindicações já que funciona no próprio local de trabalho e de exploração. É na empresa que os comunistas melhor podem conhecer o estado de espírito das massas, expressar com eficácia as palavras de ordem que podem mobilizar e organizar as massas da empresa, verificar como a classe operária acolhe as palavras de ordem do Partido e a nossa política e, em consequência, ganhar sua confiança, educar a classe operária revolucionariamente e também aprender com ela.

Na situação política que atravessamos, só através das células, e em particular de empresa, pode o Partido ligar-se efetivamente às massa Em períodos de certa legalidade democrática, o Partido também se liga permanentemente às massas e procura conquistá-las para a sua política, através do trabalho de suas frações nas organizações de massa. O contacto do Partido com as massas se faz também por esse modo, o evidentemente não diminui o papel fundamental das células. Mas, quando a reação restringe ao máximo as possibilidades de existência legal da organizações de massa, o que não significa deixar de lutar por sua existência e utilização, o papel da célula de empresa é mais importante do que nunca para a realização prática da política do Partido junto às massas.

Enraizar nosso Partido nas empresas é necessário, ainda, como garantia de sua composição social, para assegurar em suas fileiras a predominância dos elementos proletários e para realizar na prática a sábia indicação do camarada Stálin de que o Partido deve ser construído ali onde a luta de classes é mais aguda, mais aberta e mais decisiva.

Eis por que devemos empreender o máximo de esforços para reforçar as células de empresa existentes, criar centenas de células nas empresas, particularmente nas grandes empresas, e transferir o centro de gravidade do nosso trabalho para as células. Eis por que devemos concentrar nossos esforços no sentido da classe operária, sem deixar de atender à criação de células entre outras camadas da população e muito especialmente entre os assalariados agrícolas e os camponeses pobres. Cada comunista precisa compreender que construir células, hoje, e em primeiro lugar nas empresas, é uma tarefa politica das mais importantes, pois cada célula construída e em funcionamento representa laços de ligação viva entre o Partido e as massas, e a multiplicação das ações pela paz, pela libertação nacional e pela democracia popular. Por isso mesmo a eficiência do trabalho dos Comitês do Partido se mede também pelo número de células de empresa, funcionando, que eles dirigem.

E há condições favoráveis para fortalecer e construir rapidamente centenas de células de empresa. É grande o prestigio do nosso Partido e do camarada Prestes entre os trabalhadores e é grande também a vontade de luta das massas. Não devemos esquecer que nosso Partido, no período da legalidade, já contou com cerca de 200 mil membros em suas fileiras. Vários fatores contribuíram para a diminuição dos efetivos do Partido e entre estes a linha de colaboração de classes que defendíamos. Hoje temos uma linha revolucionária, nosso prestígio pode ser capitalizado em organização. Podemos e devemos liquidar o desnível existente entre a grande influência exercida pelo nosso Partido no seio das amplas massas e o número de nossas organizações partidárias funcionando.

As massas operárias estão próximas do Partido e querem o Partido. Nas eleições de 3 de outubro, num centro industrial como São Paulo, cerca de 100 mil eleitores atenderam à palavra de ordem do Partido de voto em branco. Bem sabemos que quem respondeu a essa palavra de ordem, que não conseguiu chegar a toda massa, inclusive pela exiguidade de tempo e também por ter sido pouco aplicada, é porque está próximo do Partido. Em Jundiaí, temos ainda um Partido fraco e no entanto realizamos aí alguns comícios eleitorais sob forte pressão policial dos quais participaram muitas centenas de operários que tudo fizeram para defender nossos oradores Num grande centro industrial como Sorocaba, onde o Partido atualmente não satisfaz as nossas necessidades, também realizamos comício com a participação ativa da massa operária, de mais de 5 mil pessoas. E nosso prestigio é maior ainda, não pode ser medido apenas por esses êxitos eleitorais, se bem que representam eles um índice significativo. Além disto temos exemplos também destacados na campanha pelo Apelo de Estocolmo que teve nos ativistas do nosso Partido os mais abnegados batalhadores. Cinco mil e novecentos dos 6 mil mineiros de Raposos (Minas Gerais) subscreveram o Apelo. Duas grandes empresas como a Light e a Nitroquímica São Paulo, onde trabalham cerca de 12.000 operários, subscreveram o Apelo numa proporção de 70%. Os marítimos obtiveram 30 mil assinaturas. Nas cidades proletárias de Santos e Santo André foram coletadas 100 mil e 80mil assinaturas, respectivamente. Nas concentrações camponesas também houve êxitos. Toda a população camponesa de Rufinopolis (Minas Gerais), 6 mil pessoas, assinou o Apelo de Estocolmo. É certo que assinar o Apelo não é ser comunista, mas a classe operária e os camponeses assinaram o Apelo, de um modo geral, por serem contra a guerra e o imperialismo e porque os comunistas estavam à frente da campanha.

Tudo isto mostra como é grande o prestígio do Partido e do camarada Prestes e que há condições para multiplicar as fôrças do nosso Partido nas empresas e nas concentrações de trabalhadores do campo. Indica-nos que, lutando pela aplicação da linha do Partido, podemos e devemos construir centenas de células, enraizando, assim, nosso Partido no seio da classe operária e dando um passo no sentido da realização de sua justa linha política e tática.

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Para construir e fortalecer o Partido nas empresas e para levar o centro de gravidade do nosso trabalho para as células — é decisivo o papel das direções.

É certo que nem todos nós compreendemos suficientemente, que uma das tarefas fundamentais das direções é organizar o Partido e ajudar os organismos que dirigem a aplicar a linha política do Partido. Não se poderá criar e consolidar células, se não se der a devida atenção e ajuda a esses organismos ou se se empregam métodos falsos de trabalho de direção.

E nós empregamos ainda em muitos lugares métodos falsos para criar e consolidar células do Partido.

Vejamos alguns exemplos: num centro operário de São Paulo, muitos trabalhadores se recusaram a ingressar no Partido criticando nossa maneira de atuar. Diziam esses companheiros: «Vocês não sabem trabalhar: vocês não têm vigilância». E por que diziam isto? Porque os dirigentes do Partido reuniam abertamente com os operários comunistas na frente do próprio gerente da empresa ou trabalhavam de modo que os comunistas na empresa apareciam «com o selo na testa», e o resultado é que os operários comunistas eram imediatamente e e instantemente dispensados da empresa. Em outro centro operário de São Paulo, houve tempo em que se exigia que os militantes do Partido vendessem sem nenhuma precaução a «Voz Operária» dentro das fábrica» Os operários muitas vezes alertaram que vender a «VOZ» na fábrica abertamente era liquidar o Partido na empresa pois os comunistas seriam localizados e imediatamente dispensadas. Os operários respondiam que a «Voz» podia também ser por eles vendida nos locais de residência, já que a massa operária reside agrupada em determinados bairros desses centro industrial. Esse proceder, porém, era considerado oportunista, É fácil deduzir as consequências para o Partido desses métodos errôneos e esquemáticos de trabalho

Temos, hoje, que trabalhar de maneira radicalmente diferente. É preciso adaptar a realização de nossas tarefas nas empresas às condições particulares de repressão adotadas, nas empresas, contra os operários comunistas. E é preciso trabalhar levando em conta o nível político dos militantes da célula e sua capacidade de ligação e mobilização das massas operárias, assim como do próprio prestígio que já gozam na empresa os militantes e organizações comunistas.

Não se pode organizar uma célula ou assistir uma célula débil e começar a exigir dela tarefas superiores às suas possibilidades. Precisamos acabar com o nervosismo muito generalizado entre nós de querer arrancar lutas por cima de tudo, o que não significa que as lutas não sejam importantes e decisivas ou que não existam condições para o desencadeamento de maiores lutas. Devemos ter presente que após um certo período, que pode ser curto, de justo trabalho da célula, já será difícil ao patrão despedir os operários comunistas sem um enérgico protesto das massas e sem que novos militantes venham reforçar as fileiras do Partido na empresa. Por isso as direções devem conhecer bem não só os organismos que dirigem como as próprias condições do lugar onde atuam. Exigir, decretar tarefas, não é um justo método. A «exigência», o «decreto», em geral, escondem a incapacidade do dirigente de organismos.

Quando se procura trabalhar bem os resultados são outros. Um exemplo: a célula «x» de empresa, no Distrito Federal, é considerada muito fraca e só um pequeno número de elementos se reúne. No entanto, quando da discussão do Abono de Natal, um companheiro mais experimentado desceu para dar uma ajuda a essa célula.

Na primeira reunião só dois elementos compareceram e diziam não haver perspectivas para reunir os demais elementos e para levar adiante a tarefa do Abono. O companheira depois de ouvir pacientemente os dois membros da célula e de lhes fazer várias perguntas indicou um caminho prático para a realização da tarefa. Rapidamente os dois elementos da célula compreenderam a proposta e viram uma perspectiva para o seu trabalho de massa. Na segunda reunião da célula já compareceram 6 elementos e estes, depois da discussão, conseguiram reunir, nas diferentes seções da empresa, quase 30 militantes do Partido, que praticamente estavam encostados. Assim, o Partido nessa empresa pode desenvolver sua ação junto às massas pela conquista do Abono. Sem dúvida isto não significa que a referida célula já esteja consolidada e que tenha mesmo conseguido obter uma vitória na reivindicação pleiteada. Mostra, no entanto, que quando se ajuda eficientemente, abrindo perspectivas, o organismo ganha vida e encontra o caminho para funcionar e levar as massas à luta.

O papel das direções é ajudar, ter paciência dar saída prática às dificuldades que os militantes encontram é contribuir para encontrar aquela tarefa que mais rapidamente permite jogar as massas na luta para levá-las a novas posições políticas. A maneira de como a célula deve trabalhar na empresa, de como deve levantar as questões, precisa constituir preocupação também das direções.

De um modo geral a maioria de nossas células não desempenha

satisfatoriamente seu papel de vanguarda organizada e esclarecida junto às massas nas empresas. Mal levantam as reivindicações imediatas das massas e, em geral, não conduzem de modo organizado a luta até o fim.

Devemos ajudar as células a encontrar os meios e formas de explicar às massas a política do Partido e de convencê-las, através da prática, de sua justeza, tendo presente que o Partido ganha a confiança das massa não somente, porque lança palavras de ordem acertadas e interpreta de maneira justa os acontecimentos, mas também porque formula corretamente as mais sentidas reivindicações das massas e luta por elas. Nossas células de empresa por isso mesmo devem estudar minuciosamente as reivindicações — desde as mais elementares às mais complexas — do local onde atuam, saber apresentá-las e orientar os trabalhadores para reforçar a organização e unidade sindical da classe operária.

Mas a célula é instrumento político de vanguarda das massas trabalhadoras. Desenvolver a luta pela paz e organizar e pôr em ação FDLN é tarefa de primeiro plano das células. Nossas células devem saber explicar às massas de maneira viva o perigo de guerra, suas consequências atuais e futuras para o proletariado e o povo, quem quer ai guerra e por que a quer: devem saber explicar às massas a política de paz da União Soviética e a importância histórica do movimento dos partidários da paz. E não só explicar como levar as massas à luta em defesa da paz, que deve e pode ser adequadamente ligada às próprias reivindicações econômicas das massas. Nossas células devem saber convencei as massas de que os trabalhadores e o povo brasileiro só podem resolver seus problemas — melhorar realmente as condições de vida, assegurar a paz, gozar liberdades, acabar com o desemprego, a miséria, eta — com a instauração no país de um governo democrático popular que ponha em prática o programa da FDLN. Para a célula todas as situações e todas as lutas devem servir para procurar convencer e ganhar as massas para a FDLN e o seu programa revolucionário. As células devem tomar a iniciativa de estruturar amplos comitês democrático de libertação nacional, fazê-los crescer e se desenvolver na luta diária em defesa dos interesses das massas.

À célula cabe aproveitar cada acontecimento político, cada injustiça social, para educar os trabalhadores e fazer ecoar dentro da empresa as palavras de ordem do Partido. Hoje, as células e os Comitês Distritais se limitam a repetir quase na integra os materiais do Comitê Nacional e dos Comitês Estaduais. Sem dúvida os materiais do Comitê Nacional e dos Comitês Estaduais devem chegar às massas através das células. Mas isto não é o bastante. Os Comitês e as células devem lei a máxima iniciativa nesse terreno. Um exemplo:

Elisa Branco foi presa e condenada a quatro anos em São Paulo porque no dia 7 de setembro abriu uma faixa diante dos soldados com inscrição: «Os soldados, nossos filhos, não irão para a Coreia». Qual foi a célula ou Comitê Distrital que tomou a iniciativa de explicar às massas esse acontecimento, e por que Elisa está presa, como isto interessa aos trabalhadores, etc, etc.? Outro exemplo: o camarada Lafayette foi barbaramente assassinado no Distrito Federal durante a campanha eleitoral. Qual o organismo que procurou explicar às massas este crime, e por que Lafayette foi assassinado, quem era Lafayette, por que os trabalhadores devem protestar, etc.? Outro exemplo mais: foi decretada a prisão preventiva de Prestes, e qual foi o organismo de base que tomou a iniciativa de explicar esse fato às massas e chamá-las para a ação?

Nossas células devem ainda revelar às massas a verdadeira causa da fome da carestia da vida, da opressão, da guerra. A causa da guerra está no sistema capitalista; passamos fome e somos oprimidos porque quem domina o país é o imperialismo de parceria com os latifundiários e grandes capitalistas, etc. etc.

Enfim, devemos estimular a iniciativa dos nossos organismos de base levando em conta que aplicar nossa linha política é, para a célula, pôr em ação as massas trabalhadoras e populares, dirigindo-as pelo caminho indicado no Manifesto de Agosto.

Mas a aplicação da linha do Partido não pode se realizar de maneira uniforme e pelos mesmos processos em toda parte, porque depende do próprio nível de compreensão das massas num determinado local e do próprio nível politico dos militantes de nossas células. Se aplicar a linha, cm determinada empresa, onde já gozamos de suficiente prestigio, é aproveitar um acontecimento que cause indignação às massas, para ir à greve política, noutra empresa é levar as massas a exigir melhores condições de vida, ligando isso de maneira hábil às palavras de ordem fundamentais do Partido.

É evidente por tudo isto que a célula precisa ser também uma escola onde o militante recebe um mínimo de conhecimentos políticos e ideológicos.

Ajudar as células, porém, não é apenas orientar o seu trabalho e ajudar politicamente a sua realização. Ajudar as células é também ajudar os militantes de base a resolver problemas aparentemente insignificantes, mas na verdade de grande importância. A reunião da célula, por exemplo é decisiva para formar os militantes, fortalecer a disciplina e elevar a atividade e a experiência política dos comunistas. No entanto, atualmente, nós, dirigentes, não procuramos resolver de maneira justa esta questão. Não se leva em conta, em geral, as dificuldades que têm os trabalhadores, desde a falta de hábito de reunir até o fato de que moram longe, trabalham muito etc. São muitos os dirigentes que subordinam as reuniões de base às suas conveniências de dirigentes, às tarefas que têm para realizar. Assim, seguramente, não construiremos o Partido. É tarefa dos dirigentes ajudar os militantes a encontrar sempre os meios práticos para fazer as reuniões, ajudá-los a encontrar hora e lugar que facilitem as reuniões. É tarefa também dos dirigentes procurar orientar os militantes a estabelecerem ordens do dia não cansativas e vivas.

Além disto, uma grande atenção nossa, de dirigentes, na construção do Partido, deve ser dispensada aos quadros. Em geral o atual tratamento dispensado aos quadros não é bom. Trata-se o quadro exigindo-se uma disciplina cega e como se ele só tivesse um único problema a resolver: o de executar as tarefas, muitas vezes sem discussão suficiente nem ajuda. Um exemplo entre muitos: um bom militante do Partido de uma empresa do Distrito Federal foi enviado abertamente como representante dos trabalhadores da empresa à Conferência Sindical Sul Americana que se realizou em Montevidéo. Ao regressar, o Comitê Metropolitano exigiu que esse companheiro fosse à porta da empresa, portanto à vista do patrão e da polícia, prestar contas à massa das resoluções da Conferência. Sendo fraca a célula aí, esse companheiro foi em seguida despedido do emprego e sua situação financeira se tomou dificílima. Ele apelou ao Partido e o Partido mandou que ele procurasse por si mesmo arranjar solidariedade e que buscasse outro emprego, sem auxiliá-lo nessa tarefa. Assim também seguramente, não formaremos quadros e não construiremos o Partido.

Nós, dirigentes, temos que levar em conta que os quadros, especialmente os operários, têm imensos problemas a enfrentar. E além do mais é preciso não idealizar o quadro, compreender que ele vive no meio de uma sociedade em decomposição onde predominam vícios e preconceitos sem conta. Só poderemos construir o Partido se soubermos educar os quadros do Partido e isto num processo, e se os soubermos ajudar fraternalmente a resolver os problemas que se lhes apresentam em função cie sua atividade como militantes comunistas. O Partido é a nossa escola e é também a nossa família.

Finalmente, não devemos esquecer que o trabalho de direção, como o de todo o Partido, para obter bons resultados deve basear-se no método da critica e da autocrítica. É na crítica e na autocrítica, como método permanente de trabalho, que poderemos encontrar as verdadeiras causas de nossas debilidades e superá-las. A crítica e autocrítica, como nos ensina Stálin, é a lei de desenvolvimento dos Partidos Comunistas.

Segundo pensamos, tais são os métodos de trabalho de direção que precisamos adotar na realização da tarefa de multiplicar as forças do Partido e de levar para a célula o centro de gravidade do nosso trabalha.

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É indispensável, adotar medidas práticas para o reforçamento orgânico do Partido. Os Comitês do Partido, em todos os escalões, devem sistematicamente planificar a criação de células nas grandes concentrações de trabalhadores e, em primeiro lugar, nas empresas industriais. As células de bairro devem ajudar a realização dessa tarefa. É no fogo da luta, sem dúvida, que melhor se pode realizar a tarefa de construir células. Mas cairíamos no círculo vicioso se colocássemos o problema do seguinte modo: «primeiro a luta, depois a organização». Organizar para lutar e lutar para organizar deve ser a nossa preocupação. Devemos levar em conta que é muito raro existir uma grande empresa no Brasil onde não trabalhem alguns elementos que chegaram a entrar para o Partido no período da legalidade ou grandes admiradores do camarada Prestes.

Os Comitês do Partido devem tomar medidas práticas para transformar, no menor prazo, as ligações de empresa em células e para reforçar a ajuda às células de grandes empresas.

A luta para criar e fortalecer as células não nos deve levar ao recrutamento indiscriminado. Se bem que, ingressar no Partido nas condições atuais, seja já um índice expressivo de vontade luta e sentimento revolucionário, principalmente se se trata de elementos operários, devemos, no entanto, manter vigilância para impedir que elementos corruptos ou provocadores venham às fileiras do Partido. As portas do Partido estão abertas, mas tão somente para os trabalhadores honestos, para as pessoas que querem lutar sinceramente pelos interesses da classe operária e do povo.

Devemos melhorar sistematicamente a composição social de todos os órgãos dirigentes, reforçá-los com elementos da classe operária. As tarefas que se colocam diante do nosso Partido exigem firmeza, abnegação, combatividade e disciplina, qualidades próprias dos quadros proletários.

A elevação do nível político e ideológico dos nossos militantes é tarefa das mais importantes que devemos empreender com persistência. Cada militante do Partido tem que fazer esforços sérios para melhorar sua compreensão política e ideológica, a fim de orientar-se em qualquer circunstância e vencer, a cada hora, na própria empresa, a dura batalha de classe aí travada. Cada militante do nosso Partido é um dirigente da classe operária — precisa por isso adquirir conhecimentos capazes de colocá-lo sempre à altura dessa sua condição.

Enfim, criar e fortalecer as organizações de base do Partido não deve ser considerado como tarefa parada. Criamos e fortalecemos as células do Partido na aplicação e para a aplicação da linha do Partido. Cada organismo constituído é um núcleo de atividade politica criado entre as massas. O Partido, multiplicando suas fôrças, multiplica ao mesmo tempo sua ação política.

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O problema da construção do Partido é fundamentalmente o problema da sua construção ideológica e política, assim como de sua e instrução orgânica. Assimilando a verdade do marxismo-leninismo-stalinismo em ligação com a prática do movimento revolucionário brasileiro, combatendo permanentemente os erros de direita e os desvios de esquerda, construiremos o nosso Partido, o Partido Comunista do Brasil.

Estamos certos que, guiados pelo nosso camarada Prestes, saberemos superar em breve prazo nossas debilidades principais e transformar o Partido num poderoso instrumento político de luta da nossa classe operária e do povo pela vitória no Brasil do campo da paz, da democracia popular, do socialismo.


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Inclusão 05/11/2013