Algumas Palavras Sobre a Propaganda e a Agitação

M. I. Kalinin

12 de Janeiro de 1944


Primeira Edição: Discurso pronunciado na Conferência de Secretários das Organizações do Partido da Cidade de Moscou. Revista "Propagandist”, (“O Propagandista” ) N.° 2, de 1944.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 237-248.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos. Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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Camaradas: Ouvimos as intervenções de seis oradores e creio que falaram pouco mais ou menos como poderiam tê-lo feito os demais secretários das organizações do Partido aqui reunidos.

Qual é o traço característico dos secretários de nossas organizações de base do Partido? É seu praticismo. Deveis ter observado que todos os camaradas que aqui falaram colocam as questões dum modo prático. Isto não é mau. O bolchevismo nunca perde de vista o aspecto prático dos problemas. O espírito prático é uma qualidade positiva. Mas ao mesmo tempo, parece-me que os secretários não deveriam circunscrever-se ao aspecto prático; conviria também que fizessem algumas sínteses. É preciso habituar-se a sintetizar.

Os informes e balanços — apesar de serem um trabalho necessário — não deixam de ser somente uma parte do trabalho. O que distingue precisamente os comunistas é saberem sintetizar um conjunto de questões e tarefas práticas, agrupando-as num todo conexo. Por isso, ao fixar a atenção em vossa prática e procurando sintetizá-la, parece-me que separais o trabalho político e social do trabalho na produção. É como se considerásseis que alguém pode ser um magnífico trabalhador na produção e fiel comunista, mas se não atua em algum círculo, se não fala nas reuniões e não realiza um trabalho de agitação, não realiza nenhum trabalho social.

Esta maneira de ver as coisas, estabelecendo uma separação entre o trabalho social e o trabalho na produção, o trabalho para o Estado, a mim, pessoalmente (friso que é pessoalmente), me parece que não corresponde de todo às tarefas da própria produção, ao caráter de nosso Estado. Esta maneira de ver as coisas seria, talvez, mais própria dos comunistas de antes da Revolução. Por que? Simplesmente porque, então, o trabalho na produção beneficiava o capitalista e nossa agitação estava inteiramente dirigida contra os capitalistas. Mas hoje, o trabalho na produção é uma das mais importantes tarefas estatais e sociais, é o trabalho mais importante em nossa época.

Atentai bem: quando nos velhos tempos eu trabalhava na fábrica de Putílov, fortalecia com isso os capitalistas. Naquela época tínhamos pleno direito de estabelecer uma clara diferença entre o trabalho na fábrica e o trabalho de Partido. Se naquela época eu tivesse superado as normas de trabalho, os camaradas teriam podido censurar-me com toda a razão: “É assim que ganhas teu salário e te dedicas a trabalhar horas extras: ajudas os capitalistas, mas não compareces às reuniões e abandonaste o trabalho de Partido”. Naqueles tempos — e só naqueles tempos — isto seria lógico. Mas, e agora? Imaginemos, hoje, um homem que não cumpra sua tarefa na fábrica, que deixe tudo para amanhã, e ao mesmo tempo reúne seu círculo, desvia outros do trabalho obrigando-os a comparecer aos estudos políticos e assim realiza o trabalho do Partido. Ninguém, naturalmente, aceitaria esses homem como bom comunista. E é lógico, porque hoje não trabalhamos para o patrão, pós mesmos nos convertemos em senhores de nosso Estado socialista. E a própria produção se converteu numa produção social, estatal.

Por isso, se eu fosse secretário, consideraria que o trabalho fundamental, de Partido e social, que um homem pode realizar é seu trabalho na produção. Se não fossem satisfatórios os resultados obtidos por uma pessoa na produção, mas, em troca, fosse boa toda a sua atividade restante, eu diria que essa pessoa é um mau comunista.

Através de vossas intervenções percebo que, na prática, vos guiais por este mesmo critério, mas não o dizeis abertamente com medo de que vos censurem por vos terdes convertido em simples administradores. Pelas vossas intervenções se vê que sois pessoas cultas e entendidas, e apesar disso, nenhum de vós disse que considerava o trabalho na produção, em nosso sistema socialista e, ainda por cima, em tempos de guerra, como o mais importante trabalho social e de Partido, como um trabalho que fortalece o regime soviético.

Por que não colocar a questão do ponto de vista dos princípios, dum ponto de vista de Partido? Acaso um trabalho que fortalece o regime soviético, que assesta potentes golpes em nossos inimigos, que dá fama ao País Soviético no mundo inteiro, ou, o que dá no mesmo, ao regime socialista, acaso esses trabalho não é um trabalho comunista, não é um trabalho de Partido? Acaso nossos êxitos na produção e no campo cultural não constituem um trabalho comunista, um trabalho de Partido? Pode-se fazer a propaganda com palavras e com fatos. A propaganda e a agitação com fatos são mais reais. Já é quase um provérbio entre nós a expressão de que a propaganda e a agitação com fatos são mais eficazes. Pois bem, nossos êxitos na produção são precisamente uma propaganda com fatos.

Citarei um exemplo: qual é a mais importante condição hoje em dia exigida na frente para que alguém seja considerado um digno candidato a membro do Partido? (Uma voz: “O heroísmo!”).

É isso, o heroísmo. Combater bem. Aparentemente, não é um trabalho de Partido. Mas vedes que o heroísmo, a abnegação na luta constitui o elemento mais importante para julgar das qualidades de um homem, quando este solicita seu ingresso no Partido.

Estabeleçamos agora um paralelo. Se admitis que combater bem na frente constitui um grande trabalho de Partido, um trabalho comunista, devereis estar de acordo em que os projéteis, os canhões e as metralhadores que produzimos, constituem também um trabalho que nos absorve profundamente, uma luta direta por nossos objetivos. A produção é a base primordial, eu diria até que é o mais sagrado do atual trabalho de Partido. Pois bem, deveis ter isto presente sempre que realizeis vosso trabalho de agitação, de propaganda e de educação do povo.

Através dos informes do camarada Stálin e das obras de Lênin conheceis a importância que tem o saber escolher em cada etapa do desenvolvimento o elo principal. E esses elo principal é o que deveis agarrar, quer quando realizais vosso trabalho de agitação e propaganda, quer quando inculcais às pessoas o espírito de Partido. Qual é hoje a tarefa fundamental e decisiva do povo soviético? A luta contra os invasores alemães. Por isso, hoje em dia, onde quer que realizeis vosso trabalho de agitação, qualquer que seja o trabalho que façais e a pessoa com quem faleis, este trabalho de agitação e propaganda deverá reduzir-se sempre à questão fundamental: que todos ajudem com a plenitude de suas forças a levar à prática a principal tarefa do povo, a de esmagar os invasores alemães.

Quando vos preparais para o trabalho de agitação na sala de estudo da Casa do Partido e acumulais sabedoria comunista, deveis selecionar o material e buscar as analogias históricas que enriqueçam vossos conhecimentos e vos permitam explicar e esclarecer melhor às massas a situação atual de nosso país e as tarefas de cada um na luta contra o fascismo. Nossa vida de hoje está tão cheia de fatos maravilhosos que qualquer agitador, desde o mais modesto até o maior, pode nela encontrar um inesgotável material palpitante e atual, diretamente relacionado com os acontecimentos do dia.

Tomemos, por exemplo, o jornal de ontem. Nele encontrareis uma declaração de nosso Governo sobre o problema polonês, feita através da agência TASS. É um excelente material para vós, com a particularidade de que a referida declaração foi redigida com grande brilho e em forma compreensível para qualquer um. Ela pode servir de base para magnífica palestra. De-.veis chamar a atenção dos ouvintes sobre o que já se disse mais de uma vez: que sustentamos uma guerra justa. Em seu primeiro discurso, pronunciado no começo da conflagração, o camarada Stálin ressaltou que sustentamos uma guerra defensiva e justa. Hoje nossos exércitos se encontram em melhor situação que em qualquer outro momento, ao passo que os alemães nunca estiveram numa situação pior do que agora, nos últimos único anos. Pois bem, atentai como em tais momentos nosso Governo estende sua mão à Polônia, ao povo polonês. Ao mesmo tempo, como é natural, podereis passar em revista a história das relações soviético-polonesas, selecionando e citando o material correspondente, baseado em fatos históricos, que podereis obter na própria sala de estudos da Casa do Partido.

Empregando este método, aprender-se-á a interpretar e focalizar os problemas internacionais de modo marxista e paulatinamente irá se acumulando a experiência necessária para o trabalho cotidiano do Partido.

Que quer dizer trabalho do Partido? Está claro que quanto à organização estabelecemos diferentes campos de atividade, que chamamos respectivamente de: trabalho de Partido, sindical, administrativo, etc. Cada um desses campos de atividade tem suas peculiaridades.

Que peculiaridade distinguem o trabalho de Partido dos demais? Parece-me muito limitada a interpretação de que a diferença consiste em que o trabalho de Partido se circunscreve à agitação, à propaganda e à educação comunista no sentido estrito da palavra. O trabalho de Partido consiste, se me permitem a expressão, em levar a cada trabalho, até ao mais simples e mecânico, o espírito de Partido, em encará-lo do ponto de vista do Partido.

Por exemplo, um torneiro realiza um simples trabalho mecânico. Mas para nós não é indiferente, de jeito nenhum, se ele o realiza como se trabalhasse numa empresa privada, cobrando uma determinada retribuição, sem relacioná-lo com uma interpretação social da importância do mesmo, ou se nosso torneiro, ao fazer tal ou qual peça, está dominado pela ideia de que ao mesmo tempo realiza um grande trabalho de Estado, de que trabalha para a defesa do país, de que sua produção vai parar na frente, onde é utilizada para lutar contra o inimigo, e que quanto melhor for sua produção tanto mais eficaz será sua participação na luta contra os alemães. Portanto, ele não se considera isolado das tarefas políticas gerais, e sim como um elo da luta comum e das medidas gerais do Estado.

A propósito disto desejo compartilhar convosco mais uma ideia. Ouvimos dizer frequentemente deste ou daquele comunista ter ele muito espírito de Partido. Mas, atentai bem, acaso aplicamos esta expressão somente em relação aos agitadores e propagandistas? Para que uma pessoa tenha espírito de Partido não é indispensável que seja agitador ou propagandista; é preciso outra coisa, é preciso que tenha uma conduta digna de um comunista em sua vida política e social e inclusive em sua vida privada. Voltemos outra vez ao nosso torneiro. Se este homem sabe relacionar seu trabalho com o objetivo geral, se põe toda a sua energia no trabalho, compreendendo que com isso também defende o País Soviético e que, por isso, não se preocupa com o horário nem recua ante as dificuldades ou defeitos de organização que possam surgir na produção, este homem tem uma atitude comunista ante o trabalho, eu diria que esses camarada tem muito espírito de Partido e que seu trabalho na produção é ao mesmo tempo um trabalho de Partido, já que o relaciona com o objetivo geral.

Citarei um exemplo do passado. Naquele tempo ingressavam no Partido alguns indivíduos que abandonavam rapidamente o Partido quando tinham que realizar um simples trabalho prático, como distribuir volantes, manter uma casa para fins conspirativos ou qualquer outro trabalho técnico. Eles queriam ser agitadores, propagandistas, isto é, aspiravam a brilhar politicamente e o que lhes tocava era, ao contrário, desempenhar uma tarefa modesta e prosaica. Mas naquela época, esses trabalho era dos mais necessários para o Partido.

E por último recordem os camaradas aquele episódio da história do Partido, quando o camarada Stálin organizou uma imprensa clandestina em Baku. Acaso acreditais que o camarada Stálin a organizou fazendo agitação, propaganda ou escrevendo manifestos? Nada disso: nas condições do regime autocrático e de vigilância policial isto representava um enorme trabalho de organização e ao mesmo tempo um trabalho prático, dos mais prosaicos, já que era preciso resolver muitos problemas puramente práticos: encontrar o local, conseguir os tipos de imprensa, organizar o transporte do material impresso, etc. Dizei-me, isto era ou não um trabalho de Partido? Vedes, assim, que o espírito de Partido ou o trabalho de Partido não estão ligados ao tipo de trabalho, mas ao objeto do mesmo. Se o trabalho não favorece a causa da classe operária, é inútil e não tem nada de trabalho de Partido.

E agora, dizei-me: qual o trabalho produtivo que, em nosso Pais Soviético, particularmente nas fábricas, nos kolkhozes e nos escritórios, não contribui para fortalecer o regime soviético? Como podeis ver, não é a distribuição orgânica do trabalho (o que é absolutamente acertada do ponto de vista da organização), que lhe confere o espírito de Partido, e sim a introdução desse espírito em todo o trabalho, seja social, fabril ou de escritório.

É claro que com isso não quero tirar a importância à necessidade de estudar o marxismo-leninismo que é, afinal de contas, o que, na vida prática, permite abordar qualquer tarefa com espírito de Partido.

Um dos camaradas que falou aqui declarou que se vê em apuros para dar a todos os comunistas da fábrica algum trabalho social ou de Partido, em vista do grande, número de membros dessa organização do Partido. Creio que existe um mal-entendido nesse caso.

Aqui nos contaram que um engenheiro-inventor, que tinha ingressado no Partido, apresentou-se ao Bureau da organização do Partido para pedir um trabalho social e que lhe atribuíssem a direção de um círculo de propagandistas. Depois, apresentou- se outro engenheiro qualificado. Mas, já não restava nenhum círculo para ele e a organização do Partido não soube de que trabalho social incumbi-lo. Eu teria,procedido de outro modo e lhe teria dito: “Organize um círculo de inventores e dirija-o. Pode ser que não invente nada, mas também pode acontecer que faça alguma coisa.” Talvez alguns de vós não considerem isto um trabalho de Partido, mas eu considero que é um trabalho de Partido, porque se se tratar dum verdadeiro inventor ele estará possuído de uma ideia fixa e todos os seus pensamentos tenderão para um único objetivo. Para que, pois, vamos desviá-lo? Dai-lhe o trabalho mais adequado: que organize um círculo em que as pessoas se dediquem à experimentação. A isto eu consideraria um trabalho de Partido. E se outro engenheiro é um bom agitador, poderá realizar um trabalho de agitação c propaganda, mas se não tem inclinação para isso, é preciso procurar para ele uma tarefa social em que possa render o máximo possível.

Por isso não vos deveis preocupar com que não haja tarefas suficientes para todos, mas dar curso livre à iniciativa e fazer a cabeça trabalhar um pouco. Vereis logo que vos falta gente para realizar tanto trabalho.

Aqui se falou da educação dos comunistas, de como inculcar o espírito de Partido a seus novos membros. Isto depende de vós mesmos, da orientação que deis ao assunto.

Um camarada nos disse aqui que numa reunião os novos membros do Partido foram censurados pela irregularidade no pagamento das contribuições. Poderia parecer que se trata duma questão puramente prática. É claro que se pode simplesmente fazer um sermão aos novos militantes, indicando que são uns comunistas indisciplinados, uns maus comunistas, etc. Mas esta mesma questão pode ser colocada no terreno dos princípios, dizendo: “Vós mesmos deveis compreender que o atraso de um ou dois meses no pagamento das contribuições não representa grande coisa para o Partido. Sua caixa não se ressentirá por isso. Hoje, nosso Partido não é um partido pobre. E se falamos nisto não é porque vossa morosidade nos tenha impedido de mandar o balancete a tempo. Não se trata disso, mas de que se não pagais a tempo vossas contribuições para o Partido, isto quer dizer que o assunto não vos preocupa; que não dais importância às vossas obrigações para com o Partido, e além do mais obrigações tão simples, de exclusivo caráter de organização, como é o pagamento das mensalidades, é porque não tem muito apego ao Partido. Porque, para aquele que se preocupa com o Partido, o pagamento das contribuições é um prazer, pois com isso parece estabelecer um laço material com o Partido, parece pôr- se em contato com ele”.

Vedes, camaradas, como interpretamos do mesmo modo a questão, nossos pensamentos são idênticos, mas eu quis mostrar-vos como se pode dar um caráter político a um fato simples. Se focalizarmos os problemas dessa forma, uma questão tão simples como o pagamento das mensalidades do Partido se transforma num assunto político.

E se a questão for assim abordada, vereis que aparecem nas reuniões oradores dispostos a invocar exemplos de todo o gênero e chegarão a dizer, inclusive, que esta não é uma questão de tanta importância, que alguém pode dar a vida pelo Partido e no entanto esquecer-se de pagar as contribuições, etc., etc. E então a discussão entrará no terreno dos princípios.

Como vedes, quando focalizamos uma questão dum ponto de vista puramente prático e a discutimos somente com a linguagem dos fatos, ela chega menos à consciência das pessoas. Mas quando a generalizamos e a julgamos com critério político, então ela serve para educar.

Observo que relacionais o trabalho político com os novos comunistas, a educação dos comunistas unicamente com o estudo. Naturalmente, estudar não é mau. Não sou inimigo do estudo político. É preciso ensinar as pessoas. Mas a educação e a instrução não são o mesmo, no rigoroso sentido da palavra.

Pode-se conseguir que um homem aprenda o programa do Partido, conheça seus estatutos e que também cumpra todas as formalidades e, não obstante, não será um comunista. Será um perna de pau e não um comunista. Já deveis ter ouvido dizer de alguém que é um “perna de pau”. (Uma voz'. “Um tapado”). Não, é algo diferente. “Tapado” é um insulto, ao passo que “perna de pau” aplica-se ao homem de intelecto demasiado rígido, pouco flexível, sem emoções, que não compreende a ironia nem tem o senso do humor. De um homem assim é que se diz ser um “perna de pau”.

Educar é muito mais difícil que ensinar, que ministrar instrução, pois o educador influi sobre os educandos não só porque lhes proporciona determinados conhecimentos, mas, principalmente, com sua atitude para com os fatos de cada dia.

A camarada Bodrova nos falou aqui da vida difícil duma trabalhadora à qual deram ajuda, conseguindo assim elevar seu moral. Devo dizer-vos que isto, por si, não é somente uma ação própria de bons comunistas. O valioso do fato não consiste unicamente em ter prestado ajuda à uma pessoa acabrunhada por circunstâncias difíceis. Aqui se trata também da educação dos comunistas, duma educação baseada em fatos concretos. Em tais exemplos é que deveis basear vossa educação dos comunistas.

Também uma ação má deve servir de base para a educação, discutindo-a a partir duma posição de princípios. Suponhamos que uma pessoa trabalha mal. É preciso demonstrar que o mau trabalho repercute em todos os demais. Assim sendo, é nos fatos concretos, nas questões tomadas da vida diária, como nos problemas políticos gerais, que se deve basear a educação das pessoas.

Vejamos um exemplo: suponhamos que sou secretário duma organização do Partido. Vêm visitar-me muitas pessoas, entre as quais encontram-se alguns que gostam de mexericos: fulano trabalha mal, beltrano se porta mal. Mas nem eles, tampouco, estão livres dos mesmos pecados. Ainda existe gente assim. Pois bem, desmascarar um desses tipos será um bom trabalho educativo.

Devo dizer-vos com toda a franqueza que o trabalho educativo é um dos mais difíceis, porque também está relacionado com vossa própria conduta. Se alguém, por exemplo, faz propaganda contra a vodka e ele mesmo gosta de beber, ninguém lhe fará caso. Se alguém convida as pessoas a serem disciplinadas e ele mesmo infringe constantemente a disciplina, seu apelo, como é lógico, surtirá pouco efeito.

A educação é um dos trabalhos pedagógicos mais difíceis. Outra coisa é proporcionar às pessoas, conhecimentos políticos, ensinar-lhes o programa e os estatutos do Partido, uma vez que com isso transmite-se determinados conhecimentos. Está claro que não se pode traçar uma linha divisória entre o ensino e a educação, porque com o ensino também se educa o homem. O principal é que não percais de vista que o trabalho educativo entre os membros do Partido deve realizar-se diariamente, de modo imperceptível, baseando-se com frequência em coisas pequenas e em outras ocasiões em fatos e problemas sérios e de grande importância.

Falou-se aqui da leitura coletiva de jornais. Mas isto não basta se, depois, não se discute e comenta o que foi lido. Pode acontecer que alguns já tenham lido o jornal e não vos escutem, mas outros, embora não o tenham feito, pouco proveito tiram da leitura sem comentários. Se, ao contrário, analisais e sintetizais o que foi lido, logicamente a leitura será interessante para todos. Discuti os problemas. Por-que não discuti-los? É que sois demasiado praticistas. Tendes medo de cometer algum erro. E que é que tem, se cometeis algum erro? Nós não castigamos os erros. Talvez vos censurem ou escrevam sobre o assunto nos jornais, mais nada. Castiga-se os que defendem seus erros, insistem nos erros e se afastam da linha do Partido. Quando se trata duma pessoa verdadeiramente nossa, fiel ao Poder Soviético, ao seu Partido, porém que não foi muito feliz ao formular uma interpretação, naturalmente, esta é corrigida e nada mais.

Acreditais que se pode inculcar o espírito de Partido só com os estatutos e o programa? É claro que é preciso dar a conhecer os estatutos aos que ingressam no Partido, pois os estatutos assinalam as regras de conduta dum comunista, as regras gerais de conduta. Mas se as palestras com os comunistas se reduzissem a isso, seriam muito enfadonhas. Neste ponto não se pode ser formalista.

Também na instrução é necessário tratar as pessoas de modo diferente. Imaginemos uma pessoa de sessenta anos da qual exigis que conheça a fundo o programa e os estatutos do Partido. É um excelente trabalhador, um operário honrado, um homem fiel ao Poder Soviético e comunista bastante bom. É claro que, nestas condições, se deve ser mais condescendente com um tal membro do Partido.

Organizamos círculos, estudamos o marxismo, mas dedicamos pouca atenção ao estudo da história da Rússia, como se considerássemos que é um assunto que não cabe ao Partido. Isto é falso, absolutamente falso. O estudo da história russa é interessante e atraente e se quem a expõe é um marxista e se cada fenômeno histórico do passado é examinado dum ponto de vista marxista, o povo acorrerá ao círculo com satisfação e aprenderá muito. E esses será um trabalho de Partido.

As pessoas mais preparadas poderiam dedicar-se ao estudo da história da filosofia. Em geral, cada grupo de pessoas com esta ou aquela preferência, por exemplo, a literatura, o estudo de um determinado período da história universal ou que tenham interesse em investigar algum problema social ou mesmo técnico, pode formar círculos nos quais se estude a matéria de seu interesse. O espírito de Partido desses círculos consistirá precisamente na aplicação do método marxista-leninista à interpretação dos problemas em estudo. E as pessoas poderão até dedicar-se a filosofar um pouco.

Qual o verdadeiro comunista que não gosta de filosofar um pouco? Nós dirigimos o olhar para longe, para longínquas perspectivas. E a mim me parece que vos tornastes todos demasiado praticistas e não fazeis mais do que olhar para diante do nariz. Assim podeis tropeçar.

O marxismo é o único método acertado para compreender não só os fenômenos sociais, mas também os fenômenos da natureza. Por isso todo o esforço dirigido à compreensão dos fenômenos do universo e que seja feito do ponto de vista do marxismo-leninismo, robustece nossa consciência política bolchevique. Este trabalho não tem limites. Unicamente, é necessário que se considere o mundo com maior amplitude de vistas, que se saiba interpretar e generalizar a sua própria experiência.


Inclusão 30/01/2013